Wednesday, May 31, 2006

 

ASSOMBRAÇÕES...

Hemodiálise...
E já lá vão cinco vezes... O Jorge do Nascimento Cabral - que me habituou a vê-lo combater nas páginas da nossa comunicação social e nos palcos dos tribunícios (uma vez até foi castigado por fazê-lo salutarmente) por causas públicas de interesses indíscútiveis açorianos - voltou de novo à carga retomando uma sugestão de Daniel de Sá quando, como espírito humanísta de serviço, alertou para o drama humano que é verem-se pessoas a dependerem de máquinas para se manterem vivas. Quem nunca esteve próximo dos doentes que padecem desta insuficiência não pode calcular a intensidade do seu sofrimento. Se este sofrimento estiver aliado à ausência dos seus familiares mais próximos estaremos perante um drama de dimensões só comparado aos prisioneiros da II Guerra Mundial. Está-se à espera de morrer... Meu irmão Carlos, Primitivo Marques ( é de louvar um homem sem tempo ter-se permitido apresentar o seu humano testemunho público), o Jorge Nascimento Cabral agarraram no alerta de Daniel de Sá (um dos mais credíveis homens da esquerda e da tolerância que eu conheço apesar de só nos termos encontrado três vezes) e colocaram à boca de cena aquilo que é óbvio: a urgente intervenção do poder político do sector. O poder político dos Açores respeita menos a opinião pública regional do que a chuva miudinha. Eu não vou repetir aqui os argumentos dos atrás citados colunistas. Não faço isso. Eu vou de vez condenar a não intervenção do governo como já o fez JNC e acrescentar aquilo que é a meu ver a falta de visão do líder da oposição. Já devia ter nomeado um secretário da saúde sombra para levar até às ùltimas consequências a resolução do problema. Se Costa Neves vai deixar este governo em paz será melhor apresentar uma carta de intenções para sabermos com o que conta a população açoriana. Os socialistas quando estavam na oposição não davam espaço e descanso ao poder. Estou bem lembrado de como o Jovem César actuava. Se de facto não há sensibilidade para esta questão, então, eu sugiro a Berta Cabral que crie um gabinete para tratar desta questão. O "gabinete do doente desamparado". É que nós já nos estamos a habituar à ideia de que quem não pode fazer deixe fazer. Para deixar bem claro a minha posição (estou-me nas tintas para quem me julgar parcial) devo dizer que quando Mota Amaral esteve no poder (tanto tempo! Uf!) eu apoiei Carlos César incondicionalmente. Fi-lo até ao dia da contagem dos votos. A partir daí passei a estar no lado oposto. E sempre que posso (pela escrita, claro) não deixo de o atentar. Também aqui declaro que apoio Berta Cabral incondicionalmente até ao dia em que ela vencer os socialistas. Que eu na minha má língua de "cronoblogue" denomino de democrata-cristãos-novos. A democracia é alternativa. Eu não posso ver sempre as mesmas caras. Durante dezenas de anos era o Salazar, aquela excomunhão do Cerejeira (delegado do Céu), o Albino dos Reis, Presidente Efectivo da Assembleia Nacional, etc. Agora é o Almeida Santos (tão velho no poder quanto o Vinho do Porto da Ferreirinha), o velho-jovem Gama que está sentado nas cadeiras das mordomias há mais tempo que o Silva Pais esteve na cadeira da António Maria. Se não me engano aquele contestatário Martins de Coimbra que gozou com o Américo de Deus Rodrigues Tomaz (FFF= feio, mulher feia e filha feia) ainda anda a falar em São Bento de coisas que ele já nem sabe para que servem e a receber o nosso, que fica para ele mensalmente. Que coisa! Para não dizer porra. Há mais, mas eu agora estou entretido em dar forma à Civilização Açoriana.
Contributos para a "Civilização Açoriana": CARLOS REIS, JOSÉ CARLOS MACEDO, MÁRIO O. MOURA, LÚCIA COSTA MELO, JOSÉ ANDRADE, etc.(continua)
Quarta-feira
31/05/2006
Manuel Melo Bento

Tuesday, May 30, 2006

 

NINHO DE MENTIROSOS: OS LEDORES?


Ler é uma activadade muito gira. Os “intelectuais” que lêem também são giros. Acordei com uma ideia fisgada: saber que quantidade de horas pode um ser normal gastar na leitura de livros? Estava cansado de me enrolar em literaturas de exigência. A cabeça começou a fraquejar. Resolvi mudar de papiros e embrenhei-me num certo tipo de texto para desentorpecer as pestanas. Assim, abracei-me a Elizabeth George e comecei a quantificar o seu “ Um Ninho de Mentiras”. Vejamos. O livro pesa um quilo cento e dez gramas. Mas, não vou por aí. São seiscentas e seis páginas. Levo três minutos a ler cada página. Um leitor mais discreto levará dois minutos e meio. Vou na página trezentos e setenta e quatro. Gastei, portanto, dezoito horas e quarenta e dois minutos até agora. Um leitor normal, a dois minutos e meio por página, levará a ler o livro todo vinte e cinco horas e doze minutos. Um leitor normal é igual a intelectual. Eu ainda não consegui perceber como é que se podem ler tantos livros e depois falar deles com autoridade. Devem meter um “chips” em qualquer parte do corpo ou coisa parecida. Eu li! Eu li,uma ova! Continuando a quantificar o que o cérebro papa, vejamos o que temos à mão. Cada linha do livro atrás citado apresenta de quarenta e nove a cinquenta e cinco letras. Cada página tem trinta e oito linhas. Ora bem, numa média de cinquenta temos um total de mil e novecentas letras/página. Logo, para um intelectual juntar tantas letras e percebê-las numa só página, há que “gastar” dois minutos e meio para as digerir, como atrás contabilizei. É muita letra e muito tempo! E será que os que apresentam os livros gastam tantas horas a degluti-los, para depois os difundirem criticando-os? Ou farão como eu, às vezes, para dizer mal ou bem de um livro retiro uma ou duas frases de um contexto e as envio por um outro canal para a casa da folha? Já para não falar nos códigos implícitos, imperceptíveis por vezes... É muita letra! Para mais, esqueci-me de fazer referência ao acto de inspirar e expirar que também leva o seu tempo... Felizmente, ainda há génios que salvam esta situação. Porque assim não sendo, estávamos condenados, para ler tanta literatura que se apresenta no mercado, a viver mais tempo. E isso contraria os desígnios do nosso Primeiro que nos quer ver a todos a morrer tão depressa tenhamos a carta de alforria, que é como quem diz reforma.
"CIVILIZAÇÃO AÇORIANA" (Continuação)
ANTÓNIO LAGARTO, FRIAS MARTINS, MACHADO SOARES, MACHADO MACEDO, NELLY FURTADO, NUNO BERTTENCOURT, LUÍS BETTENCOURT, LÚCIA MONIZ, HERMÍNIO ARRUDA, JOÃO AFONSO, JOÃO DE MELO, NESTOR DE SOUSA, SOUSA PEDRO, ARMANDO MEDEIROS, etc. (Continua)
Manuel Melo Bento
Terça-feira
30/05/2006

Monday, May 29, 2006

 

ANÁLISES/ JUÍZOS

Quando o Partido Socialista colocou (uma figura de segundo plano político) o jovem San-Bento , como candidato à Câmara de Ponta Delgada, tinha em vista uma subtil estratégia: aprisionar Berta Cabral num reduto onde a limitaria tendo em vista a sua possível futura liderança dos laranjas. Ninguém sonhava poder vencer a mais mediática e influente figura social-democrata da era pós-Mota Amaral. Colocar um peso pesado para discutir a chefia da maior autarquia açoriana e perdê-la para Berta Cabral era referendar duas coisas: a confirmação no terreno da futura líder do maior partido da oposição e fazer aumentar o perigo de uma derrota nas urnas em próximas legislativas. Neste confronto, julgado infantilmente equilibrado, sairia derrotado o PS. Nem mesmo Carlos César conseguiria vencê-la numa disputa autárquica. Porquê, então, não lutar por Ponta Delgada e investir noutras câmaras de menor relevância? Simplesmente, porque César quer os Açores todos em rosa feitos. São rosas meus senhores! Dirá ele, finalmente, para o "continente" aos seus antigos "compagnons de route" - democratas-cristãos-novos de sua novel designação. Dirá o leitor: isto não tem pés para andar... Enquanto o Partido Socialista contamina todo o território "autónomo" com a sua onda avassaladora, Berta Cabral vai brilhando num concelho onde por debaixo das asas brancas dos social-democratas César lhes prepara a cama e a desilusão. Como? Eis que surgirão no tempo certo as "Portas do Mar" para descolorir a obra da edil. E o voto depois de dobrado é cego até ser aberto... Atenção, mas até lá eis aqui uma realização, eis ali outra que vai permitir dizer de futuro que todos os caminhos vão dar às "Portas do Mar" ou "Portas da Cidade". Inteligência do PS? Sim! Costa Neves caiu numa rede. Quanto mais se mexer, mais apertado fica. E se ainda respira é porque as redes têm buracos...
Manuel Melo Bento
CONTRIBUTOS PARA "CIVILIZAÇÃO AÇORIANA"
HORÁCIO FRANCO, ANA NÓBREGA, CARLOS P. AMARAL, GUSTAVO LOURO, CARLOS MELO BENTO, DIAS DE MELO, RUY G. MORAES, JOSÉ RODRIGUES, ARÍSTIDES ÂMBAR, NATÁLIA ALMEIDA... (Continua)
Segunda-feira
29/05/2006

Sunday, May 28, 2006

 

ADEUS ÍCONS ADEUS PORTUGAL

Se conseguíssemos retirar das páginas da história do Portugal actual as imaginativas e bem urdidas aparições de Fátima, os quarenta e oito anos do salazarismo - a negra noite, o Eusébio, a Amália, o Raúl Solnado, o sorriso do Cardeal Cerejeira ficaríamos sem saber como é que se poderia requalificar o país? Que nos aconteceria se nos dias treze de cada mês mais ninguém se dispusesse a percorrer as estradas portuguesas de norte a sul para se prostrar perante os Mistérios de Eleusis lusitanos? Se o Eusébio deixasse de aparecer (desejo-lhe longa vida) sistemática e mensalmente em tudo onde haja jornalista, palco e desporto, que imagem teria a selecção (logo Portugal) que se arrasta de derrota em derrota apesar dos milhões que os sucessivos governos gastam nas costas de um povo que foge das escolas quando as há, e que se revolta quando não as tem? Passadismo de uma imagem (Eusébio) mais conhecida do que Portugal no estrangeiro? Imposição política para que o país não seja tomado como uma das novas repúblicas do leste, onde se trata o futebol e os ícons (religiosos) como normais prestações de serviços e que por isso mesmo não têm identidade no mundo da competição capitalista? O dinheiro da Federação Portuguesa de Futebol é fundo público. É nele que se vai buscar a prata para as tais misturas: imagem e chuto. A Amália já morreu. Foi-se mais um rosto de identidade nacional. As várias tentativas para a substituir falharam redondamente. O Fado sem ela é história. O Cardeal Cerejeira que tinha um sorriso albarranista atraía imenso a paspalhada das crendeirices. Era um sorriso de paz, mesmo quando abençoava os soldados que iam para a guerra das colónias defender a Pátria que tanto ingleses e franceses deixavam que fosse. Os cardeais de hoje já não têm aquele tipo de sorriso. O de Lisboa até fuma. Ai que pecado! Tirando o palco ao famoso Solnado o humor morreu para dar lugar ao porno-riso. Sobre a pressão de uma censura estúpida e agonizante gozar com a guerra sem porras nem terminologia adjacente era obra. Toda a gente tentava imitar as bocas do Solnado. Portugal ria à tarde com ele e à noite chorava com a Amália. Havia um outro Portugal que era perseguido e passava algumas temporadas na prisão. Havia de tudo, até o darem-se ao respeito... As mulheres que tinham o azar-prazer de darem uma queca fora do casamento e fora do rol do bom comportamento homologado pela Santa Madre Igreja/Estado Novo estavam perdidas para o mundo e os filhos também. A padralhada em vez de ler o que naqueles casos recomendava Jesus ajudava o Estado Novo a puni-las socialmente. As virgens eram as preferidas. Até hoje nos explicaram tal exigência. O Portugal de hoje sem estes símbolos sagrados perdeu a identidade. Até se pôs um preservativo no nariz do senhor Papa. Um horror! Na minha opinião não era no nariz dele que se devia colocar o novo ícon da nossa actual sociedade. São gostos! Quem, afinal devemos utilizar para símbolo pátrio? Cavaco e a sua dona Maria? Sócrates e a sua democracia(cristã)? Eusébio que já nem joga? A vidente (que era tão feia)? A selecção do pontapé? Não temos, por enquanto, mais nada a que nos agarrar... O das Caldas para as nórdicas? Turismo também é ícon!
Manuel Melo Bento
Domingo
28/05/2006


Saturday, May 27, 2006

 

DESCOBERTA EM NAG AÇORES - O ESTADO DA POLÍTICA

DIÁLOGO SECRETO EM CASSETE ENCONTRADO NO CAIXOTE DE LIXO PELA CRIADA DE QUARTO
- Faça favor de se sentar Excelência!
- Prefiro deitar-me. Sentado, minto muito. Isto aqui não é um consultório psicanalítico, senhor doutor?
- Certamente Excelência.
O político estende-se ao comprido no sofá. O psicanalísta sentado na secretária puxa do bloco de notas e com a caneta entre os dedos diz: - E, então, “daí para cá ?”
- Isto aqui é algum confissionário? Quando era míudo era assim que o padre começava.
- Como pretende fazer?
- O senhor é que é o médico. Deve sabê-lo melhor do que eu.
- Não vou explicar-lhe qual é o meu método de trabalho. Portanto, só lhe quero perguntar de que é que se queixa?
- Dói-me a política!
- Muito bem, vamos então começar. Quando eu disser uma palavra ou palavras, Vossa Excelência vai associá-la a outra ou outras.
- Percebi, doutor.
- Assembleia da República.
- Sétimo dia.
- Como.
- Descanso.
- Muito bem! Primeiro-Ministro.
- Impostos.
- Presidente da República.
- Amen.
- Tribunais.
- Caminho Marítimo para a Índia.
- Manuel Maria Carrilho.
- Os livros também se lêem.
- Dinis Maria.
- Fuga de São José para o Egipto.
- Portugal.
- Espanha.
- Jaime Gama.
- Pouco claro.
- Medeiros Ferreira.
- Muito claro, mas baixo.
- Paulo Portas.
- Portugal visto do fundo do mar.
- Código Da Vinci.
- Preservativo.
- Tia Maria do Nordeste.
- Ciclone em cuecas.
- Representante.
- Passaporte.
- Carlos César.
- Reserva Natural.
- Bispo.
- Colecta.
- Monsenhor Agostinho Tavares.
- Lanterna.
- Deus Pai.
- Filho biológico.
- Virgem.
- De quem.
- Fé.
- Café solúvel.
- Opus Dei.
- Trabalho infantil.
- Aborto.
- Monólogo.
- Inquisição.
- Bombeiros.
Nota do psiquiatra: Trata-se de um normal.
Assinatura irreconhecível
A quem interessar
Manuel Melo Bento
Sábado
27/05/2006

Friday, May 26, 2006

 

COGITABUNDICES IV

Para não atrapalhar alguns pedregulhos cerebrais irei, aos poucos, escrevendo os nomes dos açorianos vivos cuja projecção permite pensar estarmos perante um distinto conceito de Civilização e que actuam nos nossos dias em diversas áreas. Na medida em que vão surgindo assim os nomearei. Estou a pensar em colocar os políticos e outros/as lá mais para o fim. Tipo Feira do Paletó.
Civilização Açoriana: Natália Marcelino; E. J. Moreira da Silva; Rosa B. Goulart; Emanuel Medeiros; Furtado Lima. Amanhã há mais!
Prefácio e texto para mais logo. Estou a inventar...
Prefácio:
Mito, Civilização, Cultura
Para além das dificuldades que apresentam estas três palavras creio que a evolução semântica ainda as torna mais incontornáveis tratando-se do caso de lhes querer atribuir significação rigorosa . Sem estar a querer copiar sebentas já muito cuspidas, quero jogar com elas o jogo das areias (o que se constrói na areia e perto das ondas com elas se vai). O que destas palavras sei, já não está expresso nos dicionários. Qualquer delas se adapta àquilo que quisermos. Se eu pensar na palavra violência posso juntá-la sem problemas. Civilização da Violência, Cultura da Violência e Mito da Violência. Quem não percebe? Cristianismo, Islamismo, Educação, Imperialismo, etc. , também servem. É fácil dizer-se falta de cultura; de civilização. Dizer falta de mito, embora no início não se adapte muito bem ao nosso linguajar, acabamos por aceitá-lo: Vives com mitos ou sem eles? Estas três palavras dominando-as ou não fazem parte do nosso modelo de estar. Nem que seja de cócoras.
Texto
O Mito da Civilização, o Mito da Cultura, A Civilização da Cultura ( eu sei, eu sei que "Cultura e Civilização" é uma obra fundamental para evitar escrever baboseiras. E eu com isso!) A Civilização do Mito, a Cultura do Mito, a Cultura da Civilização. De toda esta trama de incoerências ou coerências onde, como e quando aplicá-las? Não precisamos de autorização! Quem ainda não leu ?, dizeres como os que seguem: literatura médica inclusa, publicidade que utiliza poesia. Liberdades! Nem sei se o último dicionário dirigido por Malaca Casteleiro consegue corresponder à sofreguidão com que brincamos com essa coisa viva (eu digo que sim) que é a língua. Eu cá pra mim resolvo a questão de saber o que é civilização, fazendo apelo ao mito. Quando se trata do mito questiono a cultura e assim por diante. Será que para se considerar civilização é preciso ser-se soterrado como Pompeia? Toda a Cultura Açoriana é mística, rural, capada, sabuja, timorata, servível. Se a estudarmos num ângulo distinto acabamos por descobrir que ela também é matreira e velhaca. Que se impõe onde menos se espera. Que tem espírito criativo, crítico, cooperativo. Que possui muitos valores. Que esta dicotomia não se separa. Acontece, por vezes, que uma delas esfuma-se para sobreviver aos rigores de um fundamentalismo atávico-biopsicológico. Há homens da cultura que são assim. Mas em Cultura não se pode pôr ninguém do lado de fora. A Cultura, a Civilização e o Mito são o nosso fato domingueiro. Servem por vezes para escondermos o que fomos durante a semana. Limpa-nos e relega-nos a outros estádios. Ninguém dá Cultura e fica sem ela. Ela é como um nome de família que usamos para nos distinguirmos do vizinho do lado. Transmitimos mas continuamos a possuí-la. Uma pessoa que vive numa casa sem nunca ter feito um balanço não sabe o que tem. Muitas vezes admira coisas dos outros que não valem mais do que uma serrilha. Um dia, um banana que eu conheci em Lisboa comprou uma reprodução da Gioconda com moldura de plástico para colocar na parede de sua casa, quando tinha, na falsa, enrolada uma tela de Carlos Botelho...
Continua
Manuel Melo Bento
Sexta-feira
26/05/2006

Thursday, May 25, 2006

 

COGITABUNDICES III

Seguimento...
Os homens da cultura açoriana estão há muito tempo de costas voltadas para a maioria da população. Uns contentam-se com protagonismos mediáticos, outros fecham-se em grupelhos diletantes. Com esta atitude saem muito dimínuídos porque isto é uma forma fraccionária que impede conhecer-se o seu contributo global. São dezenas e dezenas de valores que desaparecem neste pasmar mornaçoso. Nesta falta de assunção. Neste medo de fantasmas medievais. A nossa civilização (Açoriana) nestes últimos trinta anos produziu homens e mulheres de espantosa capacidade de construção. Falta-nos um grupo capaz de realizar um "organon" com aquilo que já foi produzido. Eu vou tentar colocar na berlinda os nomes que conheço. Há mais! Procurarei dar o testemunho de uma inexplicável diáspora centrípeta. A política e a nossa incapacidade de a viver sem espírito persecutório torna-nos nuns verdadeiros basbaques. Somos incapazes de sobreviver à crítica. Esta fere-nos mais do que a maledicência saloia, invejosa e capciosa tão ao jeito de sociedades tubolares. Só a crítica nos corregirá de posturas introvertidas. Bem, o que quero é levantar tudo o que possa determinar uma Civilização Açoriana. Se, de facto, acabado este levantamento, que começará por nomes e depois terminará com a obra dos nossos vultos actuais, chegarmos à conclusão que não valem um papo-seco com mofo e duro voltaremos ao estádio inicial: mnésico-repetitivos de meia tigela. Eis de quem me vou hoje lembrar: Cristóvão de Aguiar, Machado Pires, Ana Maria Viveiros, Álamo de Oliveira, Emanuel Jorge Botelho, Victor Rui Dores, Manuel Ferreira, Carlos Cordeiro, Avelino de Menezes, Vamberto Freitas, Victor Hugo Forjaz, Victor de Lima Meireles, Eduardo Brum, Daniel de Sá, Urbano, Soares de Sousa, Jorge Nascimento Cabral, Gustavo Moura, Fernando Aires, Sara Maia, Tomaz Vieira, Ricardo Lalanda, Álvaro Monjardino, Fátima Sequeira Dias, José Medeiros, Carlos Eduardo Ferreira, João Mota, Brandão da Luz, António Ferreira Leite, Miguel Soares da Silva, Maria José Cavaco, Maria Bifa, João Paz, Aguiar Rodrigues, Victor Cruz Pai, Milagres Paz, Emanuel Carreiro, Pedro Moura, Fátima Borges, Edmundo Pacheco, Cunha de Oliveira, Ângela Almeida, etc, continua amanhã.
Penso que já se está a desenhar uma superabundância de pessoas que têm obra já feita. Outras virão.
É pena que a Biblioteca Pública esteja a ser dirigida por quem não tem arcaboiço para colocar a público aquilo que temos de muito importante: o nosso pensamento escrito. Faz falta gente capaz nesses lugares. Gente viva. Que saiba dinamizar com o sentido do povo...
Manuel Melo Bento
Quinta-feira
25/05/2006

 

COGITABUNDICES II

PREFÁCIO II DO QUE SEGUE
Ao querer determinar a vivência de indivíduos (cujos laços que os ligam os tornam bastantes singulares, o que tentarei mais tarde explicitar melhor) como uma "paideia de regressos", não me subiu nada de anormal à torre de controlo. Para descrever o que me parece ser uma característica de civilização bastou-me comparar civilizações. Penso já ter dito no texto que antecede este (não estou a vê-lo) que na falta de mastabas possuímos pastos. Entremos por outra via. E falemos mais seriamente (plural majestático ?, não) falo eu do que julgo entender. O que temos para dar à comunidade internacional remete-se a uma forma mental de estar. Expresso nos escritos de todos os açorianos, que se dedicam a esta actividade, está uma forma filosófica de encarar a vida. Só me pronunciarei sobre os vivos. Não desprezando o passado devemos é olhar o presente e decalcá-lo como arete. Nem esta palavra nos serve. É snob demais! Nós choramos com dor. Se muitas vezes justificamos o choro nem sempre sabemos que dor é esta que às vezes nos domina não só quando estamos longe como quando estamos perto. Um estar perto que desejamos afastá-lo para depois choramingarmos voltar. Não esqueço "Nova Relação de Bordo". Não somos um povo de vazios nem de saudade tipificada ao estilo português. A nossa suposta saudade é choro, é grito. Sem sermos carpideiras damos por nós a querer sair de nós próprios com o eco que calamos porque os nossos complexos do ficar bem nos arrastam para a mediocridade de quem poucas vezes quis assumir. Quando saímos carregamos uma humildade que nos abre as portas para uma dignidade maior. Há sempre excepções. Os imbecis também têm direito a andar por aí. Somos muito mais prolixos na expressão escrita do que em outras artes (ultrapassamos muitos povos ditos civilizados em percentagem). Mas mesmo aquelas não são de desprezar. No programa de Língua Afiada ouvi uma proposta de alto gabarito. Um dos intervenientes quase que exigia um novo modelo de Cultura Oficial para a Região. Está na altura da "Cultura" nos Açores pôr cá para fora toda a obra que anda por aí em panelinhas. De todas as actividades, note-se. Todos nós sabemos o que se tem feito com a literatura de todos os tipos que é produzida por cá. Tem de haver uma tolerância intelectual em primeiro lugar para se poder arrancar com um projecto deste calibre. E dinheiro? E dinheiro!
Estou a elaborar uma lista de memória. É muito natural que me vá esquecer de um ou de outro nome. Quando isso acontecer há que os repor.
(Os nomes com que iniciei esta perspectiva de Civilização são os que se encontram fora. Acrescento os que me lembrei agora: Fernando Raposo, Carolina Matos, Manuel Avelino Ferreira, João Luís de Medeiros.)
Continua mais logo
Manuel Melo Bento

Wednesday, May 24, 2006

 

COGITABUNDICES

PREFÁCIO
Este texto que segue, de que não faço ideia do que tratará, merece um prefácio. E porquê? Para ganhar tempo e força. Penso em três temas. Faço uma rifa com eles. O que é que saíu? A Civilização Açoriana. Que dizer dela? Mas não estará o autor do texto a ofender o conceito de civilização? Eu faço o prefácio. Não escrevi ainda a obra. O que posso adiantar mais? Que o escritor é-o de uma escrita ainda desconhecida. Cheira-me a pelágio. Nietzsche disse qualquer coisa parecida: "Apóstolo de um Deus ainda desconhecido". Não é a mesma coisa! Foi uma ideia roubada. Tem direitos de autor! E depois quanto se deve? Continuando a prefaciar. Civilização Açoriana é plágio de Civilização Grega, Romana, Egípcia, etc. Em termos de conceito é capaz de uma ter ido ao encontro de outra... e assim sucessivamente. Logo não fará mal. Este tema tem de ser muito bem estudado. Tem de haver critérios que satisfaçam com rigor o que se pretende dizer. Isso é conversa de preconceituoso. Estou-me nas tintas! É Civilização Açoriana e não se fala mais nisso. Estás a meter-te no meu prefácio! Afinal qual é o meu papel? Nem todos os prefácios contêm o espírito da coisa. Acabe-se já com esta treta e passemos (é muita gente!) à obra dita nela própria.
OBRA QUE SEGUE O PREFÁCIO
Nenhuma civilização o é sem o animal que a cria. As formigas, por exemplo, ao construirem no meio das estepes verdadeiros edifícios com ar condicionado para se refrescarem são para mim a civilização formigal. Sem uma determinada espécie de formigas não havia ar condicionado no meio de um calor mortífero. O Homem Grego é o animal da sua própria civilização, etc. Todas as civilizações oferecem o seu contributo à Humanidade. Até a Civilização Americana (EUA para não confundir) nos deu uma perspectiva de como se destroem civilizações. Uma civilização que aniquila outra torna-se numa civilização imperial. Somos todos civilização. Os porcos (o que vou dizer é fruto das minhas meditabundices), por exemplo, que nós julgamos porcos mesmos, não o são. Construiram uma civilização. Analise-se o que vos digo com calma. Todos os animais e plantas tentam crescer em número por um lado e pelo outro dominar. O homem, os leões, as galinhas, as árvores frugíferas, etc., são exemplo disso. Os porcos se não dominassem o homem não execederiam em número mais do que sete milhões no planeta. Se fizermos uma estatística de quantos existem nos dias de hoje verificaremos um resultado espectacular. Nada mais nada menos do que setecentos e dez milhões. Em certas florestas ainda não é possível contá-los. Isto quer dizer que os porcos em vez de se extinguirem multiplicam-se cada vez mais. Deixam-se morrer por um lado, mas pelo outro atingem os objectivos para que foram criados: aumentarem em número e serem dominadores. Morrem um todo nada mais cedo, porém não trabalham nem se esforçam por comer. Até lhes metem a paparoca pela goela. O escravo mais directo do porco é o homem. O escravo mais directo da mulher tem sido o homem. A mulher para dominar participa com a dor que é oferecer o corpo ao homem sempre que este o deseje. Tudo tem um preço. As pirâmides do Egipto são o sofrimento dos escravos, etc. Em contrapartida ao sofrimento e à dor dela há mais mulheres do que homens e estes vivem à volta delas. Para mim a ideia de civilização diz respeito a todos os habitantes do planeta: animais e plantas. Não se trata de ser panteísta. Estou por fora dessas interpretações. Nem sequer me julgo à imagem de um Criador. Quero que ele tenha muitos meninos e que vá pentear macacos ou amantes se as tiver.
(Continua depois do jantar. Se Deus quiser... ora bolas saíu sem querer...)
A Civilização Helénica. M.H. Rocha Pereira dizia que Isócrates afirmara que o que fazem os gregos sentirem-se gregos não tinha nada a ver com a raça, mas sim com uma determinada mentalidade. Não só não acredito, como acho esta afirmação de Isócrates uma tolice de todo o tamanho. Também acho que o facto de se dizer que a Grécia é o berço da Filosofia não passa de uma atitude de bairro social. Nos dias de hoje nem todo o antigo pensameto oriental está traduzido. Como se pode fazer tal afirmação? Basta pensar-se que à volta da Grécia Antiga existiam raças e mentalidades de vários tipos. Se a mentalidade nada tem a ver com as raças então pode-se afirmar que os gregos se constituiam em mais do que uma. A palavra raça está mal empregue. A estatuária grega contraria o que Rocha Pereira transmitiu sem o ter esclarecido. A"Apologia de Sócrates" também. Depois de prestarmos um pouco de atenção ao próprio Homero, acabamos por pensar que não se trata de um só homem, que ainda por cima dizem cego. Na Odisseia um tal Ulisses vagueia durante dez anos à volta da Grécia e deixa a mulher a fazer sopa e tapetes à sua espera. Repetem tantas vezes esta e outras histórias que para além dos bananas dos Gregos outros povos se dedicam a elas de alma e coração e nelas acreditam. Os americanos. por exemplo, que têm pouca história fazem filmes atrás de filmes acrescentando sempre pormenores da sua lavra. Helena de Tróia passa a loura do tipo da Monroe. Os heróis gregos e romanos ficam todos claros nos seus filmes. Cristo então nunca é moreno. É sempre louro. A mãe é loura também. Eu dou mais crédito à História Inventiva de Portugal do Prof. Saraiva do que às do resto do mundo. Ele, de facto, não estava lá junto aos factos mas di-lo com tanta convicção que me convence... Ora estas e outras civilizações escondem-se atrás de mitos e de lendas para entreter. Quando penso na Civilização Açoriana penso na sua mentalidade. Pártenon não temos. Cnossos e monstros tão pouco, etc. Temos pastos e mais pastos. Poucos Centros Culturais de Belém? Nenhum! Mas em compensação temos muitos matadouros. A verdade é que a nossa época não vive do passado. Temos um tal Frutuoso que escreveu uma História dos Açores tipo medium espiritista e de resto é tudo inventado. A nossa história não passa de uma genealogia. Existem alguns ensaios elaborados por académicos regionais mas que são insuficientes para no caso de querermos inventar uma tipo grega. Mas então, o que temos? Temos gente viva muito qualificada. Num areal como o nosso com uma massa populacional que ronda as duzentas mil almas a percentagem é enorme. Nós sofremos de sobreabundância de mentes priviligiadas. Há pessoas que vou citar e de entre algumas delas tem de quem nem gosto. Não posso é esconder o contributo que trouxeram para a Civilização Açoriana. Nas nossas colónias da "Ásia Menor" pontificam (os nomes seguem por ordem arbitrária): Onésimo T. de Almeida, João Rebelo, Medeiros Ferreira, Carlos Carreiro, Mário Mesquita, Linhares Furtado, Álvaro França, Eduíno de Jesus, Mota Amaral, Reis Leite, Luiz Fagundes Duarte, Carlos Alberto Moniz, José Eduardo Moniz, Mário Bettencourt Resendes, Luís Silva, António Rego, José Enes, Jaime Gama (custa-me imenso indicar aqui o seu nome) Pauleta (com a sua escola)... Amanhã continua.
Manuel Melo Bento
QUARTA-FEIRA
24/05/2006

Tuesday, May 23, 2006

 

BILHETE DE IDENTIDADE / CONTRIBUTOS PESSOAIS

Eu tenho uma vaga ideia de ter lido no corrente ano um livro que continha um título assim: BI. Li coisas boas e também li muito lixo. O pior de tudo é que hoje comecei a ter consciência e a sofrer com o facto de me estar a esquecer de nomes de pessoas com quem lidei e com quem me costumo relacionar. Às vezes não sei como se escreve uma determinada palavra. E o pior é que quando a vou procurar no dicionário já dela não tenho noção alguma. Alzheimer? É o que me parece. Porém, não vou pagar cem euros para que o clínico mo confirme. Ainda acho muito positivo aperceber-me destas terríveis lacunas. É uma espécie de penalização. Dos amigos que tenho aqueles que eu mais aprecio e lembro são os livros. E Porquê? Leio sempre na cama. Às vezes sentado. Mas sentado dá-me sono minutos depois de os começar a ler. Não percebo. A cama é para outros vícios. Comigo é isto. Ler é deitado. Passo doze horas na cama, no mínimo. Durmo dez. Logo leio duas. Se tenho um livro interessante e a cama já está a chatear deito-me no sofá. Toda a minha vida fui homem de cama e de sofá... O pior será quando a doença de Alzheimer me fizer esquecer o que fazer na cama... É a velhice! Agora percebo porque é ela respeitável. Já me esquecia de dizer que com baixas temperaturas as doze passam para dezasseis. Intercalo o sono com a leitura. Como sonho sempre, muitas vezes as personagens saltam do texto e acompanham-me numa série de aventuras que nada têm a ver com o que quer dizer o narrador. Têm sido mais pesadelos do que outra coisa. Acordei, hoje, alagado em suor. As baleias do Sidónio Bettencourt apanharam-me no mar. Lá entrei para a bocarra do mamífero. Pior foi quando me deitei com a Elizabeth Kostova. Acordei com o Conde Drácula em cima de mim e com os dentes ferrados bem longe do meu pescoço . Gritei ! Acordei. Safei-me. Quando acabei de ler o drama do Eduardo Brum a maluca da Rute apanhou-me numa cama amarrado em lençóis azuis. Tinha ela numa das mãos uma Biblia preta e na outra a minha fralda. Estava bem velho. Um espelho na minha frente dava a entender um mapa geográfico. Era a minha fuça. O melhor sonho que tive foi quando era novo. O Eça tinha escrito uma história de um primo e de uma prima. A Luizinha enganara-se no andar onde ia encontrar-se às escondidas com o Basílio. Entrou no meu quarto lá para os lados de Campo de Ourique. Tu não és o primo! O que é que queres que eu faça? Ela cansada, tira o chapéu e senta-se na minha cama. Lembro-me tão bem desse sonho. Diz ela pondo-me a mão na cabeça. Já que está deixa estar! Acordei com o maldito do carteiro a tocar à campainha com a acostumada carta registada. Era a mesada. Assinei voltei para a cama. Nunca mais ela me apareceu apesar de me esforçar nesse sentido. Tentei reler outra vez o Eça... Porém, nada! Ainda hoje me lembro do seu cheiro e da cor da sua sombrinha.
Manuel Melo Bento
Texto de Terça-feira
23/06/2006

 

DUAS HORAS DE EMISSÃO TELEVISIVA SOBRE UM LIVRO; UM HOMEM QUE PERDEU UMA ELEIÇÃO AUTÁRQUICA E AS ACUSAÇÕES FEITAS À COMUNICAÇÃO SOCIAL


FALTA DE SOM OBRIGA A IMAGINAÇÃO A FAZER UM RELATO SOBRE O QUE SE PASSOU NO "PRÓS E CONTRAS"
Duas horas de emissão televisiva custam meio milhão de euros. Juntar algumas das mais mediáticas figuras do panorama jornalístico não sai barato. Levar Fátima Campos Ferreira a utilizar o seu programa, que diga-se é de grande audiência, para falar de uma derrota, de um livro, de um ex-candidato e respectiva mulher e filho é de facto um grande feito. Dividir Portugal em duas facções é-o ainda mais. Só a inteligência de um Filósofo poderia fazer com que tal acontecesse. Até hoje, na história das estações televisivas, não houve paralelo. Os meus parabéns ao Professor. O Professor está farto de saber o que é a comunicação social e o que é o ângulo de perspectiva. Este último é sempre fruto de uma leitura circunstancial. Trata a comunicação social de factos e a perspectiva o mesmo. Tal como o professor tem uma visão (socialista) da sociedade, o actual presidente do Município de Lisboa, seu ex-adversário, tem outra. Tem razão de queixa porque não teve tratamento digno de candidato? Em quê? O Professor não soube fazer passar a mensagem de vir no futuro a ser autarca? Claro que não! Se tivesse ganho as eleições camarárias o ângulo de visão mudava. Os minutos com o Dinis Maria incluídos na campanha (veja só que eu já sei como se chama o miúdo e não me lembro do nome do actual presidente da CML) teriam sido um elo de ligação à vitória caso ganhasse. O professor caíu no ridículo em querer mostrar o casal modelo. Tipo manequim da Loja das Meias. Isso paga-se. Não cumprimentou o seu adversário depois do debate. Até os pugilistas o fazem. E o embate entre eles não é com a língua. Não caíu bem. Não se metesse na política! Ela é tão suja quanto a comunicação social. Claro que nem todos os políticos são sujos nem todos os jornalistas o são... Se a política é uma coisa suja, por que quer uma pessoa limpa meter-se nela? Com tantas profissões à vista por que querem alguns ser jornalistas e porem-se ao serviço de patrões pouco escrupulosos e sérios? Como sejam os jogos de interesses privados por um lado e os utilizadores do Estado por outro. O Professor descobriu a pólvora. E foi durante cinco anos ministro da Cultura. O livro que escreveu é uma treta de queixinhas. Não merece ser sequer dimensionado. Mas sem dúvida teve em Portugal mais propaganda do que o Código Da Vinci. É obra! Se vivesse nos Açores, o Professor havia de ver o que é que a comunicação social faz aos intelectuais Os escritores se não bajularem os directores dos órgãos de comunicação social não passam da cepa torta. O meio é muito mesquinho e cheio de pequenos ódios. Imagine-se o que é ter a RTP/A a bater à porta para nos fazer uma entrevista política. Procurar fazer boa figura com as respostas e depois de tudo ela não sair para o ar. Porque motivos? Isso aconteceu comigo. Já fiz (aproveito para me lamentar. E por que não ?) uma exposição de pintura e convidei a RTP/A para a inauguração da primeira galeria criada para expor trabalhos de artistas livres (1991) e a comunicação social como sempre não apareceu. Em 1983 lancei o primeiro de muitos livros. A primeira edição esgotou. A RTP/A nem se dignou a aparecer depois de convidada. Daí para cá já pus cá fora vinte e seis trabalhos... Não vou falar do seu valor. Não me compete fazê-lo. Não caía bem... Só porque penso pela minha cabeça. Só porque acho que nos Açores devem ser os açorianos a mandar. Só porque acho que os políticos são uma corja de imbecis e de vendidos. Só porque acho que os jornalistas não passam de balconistas. Só porque acho que o povo açoriano ainda está na fase do Neanderthal. Só porque não pertenço a panelinhas ninguém me dá um minuto no ar. Estou tão infeliz. Ai! Às vezes nem durmo só de pensar como os papar como fez o Professor. Duas horas no ar! Uma vez, quando me entretinha com a política dei uma conferência de imprensa. Na altura a jornalista que foi fazer a cobertura da RTP/A era Alzira Silva, actual membro do governo. Falei durante uma hora e quarenta e cinco minutos. Dessa conferência apenas foi para o ar trinta segundos de baboseiras ainda por cima interpretadas. Era eu candidato. Porra, só trinta segundos... E o professor a queixar-se. Se um dia me aparecer um "jornalista" à porta eu não lhe estendo a mão. Eu solto a Kálix. A minha cadela de fila. Bem, se for a Fátima Campos Ferreira quem se solta sou eu.
Manuel Melo Bento
(Crónica de Segunda-feira. Atrasada devido aos riscos)
22/05/2006

Sunday, May 21, 2006

 

"FANÁTICA DO SENHOR" IMPEDIDA DE VIAJAR DE LISBOA/PONTA DELGADA...


Uma parente minha, "fanática do Senhor", foi impedida de viajar de Lisboa/Ponta Delgada por, na altura de embarcar, se ter esquecido do BI. Apresentou vários documentos em substituição, tais como: carta de condução com foto, cartão profissional (trabalha no aeroporto de Lisboa em tarefa de grande responsabilidade no controlo de aviões), cartão de eleitor, cartão de partido político a que pertence, vários santinhos e uma relíquia do Santo Cristo de quem é muito reverente devota e admiradora, pois pertence ao Grupo Independente Fanáticas do Senhor. Ainda por cima (ao lado evidentemente) viajava com a irmã. Ambas nascidas e criadas em São Miguel. Tudo isto não lhe serviu de nada, pois a funcionária do balcão da TAP no aeroporto foi policialmente intransigente. Mostrou a mala, única bagagem que trazia, para além da pele. É do tipo louro sem ser pintado. O que de certo não lhe permitiria ser facilmente confundida com os bin de qualquer ponto geográfico. Ficou muito aborrecida pelo incómodo. Conseguiu chegar a tempo e a horas de ver o Senhor, pois prontificou-se a pagar o preço que os políticos da Assembleia da República e outras dependências empregadoras deviam pagar mas não o fazem quando viajam. Executivo. Ora toma! Teve de ir à procura de uma saída. Foi à Loja do Cidadão, nicles. Não conseguiram uma certidão narrativa nem através dos novos modelos de informática. Quando lhe apareceu o BI, já não havia solução para ela. Pagou mais! Viajou! Para mim, acho bem que essas medidas sejam tomadas em todos os aeroportos. Sem BI não há nada para ninguém. Podemos pois viajar em segurança para os Açores. Tendo em conta que está tudo tão controlado, as polícias têm a tarefa simplificada. Isto é, sabemos quem por cá anda. Vivemos em segurança e não temos ilegais, penso eu. Termino com esta. Tratando-se de um voo doméstico isto quer dizer que, por exemplo, de Lisboa para o Algarve se deve passar o mesmo. Daqui a dias estaremos também controlados nos combóios tal qual como na Alemanha nazi. A minha parente, depois de ter ido atrás do Senhor, recuperou. E ficou com uma certeza: os Açores não estão independentes. É tudo uma questão de segurança.
Manuel Melo Bento
Domingo
21/05/2006

Saturday, May 20, 2006

 

AO MENOS UMA BURRA!

Não sei o que estará por detrás da campanha publicitária que prepara as mentes nacionais para o grande desafio que Portugal e os Portugueses terão de enfrentar nos próximos meses. As cabeças de cartaz que aparecem como "responsáveis" são os senhores Madaíl e Scolari... Logo a seguir vêm os astros da bola : os jogadores profissionais. Quando o seleccionador brasileiro da selecção portuguesa se dirigiu à comunicação social para anunciar os vinte e três eleitos, Portugal parou. O brasileiro não escolhendo um profissional da bola, que durante o ano lectivo-dá-com-o-pé demostrou ser um grande mestre do drible, deu origem a uma rutura Norte/Sul. Pouco tempo depois do enunciado, as coisas compuseram-se mais ou menos. Para que não houvesse mais algum factor de desunião nacional, inventou-se uma maneira de se utilizar as mulheres (cuja cota paritária subira oficialmente na política) no difícil terreno dos embates futebolísticos. Como sempre vazias de exigências rigorosas, elas corresponderam. Trinta mil galinhas prepararam-se para treinar na formatação de um grande colorido patriótico. Pularam e gritaram. Cantou-se o hino nacional, aquele que manda marchar contra os canhões, e haja sorte com a bola. Agora é rezar a Deus para que nos proteja. Bem-vindas aos relvados. A indústria automóvel utiliza o corpo da mulher para atrair possíveis compradores. Ainda se compreenderia no passado quando só o homem conduzia. Hoje, as mulheres conduzem tanto quanto os homens. Se não andam elas por elas, deve estar lá perto. Não se justifica, pelo menos para mim, que haja uma mulher meia despida junto a um carro num stand. Com a bola, que é coisa de homens, dado que a rudeza do jogo não comporta todo o tipo de mama, não vejo como é que vai ser o seu contributo com a pelota. Estamos aqui estamos a vê-las de calcinhas como as ocas americanas a darem saltinhos e gritinhos em frente dos machos como que a puxar pela sua virilidade e por futuras vitórias. Fora da cidade, os lavradores que preferem as mulas aos cavalos, por aquelas serem mais adaptadas ao trabalho duro, costumam amarrar um cavalo e depois excitam-no passando na sua frente uma égua. Quando o cavalo aquece e estica o suficiente trocam a égua por uma burra e soltam-no. É daí que sai mula. É tudo uma questão de saber como preparar os motores. Pobres mulheres! Entretanto, já anda no ar a notícia de que vão comer o subsídio de férias aos reformados. É costume lançar-se o boato para depois confirmá-lo. É preferível descontá-lo mensalmente do que rapiná-lo todo de uma só vez. Que pensará o cavalo quando salta para cima da burra? Do mal o menos! Peço ao governo que ao nos excitar com o corte do décimo quarto mês nos compense depois... Cavalo não é de ferro! Sem égua, dê-lhe burra!!!
Manuel Melo Bento
Sábado
20/05/2006

Friday, May 19, 2006

 

. RELIGIÕES - ORAÇÕES - FEZADAS .

"Mestre, existe uma palavra pela qual se possa regular toda a vida?" " O amor ao próximo. O que não desejas para ti não o faças aos outros." (1) .
Com o Código da Vinci a saltar do livro para o cinema, a Religião Cristã torna a estar no palco de todas as apetências. Li o livro, não verei o filme. Pelo menos para já. O folclore não me atrai. Se Cristo teve relações sexuais com Madalena, que para "Roma" é uma mulher pública, não me diz nada. Comida ou não pelo Nazareno, que diferença faz de todas aquelas que foram e são quotidianamente papadas ou que papam? Para mim nicles. A Igreja perdeu o juízo ao classificá-la assim. Ela segue Cristo durante a sua campanha de mentalização dos ferozes seguidores de Jeová. Devia haver mais respeito com aquela acompanhante, que deu bastantes provas de o respeitar e de o amar ao não ter fugido com medo do opressor romano. Avante! Com a leitura de "Religiões Não-Cristãs", um trabalho excelente de Helmut von Glasenapp, podemos pensar que a estrutura biopsicológica do homem é constituída pelo elemento religioso. Faz parte dele como uma necessidade instintiva. Se assim não for, pois paciência. Cada um que acredite que a sua é a verdadeira. Como a religião está à nossa volta permanentemente através da familia, amigos, professores, ateus, crentes, etc. não nos devemos escusar de tomar posição crítica, se for caso disso. Hoje, já não vivemos na escuridão. Hoje, já não nos bastam as interpretações dos homens que nos tratam como acéfalos. Hoje, vamos nessa, mas ressabiados... Há os que imbuídos da missão de informar, como é o caso de Costança Cunha e Sá, da direita católica portuguesa, que num trabalho de análise histórica no "Público" de 19 de Maio, refere "Constantino transforma-se no fundador do Cristianismo, divinizando Jesus que, até aí, seria apenas um homem." Oh diabo!, então foi o Imperador que com a sua importância real descobriu que Cristo devia ser divinizado para fins económicos... Até Constantino, século III, Cristo era um simples pregador judeu assassinado pelo seu próprio povo porque não lhes fez as vontades de vingança. Um horror! Se se deitou com Madalena fez muito bem! Se lhe fez um filho porque não usou de precaução (hoje diz-se preservativo), penso que isso só aos dois diz respeito. São coisas do foro privado de cada um. O que é certo é que Cristos há muitos. Pois cada interpretação é um Cristo. Cada geografia apresenta um Cristo diferente. Ultimamente, foram, à falta de melhores ideias, desenterrar a Mãe de Cristo e puseram-na também a fazer milagres e a escrever cartas sagradas. O mundo religioso é tão fértil quanto a imaginação biopsicológica dos homens. Os sacerdotes egípcios (três mil anos A.C.) recolhiam para os seus deuses as refeições que a plebe ignara preparava e colocava à porta dos templos. Grandes farras faziam aqueles à custa dos pategos. Julgavam estes que os deuses comiam e castigavam todos os que não contribuíssem com oferendas... Os deuses enriqueciam. Ficavam cheios de ouro e pedras preciosas. Quem os assaltava consolava-se. Milagrosamente ficavam ricos. Alguns arqueólogos também...
Todos os povos se dirigem aos seus deuses. Todos eles olham para o céu como a quererem vislumbrar uma saída para os seus problemas terrenos. Todos a pedir. Uns uma casinha e se possível que não chova dentro, outros um bom casamento e se possível que o noivo/a tenha onde cair morto/a. Os doentes desenganados dos médicos pegam-se a todos os padroeiros, santos e deuses. Toda a minha gente pede. E se lhes sai alguma rifa premiada ficam eternamente gratos pelo sopro de felicidade divina que os envolveu. Só os mortos é que estão impedidos de pedir aos céus seja o que for. Alguns até já lá devem estar. Na Grécia Antiga, os templos referidos por Homero (cerca de 850 a.C.) serviam de habitação aos deuses. Os templos são os motéis dos deuses. Digo eu! Até os deuses mais velhinhos faziam os seus milagres a preceito. Hoje, em dia, os chefes de Estado pedem aos seus deuses para os acompanharem na morte e destruição do inimigo. Por exemplo, foi muito comovente ouvir o Mr. Bush pedir ao seu Cristo força na verga para os seus soldados enfrentarem o calor do deserto. O chefe de Estado contrário lixou-se! O Cristo de Bush era mais guerreiro. Uma espécie de cópia do apelo dos hinduístas a Indra, o rei dos deuses: "Tu, rei nosso e nosso salvador, Cuja fortaleza destrói inimigos e dragões, Vem a nós e protege-nos."(Lê-se no Regveda, canto 10,152 - século XV a.C.). O difícil é acertar no Cristo que dê mais sorte...
Finalmente as fezadas. O Santuário do Senhor Santo Cristo, não é o templo de Apolo na cidade de Delfos. Mais, nem a Pítia vomita os oráculos do deus. A autoridade máxima, que fica logo abaixo de Cristo (no nosso Santuário) elevado à categoria de deus no século III, é o Monsenhor Agostinho. Reflictamos sobre algumas das suas frases que estão carregadas de misticismo secular. (2) Frase nº1 - "Do que Eu vos disse e vocês não perceberam nada.", Frase nº2 -" A fé exige um mergulho no escuro." A frase 1, repetida pelo Monsenhor, quer dizer que Cristo quando não era ainda Deus, tinha dificuldade em explicar-se. Não comparando é como os professores de matemática que não sabem ensinar obrigando os alunos a recorrer a explicadores. A Frase 2 é da lavra pessoal do religioso: "mergulhar no escuro". Realmente, nunca tinha ouvido melhor definição para a fé. Por isso é que a senhora Eanes ofereceu o seu anel de noivado ao Senhor. Estava cega. Tinha fé! Vá lá que não foi o par de sapatos do noivo. Teria sido uma heresia. Cristo para todos os gostos. Mas há que fazer justiça. Este Cristo que foi descoberto na Caloura não é o mesmo do de Bush. O nosso é pacato e sofredor. Moralista e respeitador. Adorado tanto por ricos como por pobres. Salvaguardando as distâncias que os separam, claro! Só uma vez foi verdadeiramente ofendido. Aconteceu aquando da visita do seu Representante na Terra, João Paulo II. Este obrigou-o a acordar da sua anual hibernação para ser exposto perante ele. Eu, pessoalmente, não gostei. Nasci em Ponta Delgada. Este é o Cristo que aprendi que era Deus. Pelo menos era o que minha mãe dizia. E ela tinha a mesma Fé de Monsenhor Agostinho. Que importa ser este Cristo de madeira. Há-os em mármore e que não são mais amados. Mergulhemos na Fé!
(1) - Confúcio, século VI a.C.
(2) - Entrevista a Açoriano Oriental em 19/05/2006
Manuel Melo Bento
Sexta-feira
19/05/2006

Thursday, May 18, 2006

 

."BEM-VINDOS ÀS MAIORES FESTAS RELIGIOSAS DOS AÇORES" ESCREVEU O IRMÃO COSTA SANTOS, PROVEDOR DA IRMANDADE DO SANTO CRISTO


BOAS FESTAS DA IRMANDADE DO SENHOR SANTO CRISTO DOS MILAGRES
Quando, hoje à tarde, fui aos jornais deparei com um livrito que tinha na capa o Senhor Santo Cristo dos Milagres. Quis comprar. Era grátis. Antes de fazer a acostumada e viciante leitura dos jornais do "continente" comecei por ler os desejos de Boas Festas universais do Provedor da Santa Irmandade. Retribuo os cumprimentos, dado que sendo de graça não ficaria bem não corresponder. Nem que seja para o curriculum. Todas as páginas muito interessantes. Mesmo as da publicidade estavam bem coloridas. O meu espanto, talvez por ignorância, foi ao visionar a secção mediática inclusa na "ORDEM GERAL DA PROCISSÃO" ter deparado com três escalonamentos com os números seguintes: 26; 47 e 50. O 26 é atribuído ao Representante da República para a R. A. dos Açores. O 47 é pertença do Director Regional do SIS. O 50 é também para o Director Regional do SIS. Se já se acabou com o cargo de Ministro da República que faz no lugar de Honra um Representante de uma República laica atrás do Senhor? Devia estar colocado no 36-0 logo acima do 36-1. O Irmão Provedor elaborou um protocolo político-religioso com a Santa Sé? Nova Concordata Açores/Roma? O Representante é menos do que Ministro! Ou está equiparado ou teve complemento de orações... O SIS que eu saiba, diz respeito ao Serviço de Informações Secretas. Não sabia que nos Açores havia duas direcções da Secreta. Isso não é bom para a Secreta, pois ficam "dessecralizados". O 51 foi atribuído ao Director Regional dos Açores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Isso são tudo lugares de "repressão" "vigilância e escuta" de cidadãos. Em que lugar ficarão os imigrantes ou seus representantes? Era mais lógico! Eu agora já sei porque o Santo Cristo tem aquela carinha de sofredor.
Ora bem. Para terminar. Temos a Feira dos Queijos, a Feira do Gado e a Feira do Paletó. Todas anuais como manda o figurino.
Gostei, também, de saber quantas jóias tem o Senhor Santo Cristo e que estão descritas no tal livrinho. Mandam as regras de segurança e das Finanças ter muito cuidado na amostragem dos bens... Sinais exteriores de riqueza? Deus deve dar o exemplo! Dêem algumas das jóias ao Senhor da Pedra de Vila Franca do Campo, que é um irmão pobrezinho do Senhor Santo Cristo...
Tenho de ir, pois, vou ver a iluminação do Campo!
Manuel Melo Bento
Quinta-feira
18/05/2006

Wednesday, May 17, 2006

 

. O ENIGMA, FINALMENTE!!! .

O primo Leonel usava óculos com lentes escuras. Como poderia ter visto meu avô tirar de um gavetão um frasco com pó às escuras e de noite ? Pensei cá para mim que ele estava a gozar comigo. Certo dia, uma empregada doméstica, aproveitando a ausência do velho que tinha ido para o hospital para ser operado pelo dr. Simas, foi ao gavetão e de lá tirou uns lençóis de mil. Quando soube do incidente, pensei cá para mim que afinal o pó era o cacau-pilim escondido ao jeito da malta antiga. Esqueci o assunto. Meu avô morreu em 1966. Depois da sua morte, a segunda mulher fizera alterações na casa e começara a imitar o que via na revista "Flama". Mudou as quinquilharias para a adega. Muitos anos depois, estávamos todos na Vila a festejar o Senhor da Pedra, uma espécie de Santo Cristo sem jóias, e dei por mim à procura da famosa aguardente de vinho que meu avô fazia. Ele não a bebia, mas meu pai (e eu, claro) apreciávamo-la. Uma maravilha! Nem sequer inchava os pés. Lá agarrei numa garrafa onde estava escrito num rótulo económico: "Aguardente de meu pai". Quando a retirei vi que por detrás dela estava um frasco. Peguei nele com cuidado com uma mão por cima outra por baixo. Senti uma espécie de humidade na base. Com cuidado, vi que o frasco tinha qualquer coisa colada e viscosa. Era uma espécie de folha de papel de mercearia e estava dobrada a oito. Arranquei-a. Pensei no Leonel naquele momento. Pus-me a lê-lo. Tratava-se de uma fórmula. Depois de a ler, dobrei-o como estava com cuidado, pois, quase se desfazia e embrulhei-o no meu lenço. Porém, a coisa não ficou por aí. O frasco, depois de lhe retirar o papel, mostrava uma espécie de rosca. Olá, queres ver que é oiro? Desenrosquei-a muito lentamente. Era um compartimento incluso. Destapei-o. Que rico cheirinho! Uma mistela preta, tipo graxa de sapatos. Graxa não cheira assim tão bem. Voltei a fechar o subfrasco. Agora vou retirar a rolha. Fi-lo. Cheirava a mofo! Era farinha velha. Tapei-o de novo. Agarrei na garrafa de aguardente e no frasco, saí da adega. Subi as escadas e deixei na mesa do quarto de jantar remodulado uma e fui pôr na bagageira do carro de meu pai o outro. Mais tarde, já na cidade e no silêncio do meu quarto, voltei a desdobrar o papel amarelo sujo e reli-o. Era uma receita. Dizia como fabricar o líquido viscoso que cheirava ainda muito bem. Para ser utilizado e consumido tinha de misturar-se uma colher de chá do mesmo com duas colheres de sopa de ... (o segredo é meu) , mais três colheres também de sopa de... Tudo produtos de mercearia. Deve-se beber antes... ou durante. Depois, numa caligrafia muito molhada por reguadas, dizia que a farinha de milho torrado serve para excitar as fêmeas uma vez colocada estrategicamente nos sítios certos. Uma vez que o Hugo Boss já está no mercado dos homens, nada me custa revelar esta segunda parte do segredo. Ora temos, pois, para as classes desprotegidas a farinha de milho torrado e para a burguesia a perfumaria fina. Já experimentei o produto natural que meu Avô da Vila inventou. Brasileiras (pagando) e suecas dos fiordes, onde estão? Tenho aqui Milho Torrado! Calma!, dá para todas... A terceira parte do segredo só o desvendarei quando destrinçar a parte que está em código. Valha-me a Beata!
Manuel Melo Bento
Quarta-feira
17/05/2006

Tuesday, May 16, 2006

 

- FINALMENTE: O SEGREDO DA FARINHA DE MILHO TORRADO -


O FRASCO DO AVÔ DA VILA
Dizia-me uma coirmã de meu pai que o meu tetravô - trisavô paterno de meu pai, logo bisavô do meu avô da Vila, conhecido por Mestre Manuel dos Moínhos como em artigos atrás expliquei - era pescador em Vila Franca do Campo. Mas, cuidado! Era muito poupado, não bebia, não fumava, trabalhava muito e foi muito pobrezinho até ter construído o seu próprio barco. Fiquei sem saber se ele usava sapatos ao domingo para ir à missa, uma vez que fora baptizado em São Pedro da mesma Vila, em 1771. Sua mulher tinha um nome a puxar para gente calçada: Margarida Violante. Esqueci-me de perguntar. Imperdoável! Talvez, até, minha prima Maria Ana o não soubesse. Mas sempre era um elemento de promoção social que me iria calhar muito bem... De poupança em poupança, de aperto em aperto, deixou qualquer coisita, que depois serviu para que as crias descendentes as aplicassem em Cultura. Não muito densa, claro! Ora, de muito poupadinhos que eram os meus antepassados deviam, como é lógico, quando morressem, fazer mais bem do que mal. Bem material, claro. Vou saltar por cima do meu trisavô porque dele pouco sei, nem tenho meu Irmão Carlos junto de mim para me dar algumas dicas históricas. É que, não se esqueçam, trata-se de um meu ascendente! O que é certo (segundo os registos de baptizado) é que foi pai do meu bisavô. Vou parar um pouco, porque já me estou a rir. Pareço um tolo. Cheirei o raio da farinha, ou o que resta dela. O que é que eu esperava! António José Bento, assim se chamava ele, apesar de ser conhecido por Fiveca, pois tinha dificuldade em pronunciar fivela. É de admirar porque a mulher dele, Anna Estrela, era Mestra Régia... Isto não pode ser escrito sem ser muito condensado, porque mete política no assunto. Também, não obrigo ninguém a ler. É mais para mim e para o futuro, porque destas pequenas coisas só a mim me contavam, por ser mais aberto... Ora Anna e Fiveca tiveram cinco filhos. Como tinham quatro estufas, bem no centro da Vila, lá para os lados do Largo Infante (uma delas já vendi...) foi com os ananases das mesmas que possibilitaram instrução aos filhos. Meu avô, por não ter querido ser padre (ficava mais barato), ficou-se pelas estufas, marcenaria e moínho. Foi a sua sorte. Minhas tias avós, duas foram para o Magistério, outra para a costura e meu tio António para Lisboa, onde se formou em engenharia de minas no IST. Saíu daqui saloio e voltou saloio. Lá fora deu-se com más companhias - Afonso Costa e outros democratas - o que lhe custou dissabores. Quando Afonso Costa caíu e ele manteve os ideais democráticos por cá, "certo" povo da Vila foi atirar pedras a casa do pai Fiveca, onde vivia. Foi-se embora corrido e com os casulos bem apertados entre as pernas para África, onde enriqueceu. Não voltou à ilha. Foi casado com uma tolasca falida que só tinha de seu um nome tão comprido quanto a canada do Peixe Assado. Um dia, encontrei-a no Porto, onde me passou cartão, isto é, deu-me um cartão de visita dizendo-me em seguida que daqueles nomes todos (Albuquerque, Corte-Real e outras coisas da mesma classe onomatológica) o de Costa era o único plebeu. Costa era o apelido da mãe do meu tio saloio. "Ó tia, meu pai, quando se falava de genealogias dizia-me que, nós, os Costas da Vila, descendíamos de piratas... que eram referidos nos Lusíadas". A velha não gostou. Nunca mais a vi. Mais tarde, um filho dela veio exercer medicina para Vila Franca. Não exercia nada. Só acordava à tarde. Não lia nada. Trouxe um combóio eléctrico muito grande para se entreter. Não era político como o pai. Foi-se! Era o primo Leonel. Tão saloio como o pai. Não saíu à mãe... Por que falo dele? É que ele viveu uns meses em casa de meu Avô da Vila. Nisso, não era muito parvo. Saltou de tio para tia até que meu primo José Sebastião, coirmão dele, correu com ele. Senão ainda ele andava por aqui... o Albuquerque. Quando viveu em casa do tio, o Leonel descobriu que o meu avô lá de vez em quando se dirigia a um armário, fechado a sete chaves, onde tirava de um gavetão um frasco e dele retirava uma pequena porção de um pó. Isto fazia-o antes de se deitar. Com medo de meu avô nunca se atreveu seguir-lhe os passos. Pois, sabia que ele, apesar de franzino, tinha muita genica. O Leonel não era muito inteligente, puxava à mãe. Não sabia guardar um segredo. Como as nossas idades não eram muito distanciadas, às vezes íamos ao café juntos, ele acabou por me contar o que via o Avô da Vila fazer. Foi-se o Leonel, ficou o enigma. Ele era burro. A mulher dele esbofeteara-o à saída do hospital onde trabalhara. Não tinha paleio para mulher. Fugiu para cá e por cá endoidou de saudades. Imagine-se, tudo por causa de uma mulher... Se ele tivesse descoberto o "Segredo da Farinha de Milho Torrado" talvez o problema que tinha com a mulher se tivesse resolvido a seu contento. Eu é que o vim a descobrir. Fica para mais logo, pois vou jantar. Quero fazer uma pequena correcção. É que vi meu Irmão Carlos na RTP/Açores... a limpar os outros... Meu tetravô por ter construído um barco, passa de pescador a armador. E minha tia costureira, passa a estilista. Alta Costura. Fica mais composto. É outra coisa! Até já! A revisão do texto, para mais logo, também.
Jantei, estou cansado. Para que fui comprar um computador. Devia ter feito como o meu pai. Tinha o vício de fazer piões ao torno. Durante a vida inteira, deve ter feito à volta de meio milhão deles. Foi tenente do exército, funcionário da Junta Geral, agente técnico de engenharia, professor de matemática na Escola Industrial, Comandante da Brigada Naval da Legião Portuguesa (colaboradora da PIDE), Comandante dos Bombeiros de Ponta Delgada, proprietário de uma loja de ferragens (onde eu sempre que chumbava ficava preso), agricultor aos fins de semana... (ainda hoje comemos a famosa banana prata por ele plantada) ia dizer mais qualquer coisa mas ninguém acreditava. Ficou conhecido pelo homem do pião... Vi-o uma vez a sacudir as aparas do seu fato-macaco antes de atender uma chamada telefónica do chefe de todas as Brigadas Navais de Portugal, o almiramte Henrique Tenreiro. Quem não trabalhava não era considerado. Eu nunca gostei de esforços escusados. Tenho fraquezas. Saio aos Silvas. Não nos podemos levantar cedo. Para nós é a saleta e o nunca alterar a voz. Cansa! Quando as Silvas alteravam a voz era para cantar à volta do piano da sala do Avô da Cidade. Minto! E para nos educar. Não serviu de nada... Os Silvas tinham de vestir bem, desse por onde desse. Quando visitava meu Avô da Vila durante a semana, era eu miúdo, ele vestia um fato de cotim e usava um chapéu que herdara do velho Fiveca. Meu avô era humilde. Só quando vinha à cidade depositar as patacas no Banco Nacional Ultramarino e fazer contas com a "Zenite", que lhe ficava com a fruta, é que usava um chapéu de aba revirada. Soavam as campaínhas e lá ia eu cumprimentá-lo diante dos letrados que entravam no banco a pedir adiamentos ( a vida era difícil naquela época) para sacar-lhe uma de cinquenta, que depois passou para vinte até à sua plena conversão à somiticaria. Nunca vi meu Avô da Cidade falar com o da Vila. Seria porque meu Avô da Vila, depois de enviuvar (tinha ele cinquenta e cinco), casou segunda vez com uma rapariga que era sua criada e tinha apenas dezanove anos? Naquele tempo era preciso ter os casulos no seu devido lugar para enfrentar a solidão que lhe custou não ter encalhado com uma senhora de mais ou menos a sua idade (o que era um disparate. Para que servem as mulheres velhas a não ser para chatear) e ter optado pela jovem. Eu, meus irmãos e meu primo Chico estávamos proíbidos de ir além do rés-do-chão da casa, onde o Avô vigiava o moínho sempre rodeado de mulheres que iam moer milho. Os quatro meses de Verão o filho do Fiveca passava-os com a família na Quinta da Senhora da Paz. Mas vinha todos os dias para o moínho. Ciúmes, mulheres e milho torrado. Foi a sina dele. Um dia, não há muito tempo, uma velha passou por mim na Rua Urbano da Silveira Moniz, onde ficavam as estufas, e perguntou-me se eu era alguma coisa ao senhor "Manulinho Bento". "Porquê?" " É que é muito parecido com ele! E eu vinha muitas vezes moer o milho de meu pai." Como ela o tratou com diminuitivo e com carinho, comecei a magicar coisas e perguntei-lhe: "A senhora teve alguma coisa com meu avô?" "Credo senhor, eu era uma rapariga séria!" Meu avô morrera há trinta e seis anos com oitenta e dois. A velha devia ter uns oitenta. Tirando trinta e seis fica com quarenta e quatro anos à data da morte dele. Se lhe tirar mais vinte e seis ela tinha na altura dezoito. Meu avô teria oitenta e dois menos vinte e seis. Igual a cinquenta e seis. Está no papo! "Manulinho" "Milho Torrado" "Ele era parecido comigo (obrigado!, estou a sentir-me bem). "O Segredo do Milho Torrado" continua, porém, vou dar uma pista: eu já o apliquei. Onde? Amanhã direi.
Manuel Melo Bento
Terça-feira
16/05/2006

 

POLÍTICOS NO AR


POLÍTICOS NO AR

Monday, May 15, 2006

 

- O SEGREDO DA FARINHA DE MILHO TORRADO -

Se não tivessem mudado de nome aos que aqui representam os interesses de Portugal nos Açores, eu não me atreveria a colocar na boca do mundo um segredo que guardei durante mais de cinquenta anos: "O Segredo da Farinha de Milho Torrado". Denominar-se Ministros da República àqueles era mais coerente do que substituí-los pelo nome de Representante da República. Os exigentes politicos-estatuto-açoriano são muito matreiros. Portugal é uma República. Era lógico que tivéssemos por aqui um Ministro... Representante é um paradoxo. Um açoriano é um português. Nem todos os portugueses podem ser açorianos! Um português do continente, nos Açores, autodenomina-se continental. Em Paris, diz-se português e não continental. Pois isso provocaria o riso. Um açoriano, nas mesmas condições, não provocaria nenhum espanto se se dissesse português ou açoriano. Se um açoriano, dizendo-se só português em Berlim, explicar que para ir de uma cidade a outra no seu território tem de o fazer a nado ou voando (de barco ou de avião quero, dizer!) provocará espanto. Tem de explicar melhor o que isso significa. Temos pois que considerar que Fernando Pessoa era mesmo poeta quando disse que a sua Pátria era a Língua Portuguesa. Confusões! Quem pode representar quem, afinal? Os açorianos os Açores em Portugal? Sim! Tem lógica mas não é materializada. Porquê? Por fraqueza! "O senhor o que é?" "Sou português!" "Qual é a sua profissão?" "Sou Representante de Portugal!" "Onde?" "Em Portugal!" "Não pode responder assim. Provocaria o riso. Vamos reformular." " Represento Portugal nos Açores!" "Assim está melhor. Representa Portugal junto das populações acorianas?" "Não, junto das instituições democraticamente eleitas. Quem representa e fala pelos açorianos são aqueles que estes escolhem através do voto expressos nas urnas." "Quais são as suas funções?" "Enquadrar as aspirações autonómicas num quadro constitucional." "Uma espécie de fiscal?" "Nada disso! Estou atento pedagogicamente ao processo técnico-juríco das suas determinações legislativas." "V.Exª. Foi referendado pelo Povo Açoriano?" "Em certa medida, pois, represento o senhor Presidente da República que foi votado maioritariamente por este magnífico povo. Pacato, obediente, servível. É vê-lo a preparar-se para gritar pela nossa selecção de futebol. São de facto muito portugueses!" "Senhor Representante, e se a selecção ficar excluída logo na primeira fase?" "O Povo Açoriano tem outros atributos para além de ver Portugal através do futebol!" "Será V.Exª. conhecido do Povo Açoriano?" "Para lá iremos.!" "!Não seria melhor pensar numa Representação Aberta?" "Olhe, boa ideia! Espere aí, isso é politicamente incorrecto. Reformularei: embrenhar-me-ei em procissões, festas do Espírito Santo..." "E em Romarias?" "Bem, a minha idade já não permite grandes caminhadas. Estarei com os Romeiros em espírito." "Que idade tem?" "Setenta anos!" "É reformado?" "Sim, há cinco anos pelo menos, isto se a memória não me trair." "Fez V.Exª. exames médicos que lhe permitam pensar estar a representar Portugal por mais dez anos aqui? É que nos Açores é perigoso viver-se por causa da humidade. E para quem tem asma torna-se fatal." "Eu não tenho asma! Não sofro de nenhum mal." "Leu, por acaso, a entrevista do Prof. António Hespanha? na "Pública" esta semana?" "Aquela que fala do Segredo da Farinha de Milho Torrado?" "Não, aquela que diz expressamente que os portugueses acham: Este país é uma porcaria para a maior parte dos portugueses e é um país óptimo para uma pequena parte." E mais: "Estabeleceu-se um modo de vida caracterizado pela irresponsabilidade de quem manda." "Ele disse isso?" Disse mais: um dia o Rei Dom Luís ao sair no seu iate encontrou-se com pescadores no mar da Póvoa de Varzim e perguntou-lhes se eles eram portugueses ou espanhóis. Eles responderam ao monarca assim: " Não sabemos meu senhor, nós somos da Póvoa de Varzim." "Já agora, senhor Representante, quando souber o "Segredo da Farinha de Milho Torrado" não se esqueça de divulgá-la." (Texto adaptado de leituras provenientes de notícias regionais e da célebre entrevista no DI-Terceira)
Claro que eu - o narrador intradiegético - irei revelar o segredo. Acontece, porém, que o meu computador escreve muitas palavras e eu não consigo parar. Amanhã, talvez sim?
Manuel Melo Bento
Segunda-feira
15/05/2006

Sunday, May 14, 2006

 

DOUTORA FALSÁRIA


DOUTORA - FALSÁRIA A TEMPO INTEIRO
Descobri anteontem que o folheto intitulado "LITÓSOFA E ACADEMIA DE MORTOS" não tem como autor Téon J. de Oisia, mas sim Ana Mathias da Costa, uma intrujona diplomada, que utilizando meios pouco ortodoxos, pôs-se a fazer de tradutora e de prefaciadora de um texto de sua inteira criação. Para quê? Para lançar-se no mundo da literatura através de um pseudónimo? Se pegasse, descobir-se-ia um crânio de excepção? Caso contrário ficava tudo no caixote dos esquecimentos. Fez-se passar por uma procuradora de um morto. A Editora A.T.JO, criada a muito custo e com a finalidade de divulgar textos originais de autores desconhecidos e descomprometidos com qualquer espécie de influências de culturas oficiais, na pessoa de um dos seus colaboradores, desmascara publicamente Ana Mathias da Costa. A sua passagem pela Caloura é desmentida por pessoas de quem afirmou ter sido hóspede. Téon Oisia nunca existiu, portanto nunca esteve nos Açores. Quem duvidar que pergunte ao SEF. A A.T.JO não merecia ser manipulada e gozada. A literatura é uma coisa para gente "crescida". Não vivemos no tempo da perseguição aos Pensadores e homens de Cultura. Qual era o problema de termos sido informados acerca da verdadeira identidade do autor? Fugir a responsabilidades do foro judicial? Que outros se dispusessem a pagar as culpas de um possível futuro desaforo? Medo de uma crítica que se estava a preparar julgando-a bastante demolidora?
Manuel Melo Bento - colaborador da A.T.JO e responsável por este texto.
Domingo
14/06/2006

Saturday, May 13, 2006

 

O REPRESENTANTE, A CULTURA DENSO-PORTUGAL XXL

Hoje vou tratar da densidade cultural do dia 13 de Maio, em Portugal. Por essa razão o "Segredo da Farinha de Milho Torrado" pertença de meu Avô da Vila não será desvendado, pois dará lugar a outros segredos. Eu sei que vai fazer muita falta a "terceirogerontistas" (1) venerabundos bordeleiros. Aguentem-se! Tivessem um avô como o meu (o da Vila, claro!)... Quando trabalhei no Instituto Geográfico em Lisboa, (metido lá por uma cunha do saudoso Eng. Gomes de Oliveira) coube-me a tarefa de levantar topograficamente nada mais nada menos do que os terrenos (parcelas) da Cova da Iria assim como o Santuário de Fátima. Nesse mesmo ano de 1966 e para que conste, a primeira coisa que ouvi, ao sentar-me no café do senhor Nazareno, foi a história de um moço que por ter conseguido sobreviver à Guerra do Ultramar prometera a Nossa Senhora de Fátima ir a pé da sua terrinha em peregrinação à Terra Santa portuguesa. Penso que não existe outra, apesar da Santa da Ladeira ter tentado liberalizar as várias tendências mitológicas noutras terras na mira(gem) de outros lucros. Como todos sabem e o Pedro Mata, já sem bigode, confirma, Portugal, apesar de ter mais densidade cultural do que as suas outras possessões (onde nelas se faz representar - Açores, por exemplo), no mês de Maio, é causticado por um "sol-mata-rãs" (2) que é mais vocacionado para aquecer inglesas e suecas (não destas que nos visitam e que mais parecem enxertos arqueológicos) à procura de machos latinos (consultar arquivos da RTP acerca desta tendenciosa informação) que as satisfaçam a preços concorrenciais (área densamente culturalizada onde ninguém os bate). Ora, como dizia, o moço, ex-militar, por não ter prática em apanhar sol, morreu no caminho antes de prestar homenagem à sua antiga salvadora. Morreu de insolação. Só um jornal liboeta se atreveu a dar tal notícia. Uma espécie de jornal de esquerda. Trabalhei dois anos em Fátima. Por essa razão disponha de tempo para peregrinar por aquela árida e pedregosa terra óptima para construções de todo o tipo. Sobretudo aquelas que albergam turistas, lhes dão de comer e que lhes vendem todo o tipo de recordações. Quando o Papa de Roma, mais conhecido por Paulo VI, foi a Fátima (1966/67?), um milhão de portugueses foram atrás dele. O Salazar também foi sem escolta (santos tempos em que as FP/25 e a mulher de Carlos Antunes a Isabel do Carmo frequentavam a catequese) e num carrão americano. Eu vi o Papa. Parece uma canção. Reformulando: eu também vi o Papa. À minha frente, (e sem poderem descolar do meu corpo - estávamos todos como sardinha em lata - umas freirinhas histéricas palmeavam sua santidade). Eu também. Pois aplaudindo com as mãos ao alto melhor sentia a noviça "lá de xima" que por obra de ver Sua Santidade me calhara no papo... O Papa veio e foi. O que restou da visita do Procurador/Representante do Cristo na Terra a Sua Mãe foram os dejectos de um milhão de portugueses (segundo contagem da época) que não encontraram sanitários ou coisa que o valha à altura das suas necessidades. A densidade cultural dos portugueses, nessa área, não os tem deixado ficar mal. São muito expeditos quando estão perante embróglios metastáveis (3) de origem biológica. Se não estou em erro só as habitações de fidalgos ou outros senhores da terra usavam aquilo que nós, os letrados, chamamos casas de banho. Não era de admirar. Portugal medieval e citadino desenvencilhava-se das suas orgânicas pessoais atirando-as para a rua. Porém, como rezam as crónicas, avisava-se primeiro não se fosse emporcalhar os transeuntes. Até há pouco tempo Portugal era assim. Os dinheiros europeus começaram a fazer efeito... A água entrou na densa cultura portuguesa. Ainda bem para os serviços de saúde. Bem, nas minhas bisbilhotices "fatimanianas" encontrei-me com duas figuras de referência da Cova da Iria. Um era conhecido pelo Luís dos Ovos. O outro, o senhor António que tinha muitos bocaditos de terra. Eram ambos homens de teres e haveres, embora o senhor António fosse muito rico tendo em conta que bocadito significava propriedade. Eram ambos velhos. Um deles, o mais rico, usava um bordão tipo romeiro de São Miguel. Disse-me o senhor António numa das nossas conversas que tinha sido expropriado pela Santa Madre Igreja porque não tinha querido vender as doze oliveiras que se situavam dentro do projecto onde se ia construir o futuro Santuário de Fátima. "Roubaram-me doze oliveiras (as medidas da terra, naquela época, faziam-se pela quantidade de árvores de oliveira). Não me as pagaram" Lembro-me dele. Devia ter sido um republicano dos duros. Evadia-se dele uma química de segurança que ainda hoje recordo. Malhoa, se o tivesse visto, tê-lo-ia tomado como modelo, sem guitarra, claro. Mas como bordão! "É capaz de me dizer como é que isso aconteceu?" O velho António explicou-me que se negara a vender à diocese (já não me lembro se era a de Leiria ou de Santarém) a sua propriedade. Negou-se sempre. Porém, teve uma grande surpresa, quando as forças da ordem lhe impediram de nela entrar em virtude de uma ordem judicial. O que acontecera para que a Justiça assim procedesse foi o facto de ele não ter as terras em seu nome. Estavam em nome de uma antepassada, sua tetra-avó, de nome Urraca. (Não estou a gozar!). Perdeu-a, pura e simplesmente. "O Senhor acredita no milagre?" "Não houve milagre nenhum! Aquela rapariga era muito mentirosa. Estava sempre a contar histórias da cabeça dela. Os papalvos acreditaram porque lhes convinha." " Então o milagre do Sol a mexer e as pétalas das flores a cairem sobre o povo?" " O senhor é algum tantinho? Experimente a olhar para o Sol mais do que uns segundos e veja vossemecê mesmo se ele não treme e se desloca. Foi o que viram. Houve um maluco que começou a dizer que o Sol estava a andar e todos gritaram milagre. Eu estive lá!" " E quanto às pétalas?" "Olhe para o céu agora mesmo e veja se não lhe aparecem uns pontos brancos que estão sempre a cair?" Fiz a experiência e confirmei. "Então, quando a Senhora poisou no galho e este baixou?" "Senhor está dizendo coisas que ninguém viu a não ser a pequena. Ela era a mais velha e sabida. Meteu coisas na cabeça dos primos que eram umas crianças muito ignorantes e muito novinhas. Já não lhe digo mais nada. O senhor é igual aos outros." Despedi-me do senhor António sem saber quem eram os outros. Numa outra oportunidade, questionei o senhor Luís dos Ovos. O velho Luís (outra cantiga) vendera à diocese uma territa situada junto à do António e como prémio da barateza que levou à Igreja, esta deu-lhe um lugar para vender santinhos e outros objectos de culto, lojas que se vêem, hoje, ao lado do Santuário. "Tio Luís conte lá como é que foi o milagre das pétalas e o do Sol a mover-se?" " Uma coisa maravilhosa! Fantástica! Eu vi o Sol a mexer e as flores a caírem até ao chão onde desapareciam." "Mas como é que o Sol se mexia?" "Uma maravilha! Um verdareiro milagre! Que alegria! Deus é muito bom! Nossa Senhora também!" " Tio Luís, o senhor vende muitos santinhos?" "Durante todo o ano. Principalmente nos dias 12 e 13 de cada mês!" "O senhor conheceu a Lúcia, o Jacinto e a irmã?" "Conheci. Ela era muito feia. Tomava conta do gado." "Ela frequentou a escola?" "Nem ela nem ninguém. Não havia escola a não ser em Vila Nova de Ourém. Muito longe daqui. Eu aprendi a escrever o meu nome quando fui trabalhar para Lisboa na Carris. A terra dava muito pouco. Agora é que é bom! Querida Nossa Senhora!" A Cova da Iria terra muito pedregosa é hoje um pomo de desenvolvimento de densa cultura. A última história que ouvi no café do Senhor Nazareno foi a daquela rapariga que trabalhava no Santuário e que passava a ferro as notas que os fiéis em filas de espera inumeráveis e intermináveis atiravam para um lugar sagrado. Como as notas ficavam húmidas por estarem muito tempo nas mãos dos crentes e se estragavam o melhor a fazer era utilizar o ferro de engomar, para as secar. Ela começou a roubá-las colocando-as por debaixo das maminhas, lugar muito respeitável na época de Salazar, pois era dali que vinha o leite para alimentar os portugueses (ainda não existia a Nestlé) enquanto não se dedicavam ao tintol em adultos. Eu como não sou crente, julgo que não era esse o local de arrumação... Em Fátima não se podia pronunciar palavras impudicas... Como não podia comprar nada sem dar nas vistas, deu o produto da sua acção de recolha ao namorado. Este comprou um terreno e depois acabou com o namoro. Dizem que ela, pouco tempo depois, foi quem comprou directamente outro, pois, deixou de se fiar em namorados. Coisas da religião sempre me fizeram confusão. Bem, Cristo morreu para nos salvar. Devo estar incluído. Embora questione a morte dele, pois se ele iria ressusssitar três dias depois! Afinal não morreu! Os deuses não morrem! A mãe de Cristo apareceu vestida de branco à Lúcia. Ela não poderia vestir de branco. Era judia. Não estava autorizada. Foi para o Céu com um vestido e desceu com outro. "Atelier" de alta costura lá em cima? Depois, ela em vida nunca disse uma frase discreta que se saiba. Aprendeu materialismo dialéctico com Marx? Impossível! Este barriguista foi para o Inferno juntamente com todos os comunistas. Bem, vou deixar-me disto e procurar saber se o Representante vai atrás do Filho de Maria, na procissão de todas as inclinações: a do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Se for, naturalmente, será para dar de mãozinha aberta a conhecer ainda mais a densa cultura que fez de Portugal o último, isto é, o vigéssimo sétimo país da União Europeia embora se saiba que esta colmeia de interesses só daqui a dois anos (?) é que venha a aceitar mais dois países do leste. Por enquanto são apenas vinte e cinco...
(1) Impotentes da terceira idade;
(2) Criei esta palavra. Se alguém o fez anteriormente, peço desculpa;
(3) Diz-se do estado em que a matéria se encontra acidentalmente em desacordo com as condições do meio que a rodeia. (Tradução verificada, não fosse mais uma das minhas invenções)
Manuel Melo Bento
Sábado
13 de Maio

Friday, May 12, 2006

 

A CULTURA POR VEZES É DENSA


LEIS DE CULTURA DENSA
O TEXTO DE APOIO ABAIXO TALVEZ SEJA MAIS "DENSO, VISÍVEL E LEGÍVEL"

 

. PORTUGAL DENSO-CULTURAL versus AÇORES RAREFEITOS

Luiz Pacheco, um dos mais importantes críticos literários, criador da célebre "Contraponto", numa entrevista que concedeu ao "Expresso" da responsabilidade de Rui Zink e Carlos Quevedo em 1982, disse que em Portugal existiam quatro milhões de anafalbetos e quatro milhões de indivíduos que não lêem. Para uma população de dez milhões não sei o que dizer. Minha bisavó Ana Costa, mãe do criador da "farinha de milho torrado para ocasiões especiais", meu avô paterno, era Mestra Régia. Portanto, não estávamos incluídos naquela estatística, uma vez que na minha casa todos sabíamos ler. Enquanto minha mãe lia a "Crónica Feminina" e extractos autorizados pela Santa Sé da Bíblia acompanhados de dizeres explicativos dos santinhos eu encontrava na mesinha de cabeceira de meu pai os livros de Pitigrilli, Schopenhauer, o Padre Meslier autor de "O Crime do Cura Meslier" e outros que a memória não comparticipa, aos quais me afeiçoei. Como não vivíamos em Lisboa, mas na baixa densidade cultural micaelense não poderíamos nunca ter lido o que Augusto Gil escrevera:
"Nestes tempos dissolutos
Toda a mulher é vendida.
Umas vendem-se aos minutos,
As outras por toda a vida." (1)
No século XX, "Lisboa era, na altura, a cidade onde se concentrava a maior parte das prostitutas. Segundo os dados estatísticos fornecidos por Santos Cruz, existiam 360 casas e setecentos e sessenta e duas prostitutas iletradas.Isto no século XIX. A sua estimativa é de mil , só em Lisboa e sem contar com as não declaradas... Segundo Dugniolle ... excesso de oferta existente na capital..." No princípio do século XX eram à volta de 10.000 (E hoje?). Quando o Alfredo Marceneiro cantava as tabuínhas da Casa da Mariquinhas referia-se à ordem oficial assinada pelo Governador Civil que obrigava a que "as casas toleradas deveriam guarnecer as janelas de tabuinhas que ocultassem o interior."(2) O Fado era a canção nacional... Também na mesma ordem governamental as raparigas eram obrigadas a matricularem-se num livro de registo na repartição de polícia ou na administração local. " No capítulo financeiro, envolvendo uma série de verbas, resultantes de multas e licenças, os regulamentos constituir-se-iam em importantes fontes de receita."(3) Continuando a citar: " Os interesses em seu redor (da prostituição) não se sabe bem onde terminam. É ver as acusações públicas de implicação de elementos da PSP e da PJ no apoio de redes prostibulares (como sucedeu em Novembro de 1977-V. "Jornal de Notícias", Porto). É ver a prisão do cônsul de Portugal em León, em Maio de 1978, por implicação na exportação de menores, actividade que adquiriu proporções incalculáveis..." (4) Todo o homem é um ser social. Logo cultural. Tendo em conta que "densidade cultural" deve incluir prostituição e proxenetismo é de crer que a nossa "densidade cultural" nesse campo seja muito rarefeita. Ainda me lembro de quantas moças eram assistentes sexuais em Ponta Delgada e na então Vila da Ribeira Grande. Na cidade não havia mais do que umas vinte e uma, isto contando com as quatro da Casa Amarela e uma outra que fazia de camponesa de dia, numa freguesia caracterizada pela excelência da sua bacia leiteira. Eu conhecia o nome da maioria delas, mas meu primo de todas. Na Ribeira Grande havia umas sete. Lembro-me ainda do nome artístico de uma delas: Flor da Selva. Foi aquela que me tirou a trindade completamente, uma vez que das outras vezes foram tentativas menos densas. Se tivesse sido na Capital de todas as densidades, talvez eu tivesse feito melhor figura , nas tentativas anteriores. Culturas! Disse o Representante que não nos podia considerar uma Nação por falta de densidade cultural. Quando alguns sexólogos tiverem a bondade de fazer estudos sobre esta secção de densidade sexual de quem não tem condições nacionais hão-de ler como eu li a descrição de uma noite de núpcias de um casal menos letrado. O rapaz do campo, na noite de estar a sós com a noiva a quem acabara de fazer esposa, não tendo tido densidade cultural para o acto, pois nunca tinha recebido formação para tal, lançou-se sobre a moça como via fazer aos cavalos das pastagens que proliferam nas ilhas. Resultado? A desgraçada teve de ser cozida e nunca mais na vida sentiu prazer... até que um dia meu primo lhe ofereceu sabonetes e meias americanas... Não sei até que ponto os primeiros colonos não foram atirados como as cabras, as vacas e os cavalos ao Deus dará. Desenrasquem-se! Devem ter-lhes dito. Passaram por cá anos depois para virem buscar o milho e outras novidades. Até que um dia aqueles que os trataram sem densidade cultural não contentes com os recursos agrícolas que surripiavam em impostos e outras vigarices os vieram buscar para os incorporarem no exército colonialista. Muitos morreram! Por quê? Por nada e por não saberem o que era a densidade cultural que torna livres os homens.
(1) - In Forjaz Sampaio e B. Mantua, " O Canto da Cigarra";
(2); (3); (4) -In Carlos Oliveira Santos, Investigador, A Prostituição em Portugal nos séculos XIX e XX
Manuel Melo Bento
Sexta-feira
12/05/2006

Thursday, May 11, 2006

 

. "DENSIDADE CULTURAL" - FARINHA DE MILHO TORRADO.

Um dia, numa das raras visitas que fiz a meu avô da cidade, aprendi uma baboseira que ainda hoje tenho dificuldade em perceber. Embora nunca tivesse ouvido da boca dele qualquer frase de ordem política eu pressentia que meu avô era fascista. Numa tarde de domingo, fui pedir a benção a minha santa avó Angelina, (para ela todos eram iguais: netos, pedintes, filhas, cães, galinhas. Tudo menos o único filho macho que era uma espécie de divindade, tipo Novo Testamento. O tio Cristóvão. Nunca gostei dele! Um pedante. Gastou o que era dele e das irmãs) e ela disse-me para ir cumprimentar o Avô Carlos que estava no seu escritório sentado à secretária lendo não sei bem o quê. Bati ao de leve na porta. "Entre!" ( o meu avô espirrava assim: Atchéuuuuuu. Naturalmente fora o dinheiro que lhe tinha transformado o espirro - coisa de humanos - numa espécie de chegai-vos para lá.) Beijei-lhe a manápula esquerda, aquela que ele sempre me estendia quando eu, sem poder fugir, tinha de a beijar em nome de Deus Pai, do Filho e do Espírito Santo. Silêncio. Não sabia que dizer perante um homem que tinha metro e noventa e um centímetros e que me metia medo. Nunca o vi rir! "Sente-se!" Acomodei-me numa cadeira de buraquinhos de palha em frente à sua secretária. Mal cruzei as pernas ouvi uma prelecção de como estar em frente de um avô... Descruzei-as. Não sabia nada de pernas a não ser a das criadas quando as tinham ao léu. Era pelo menos o que meu primo Zeca (já falecido) me ensinara. Só um ano depois é que me apercebi do valor daquilo que me parecia uma fechadura do portão da quinta do meu Avô da Vila. Quando ele (o avô da cidade) me autorizou, saí. Tinha treze anos. Morreu meses depois. Chorei porque vi minha mãe chorar com as irmãs. Não vi meu tio nessa altura. Mais tarde soube que andava às voltas com o cofre do velho. Morreu. Que alívio! Não devia dizê-lo. Saiu, saiu. O meu avô Carlos, que era irmão de um padre - o Tio Padre, como era recordado pelas minhas tias como um santo e que passavam as tardes na saleta a falar dos filhos - era uma pessoa que eu era incapaz de o imaginar a fazer sexo. Raça ariana, "Arbeit Macht Frei", (onde é que eu já vi isto) sem expressão amena, carrancudo, medonho. Respeitador da ordem salazarista. Para os que trabalhavam com ele não havia horário de trabalho. Se um dia ele soubesse que eu tinha apalpado a criada de fora ( penso que era aquela que lhe fazia a vira da cama. Não vou explicar. Procurem no Gaspar Frutuoso...) a mando do meu primo Zeca que era mais velho do que eu dois anos. E que anos!) mandava-me açoitar. Lembro-me de quando ele chegava ao pé de mim com sabonetes e meias de "nylon" para oferecermos às criadas de fora e de dentro em troca de favores. E eu sem perceber nada do esquema. Só dois anos depois é que me apercebi do valor que ele dava a estas oferendas. Cresci! O que é que eu podia fazer se antes de adormecer tinha as Glórias ao Pai para debitar em surdina, tendo em conta os êxitos futuros nos estudos... e a salvação da minha alma de pecador. Meu primo ensinou-me todas as coisas que ele próprio fazia questão de demonstrar. Era um empirista. Aprendi. Estou-lhe grato. Foi o meu primeiro mestre. O único que recordo com saudade. Apresentou-me com o cerimonial da época à dona Leonor Augusta Freire, dona de um bordel. Eu tremia como as varas verdes. Tive forçosamente que fazer má figura. A assistente Anália, que era temente a Deus e tinha muita fé no Padre Cruz foi quem, depois de bem recompensada com as moedas de prata do Avô da Cidade (surripiadas com a estratégia secreta de meu primo irmão e com a minha cumplicidade) e com as meias e os sabonetes como engodo, me ensinou como mareante esclarecido a descoberta daquilo que os machos procuram e que eu precipitadamente infantilizei. Sabia lá! A doutora Marta ainda não falava no antigo canal da Igreja e eu nunca tinha visto sair do meu falo mais do que mijina. A ignorância mata os curiosos! Continua. Portugal XXL pode esperar como tambèm a análise filosófica à entrevista do Representante. Coisas menores, comparadas com a farinha de milho torrado do meu Avô da Vila e do que ela trouxe como "elemento denso à cultura" da carne, nas então Ilhas Adjacentes...
Manuel Melo Bento
Quinta-feira
11/05/2006

Wednesday, May 10, 2006

 

DENSIDADE CULTURAL - PORTUGAL XXL EM EPISÓDIOS


EIFFEL - LITOGRAVURA DA "TORRE DE PARIS" QUE ENCONTREI NA MINHA FALSA. PERTENÇA DE MEU AVÔ DA CIDADE. DATADA DE 1879. DO MEU AVÔ DA VILA (QUE ENRIQUECEU A MOER MILHO NA SUA MOAGEM COM O PRIMEIRO MOTOR ELÉCTRICO QUE PARA A SUA TERRA VEIO E A QUEM O POVO CHAMAVA MESTRE MANUEL DOS MOÍNHOS) HERDEI UMA TERRITA QUE TROQUEI POR DELICIOSOS PREGOS PARA O MEU FUTURO CAIXÃO E UM FRASCO DE FARINHA DE MILHO TORRADO. O FRASCO CONTÉM UM SEGREDO QUE VOU DESVENDAR HOJE, SE ESTE TEXTO PARA TANTO DER...
Também estive em Paris. Por acaso levava algum (demasiado) no bolso ou bolsos. Ainda não tinha escolhido a profissão de professorinho... Eu não viajo sem (conveniente) dinheiro para os "meus" gastos. Daí que não viaje muito. Voltemos então a Paris a Cidade das Luzes, do célebre Museu (esquece-me o nome). Também havia (e deve haver) uma Igreja muito conhecida e que chegou a ter um Corcunda que rezava muito pela nave central, etc... Uma avenida muito grande, do género da Avenida do Príncipe de Mónaco/Ponta Delgada, onde se viam os anúncios de centenas de restaurantes. Nessa avenida, já não me lembro se de trás para a frente ou vice-versa aparecia um arco só, onde as tropas de Herr Hitler passearam até serem expulsos pelos americanos. De Gaulle ainda se encontrava em Londres a dar entrevistas na BBC, uma espécie de Diário Insular, mas falado. As Portas da Cidade/Ponta Delgada/minha cidade natal têm três arcos... Ao lado da avenida dos restaurantes corria um rio de águas quase lamacentas que levam muitas vezes os franceses a apaixonarem-se pelas belas francesas e estrangeiras (chulando-as) quando a Lua nele reflecte as suas cores copiadas. Naquele tempo, e ainda hoje, eu gosto mais de estar sozinho do que acompanhado quando me desloco à procura de companhia. É um trocadilho! Deixa estar. Sempre sofri de pouca densidade cultural, daí que sozinho fui à procura da célebre Rue Pigalle. Que é onde se está bem. Ainda me lembro do preço: cento e cinquenta francos por vinte minutos. Caro se compararmos com os preços das portuguesas do Antigo Regime. Não havia ainda o euro para internacionalizar as trocas comerciais. Quem tem francos pensa em francos. Não se apercebe a não ser dias depois... Resumindo, eu estive em Paris três noites e nem sequer olhei para o alto. Minto, a não ser uma vez que um casaco de peles bem recheado e alto de mais para mim levava um caniçalho pela trela. Resolvi meter conversa armado em latino um todo nada mais preclaro: "Jolie Madame, combien?" "Trois Cents, Monsieur!" (Cá para mim, eu estava a meter-me com ela através do "pedigree" da companhia...). Mas, num repente - que me faltou imensas vezes nos exames do liceu - "Mais oui, Madame!"... E foi assim, que quando me perguntaram que tal era a Torre de Paris eu a descrevia de tal maneira que muitos dos que me ouviam e a quem eu não podia contar propriamente as diferenças me julgaram um pouco tonto (ou muito). Naquela altura, para subir à torre do Campo de Marte pagava-se sessenta francos. "Tu foste enganado, meu tanso!" "Isso é verdade, é que por aquele preço eu até senti vertigens."
Continua. Prometo que irei descobrir o segredo do meu avô, nos próximos episódios sobre densidade cultural. Com aquela farinha, eram favas contadas. Perdão, elas contadas...
Manuel Melo Bento
Quarta-feira
10/05/2006

Tuesday, May 09, 2006

 

. REPRESENTOLÂNDIA...

03.42: "Peguei" no sono;
05.01: Acordei com fome. Fui cear;
05.37: Voltei para a cama. Estiquei o braço e agarrei no primeiro livro que tinha à mão: "A Comédia dos Equívocos". Só consigo tragá-lo aos poucos. Uma boa merda! Escrita por um "bife" que nasceu no século XVI;
05.49:" ... desafio-te como tratante que és". (O Segundo mercador diiiiiiuuuu). Adormeci;
12.01: Sou acordado. Trazem-me os diários micaelenses. Ah!, cá está uma frase reproduzida pelo "Correio dos Açores" de uma entrevista dada pelo Representante ao "Diário Insular". A saber: (O Representante) "... nega à cultura açoriana uma densidade que confira ao conjunto das ilhas um estatuto de Nação";
12.37: Depois de olhar para a fotografia da página 4 do citado diário voltei a adormecer;
12.42: Depois de acordado por um telefonema do Dr. José de Almeida dirijo-me para o meu semicúpio. Visto-me;
13.10: Almoço na Calheta. Nem sequer falámos sobre a interpretação a fazer acerca da frase representadora;
14.32: Os chicharros na Candeia estavam fresquíssimos. Eram dos nossos mares. Inhame, queijo da ilha, pão de milho da Piedade/Arrifes. Só o vinho era português. Bolos caseiros, ananás da estufa do avô da dona acompanharam um escocês médio (se fosse inglês não bebia). Como não conduzia, foi um risco bem servido. Às vezes, lá vão três... Em cima de tudo o meu charuto importado e café ex-portugês. Temos sempre um tema. Hoje, foi sobre as precisões e rigores de uma sâ amizade. Nada de almoços políticos. Estraga-me as tardes;
15.02: Durmo a sesta;
16.02: Acordo. Tenho de acabar de ler dois livros escritos por dois açorianos. "Não Chores Pela Minha Morte" de Eduardo Brum e "O Mar de Madrid" de João de Melo. Já há muito que não faço "crítica" literária. Pedi há tempos ao Eduardo para ele me prefaciar um livrito. Ele fê-lo com uma sanha vingadora. Destruiu o meu trabalho. Não prefaciou. Fez crítica destrutiva. Porém, foi aquele que eu consegui vender mais... Justiça Popular! Agora que me podia vingar do " Não Chores..." não o posso fazer. Parece-me um grande voo na literatura açoriana. Trata-se de um desafio a que não estávamos habituados. Uma "densidade na cultura"?, não que isto é uma baboseira de todo o tamanho dita por quem desconhece o conceito de cultura nas mais de cem definições que foram estudadas e que continuam a sê-lo... Já comecei a "desmontá-lo" depois, logo se verá. Na segunda leitura vai tudo para o público. Não escapas! Do João de Melo, só posso dizer, que daquilo que li, mais me parece um guia turístico. Estou a lembrar-me de "Gente Feliz Com Lágrimas". Um livro que, não fora a quarta parte final, teria colocado a Literatura Açoriana num nível muito sedutor para os leitores e apreciadores de "cultura literária". Este "Mar..." É uma soda! Tem "densidade cultural" pois guia-nos através de Espanha palmo a palmo. Nenhum topógrafo faria uma planta geográfica melhor. Enquanto o livro de Eduardo Brum é livre como toda a literatura deve tornar-se, o de João de Melo é um frete a Portugal. Tem "densidade cultural" que é o que não consigo saber a não ser pensar no pior. Seria densidade populacional dispersa ou mista, aquilo que o Representante quereria dizer?
Eu pessoalmente não sou separatista. Sou nacionalista. É uma coisa muito diferente. Comparado com os nacionalistas do IRA, do País Basco, etc., eu pareço a Costureirinha da Sé. Como tenho sangue português de há cinco séculos, sem misturas pelo meio, considero-me com dupla nacionalidade. A de direito que vem no meu passaporte e a de facto que está escrita na minha "densidade cultural". Como sou livre de ser e estar nos Açores, como a Liberdade de Imprensa é um facto (apesar de já ter no lombo 14 meses de prisão por causa dela - suspensa, era o que faltava - como gosto de Portugal mais do que (aqui apetecia tornar-me palavroso. Crianças podem ler esta tribuna livre e velhinhas beatas do Centro de Cultura de Santa Clara também...) muitos que andam a vender tudo que seja Pátria, etc., que já estou irritado com falta de tanto conhecimento e sobretudo com falta de cultura. Não admira. Cavaco Silva que nomeou o senhor Representante para o arquipélago confundiu Thomas Mann com o nacionalista irlandês Thomas Moore... Salazar também não tinha quadros nas paredes do seu quarto. Porém, o velhaco tinha no quintal de São Bento galinhas poedeiras. Era o Portugal rural, velhaco e sangrento. E viu-se em Africa! Pergunte-se ao Padre Hastings... Hoje, cumprimentei o padre Dr. Duarte Melo. Meu vizinho. Temos democrata! Não se ofendeu com as bocas ( satírico-denso-literárias?) que lhe enviei. Fiquei mais aliviado. Mas, o que tenho de dizer tenho de dizer. É assim que eu sou.
Nota final: Já não sei que horas são. Devido, talvez, à densidade dos riscos.
Manuel Melo Bento
Terça-feira
09/05/2006

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