Sunday, November 26, 2006

 

NA SERVIDÃO DO DESEJO

XXIX

Depois da saída de Emírcio, Laura ajoelha-se diante da cómoda onde a estatueta de Nossa Senhora de Fátima continua iluminada pela lamparina de azeite.

LAURA
Diz-me o que deve ser feito, minha santa salvadora. Naquele tempo, bem dizia minha mãe que as desavergonhadas deviam ser castigadas com a pena de morte. Deus Nosso Senhor bem os destruiu em Sodoma e Gomorra. É o demónio que delas se apossa.

Neste preciso momento a janela do quarto abre-se. Uma rajada de vento impele a cortina. Laura olha-a espantada.

LAURA
Deus seja louvado, minha Santa Mãe! O Seu espírito iluminou-me!

Laura aproxima-se da janela do seu quarto que dá para a rua e olha-a. São dois andares até ao chão. Nesse momento, uma mulher atravessa a rua para se dirigir ao templo situado nas imediações. Pouco depois um cão vadio atravessa-a não sem antes farejar alguns dejectos deixados por outros cães. Laura arrasta o banco do seu toucador até ao parapeito da janela. Sobe para cima dele e volta a olhar para a rua. Sente tonturas e desce logo em seguida. Sai do quarto pé ante pé e dirige-se para o sótão. Chegada lá, abre a clarabóia e com as mãos procura, tacteando, caganitas de pomba que costumam arrulhar por perto. Recolhe algumas. Volta ao quarto e esconde-as, embrulhadas num lenço, na gaveta da cómoda onde a Santa Senhora , no tampo, continua iluminada.
LAURA
(Ajoelhando-se de frente para a cómoda)
Que Deus esteja comigo, nesta hora de tanto sofrimento. O que tem de ser tem muita força. Deus seja louvado! Amanhã, quando a Aurora for à mercearia já estará tudo resolvido. Nosso Senhor também sofreu muito para nos salvar.
Continua...
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