Monday, July 31, 2006

 

VIVIDA

(CONTINUAÇÃO DO DIA 30 de JULHO DE 2006)

VARETT
Coarctar a liberdade do consciente não será um acto pouco civilizado?
MANDALA
Não se trata de censura à consciência. O que se exige é que esta não ultrapasse a sua própria construção relacionada com a realidade.
V

E Deus?
M

Um exagero de liberdade no consciente das etapas do recomeçado. Um consciente que se permite usar um discurso próprio do (daquele) que não é consciente. Um consciente que ainda não dominando as áreas que determinam o salto do não consciente para o consciente, se atribui a si mesmo o domínio desse mesmo saber atrevendo-se até a explicá-lo.
V
E o que impede o consciente de explicar o que percebe que deve ser entendido?
M
O consciente só o pode fazer utilizando o truque da revelação e esta pertence à esfera da subjectividade.
V
Que depois toma a forma colectiva!
M
Boas vontades, às vezes é o que não faltam. E estas degeneram, como é sabido, em pieguices , idiotices, crendices mal amanhadas, etc. O que é fundamental passa a secundário e embarcamos todos (com algumas excepções) num delírio.
V

Consciente!
M
Sim, consciente e teimosamente racional. Porém, longe de satisfazer a verdadeira sede de saber.
V

Mas, se é racional?
M
Não existe uma só razão!
V
O quê!!!
M
Por exemplo, há quem refira de desígnios do Criador - e à falta de dados experienciais - como a razão das próprias revelações, como a razão divina desconhecida pelo comum dos mortais. Depois, a razão das próprias revelações, as quais só os videntes e os profetas têm acesso. A razão dos que aceitam. A razão dos que não aceitam. A razão dos que julgam ter razão. A razão dos que racionalizando as razões do parceiro ajuízam sobre elas.
V
A razão não se opõe à razão!
M

Claro! Essa é outra razão!
V
É a razão cordata com ela mesma?
M
Forma um grupo. Um grupo racional. É a partidarização da razão.
V

A razão científica é universal, não é partidária.
M

Por ser razão científica, já de si mesma não pode ser universal. É a razão da ciência. Serve para nos entendermos. É uma espécie de código de estrada que evita o choque quando bem interpretado.
V

Como é possível afirmar-se tal monstruosidade acerca da razão da ciência?
M

Vamos com calma. A razão da ciência explica tudo?
V

Claro que não!
M
Não achas que uma razão que não explica tudo corre sérios riscos de não ser universal. Pois, trata-se do universal do concreto, logo limitado.
V
Nesse caso a razão do espírito, se assim se pode dizer, é mais universal ao saciar a sede do saber do que a razão da ciência, que como dizes é partidarizada pelas suas próprias fronteiras.
M

Não vamos aqui reeditar a discussão sobre as diferenças que existem entre o discurso científico e o discurso filosófico, pelo amor de Deus, perdão pelo amor a esta sede de saber. Fugindo à questão “fulcral” acabamos ainda por nos tornarmos intelectuais. Ah! Ah! Diria que a finalidade da vida vivida é como o grão da semente de um fruto que os pássaros comem e que depois a deixam cair pelo cu num outro sítio para que a semente germine e volte a dar fruto desenvolvendo-se novamente para depois dar outra vez semente, e por aí adiante. É um ciclo, bem entendido. Justifica-se pelo grau de necessidade. Existe aqui um objectivo.
V
E, depois, aonde nos leva isso para ficarmos esclarecidos sobre a justificação deste objectivo?
M
Se eu soubesse não estaria aqui a fazer-te perguntas. Agora, o que aprendi contigo foi o seguinte: é que não encontrando uma razão para o explicar, não encontro, também, razão para entender a razão que permite que alguma coisa justifique o que é para mim injustificável.
V
É razoável sem ser fruto da razão. Diria que a consciência cresce em vários sentidos.
M
E o mais interessante é sabermos da existência de uma consciência da razão que só nos responde se para tal tivermos apetência. O que finalmente coloca em liberdade condicionada o Eu que dominamos quando o queremos obrigar a tomar posição.
V
E esse Eu não obedecendo.
M
Digamos que isso não se põe porque a consciência quando é de razão , a sua claro, isola-o. E isso é uma forma de transformar o Eu num encarcerado.
V
Não entendo!
M
Só o consciente é consciente. E o consciente manifesta-se através do Eu. De um Eu sem querer e sem vontade.
V
Um Eu que é forma e não conteúdo? UM Eu que não é mais do que uma invenção do consciente? Onde colocas tu a psicanálise?
M
No seu lugar . Um auxiliar com algum mérito e que ainda engatinha. Basta reparar que em sendo difícil classificar alguns comportamentos do Eu se arranja subterfúgios como o de Super Eu e o Infra Eu desligados e não conscientes entre si.
V
Há coisas que estão no subconsciente!

(Continua amanhã, dia 1 de Agosto de 2006)

Sunday, July 30, 2006

 

VIVIDA

VIVIDA – Continuação do dia 29 de Julho de 2006

VARETT
Tudo leva a crer que sim.
MANDALA
Assim e recapitulando, a consciência pode , ultrapassando os saberes, considerar-se responsável pelos seus actos. E que segundo a tua teoria, nasce-se com uma consciência tanto boa como má. E que esta é visível quando se comporta. Que a consciência do medo reformulado e educado é propriedade dela mesma. Que a consciência é selectiva pois classifica os medos. E, já agora, diz-me se um acto bom praticado por um ser não consciente pode ser considerado um acto consciente?
V
Não pode ser consciente, mas pode ser bom.
M
Então, para se ser bom não é preciso ser-se consciente. Que um não consciente pode ser melhor do que um consciente se praticar o bem e este não?
V
Assim parece.
M
Bem, vejamos o seguinte: tudo o que disseste se enquadra num plano pessoal do consciente. No caso, o teu. Contraditório ou não é um plano do consciente, conviremos tal. Diz-me, então, por que razão uma consciência construída, como, por exemplo, a tua elabora afirmações?
V
Porque opta e coordena os dados que recolhe.
M
Tendo por base a observação?
V
A observação e a construção de ideias, sobretudo.
M
Como afirmas algo sobre o medo de morrer se nunca morreste?
V
Porque vejo o sofrimento e a agonia no outro.
M
Sofrimento e agonia não são a morte, creio eu.
V
Mas levam à morte.
M
Ficámos na mesma. O instinto da fome não sacia esta. É preciso mais.
V
Então, sem a experiência consciente da morte não há morte?
MPara quem o afirma não há.
V
Isso não passa de um jogo de palavras.
M
É a finalidade da vida vivida que está na base da nossa conversa. E só um jogo de palavras poderá explicar aquelas palavras e dar-lhe um sentido. Se for possível, claro! E a vida explica-se pela própria vida.
V
É mais qualquer coisa que isso. Para além dela é coisa a considerar.
M
Não fujamos da ideia que inicialmente nos propusemos seguir: a finalidade da vida vivida.
V
Eu acho que a nossa consciência da vida vivida é um acto de reprodução mental. É como se um macaco estivesse a falar de e para macacos explicando o que era um macaco. A vida vivida não é um fim em si. É parte de um problema. E o que é para ti?
M
Tu o disseste. Não sendo um fim em si é uma parte desse mesmo fim. É como parte que tem de ser tratada. E a existência de macacos discutida por eles mesmos e à sua dimensão é uma questão melindrosa se cuidarmos o parentesco que nos une a eles.
V
Ah, essa não! No papel existencial introduzimos conceitos de ordem superior. O acompanhamento do sagrado e do divino no nosso ciclo de consciência, por exemplo.
M
Neste caso, passamos do observável na vida vivida para um não observável.
V
Mas cuja consciência discute a existência do divino. A consciência que como disse reformula e selecciona . A consciência mesmo limitada no circuito da vida vivida não perde liberdade de se cultivar.
M
Essa auto-instrução da consciência em outro nível que não a do observável é permissiva ao ponto de se posicionar como se ela (consciência) fosse criada não pelo relacionamento geracional, mas por um ente superior. Não será um exagero, uma vez que a consciência da vida vivida não recolhe elementos experienciais para basear tal introdução?
V
E o que é que impede que a consciência seja dialéctica, reformuladora e desenvolvida como vimos no início e que estas qualidades permitem-lhe ascender ao divino? Permite-me dizer que isso até explica a finalidade da vida vivida.
M
Ao nível do nosso macaco “adneizado” connosco ficámos esclarecidos. O macaco explica o macaco. Será que pode?
V
O macaco não, mas nós homens sim!
M
Já cá faltava o complexo de superioridade. E quando essa superioridade nos leva ao discurso e postura paganizados? Quando elevamos seres humanos à prateleira do divino, não será isso uma forma de paganismo elaborado ao mais alto nível, para não falarmos do paganismo usual materializado em signos manufacturados e distribuídos comercialmente em tudo que é tenda incensada?

(Continua amanhã, dia 31 de Julho de 2006)

Saturday, July 29, 2006

 

VIVIDA

MAIS UM VÓMITO
“VIVIDA” ESCRITO EM 2002 SOFRE DE ALGUMAS BABOSEIRAS CONCEPTUAIS. OS MEUS VÍCIOS E AS MINHAS INCOERÊNCIAS FAZEM PARTE DO MEU PATRIMÓNIO. NÃO ME PASSA PELA CABEÇA ESCONDÊ-LOS NEM ADMITO QUE SE VÃO. SE VOLTASSE A 2006 VOLTARIA A ESCREVÊ-LO? NÃO SEI!

VARETT
Que interessa apreender mais: a finalidade da vida ou a finalidade da vida vivida?
MANDALA
Creio que é mais fácil começar-se pela finalidade da vida vivida, pois esta é o corolário de um movimento que aparentemente tem um começo e um desfecho. A finalidade da vida sugere questões que uma vez levantadas apontam para o pensamento revelado.
V
Vejamos o que tens para dizer acerca da finalidade da vida vivida...
M
Antes de teres consciência de que sofrias, te alegravas, descansavas, te deitavas, etc., o que julgas que eras antes disso?
V
Estava para ali!
M
Quer dizer que antes do ser consciente que passaste a ser, não davas por ti. Será?
V
Creio que sim! Embora, reagisse a determinadas situações.
M

Não utilizemos a palavra princípio por agora. Vamos substituí-la por recomeço. Um recomeço que pode ser recordado e até trabalhado em termos de análise de “alma”. Isto tratando-se do percurso do ser que se torna consciente.
V
Tal como se de um registo se tratasse ?
M
Sim! A partir deste recomeço podemos pois organizar o percurso de alguém (algo) que o teve, o
desenvolveu e que depois por uma questão qualquer deixou de ser consciente. Digo que, de consciente a consciente eu posso fazer-lhe o “retrato”, o registo, o filme...
V
Até aqui tudo bem. Um recomeço consciente e um deixar de o ser. Tudo aparente porque com os mecanismos internos é outra loiça!
M
Nem preciso, por enquanto. Porque creio que uma vez perdida a consciência do ser, a titularidade do que não é consciente pode ser relegado para o laboratório do cientista ou do especulador. Não está no âmbito do meu desejo encontrar a finalidade da vida em estádio não consciente. É pura perda de tempo, por agora! Imaginemos substituir a gasolina que um automóvel necessita para se mover por trigo em pó. E depois? Não vou perder tempo a filosofar sobre a inutilidade dela (farinha) num motor de explosão.
V
Por que perdes tempo com algumas coisas e não perdes com outras?
M
Deixo essas outras coisas para quem vagueia nesses jogos. Os teus ptrimeiros medos o que foram?
V

Medo de cair e de me magoar. Medo de me queimar com o fogo. De me afogar. Medo que me faltasse o ar. E outros medos que agora não recordo.
M
Esses medos até onde te levaram?
V
A temer pela vida. Pensar que podia morrer e outras mortes.
M
A par desses medos havia quem te protegesse fisicamente?

V
Claro! A família que me oferecia segurança.
M
Esses medos que te ligavam fisicamente ao teu mundo e que tiveram resposta imediata, ficaram por aí?
V
Não, desenvolveram-se.
M
Foram instruídos por ti ou por alguém?
V
Parte por mim e outra por alguém que me orientou.
M
Seleccionaram-te os medos?
V
A questão não é simples. Alguns medos do desconhecido foram suspensos. Melhor, temporariamente os medos foram relegados para um patamar que os anestesiava se eu me preparasse para os enfrentar.

M
E assim surgiu o quê?
V
Uma reformulação do medo que me mantinha a vida equilibrada pois já não tinha ninguém a amparar-me as quedas nem outras coisas do género.
M
Tinhas crescido. Acabaste por substituir o apoio paterno por um apoio mais rebuscado-reformulado como tu próprio já o aceitaste.
V
Sim, a vida tem de ser apoiada. Somos apoiados em tudo. A escola, o trabalho, o casamento, o amor, o policiamento, tudo isso são apoios...
M
E cada etapa desse apoio, tomado à letra, que fará no percurso do consciente?
V
Reforço.
M
Então, cada salto de apoio em apoio, de reformulação em reformulação, torna o consciente ou lá o que é isso um contentor , um grande consciente?
V
Uma grande consciência não é necessariamente um grande saco de experiências ou de saberes.
M
Queres dizer que os saberes poderão estar fora da consciência e esta poderá ser grande sem aqueles?
V

Uma consciência bondosa para que precisa de ciência?
M
E como se adquire uma consciência bondosa sem passar por etapas e/ou reformulações?
V
Nascemos com ela!
M
E há quem nasça com má consciência?
V
Sim!
M
A consciência pode ser modificada?
V
Sim!
M
E, como se sabe isso?
V
Quando a vemos actuar nos outros e com os outros.
M
Portanto, tanto uma má consciência pode tornar-se boa e vice-versa.
V
Não tem problema.
M
Podemos partir do seguinte raciocínio de que quando não temos consciência não há manifestações de boa ou má consciência?
V
Sim!
M
Então, todos os actos considerados bons ou maus só os temos quando no período do consciente?

(Continua amanhã, dia 30 de Julho)

Friday, July 28, 2006

 

FIM DE O IMAGINÁRIO


MANDALA
Vamos pôr de parte existencialismos e outras formas equiparadas e coloquemos o homem ao nível do cavalo, seu companheiro universal.
VARETT
Ao cavalo, pelo amor de Deus!
M
Qual é a liberdade do homem que não possa ser equiparada à do cavalo?
V
O homem pode fazer o bem e o mal. Pode matar e pode suicidar-se conscientemente. O homem evoca Deus e tem a liberdade de o rejeitar. Como é o teu caso. Tudo isto está longe do cavalo.
M
Desvia-te um pouco para olhares melhor e melhor pensares. A verdade que falas está dentro do homem. Tu não a vês.
V
Mas sinto-a.
M
Caracteriza-a.
V
Posso fazer tudo o que me der na gana e posso não fazer. Tenho essa liberdade.
M
Responde-me sucintamente às questões que te coloco: podes voar?; podes fazer sexo com quem te apetecer?; podes acreditar no que não acreditas?; podes matar o teu semelhante?; podes odiar a morte?; podes pensar que existirás para além da morte?, etc.
V
Não posso voar. Posso fazer sexo com quem me apetecer mesmo que esse alguém não queira (usando a força). Não posso acreditar no que não acredito. Posso matar o meu semelhante. Não posso odiar a morte. Posso pensar que existirei para além da morte.
M
Tanto para o cavalo como para o homem a liberdade é um tripé. Basta retirar um dos pés para tombar. É uma liberdade condicionada. Cada espécie é senhora de uma liberdade própria. A liberdade é comum ao homem e ao cavalo. Cada espécie tem um programa específico de liberdade.
V
Como se programa a liberdade?
M
Repara que eu sugeri o cavalo e não primatas com cromossomas idênticos aos nossos. A liberdade está programada tanto para o cavalo como para o homem em dimensões de espécie. A liberdade do homem insere-se na componente homem. Homem livre na esfera fechada do próprio homem. Sê livre como eu quero, parece estar o Universo a dizer. O cavalo tem a liberdade de correr. O homem também. A liberdade é comum a ambos. O existencialismo, uma espécie de clínico geral da liberdade, remete-a para o ser no futuro. Corta com o passado como se este fosse uma doença incurável. Um tremendo erro idealista que coloca a liberdade como um fruto instantâneo. A liberdade é um momento ou momentos de cultura. Esta é um saber acumulado pela espécie e pelo Universo.
V
Como? O homem carrega consigo a liberdade de se suicidar. Quando o faz, que relação tem isso com a sobrevivência?
M
O suicídio é também uma forma de sobrevivência. Morrer, por vezes, pode significar “viver” melhor ...
V
O suicídio é condenado nas sociedades ditas civilizadas. Viver melhor é morrer? Não me parece que isso seja obra de uma mente sã.
M
O que é que distingue uma mente sã de uma dita insana? São ambas mentes! Onde e quando se inicia a insanidade? Quem ajuíza? O homem ou o Universo?
V
Se este ajuíza não podemos sabê-lo. O Universo fica de férias quando precisamos dele para nos ajudar. O homem está só e só fala com ele próprio sobre estas matérias. Também fala com Deus. Este é a sua única salvação. Ele é que nos guia nesta escuridão. Ele é luz!
M
É interessante o que a escuridão nos pode trazer como elemento de dedução. Ausência de luz será escuridão? A escuridão fraca será luz? A luz serve para o Universo se ver a si ou ele é tão bom que dá luz para vermos a sua obra? Se tudo fosse escuridão quem deixaria de ver? Nós ou o Universo? A escuridão e a luz são uma e a mesma coisa? Se conseguimos ver na escuridão, será a escuridão escuridão? Terá a luz forma quando toca a escuridão? Ou será o contrário? Ambas terão forma comum? Dará a escuridão forma às coisas? Qual terá sido a causa da escuridão? A luz ou vice-versa? Terá a escuridão, como a luz, velocidade? O Príncipe das trevas tem olhos? Haverá raio de escuridão? Estudar a escuridão é torná-la clara? Terá o medo da escuridão correspondência com o medo da luz?A escuridão é um descanso? A morte é conduzida na escuridão? Poder-se-á retirar a escuridão da luz e vice-versa' A escuridão dissolver-se-á na luz? A escuridão terá cheiro? Se nem o cheiro, nem o olfacto, nem o gosto servem para se poder entender a escuridão, então a visão e a escuridão são os sócios mais antigos que se conhecem.
V
Nunca respondes concretamente às questões! Que grande imaginarista me saíste!!!

Fim! Que mais poderia ser...

Wednesday, July 26, 2006

 

O IMAGINARISTA - CONTINUAÇÃO DO DIA 26 DE JULHO DE 2006


O IMAGINARISTA – CONTINUAÇÃO DO DIA 26 DE JUNHO DE 2006

MANDALA
Eu não estou interessado em mudar o mundo, porque ele não precisa da minha ajuda para nada.
VARETT
Socialmente?
M
Claro! Já viste alguém levar as massas à revolta sem estas estarem de antemão revoltadas? E já viste alguma revolta retroceder com apelos teóricos?
V

Explica-te!
M
Revolta é igual a um mais um...
V
Karl Marx?
M
Talvez o melhor de todos. Somou Hegel com a fome de muitos e “descobriu” o Universo em dialéctica transformativa.
V
Estou a ouvir bem?
M
Trata-se de uma mente que se organizou em sistema. As suas teorias só são válidas quando sobrevoam a acção. Não promovem a acção.
V
Onde colocas Mao e Lenine?

M
À frente das massas, mas isso não quer dizer que as tenham levado à acção.
V
Muito discutível!
M

O que move as massas, a história di-lo e di-lo bem: apetências. As movimentações das massas são aproveitadas pelos ideólogos propensos ao domínio da política.
V

E o domínio religioso? Cristo arrastava as massas!
M

Sobretudo com o microfone e os alto-falantes da época... Não me parece que as mesmas massas o tivessem defendido quando os chefes religiosos o condenaram à morte. Sempre que há massas a dirigirem-se para a “festa” é só colocar o ideólogo-chefe à frente delas para ele fazer figura.
V
Ele falou perante cinco mil pessoas. Que dizes a isso?
M
Pensa um pouco antes de repetires bananadas que leste e ouviste. Põe-te a falar no deserto ou numa planície para mil pessoas e vê se elas te percebem? Quanto mais para cinco mil...
V
A história diz-nos que Napoleão falava para milhares de soldados!
M

As catequista meteram-te muita merda na cabeça. Isso é mais uma balela. As condições da geografia do terreno impediam tal baboseira.
V

Hitler?
M
O que levou os alemães para a I Guerra Mundial não foi Herr Hitler . Quando ele, anos mais tarde, discursava, só dizia aquilo que os alemães queriam ouvir. Se fosse o contrário, a história não falaria dele. Outro tomaria o seu lugar. Aconteceu o mesmo a Mr. Winston, etc.
V
Matas todos os heróis!
M
Não é nada disso. Claro que existem heróis. Olha o exemplo do Sansão que quando tinha os cabelos compridos derrotou mil inimigos com uma queixada de burro... Ah! Ah! É preciso não embalarmos em contos infantis feitos à medida dos adultos, senão acabamos por acreditar em homens que se fizeram passar por deuses e que depois de levemente mortos voram para os céus. A mente humana é muito manipulável.
V
Credo! Cristo, um Deus que foi para o Pai que o esperava no Céu.
M
Poupa-me! Na minha infância enfiaram-me muito barrete. Na maioridade não será assim tão fácil. Cresce!
V
Sou eu menor?
M
Menor e não só ... Mitologias a vigorarem no nosso tempo...
V
Tu não respeitas o Universo que tanto apregoas!
M
No Universo encontras pântanos e terra firme. Eu prefiro a terra firme porque diz mais com a minha maneira de ser. Cada um “pantaneie” como quiser. Nunca me ouviste dizer que abraço o Universo incondicionalmente. Para já te digo que se fosse possível optar por não ter nascido eu o faria de bom grado. Seria, para mim, uma vitória sobre o Universo. Infelizmente isso não pode acontecer. A minha relação com o Universo é de total repúdio. Eu não me identifico com o que me coube dele nem com aquilo que me caberia se fosse de outra maneira.
V
Se todos fossem como tu, nada interessava nem se descobria nada. Para que serviria um Einstein.
M
Estás a trocar as voltas ao texto. O que o homem tem feito como ser programado é arranjar almofadas para servirem de quebra quedas à terrível herança que é nascer sobre as regras do Universo.
V
És tu que falas ou o Universo?
M
O Universo às vezes parece estar adormecido. Daí a verdadeira dificuldade entre o entendimento da peça com o todo.
V
Tu teimas em colocar o Universo em diálogo. O homem fala fala, o Universo cala cala.
M
Esta é a parte importante, embora possa parecer caricata. Se retirarmos da face da Terra todos aqueles que nos aproximaram do pensamento especializado, será que ficamos como os outros animais?
V
Claro que não! Existem diferenças enormes. Queres comparar os cascos de um cavalo com as mãos de um homem?
M
Repara que o cavalo não necessita de mãos para comer e plantar a erva com que se alimenta. O procedimento do cavalo está previamente programado e coincide com o programa da natureza que o alimenta.
V
Está tudo programado?
M
Claro! Não se vê?
V
E a liberdade que é uma característica do homem? Não me digas que ela também está programada?

(Continua amanhã, dia 27 de Julho de 2006)

 

NÃO MORRI POR POUCO - POUCO SE PERDIA...

Café "CV", Rua do Valverde. Sento-me numa das mesas e por pouco não sou atropelado. Doze centímetros apenas entre o meu traseiro e um camião que passou a uma velocidade incrível. Um "micalês" conduzia-o! Eu não sou turista. E se fosse? Diria certamente: son of a gun! Terei de me converter outra vez para pedir a Deus que mande um dos seus anjos adstrito ao trânsito para pôr cobro a este acto de selvajaria doméstica sistemática e diária? Nos Açores, só depois de acidentado (e não morto) é que nos podemos queixar às autoridades terrenas. Não, eu não saio mais de casa! Daqui a pouco vai para o ar a continuação de "O Imaginarista"
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Tuesday, July 25, 2006

 

SE O MUNDO É ISTO POR QUE RAZÃO NÂO POSSO ESCREVER ESTES VÓMITOS ACERCA DO UNIVERSO?


O IMAGINARISTA - CONTINUAÇÃO DO DIA 24 DE JULHO DE 2006

MANDALA

Não chego a tanto. Basta-me o Universo para me distrair.
VARETT
Julgo que cometes o erro de quereres humanizar o Universo. Acho que não era o que querias.
M
Se eu sou parte dele só me posso compreender no conjunto. Falar de mim isoladamente acarreta o inexplicável. Isso eu procuro não fazer. Não antropomorfizo o Universo. Só o faria se a minha postura fosse parcelar. O que eu pretendo é que o Universo fale por mim. Quando conseguir que isso aconteça far-se-á luz em mim. A luz do Universo!
V
Que ganhas com isso?
M
O começo e o fim da procura!
V
E que significado tem isso?
M
Que o Universo não se controla a si mesmo e que talvez isso seja o dilema da decifração que existe entre nós e ele. O Universo está “descontrolado” e por essa razão não domina o seu prolongamento que são os nossos sentidos que é aquilo que nós chamamos de razão ou coisa que o valha. A razão não explica tudo porque está “descontrolada” tal como o Universo. Existe um prolongado distanciamento entre as coisas, daí este compreender difícil. Este afastamento que sentimos uns dos outros reflecte-se no acto de morrer. Morremos sozinhos porque não podemos comunicar a morte. O sentido da comunicação de cada um passa para a responsabilidade do Universo. Será isto um desperdício?
V
Acabas por não resolver nada com essa tua criativa confusão. É sempre o mesmo!
M
A dificuldade é eu não estar muito inclinado a praticar a análise pela análise. Julguei que olhando de “cima” fosse capaz de me divertir.
V
O divertimento da ignorância?
M
Da ignorância assumida e sem desculpas se for caso disso. Estou muito pouco interessado em criar seja o que for , porque qualquer que seja a verdade ela não serviria para nada. Conscientemente nunca jogaria o jogo do Universo, nem de Deus acaso o considerasse uma questão verdadeira. Para mim, ninguém apresenta créditos sobre a matéria. Digo-te que se o Bem existisse não me interessaria para nada. Nem como linguagem divina nem como linguagem mista homem-Universo. Deus como invenção não passa de uma baboseira de entretenimento e socorro passageiro na ainda limitada mente humana. Tudo isto é um verdadeiro aborrecimento. Um aborrecimento universal.
V
E se enveredasses pelas coisas morais?

(Continua amanhã, dia 26 de Julho de 2006)

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Monday, July 24, 2006

 

III CAPÍTULO - IMAGINARISTA

O IMAGINARISTA – CONTINUAÇÂO DO DIA 23 DE JULHO DE 2006

VARETT
O que é que te leva a não separar as coisas? Não vês que os sentidos estão mais ligados às coisas com que esbarramos no dia a dia enquanto que a racionalidade sobre elas é algo muito diferente? Não vês que a razão e o pensamento as trabalham numa outra dimensão?
MANDALA
Quando não percebemos as coisas, julgamos que a análise nos ajuda a percebê-las.
V
A análise não ajuda a perceber melhor?
M
Pode ajudar a compreender, mas nada confirma a verdade e os princípios que a regem.
V
Não são os sentidos que constroem a linguagem, os símbolos, etc?
M
Se os não separarmos numa primeira fase, talvez melhor compreenderemos o que nos rodeia. Se eu der uma ordem às minhas pernas para saltarem, que tipo de ordem é essa? Isto é, é ela do tipo material ou imaterial?
V
Não percebo!
M
Já te explico. Quando eu faço uma travagem num carro com sistema hidráulico nos travões, basta que eu coloque o pé no pedal para que se gere uma comunicação que termina na acção mecânica de travagem. Apresenta-se uma causa física com efeito físico.
V
A ordem para travagem é outra coisa!
M
Claro! A ordem passa a causa quando como seu efeito eu pressiono o pedal do travão. Parece que tudo o que nos rodeia obedece a causa e efeito.
V
Que grande descoberta!
M
É só para não te esqueceres que com isso eu quero dizer que tudo está ligado. E, aquilo que nós queremos separar, ligado está. É bom quando analisamos, mas também é bom respeitar o conjunto. Eu, para analisar uma pessoa viva, não preciso de lhe separar o coração ou o fígado porque isso a mataria. Porém, eu ligo o seu coração ao cérebro e a tudo o mais. Assim, como o cérebro está ligado a todo o corpo, assim o pedal do travão está ligado aos discos de travagem. Não esqueças que o sistema de travagem não está isolado da carruagem. Eles estão interligados e servem-se uns aos outros.
V
Isso mesmo assim não impede que se isole o sistema dos travões tornando-o independente.
M
Para peça de museu. Para peça de laboratório. Que é um sistema de travões isolado? Para que serve? Creio que para nada. Quem poderá falar de um aborto num frasco de álcool sem fazer as respectivas conotações? Percebes a ideia?
V
Percebo aonde me queres levar. Mas fico sempre de pé atrás.
M
Ainda bem! Pois aguça-me o corpo todo. Ah! Ah!
V
Parece que pensas com os pés?
M
Quase que acertas.
V
Como?
M
Experimenta pensares ao mesmo tempo em que te pregam pregos nos dedos dos pés com um maço de madeira.
V
Ninguém pode dialogar contigo. Que grande salto!
M
Eu dou saltos dentro do mesmo terreno. É preciso que entendas isso. Senão estaremos aqui às voltas e nada avançamos.
V
Eu raciocínio baseado em princípios, em conceitos, com ideias, etc. É com o raciocínio que tiro conclusões. Não é com os dedos dos pés!
M
Também gostas de dar saltos. Quando estiveres a afogar-te o que te ocorre fazer? Raciocinares à Euclides que dizia que duas coisas iguais a uma terceira são iguais entre si ou fazeres apelo a uma bóia?
V
A uma bóia! Há tempo para tudo. Cada coisa no seu lugar.
M
Evidente! Adaptas o raciocínio a uma outra situação. Tão simples quanto isso. Se tiveres uma bóia por perto diriges-te para ela. Se estiveres a afogar-te fazes apelo ao sentido de flutuar.
V
Sentido de flutuar?
M
Os sentidos são às centenas. É só escolheres.
V
Essa é muito boa!
M
A tua visão é composta por dois globos oculares. Como é que achas que eles funcionam sem disfunção? Naturalmente que possuis um sentido que coordena a acção dos dois olhos. Caso contrário tinhas de ser possuidor de um aparelho interno que os regulasse, parecido com os instrumentos que orientam a luz dos automóveis.
V
Olha que estás a separar e não é isso que dizes pretender.
M
Faço a separação como ginástica mental mas não desligo nada em definitivo. Não tenho essa pretensão. Corria o risco de olhar o singular e ficar a pensá-lo como tal. O que dificultaria apreender a sua utilidade no conjunto. O mesmo erro fazem os que querem explicar aquilo que isolam esquecendo-se da importância das partes que lhes estão ligadas.
V
Deus?
M
Por exemplo! Pois, torna-se difícil explicá-lo isolado. Fica-se com um sistema de travões sem viatura para aplicá-lo. E que explicação terá um sistema de travões sem viatura, em si e isolado?
V
Desconheces as características de Deus?
M
Claro, como podes conhecê-las fora do contexto do Universo? Tudo o que disseres dele é um composto das coisas que estão nele (Universo).
V
Admites a sua existência?

(Continua amanhã, dia 25 de Julho de 2006)

Sunday, July 23, 2006

 

O IMAGINARISTA DEPOIS DE INTERROMPIDO INVOLUNTARIAMENTE

POR MOTIVOS ALHEIOS FUI IMPEDIDO DE CONTINUAR ONTEM, DIA 22 DE JULHO, A COMPOSIÇÃO DO TEXTO “O IMAGINARISTA”.

III CAPÍTULO

VARETT

Os evolucionistas estão tramados, pois terão de explicar o aparecimento, no homem, dos sentimentos, das emoções, da racionalidade, da saudade, do amor, do conhecimento científico, do desenvolvimento das técnicas, etc., através da evolução da matéria.
MANDALA
Eles têm essa dificuldade. Eu não!
V
Comecemos, então, por ouvir as tuas facilidades.
M
Olha o teu relógio e diz o que vês.
V
Uma máquina que dá horas e que foi inventada e construída pelo homem.
M
Não querias dizer isso desta maneira. Devias reformular.
V
Como assim?
M
O relógio é uma cópia do movimento circular das peças que compõem o Universo e seus movimentos. A sua complexa máquina tão complicada é o que resulta da racionalidade do Universo espalhada na composição humana. O homem é pois a interpretação do Universo e não o Universo a interpretação do homem.
V
Espera lá! Queres deizer que não foi o homem quem construiu o relógio?
M
Não! Não foi! Nunca ouviste falar de povos que não criam nada e que copiam e aperfeiçoam o que os outros realizam?
V
Que raio de comparação! Copiam a criação de outros homens.
M
Vejamos melhor a questão. Não imita o relógio o tempo e o movimento da Terra?
V
Sim! E quanto ao mecanismo interno do relógio?
M
Mais fácil ainda. Os primeiros relógios eram muito simples e foram complexificando conforme as necessidades de precisão que o Universo transmite ao homem. Nada que está dentro do relógio está fora do Universo.
V
Ena pá! E as rodas dentadas? Foi o Universo que as fez ou as mostrou para o homem as copiar?
M
Basta olhar algumas plantas e o que elas produzem. Existem plantas cujo fruto está envolvido por uma espécie de penas e que servem para que aquele se desloque por força do vento para viajar e tentar reproduzir-se noutras paragens. Se juntares esta invenção da natureza a outra parecida, facilmente obterás um efeito de rodas dentadas. Quando surgiu a oportunidade de as realizar em madeira ou metal retira-se dela uma determinada utilidade. O mesmo se passa com a “criação” da roda. O homem inspira-se no que o rodeia para depois retirar para si o proveito.
V
Devagar! Há coisas que o homem desenvolveu que o Universo não as pode ter ensinado. Estou a falar dos mecanismos criados para responder as questões levantadas pela Física das pequenas escalas.
M
Convém, primeiramente, abordarmos outras questões. O homem é consequência do Universo e não causa dele! Estás de acordo?
V
Sim!
M
Assim, parece-me que tudo o que acontece no Universo é uma consequência deste. Isto é, tudo o que tem existência se deve a uma causa: Universo.
V
Por sua vez o Universo é consequência de algo. Esse algo é o Criador.
M
Falemos de coisas que sabemos serem coisas. Não refiras, para já, o imaginário. Vamos olhar e perscrutar aquilo que se usa chamar sensível.
V
Para quê? Os sentidos conduzem-nos ao erro.
M
Não me parece que seja assim tão certo. Não vamos seguir o conhecimento tradicional para ficarmos sujeitos à chacota dos sábios. Vamos chateá-los. Sejamos rebeldes, mesmo que isso não nos leve a lugar algum.
V
E o que é que se ganha com isso?
M
Entretenimento! Performance! Já reparaste que ninguém põe em causa a separação que dizem existir entre os sentidos e a razão?
V
Os sentidos são uma coisa, a razão é outra!
M
Vamos respeitar o Pai Universo que é o que temos mais à mão.
V
Agora o Universo já serve para pai?
M
Eu não vejo, para já, mais ninguém que possa ser a nossa causa. Observei, há tempos, num documentário sobre cavalos uma coisa gira. Uma récua encontrava-se organizada numa planície, onde o homem raramente ia por ser terreno inóspito. Porém, um dia, para lá se dirigiram e caçaram alguns cavalos, sobretudo os garanhões chefes. Passado pouco tempo a chefia dos cavalos era ocupada por um dos cavalos depois de este ter vencido os restantes machos na luta pelo poder. A sociedade dos cavalos, naquela planície, reorganizou-se de tal maneira perfeita como se nada se tivesse anteriormente passado de catastrófico.
V
O que quer isso dizer?
M
O que quero dizer com este exemplo visível é que eu não vejo nada que me rodeie que não obedeça a uma consequência organizada. Quando vejo alguém separar a sensibilidade da racionalidade fico a pensar que se trata de uma total falta de respeito pelo nosso pai.
V
Deus?
M
Já disse que não!
(Continua amanhã, dia 24 de Julho de 2006)

Friday, July 21, 2006

 

O IMAGINARISTA - CONTINUAÇÃO DO DIA 20 DE JULHO JÁ A SEGUIR

MANDALA
Esta questão é temporariamente resolvida quando a revolta sai à rua. E isto acontece porque os detentores da riqueza se descuidam. A acumulação de riqueza, quando indevida, gera desequilíbrio. Os acumuladores daquela correm certos riscos quando não se dispõem a distribuí-la conforme as solicitações surgidas pelos saltos qualitativos e evolutivos da sociedade. As reformulações sociais têm de ser permanentes. A ganância é tanta que faz com que o grande capital em vez de tentar harmonizar a comunidade gaste enormes quantias em segurança especial para viver em "fortalezas" e outros "terrenos" de difícil acesso. Esta falsa sensação de segurança tem sempre os dias contados. Não é eterna. Isto ensinam-nos as descrições da história da humanidade.
VARETT
Que raio de Universo!
M
Existe um fenómeno que germina por dentro dessas sociedades musculadas e que dá pelo nome de corrupção. A sociedade dos poderosos não a aceita muito bem quando ela dá muito nas vistas, porém, os corruptos são necessários não só para os saltos qualitativos (discutível no sentido moral do termo) como para fazerem ajustar o aparelho judicial às pretensões da populaça.
V
Uma forma de justiça social, a corrupção?
M
O corrupto de hoje, será o herói de amanhã.
V
Os corruptos vão parar à cadeia.
M
Lá voltaste ao Universo imaginário. Alguns corruptos sobem ao cadafalso assim como alguns justos. Alguns ladrões são presos como também alguns polícias.
V
Os justos não são corruptos!
M
São-no na medida em que interferem no que está estabelecido. São-no de sinal contrário. E são tão nocivos quanto os injustos. Os justos sociais desequilibram as estruturas cerebrais das sociedades. Estas não perdoam e fazem daqueles as vítimas mais próximas.
V
Isso é um disparate!
M
Se sabes ler, lê um pouco de história!
V
As sociedades organizam as suas constituições, o que é um acto de grande civilização.
M
É um acto tão civilizado que tem de ser revisto de tempos a tempos.
V
Para se adaptar às exigências do progresso social.
M
As constituições, muitas vezes, funcionam como o Zé do Telhado, outras como o garante dos interesses da burguesia. E, quando se pronunciam textualmente pelos direitos, deveres e garantias dos cidadãos é para disfarçar os seus interesses.
V
E quanto aos Direitos Universais do Homem?
M
Os regimes totalitários, quer sejam de direita quer sejam de esquerda, usam-nos para proveito próprio e quando mostram preocupação por alguma "vítima" além fronteiras não o fazem por motivos humanitários, mas para ressalvar imagens e diplomacias. Por exemplo, no Ocidente, encontram-se prisioneiros sem culpa formada e em condições desumanas. No entanto. o mesmo Ocidente condena cinicamente países com ideologias e religiões diferentes que esbarram nos direitos humanos tanto quanto ele.
V
Conclusão concluída (como dizia o Alceu) sejamos justos connosco próprios e admitamos que como espectadores involuntários confundimos os autores, os narradores e as personagens porque às tantas nos julgamos capacitados para pensarmos o impensável. E, tudo isto pensando...
(Continua amnhã, dia 22 de Julho de 2006)

Thursday, July 20, 2006

 

O IMAGINARISTA - CONTINUAÇÃO

O IMAGINARISTA

Continuação do dia 20 de Julho de 2006


VARETT
A qual dos Universos te referes?
MANDALA
Distintos e classificados só nos ajudam a compreender melhor o homem.
V

E se o Universo ou Universos forem a razão maior?
M

Óptimo Teríamos o problema resolvido já que ela coordenaria as outras todas. Estaríamos a falar como o Universo e a admitir que afinal ele nos compreenderia. Através da razão maior seríamos nós próprios. Porém, a dificuldade é colocar-nos na sua pele uma vez que somos servidos pelas nossas razões parcelares e diminuídas.
V
O homem está condenado à diferença apesar de viver no mesmo Universo. O igualitarismo não é possível. Só modificando a sua estrutura natural, o que a meu ver é impraticável.
M
Social e teoricamente é possível uma atitude de aproximação tendo em vista uma melhor justiça social. A leitura que nós fazemos do social não é a mesma coisa que viver no social.
V

Como assim?
M

Numa análise despida de preconceitos sabemos que tanto um médico quanto um canalizador (um exemplo entre muitos) têm um valor incalculável na vivência do homem moderno. Podemos comparar actividades entre si e verificar que são todas importantes e interdependentes.
V
Trabalhadores de todo o mundo uni-vos!
M
Pertence ao imaginário dos explorados. Acontece que eles para se unirem precisam dos que sendo trabalhadores como eles passem a dirigir a união. Isto vem determinar e estipular os que dirigem e os que são dirigidos. A seguir a velha fórmula do Universo toma conta da organização.
V

Então, não existe solução. A pirâmide actua de cima para baixo.
M

Isso não quer dizer que não se distribua o que se produz de uma forma mais equilibrada.
V

Para isso fazer sentido são necessários permanentes ajustamentos.
M

É o que o Universo nos pretende dizer.
V

Esses ajustamentos não têm um fim?
M

Pertencem ao futuro do Universo.
V

Não deverá o homem intervir como anunciam os compêndios?
M

O homem sempre interveio. O que é preciso é harmonizar a sua prática. A vida social é feita por tendências. Estas estão ligadas à produção de riqueza e aos que dela se apropriam.
V

Que fazer com aqueles que indevidamente se apropriam da riqueza que não criaram?

Continua amanhã, dia 21 de Julho de 2006.

Wednesday, July 19, 2006

 

O IMAGINARISTA - CONTINUAÇÃO DO DIA 18 DE JULHO

IMAGINARISTA – CONTINUAÇÃO DO DIA 18 de JULHO DE 2006

VARETT
Deixava de haver políticos. Não havia governo. Um autêntico desastre.
MANDALA
Veremos. Não achas que passado pouco tempo apareceriam outras pessoas que se organizariam politicamente?
V
É muito provável que isso acontecesse.
M
Do facto se poderia retirar algumas ilações.
V
Quais?
M
Se eu atirar um pedregulho para a superfície de um lago, que achas que aconteceria?
V
As águas tornar-se-iam revoltas e onduladas no princípio para depois voltarem à calma inicial.
M
Isto é, as moléculas da água sofreriam pressão e deslocação com o impacte para depois se harmonizarem. Com a comunidade dos homens acontece o mesmo. Dir-se-á que as coisas apresentam um plano de actuação para o futuro.
V
Parece que esqueces que as elites produzem elites. Ao passo que a maioria surge incapacitada e pouco elaborada. A ocupação dos cargos políticos pela mediocridade não pode ser considerada governação. E se a face é medíocre é porque serve interesses ocultos.
M
Uma má governação não deixa de ser governação. A aprendizagem reporá tudo nos seus devidos lugares.
V
Queres dizer que da população medíocre gerar-se-ia uma nova elite?
M
Claro! Este é o caminho e o projecto das comunidades. Das mais simples e primitivas até às mais complexas.
V
Caso estranho. É que uma vez decapitada a sociedade pelo tal Herodes nem todos se dignam ocupar os cargos políticos deixados em aberto. Sá uma parte dela teria apetência para dirigir.
M
Vês, apesar de todos os homens serem racionais não é racional todos governarem. Se for responder à tua questão acerca da racionalidade da comunidade humana eu digo-te que não. A comunidade humana não é racional. Não funciona racionalmente. Funciona por esquemas e em cada esquema existem razões de esquema.
V
A razão não é isso. Não pode ser!
M
A razão se fosse como tu a pintas exigiria para todos o mesmo percurso. Isso não acontece. Numa comunidade com pretensa ordem de valores formais e materiais era de admitir a igualdade de oportunidades. Porquê as diferenças?
V
Quando das maiorias surgem organismos de defesa, como por exemplo, os sindicatos, a igualdade de oportunidades é um objectivo que se pode alcançar mais facilmente.
M
Pois. Porém, acontece haver sindicatos mais fortes do que outros. Uniformizar coisas distintas pertence ao imaginário.
V
Não será isto fascismo?
M
Cada sociedade possui características próprias. Umas são mais industrializadas do que outras. Existem sociedades muito pouco industrializadas que utilizam o comércio para melhor sobreviverem. Existem sociedades que não são nem industrializadas nem comercialmente desenvolvidas. Observá-las globalmente pode não levar a nada. É preferível partirmos da análise de cada uma. Basta que comparemos duas civilizações distintas para encontrarmos dois modelos de razão, de justiça, de moral, de estética, etc. Apesar da componente humana ser a mesma, o desenvolvimento de uma formaliza um ser diferente e com práticas vivenciais desiguais. Só o estudo da razão de pouco serve, nestas condições, para nos responder cabalmente.
V
Mas, é a razão que interessa!
M
Se ela nem sempre actua da mesma maneira, penso que interessa em primeiro lugar o que a faz ser diferente e por vezes nunca igual.
V
Será a razão angular?
M
É o que parece! Senão vejamos. Se a razão como diz o outro é tudo, então o imaginário é o racional e o que é objectivo também o é. Será que o racional imaginário é um adaptador das coisas ou adapta-se às coisas?
V
Não será isso redutor?
M
Como pode sê-lo? O racional imaginário não está só. Há que ter em conta o racional natural.
V
Onde começa um e acaba o outro?
M
Interagem e o sujeito supervisiona-os.
V
Como age o sujeito?
M
No espaço próprio e do qual faz parte.
V
Entenda-se, então, activos e a sua acção de conjunto torna-os comprometidos entre si.
M
Ao transformar comportamentos artificialmente corremos o risco de criarmos o homem robotizado.
V
De qualquer maneira a natureza fá-lo robot. É o que parece.
M
Tendo em conta a ordem e o rigor interventor do Universo, não repugna aceitar a ideia de o homem ser isso mesmo: um robot.

(Continua amanhã, dia 20n de Julho de 2006)

Tuesday, July 18, 2006

 

O IMAGINARISTA - CONTINUAÇÃO DO DIA 17 DE JULHO DE 2006

CONTINUAÇÃO DO DIA 17 DE JULHO DE 2006

O IMAGINARISTA

MANDALA
Vive como? Ela vive num conjunto de que faz parte integrante. Ela não é independente. A razão apresenta etapas de crescimento no ser. É usada na primeira fase do discernimento até chegar à maturidade. Neste grau ela procura reduzir o erro. Quem treina a razão para que ela atinja a perfeição? Pode ser treinada como um cavalo? É que por vezes existem seres cuja razão deixa muito a desejar. Se se pode dizer que ela nem sempre se manifesta igualmente para com todos, então é porque percorre caminhos distintos. E muitas vezes ela não dá mostras de crescimento. Será que sofre influências externas circunscritas no corpo que habita?
VARETT
Existe um padrão para os seres normais.
MPara estudares uma máquina tens de a desmanchar. Se a máquina avaria, que alegria não sente o técnico quando a consegue reparar. Conhecer uma máquina é também conhecer as suas avarias. Para tornar a medicina mais eficiente é preciso estudar os cadáveres. A razão da doença é a razão da saúde...
FIM DO I CAPÍTULO
II CAPÍTULO (INÍCIO)
VARETT
Existem filosofias de intervenção como o marxismo, por exemplo, e de contemplação como o idealismo. Para que serve a tua?
MANDALA
Esta questão originaria , de certo, um outro tipo de diálogo.
VOutro tipo de diálogo? Não estamos nós a pensar o Universo? Já te esqueceste? Não será o social uma parte que nos ajudará melhor a compreendê-lo?
M
Para um conhecimento rigoroso e científico devemos apelar também para a Física Teórica e outro tipo de conhecimento afim. O que nós fizemos foi papaguear acerca de coisas das quais ainda somos uns ignorantes estabelecidos. Nós vemos o Universo de um ângulo muito restrito.
V
É o Universo. Que eu saiba, ele não é ainda propriedade das elites!
M
Temos de começar por algum lado. Ocorre-te alguma ideia?
V
Será a sociedade racional?
M
A que sociedade te referes? A dos animais ou a das plantas?
V
À sociedade humana, bolas!
M
Não queiras isolar comunidades! Repara que existem plantas que até comem animais, assim como animais que comem plantas. O Universo indica-te que são interdependentes. Na escola primária ensinaram-te que tanto as plantas como os animais são seres vivos.
VComo é que podes falar em nome das plantas? Já alguma vez foste planta?
M
Havemos de falar mais tarde sobre as comunidades das plantas e dos animais. Voltemos, pois, à sociedade humana. Ela não é só racional. Se fosse só isso ela não sobreviveria.
V
Explica-te melhor!
M
Suponhamos que num determinado país aparecia um Herodes qualquer que mandava matar todos quantos fossem detentores de cargos políticos. Desde o Chefe de Estado atá ao mais simples Vogal de Assembleia de Freguesia. Mais, mandava matar todos aqueles que tinham concorrido e não haviam sido eleitos.

CONTINUA AMANHÃ DIA 19 de JUNHO DE 2006

Monday, July 17, 2006

 

O IMAGINARISTA - CONTINUAÇÃO DO DIA 16 DE JULHO DE 2006


MANDALA
Ela para ser mais do que um sentido não pode cometer os mesmos erros de apreciação. Tanto ela quanto os sentidos pertencem ao grupo dos falíveis, apesar de ambos utilizarem o princípio de identidade.
VARETT
Essa é muito boa!
M
A razão utiliza ideias, conceitos. Coisas materializáveis no e pelo cérebro. Sentidos utilizam a matéria-prima que uma vez tratada se unifica sob os auspícios da compreensão no mesmo cérebro. São ambos hóspedes na geografia cerebral. Ambas as recolhas provenientes dos sentidos e da razão são no cérebro trabalhadas, interpretadas e descodificadas. Trata-se de uma consequência natural. Basta que atendamos ao processo de reacção que sucede à receptação das informações colhidas do exterior. Os formulários racionais que o cérebro organiza após as receber não dispensam conclusões. Tanto a razão quanto os sentidos o fazem naturalmente. A experiência confirma-o. Uma pessoa distraída com qualquer coisa pode não se aperceber durante um certo tempo que tem a mão em algo que possui uma temperatura baixa. Se a temperatura baixar muito, os sentidos transformam essa informação em energia de entendimento. Essa energia foi despendida pelo informador do cérebro que é ao mesmo tempo intérprete da situação. O informador funciona como uma espécie de disjuntor que dá o aviso.
V
Não estarás a equiparar o sentido à razão?
M
O que eu quero dizer é que cada sentido tem o seu próprio discernimento racional. Há uma razão da visão que divide com o sentido da mesma o entendimento. Não tendo outra palavra para expressar a razão do sentido, espero não estar a confundir-te. No laboratório clínico consegue-se separar o sentido da visão em duas secções: a que percebe o campo de percepção e a que vê sem perceber... Se se consegue separá-los, naturalmente é porque estão ligados num só. Isto é a prova mais do que cabal de que o sentido é uma peça da compreensão.
V
Com isto acabas de dizer que tudo leva a crer que aceitas não uma razão, mas várias.
M
Como é que achas que os sentidos comunicam entre si?
V
Eu acredito numa razão superior que ordena tudo.
M
Isso de razão superior e outra quer dizer que existem várias. Acontece que razão e entendimento são duas coisas distintas. E, se, algumas vezes, estão juntas é porque tratam hierarquicamente o que mais interessa à sobrevida. Vários entendimentos exigem várias razões ao mesmo tempo. A razão dá racionalidade às coisas ou as coisas reflectem-se nela como racionalidade razão não tem o dom da ubiquidade. Daí que há que entendê-la sectorialmente.
V
O que é que está por detrás da razão e dos sentidos?
M
A razão e os sentidos têm alguma coisa que lhes é posterior. Por esta ordem de ideias devem ter algo que lhes é anterior. Seria absurdo partir da razão como se ela fosse alguma coisa incriada: algo de onde deve partir tudo o que se constitui em entendimento. Estamos perante uma pirâmide de intérpretes. Quando se atinge o cume? Creio que isso acontece quando tudo é cume e base simultaneamente. E é bom pensarmos que “as coisas una” não o são. O que dizemos do Uno é fruto da visão do Universo. O tal que pode ser bicéfalo. A unidade de informação de informação é um erro a admitir. Que seria dos sentidos se nada houvesse para sentir? Os sentidos estão ligados à coisa sentida. Racionalizar o que não pode ser racionalizado para onde nos levaria? A razão sem o “dado” para que serve? A razão para sê-lo tem de viver acompanhada do aquilo que é racionalizável.
V
A razão vive no ser. E muitas vezes está isolada das coisas.

(Continua amanhã, dia 18 de Julho de 2006) Posted by Picasa

Sunday, July 16, 2006

 

O IMAGINARISTA - CONTINUAÇÃO


CONTINUAÇÃO DO DIA 15.7.06

VARETT
Afinal, quem fala pelo Universo? O “canibalismo”?
MANDALA
Tudo está inserido no Universo. Tanto o pensamento quanto a acção do homem fazem parte dele. O canibalismo pouco difere do que se passa nos talhos.
V
Diacho, o homem tem alma!
M
Mais me ajudas! O canibal não come a alma, mas sim a carne e alguns ossos dos seus semelhantes. Quanto à alma, a existir num qualquer modelo, tenho dúvidas que ela dure para além do tempo do Universo.
V
E se o Universo for eterno? Se tudo está dentro dele como tu dizes, então, a alma será eterna. É que terás dito algures que ninguém podia ser expulso dele.
M
Se o Universo for eterno elas também o serão numa outra dimensão de transformação.
V
Também percebes de almas?
M
A alma para mim é o conjunto dos órgãos de um corpo em funcionamento. Sentidos, coração, bexiga, fígado, cérebro, etc. Quando estes órgãos cessam funções a energia da alma adapta-se ao Universo. Penso eu...
V
E, quanto ao pensamento?
M
A alma não pensa. O pensamento é aquilo que resulta da acção físico-química que percorre os circuitos cerebrais. O cérebro funciona com matéria própria.
V
Uma coisa eu creio: o Universo, às vezes, dá-me vómitos. Embrulha-me o estômago o espaço imenso sem significado humano. Como será possível interpretar humanamente aquilo que nada tem de humano?
M
O Universo não te vê como humano. O Universo ao prolongar-se numa determinada direcção produziu o ser homem, o animal, plantas, hidrogénio, etc.
V
Como é que o Universo se prolonga até dar origem à raiva, à dor, à infelicidade, etc., que são coisas do foro da vida interior do homem? O Universo não responde a estas questões!
M
Não responde directamente. Quem responde somos nós que fomos por ele criados através de transformações milenárias. Quem responde pelo voo das aves a não ser as próprias aves? Quem responde pela fome e pelo frio a não ser as plantas e os animais? Qualquer peça do Universo responde pelas suas próprias tarefas (integradas no conjunto global). Algumas destas tarefas são fáceis de determinar. Outras, muito complexas, ainda estão longe do nosso domínio e compreensão. Penso, todavia, assim que como o Universo entra em inflação , o nosso entendimento também se expande e desenvolve correspondentemente. Uma coisa está ligada a outra!
V
E quando implodir? Será que o nosso entendimento corresponderá a este efeito contrário?
M
Sem esquecer o imaginário que faz parte da nossa maneira de estar, devo responder-te à maneira de Plotino – um grande imaginarista, diga-se. Ele previu (no seu sistema) o regresso das almas individuais ao Ser e posteriormente ao Uno indivisível, esfumando-se nele.
V
Afinal, também recorres ao imaginário!
M
Depois do que se disse, até parece que o Universo imaginário compete com o outro, aquele onde nos sentimos com os pés no chão. Pois seja! Saibamos viver com ambos e saibamos também deles retirar o proveito mais fiável.
VUm Universo imaginário criador do Universo dos sentidos ou vice-versa.
M
É um risco que se corre porque isto é conversa de maluquinhos. Estamos fazendo o contrário do que pretendíamos inicialmente, isto é, colocar o Universo a falar de nós.
V
O Universo não fala!
M
Fala! Fala! Nós é que ainda não destrinçámos o seu código. Julgamos que a razão nos ajudará. A nossa racionalidade faz parte do jogo do entendimento. Ela nada é mais do que um auxiliar e por vezes também é arrastada para a disfuncionalidade.
V
Se ela (razão) é isso, é quase um sentido!
M
Ela para ser mais do que um sentido não pode cometer os mesmos erros de apreciação. Tanto ela quanto os sentidos pertencem ao grupo dos falíveis, apesar de ambos utilizarem o princípio de identidade.

(Continua amanhã, dia 17 de Julho de 2006) Posted by Picasa

Saturday, July 15, 2006

 

O IMAGINARISTA


O IMAGINARISTA

CONTINUAÇÃO DO DIA 14 DE JULHO DE 2006

VARETT
As coisas não têm o mesmo sentido nem o mesmo entendimento entre nós. Apesar de possuirmos os mesmos sentidos e a mesma capacidade de entender, estes nem sempre estão de acordo. Algumas dessas capacidades evoluem mais do que outras.
MANDALA
Correcto. Se juntares cinquenta aldeias num grande aglomerado populacional do tipo concentrado, achas que as pessoas que lá passam a viver continuam aldeãos? Não apresentarão elas uma nova maneira de viver e de pensar?
V
E depois?
M
Naturalmente passariam a viver com outro modelo de sobrevivência. Organizariam as suas vidas num ritmo mais excitante e rápido. Tudo mudaria para elas.
V
Toda esta lenga-lenga deve ter um propósito que não descortino.
M
É o propósito do Universo interpretado à luz de cada um e segundo a liberdade que nos é atribuída condicionalmente.
V
E um Universo eterno?
M
Se ele for eterno, deixá-lo ser. Que interesse pode ter isso?
V
Eu apercebo-me do sentido da minha alma: um sentido de eternidade.
M
É-te permitido assim pensá-lo. Se isso te satisfaz não descures esse sentido. Arranca-lhe a utilidade. O Universo é muito donairoso.
V
Parece que te divertes?
M
O Universo é até onde podes ir. Quanto maior for a distância entre ti e os limites dele, maior será para ti o teu Deus. Quanto mais complexo for o Universo mais rico se tornará o Criador, se é disso que se trata. Se um dia o Universo retrair como defendem os promotores da implosão, verás que o teu Deus encolherá também. O teu Deus tem a dimensão do Universo! É difícil concebê-Lo maior ou mais pequeno que o Universo. É através dele que O conheces. Se apagares o Universo, Ele desaparece.
V
Se Ele tudo criou, como será isso possível? Mesmo que a implosão reduza tudo a nada, Deus e as almas subsistirão para sempre.
M
Desaparecendo o Universo, ficas tu, as almas e Deus em parte incerta. Ah!
V
Trata-se de coisas sublimes e imateriais.
M
Na parte de fora do Universo! Que esquisito! Que rica imaginação!
V
Pois é! Aquilo que chamas imaginação eu coloco na esfera do divino.
M
O que vale é este nosso comum entendimento. Ficamos, de facto, com um Universo mais enriquecido, não haja dúvida. Saltemos para outra questão.
V
Qual?
M
Coloquemo-nos no lugar do Universo e que ele se pronuncie observando-nos e classificando-nos.
V
Através da nossa linguagem? Isso é viciar os dados!
M
Talvez. Por que não pensas por um instante ser o Universo quem estruturou o pensamento e a acção do homem? Um Universo que tudo liga e a tudo dá um sentido. Um Universo compreensível e que fala connosco.
V
Vindo de uma coisa inanimada? Que imaginação!
M
Nada é inanimado. Debruça-te sobre a microfísica com outros olhos e compreenderás melhor o que te digo.
V
Queres que me ponha a fazer de Einstein? Até agora as Teorias da Relatividade Restrita e a da Relatividade Generalizada não respondem às minhas inquietações, assim como espaços não euclidianos curvos. Às minhas dúvidas, o Universo que tentas formalizar deixa-me só e com o pensamento dirigido a algo superior.
M
Superior ao Universo e à maravilha das suas combinações?
V
Achas que a existir o tal Big Bang, que não passa de uma teoria, pois nem tu nem o teu Universo o podem pôr em prática, é alguma maravilha? Tratar-se-iam de explosões e de temperaturas tão altas que até cozeriam o Diabo mais velho. Será o Caos uma maravilha?
M
Então o Caos, no começo, não é uma maravilha? Só quando a concepção dele nos dias de hoje destrói a vida no planeta é que ficamos confusos. A destruição da vida é uma procura de equilíbrio no modelo do Universo. O homem e os animais copiam-no entre si. Já viste um canibal preocupado por ter ingerido uma perna de porco assada , perdão, do Homo Sapiens? Cada ângulo corresponde a uma determinada visão. A minha moral burguesa coloca-me num ângulo distinto do canibal. Queres responsabilizar “alguém” por isso?

(Continua amanhã, dia 16 de Julho de 2006) Posted by Picasa

Friday, July 14, 2006

 

O IMAGINARISTA


Deste diálogo, “O Imaginarista”, escrito em 2005, fiz algumas dezenas de exemplares. Porém, só coloquei no mercado sete deles. É um texto na linha dos outros, isto é, sem rumo e sem regras de raciocínio tradicional. Sai da cabeça e pronto. Ninguém é obrigado a lê-lo, digo, mas se o lerem e o julgarem, só por este facto eu agradeço.

O IMAGINARISTA

VARETT
Afinal, quem és tu?
MANDALA
Eu sou uma das vozes do Universo!
V
Vejo-te mais como uma peça que se soltou dessa máquina maravilhosa. Tu e mais alguns que comungam das tuas estapafúrdicas ideias e que ainda por cima andam por aí à toa e à solta.
M
O Universo inflacionando ou implodindo não expulsa ninguém. Não pode. Todos nós estamos, bem ou mal, dentro dele. Se por acaso tivermos de sair dele compulsivamente é porque fomos para outro. Não há alternativa.
V
Que voz és tu afinal?
M
Facilito-te a compreensão para a questão. O Universo é uma linguagem para além de outras coisas. Dois Universos serão, certamente, duas linguagens. Estamos condenados a possuir pelo menos uma.
V
Deus pode expulsar-te de um ou mais Universos e relegar-te para parte incerta. É só Ele querer!
M
O Universo é tão rico que acolhe todo o imaginário, mesmo aquele que se julga fora dele. Para percebê-lo é forçoso transformá-lo num acto de comunicação.
V
Imaginação do incerto?
M
É preciso optar. Todo o Universo é liberdade e imaginação.
V
Explica lá o que é isso de imaginação para que não entremos em conflito de conceitos.
M
Suponhamos que o homem nada poderia interpretar para além do que lhe era dado pelos sentidos.
V
Como os animais?
M
Não nos pronunciemos sobre aquilo que ainda não dominamos. Nós temos ainda muito preconceito acerca dos nossos companheiros universais. Voltemos à nossa última questão: para além dos dados colhidos pelos sentidos nada podemos imaginar. Nada!
V
Se assim fosse, tratar-se-ia de um circuito fechado. O tacto “falaria” com o tacto, a vista com a vista.
M
Nem mais! Tudo se nos apresentaria com mais objectividade.
V
Não sei se isso seria assim tão fácil como forma de entendimento...
M
Achas que o sentido do tacto se pode confundir com o do olfacto?
V
Penso que não!
M
Assim sendo, são uma base de entendimento. Eles próprios nos “ensinam” a não fazermos confusão.
V
Isso aonde nos levará?
M
Que cada sentido é um sentido de comunicação, com regras próprias e inconfundíveis.
V
Os sentidos levam-nos muitas vezes a interpretarmos erradamente a realidade.
M
Existe uma base de certeza. O cheiro de uma pocilga não é confundível com o perfume de rosas de um jardim, por exemplo. Assim, não confundimos uma árvore com uma girafa, etc. Fazemos uma escolha determinante. Não achas isso importante?
V
Claro, para pequenas coisas.
M
São as coisas da vida. Olhar para o Sol e julgá-lo obra de um ser fantástico é um princípio de escolha com desvios. Olhar para uma girafa e confundi-la com uma árvore será certamente outro desvio. Muito da nossa vida é composta a tentar dar um sentido ao sentido. Procurar uma verdade que está sempre escondida é também um desvio, porque o que vemos ou pensamos não é verdade em si. Se o fosse não a procuraríamos.
V
Há quem procure o verdadeiro sentido de tudo. Há quem se preencha com ideais que estão fora do alcance das sensações. À quem recorra...
M
Ao imaginário! E porque não?
V
Apercebemo-nos de que algo está para além da interpretação dos sentidos pode responder aos nossos anseios.
M
Tudo o que sentimos ou entendemos não se encontra para lá do Universo. Pensa o Criador, mas pensa-O com os pés bem assentes no teu Universo. Não podes pensá-lo de outra maneira. Não se pode pensar o Universo do lado de fora dele. Isso seria incompreensível. Não há ginástica mental que suporte tal ideia.
V
Não andas tu interessado na sua compreensão?
M
Claro, mas apetrechado com todas as estratégias possíveis! Não oferecendo paternidade às que trazem confusão e pouca satisfação. Nós possuímos percepção orientada para nos mantermos vivos. Não corremos para a morte. Quando, por acaso, nos convoca para algum encontro com ela, o que fazemos é fugirmos o mais depressa possível para dela não sermos vitimados. Quem nos avisa em primeiro lugar é o sentido da vida. É o sentido do sentido do Universo. Emergimos neste, já programados para a morte, mas ao mesmo tempo esta surge calendarizada. O Universo concede-nos um crédito de vida. Que Universo mais querido!

(CONTINUA AMANHÃ, DIA 15 de JULHO/06)
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Thursday, July 13, 2006

 

(DES)ATINO - 1988

Tenho três pedidos a fazer:

que os poetas não morram,
que as crianças não cresçam,
que o macaco não tenha sido meu antepassado.

Se Freud soubesse o prazer que dá coçar sarna, não se tinha ficado nem pela líbido nem pela tanatos.


Platão inventou o amor platónico para responder à falta de pénis.


O maior gerador de inimigos a seguir à vontade de comer é o amor.

A terra é bastante estranha: umas vezes vomita fogo, outras serve-nos o trigo.

Os homens bons não conduzem a humanidade.

Gostava que o meu corpo fosse devorado pelos abutres. Só depois de morto!

Se o homem não tivesse sido provido de estômago, os ricos inventavam-no.

A história económica portuguesa apresenta três grandes momentos: o do marquês de Pombal, o do Prof. Salazar e o do general Vasco Gonçalves.

Quem sou eu para acreditar em Deus?

Essa de Elias e Maria terem ido para o Céu em carne e osso leva-me a pensar na existência de sanitários lá em cima.

No Céu, tenho de me levantar cedo para ir à missa?

À direita de Deus Pai, é uma circunstância de lugar, uma maneira dos judeus se safarem ou estão me fazendo de idiota?

Se Deus não tivesse descansado ao sétimo dia, o Diabo não teria entrado de turno.

Adão foi condenado a trabalhar por ter comido a maçã. Mas, Senhor, o que tenho eu a ver com isso?

A mulata brasileira é a prova de que a expansão da Fé não foi feita só pelo padre António Vieira.

A vidente Lúcia apanhou a perpétua por causa de uma simples mentirinha.
mmb

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Wednesday, July 12, 2006

 

SOBRE MIM I/II CONCLUSÃO


VARETT
Nada disso! A fé é um dom que Deus concede ao homem.

MANDALA
Não a todos. Eu não sei o que isso é.

V
É porque não te esforças.

M
De facto, tudo está facilitado para ti. Esforças-te e obténs a fé. Falas de Deus com tanta familiaridade que me espantas. Tu até conheces a lei divina e a infinita bondade do Deus, onde eu só vejo a mão de quem quer impingir disparates de ordem estrutural, social e económica.

V
Procura pensar nele como um ser superior. Superior a tudo.

M
E para que é que isso serve?

V
Para te salvares, homem de Deus e viveres para sempre com Deus! Usufruíres da sua contemplação.

M
Não me interessa esse tipo de salvação, nem tão pouco viver “o resto” da eternidade - que dizem estar ao meu alcance - a contemplar como um paspalho uma coisa esquisita a quem tenho de amar contra vontade. Vejo-me ao espelho e dizem-me que sou feito à imagem dessa coisa. E eu sou obrigado a amar esse alguém que se me assemelha ao espelho?...

V
Não é bem o que vês ao espelho...

M
Isso ainda é pior do que eu pensava...

FIM
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Tuesday, July 11, 2006

 

SOBRE MIM II - CONTINUAÇÃO DO DIA 10 DE JULHO DE 2006

CONTINUAÇÃO DO DIA 10 DE JULHO/06

SOBRE MIM II

VARETT
Porém, purificam a alma.
MANDALA
Já percebi. O corpo manda na alma e esta está sujeita aos caprichos daquele.
V
A consciência do homem é pertença do seu lado espiritual. É com ela que o homem orienta o corpo no seu procedimento o que contará, certamente, no juízo final de todos.
M
Uma boa consciência ajuda muito uma alma. Isto, está cada vez mais difícil! A alma imortal sem uma boa consciência não pode dirigir as coisas do corpo para a sua própria salvação. Quer dizer que sendo a alma uma essência, ela está sob as ordenações – passe o termo “real” - da consciência e depende, por outro lado, daquilo que o corpo quiser fazer face às tais determinações. Se for, por exemplo, relativo a coisas carnais , o corpo terá de as interpretar (se quiser, porque, às vezes, a carne é fraca) ou não? Que é o mesmo que dizer; é bom demais para ser verdade. E eu não vou deixar escapar esta oportunidade. A sorte não costuma bater duas vezes à mesma porta. A luxúria que dá muito mais prazer ao corpo do que às coisas da alma deve ser contida pela consciência para não prejudicar a alma à posteriori . Pobre alma! O que não sofre ela às mãos do divino! A alma é, portanto, uma infeliz que sozinha não se pode defender. A sua defesa pertence às variantes do comportamento do corpo, e este depende da consciência ser ou não ser capaz de o influenciar. A consciência, por sua vez, obedece à força da vontade de cada um, que é, também, por sua vez, dominada pelas apetências corporais. Se a alma, de facto, fosse um ser independente e capaz de se repensar, os apêndices referidos não teriam qualquer importância no seu ser, na sua virtude (que não tem) e no seu comportamento. De facto, as apetências do corpo, a consciência e a vontade são inevitavelmente um triunvirato de respeito. São as divindades que andam por aí à solta. Tiremos-lhes o chapéu que bem merecem ser adoradas pelas suas formas humanizadas com que nos tratam. São elas as merecedoras do nosso amor e respeito. São elas que dispõem das almas. São elas que seleccionam quem deve entrar ou não no reino do Criador-Senhor. Ou seja, quem deve cair na patetice de o aturar eternamente. (Como se isso permitisse algum gozo estar para ali feito parvo a contemplá-Lo. Estou a ver as beatas cansadas de tanto O adorar e Ele sem atar nem desatar. Pudera, ele é imóvel, para algumas coisas... Não esqueçamos de que de vez em quando Ele fala e tem sítios que frequenta mais do que outros.) Diz-me mais coisas...
V
A consciência de um homem bom pode ajudar outro homem sem ser em coisas materiais. Uma alma perdida que por não ter seguido a palavra de Deus poderá ter um fim horrível, por exemplo.
M
Não percebi!
V
O arrependimento é uma coisa não material. Uma alma boa pode ajudar outra a arrepender-se e a ganhar o Céu.
MÓptimo! Bonito! Daqui a pouco estou convertido! Arrepender-se, pedir perdão ao Salvador ou outras coisas do género são, de facto, coisas do outro mundo; do mundo das ideias, neste caso religiosas. Porém, elas referem o mundo dos corpos, dos seus desejos e das suas apetências. Não consegues dizer algo que não esteja ligado ao sangue, ao suor e ao sofrimento?
V
O sofrimento é pertença da área do psicológico. Nada tem de físico. Bolas!
M
Ninguém diz o contrário. Ora bolas! Só que o sofrimento tem por base o físico. E não fantasmas desligados do real. Até os fantasmas para sê-lo têm de usar umlençol... Não fui eu que invebtei tamanha baboseira. Tu não percebes que o teu Deus fala e pensa como os homens. Um acto físico e traumatizante gera desconforto na área da psique. E porque não?
V
E aqueles que nunca viram Deus e que ficam doentes só de o desejarem?
M
Qualquer desgraçado ficará doente se insistir muito em querer uma coisa sem o conseguir. Acontece, meu caro. Espero que não caias nessa senão estarás sujeito ao péssimo serviço público que trata as mentes e que te pode pôr ainda mais maluquinho.
V
Não me posso calar. E, então, aqueles que por tanto desejarem estar com Deus o conseguem?, e que depois da experiências relatam coisas maravilhosas...
M
O que eles dizem nada tem de diferente do que dissemos. Uns até falam de luzes e de vozes extraordinárias. Não passa disso. Não deve ser com isso que se arranja o passaporte para o Céu.
V
O teu problema é não teres fé. Tudo está na mão de Deus.
M
A fé será algum instinto?

(Continua amanhã, dia 12 de Julho de 2006)

Monday, July 10, 2006

 

SOBRE MIM II - CONTINUAÇÃO DO DIA 10 DE JULHO/06


MANDALA
Bem! Eu tenho memória de essências-matéria e tenho memória de matéria pensável. Quanto à matéria pensável é aqui que quero trabalhar. Numa outra ordem dimensional de discurso, nunca poderia dizer que uma essência esticava. Só que a ideia de essência faz parte de um discurso abstracto digno de altíssimos pensadores. Para mim, apresenta-se como um discurso doentio. Todo o discurso é “doente” visto de fora. Trata-se de um desvio maior ou menor conforme as estruturas das clientelas ideológicas pertença do próprio cérebro. Razão esta que impede, muitas vezes, o seu produtor de ajuizar o seu ajustamento à realidade. Deixemos os adversários dos nossos pontos de vista entregados a esse mundo de elites volatizantes e voltemos de mansinho à bruteza da natureza: o cavalo castanho montado por Dom Afonso Henriques assustou-se e fê-lo cair.
VARETT
Um assustadiço?
M
É nesta ordem de ideias que refiro o crescimento do pensamento. Não peço que estejas de acordo comigo. Só quero que continues a dialogar porque és imprescindível para o meu abrilhantamento. Assustadiço é um bom aumento. É um fazer crescer a frase. É um fazer crescer um sentido.
V
O que tu fizeste foi aumentar com palavras um pensamento compósito. Ele, o conceito - ideia geral – continuou na mesma com o que lhe juntaste. Realizaste uma amálgama com palavras e colocaste-as no mesmo cesto. Não respeitas os princípios lógicos. É por isso que adulteras tudo em que tocas.
M
Eu já me cansei da intolerância e fixidez dos ditos princípios lógicos. Pensamento para mim é matéria. As essências são a matéria mais leve. É certo que nos entendemos mesmo em desacordo. Eu respeito muito as essências e já vais ver o quanto. Se me é permitido perguntar, gostaria que me respondesses o quanto Deus é para ti uma essência?
V
Nem muito nem pouco! É uma essência!
M
Essência que não é muito nem pouco... Será que a ela como forma de pensamento se lhe pode atribuir referências de pouco ou muito?, ou queres dizer outra coisa? Por favor, diz-me coisas discretas! Deus é para ti infinito ou finito?
V
Deus é infinito!
M
Isso é muito ou pouco?
V
Muito no sentido infinito.
M
É muito ou é infinito?
V
É uma forma de dizer...
M
Errada ou certa? Infinito pode identificar-se com muito?
V
Claro que não. Era para dar uma ideia aproximada.
M
Ideia aproximada não. Posso dizer que Deus é infinito e que muito não é aceitável para o pensarmos.
V
Estava a querer facilitar.
M
Não facilites que me confundes. Deus cresce?
V
Ora! Ora! Se Ele é infinito, tal não se lhe aplica!
M
Que mais me podes dizer dele?
V
É o criador de tudo o que existe.
M
Devo dizer-te que não sei o que é o infinito. Calculo por aproximação. Isto é, “vejo” o que é o muito e depois deduzo o infinito. Para mim é difícil! O infinito é um muitos muitos.
V
É normal! Tu és limitado. Também és confuso1
M
São sinas. Partamos para outra. Deus sendo o Criador, que ligação tem com as criaturas?
V
Para sê-lo (para elas) depende delas. Calculo que te estejas a referir aos homens como criaturas?
M
Certamente!
V
Imaginas-te seres criado sem a intervenção divina?
M
Era cá uma grande chatice.
V
Não significavas nada. Sendo tu um ser criado por Deus, deixas de sentir o vazio e passas a viver a vida com objectivos. De que outro modo poderia ser?
M
De facto, eu estou no vazio. É por isso que quero que me elucides, pois tu dominas mais do que eu coisas de essências e de divindades. Há pouco referias que Deus era infinito. Em tudo infinito?
V
Deve ser. Melhor, é!
M
Infinitamente mau?
V
Que ousadia! É infinitamente bom.
M
Não se pode dizer que é muito, muito bom, isto porque combinámos atrás que tal “comentário” não podia ser atribuído a um ser infinito.
V
Claro!
M
Quem pode ser muito bom ou bom são os seres humanos, que Ele criou.
V
À sua imagem e semelhança!
M
À imagem do infinito? À semelhança do infinito?
V
Noutros aspectos!
M
Vamos a eles que estou bastante curioso.
V
O homem possui alma imortal. Sabe distinguir o bem do mal. Deus é imortal. A alma do homem é também imortal. Vês a semelhança?
M
Deus não só cria o homem-matéria como também o homem-alma?
V
Sim, e outras coisas mais para além disso.
M
Fiquemos, por enquanto, pela alma e pelo corpo e pela capacidade de distinguir o bem do mal. A alma será uma dádiva assim como o corpo?
V
Sim!
M
Que faz Deus do corpo e da alma dos homens?
V
O corpo corrompe-se, envelhece e morre. Não há outra saída. Quanto à alma ela pode salvar-se..
M
Vamos lá ver se percebi. O corpo decompõe-se e desaparece, enquanto que, por outro lado,a alma pode salvar-se. Salvar-se de quê?
V
Do pecado!
M
Do corpo, porque a alma é, segundo consta, um ser imaterial. Logo pura.
V
A alma pode purificar-se no final. Porém, enquanto viver no homem, não é totalmente pura.
M
Se o corpo e a alma vivem juntos, será que ambos se podem purificar?
V
Ambos, podem purificar-se.
M
Não percebo! Quando é que a alma se torna impura?
V
Quando não cumpre as leis de Deus.
M
Como é que o homem as conhece?
V
Deus comunica com os homens.
M
Vamos lá ver se percebi. O corpo é impuro mas pode “melhorar” se seguir as leis divinas. O corpo sujeita-se e com o seu proceder bem a alma é premiada. O corpo deve ser uma grande preocupação para a alma e para Deus. As leis divinas, que eu saiba, têm muito pouco de espiritual, pois estão sempre a exigir sacrifícios ao corpo. Isto é, o corpo é a vítima de leis furibundas. Não as cumprindo, a alma é que paga. Muito giro! O corpo tem uma existência passageira. Depois de viver em grande fartura de pecado desaparece para dar lugar a uma alma que o avaliza sendo, depois punida com o sofrimento eterno...
V
As leis divinas tanto se dirigem ao corpo como para as almas.
M
Do corpo temos mais ou menos a ideai das regras que tem que cumprir. É melhor passarmos à alma.
V
Ser bom, amar a Deus e ao semelhante.
M
Ser bom o que é que significa?
V
Não praticar o mal, por exemplo.
M
Não fazer mal não é ser bom. É neutral.
V
Ajudar o próximo.
M
Em quê?
V
Naquilo que ele precisa para sobreviver, se for caso disso.
M
Mas isso são mezinhas para o corpo!

(Continua amanhã dia 11 de Julho)

Sunday, July 09, 2006

 

SOBRE MIM II PARTE

SOBRE MIM II

(Quando reli o diálogo SOBRE MIM II, após umas semanas de pousio deste, debaixo da cama, meu, desde sempre, provisório escritório, nem queria acreditar. Estava ali pespegado um chorrilho de asneiras-mor saído à pressa pelo cano de esgoto que eu às vezes utilizo para sair de mim. Eu sou um irresponsável, porque não faço releituras conscientes do que escrevo. É que julgo que o que sai de rompante é que é o que é puro. Nada mais incorrecto! Estou a frequentar a escola para adultos (20 de Março de 2006) e analfabetos do século XXI, porque a minha velha máquina de escrever pifou e não consegui outra para a substituir. Já não as vendem como antigamente. Arranjei um computador e um professor ( de 16 anos) e cá vou indo... cantando e rindo da minha coeva-gerontológica-aptidão para martelar os “skills” cada vez mais difíceis de treinar. E não é que o computador é também ele mesmo um grande mestre espiritual... a verdade é que não sei o que vai sair daqui, pois, esta não será mais do que uma das muitas revisões que este pretensioso texto há-de pedir. Oxalá não saia pior a emenda que o soneto. O que às vezes bate certo. Comecemos, então, o diálogo recauchutado.)
MANDALA
Será que o pensamento, a ideia, o conceito podem crescer como acontece a quase tudo que nos rodeia?
VARETT
Que pergunta mais disparatada! O Sol não cresce, assim como a Lua, as pedras, etc. E, certamente, os conceitos também não.
M
Eu vejo crescer as árvores, os animais, a dor, o desejo, a alegria. E também vejo a crescer os montes, o Sol, a Lua. Tudo cresce.
V
Que as árvores e os animais cresçam, estou de acordo. Agora, quanto ao resto, não passa de uma maluquice de todo o tamanho.
M
O que eu quero dizer é que o Sol cresce para mim porque quanto mais eu souber acerca dele mais a ideia que dele tenho aumenta.
V
Será por isso que dizes que o pensamento cresce? Penso que o Sol e logo a ideia que dele faço aumenta a partir do momento em que lhe atribuo um dado novo de conhecimento. O Sol aumenta como se de uma pastilha elástica se tratasse. Será esta a tua ideia? Essa é muito boa!
M
Já reparaste que às vezes te surge um pensamento tão rapidamente que até sentes dificuldade em o recordar com nitidez. E que esse mesmo pensamento te pode aparecer mais tarde, numa outra extensão.
V
Estás a confundir as coisas! O pensamento de uma coisa – neste caso específico – não cresce. O que tu vês são acidentes que juntas a esse ser (ideia). O facto de uma ideia surgir com rapidez imediata e desaparecer logo em seguida para mais tarde ressurgir com maior nitidez não implica crescimento mas sim que alguma coisa propiciou um salto na normal busca de dados no cérebro.
M
Se eu trabalhar a ideia como uma essência ao estilo da lógica idealista como algo único, aceito que quando lhe acrescento um dado adquirido de novo, esse acrescento seja considerado um acidente. Só que eu não estou, hoje, para aturar essências platónicas. Brinquemos, então, no mundo estelar das ideias. Por exemplo: os cavalos castanhos do senhor José não são somente cavalos a quem depois se lhes juntou o acidente castanho. Cavalos castanhos! São uma unidade ideal. São uma essência simples e prática. Essência para mim equivale a uma substância material produzida pelo cérebro. Digo isto porque podes ter esquecido do significado que lhe atribuo.
V
Sim, não esqueci o disparate! São cavalos e só depois é que são castanhos. Bolas!
M
Se os cavalos castanhos do senhor José estiverem insertos num grupo à mistura com cavalos pretos e cavalos brancos, quando eu te pedir para isolares e fotografares os castanhos, que interessa para aqui as essências? No conjunto maior, os cavalos castanhos são uma “essência alargada”. É que quando eu pensar aqueles cavalos castanhos, penso-os globalmente. Isto no caso que referi, claro. É evidente que o conjunto cavalos castanhos se pode dividir em ideias duplas. Depende da geografia contextual. É o que quero dizer. Pensemos, ambos, por exemplo, o mesmo homem. Eu conheço-o já lá vão quarenta anos. Tu, apenas, os últimos vinte. Esse homem, falado por nós e estando ausente, será ou não uma ideia? Sendo a ideia específica de um mesmo ser, terá ou não diferenças? É claro que eu possuo mais elementos-acidentes do que tu – digo isto como probabilidade apenas. Por isso digo que essa ideia cresceu. O que não cresceu foi o “espectro-ideia-homem” que serve para identificar e distinguir um ser entre seres, no espaço do tal dito abstracto. Que é algo sem forma nem conteúdo enquanto não se formar-copular com a matéria-homem. A história das essências é muito gira. Só que elas não têm lógica senão quando aparece primeiro algo substancial. Depois surgem como proprietárias (i)legítimas desse mesmo facto ou fenómeno. Porém, isso é apanágio dos idealistas, cultores de um mundo transcendental que a meu ver não existe a não ser como produto material fornecido pelo cérebro que o trata no ficheiro e na secção próprios. Historicamente as essências são posteriores à experiência, pois elas tomam forma no que já se encontra pré-estabelecido. O cérebro possui formas-módulos – uma espécie de formas onde os pasteleiros colocam a massa disforme no forno e que depois de cozida nos regalam a vista e dão cabo da vida aos diabéticos... A massa(s), ( neste caso as ideias) - disforme que é tudo aquilo que o cérebro modifica e dispõe em formas próprias - são os fenómenos que nos rodeiam. Quantas vezes, nas nuvens do céu, vemos cavalos tão bem delineados. Não são cavalos, são nuvens que parecem cavalos. O cérebro possui formas para outros casos que distingue. O cavalo propriamente dito surge primeiro que o cavalo-nuvem. Cada um vai para a sua própria forma e depois segue para o mesmo forno... A ideia geral de cavalo pesa menos do que a ideia de cavalo “acidentado”. (Cavalo castanho) Quanto menos pesar uma ideia , mais ela se torna compreensível. Isto é, os acidentes nas ideias levam a confusões. É por isso que quando as pessoas lerem esta parte (se lerem...) deste diálogo julgarão que isto que aqui foi escrito não passa de uma diatribe, produto de um cérebro que não entende o mundo, E por que não?
V
Não vou discutir contigo conceitos universais. Estes estão do lado de fora do teu modelo de pensar. Um modelo, diga-se, do tipo reptilizado.

(Continua amanhã, segunda-feira, dia 10 de Julho)

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