Wednesday, May 23, 2007

 



SIMONE: UMA CARTA EM BLOGUE


Lembro-me de há uns anos atrás ter lido uma frase sobre Simone de Oliveira que dizia mais ou menos assim: “Este é, talvez, o momento mais sério da vida de Simone.” Não liguei muito à questão de ela vir a perder a voz. Julguei tratar-se de um simples truque publicitário. Creio que Simone, às tantas e na mesma época, afirmara à comunicação social (possível) que ninguém a poderia obrigar a cantar. Manias, pensei. Sendo apreciador dos artistas portugueses do canto, apesar de ser rijo de ouvido, “cortei” relações com Simone – eu nunca falei com ela e nunca estive a menos de cinquenta metros dos locais onde actuava… Hoje, ao ouvi-la na televisão, lembrei-me de um prefácio de Santana Dionísio. Ou teria sido Lobo Vilela… Referira(m) ele(s) que Sócrates (o Filósofo) tendo sido convidado a acompanhar a acusação a um seu amigo que ofendera as “autoridades” atenienses, pelo pensamento, se recusara a associar-se a essa corja que queria mandar matá-lo. Com isso criou inimizades que vieram mais tarde a custar-lhe a vida. Mas, afinal, o que disse Simone para eu estar a desenterrar gente dos túmulos e das enciclopédias? É simples! Simone declarou, contra a corja (devia dizer grupo, cartel, etc.) que cilindrou injustamente Carmona Rodrigues, que estava com ele porque ele era uma pessoa de bem. Essa corja é poderosamente manipuladora! Simone é uma figura que pertence ao património cultural nacional. Ela é coragem, ela é arte, ela é canto, ela é teatro, ela é poesia e pensamento liberto. Ela é sobretudo uma lição num país entregue ao acessório, à cobardia e a governantes que querem apenas dar ao povo o “superficial”. “Sócrates porém, em breve atraiu numerosas inimizades, ao apreciar muito livremente o carácter ou a conduta dos seus concidadãos, tanto homens de Estado como pessoas particulares.” (1)
O maior respeito para com Simone de Oliveira
manuelmelobento
– Paul Landormy, Sócrates – Cadernos Culturais, Trad. H. António Pereira – pp. 21

Tuesday, May 22, 2007

 



TODOS TÊM CARTEIRA PROFISSIONAL DE POLÍTICO...

A corrida à Câmara de Lisboa não parece um caso isolado como à primeira vista nos querem impingir alguns políticos de arrasto ou seus mentores. Marques Mendes deixou cair Carmona Rodrigues por este ter a marca de Santana Lopes estampada no rosto e por o mesmo Carmona não ter descolado totalmente do antigo Primeiro-Ministro. Erro fatal. Não sendo um político profissional deixou-se enredar. Acontece aos melhores. Qual o crime que levou o Professor Carmona a sair de maneira “indigna” da presidência da maior Câmara portuguesa? Nenhum! A Câmara de Lisboa estava ingovernável? Depende do lado onde estivermos a olhá-la. Se o problema fosse apenas o concelho de Lisboa, eu não estaria a perder tempo com quezílias metropolitanas neste meu querido e reduzido púlpito. A questão é mais “extravagante”! Carmona é um sedutor de pessoas e de votos. E isso faz doer os cotovelos aos correligionários e aos adversários. Tinha de ser isolado pelos “seus” em primeiro lugar porque Mendes, por mais que se esforce não cresce. Perdão, talvez com tacões mais altos… Ninguém de primeiro plano social-democrata quis fazer o frete de se candidatar. Escolheu um Homem-Bom e este (Fernando Negrão) sempre pronto a sacrificar-se – é um Homem da Justiça – aceitou o cálice envenenado que o sempre baixinho lhe estendeu. Servir é servir. Merece o meu aplauso! Mesmo perdendo perderá com dignidade. Se Carmona voltar a apresentar a sua candidatura terá futuro político, se não o fizer despedir-se-á para sempre do sonho da política. Helena Roseta (uma espécie de Sócrates - o platónico - da nossa ágora) vai ser condenada à “morte” por carregar consigo o “embuste” da razão. Adorada pelos intelectuais não arrecadará mais do que um por cento das intenções de voto. A máquina partidária irá trucidá-la. Sá Fernandes, outro companheiro do politicamente correcto transformou-se numa espécie de fiscal de obras. Apresentou-se nas câmaras de televisão com pouquíssimas ideias. É o candidato das esplanadas… Manuel Monteiro é uma espécie de sempre-em-pé. Faz o papel de Dom Quixote. Um dia será uma espécie de Freitas do Amaral. O que, diga-se, é quase um elogio, nos pareceres, claro! Telmo Correia. Bom, sendo inteligente e bem falante arrastará a direita de Paulo Portas para uma cópia mais alargada do antigo PDC. O candidato do PCP e Cª irá arrecadar a tabela do costume. Com Jerónimo de Sousa, talvez o cenário fosse outro e a Canção de Lisboa agradasse mais ao ouvido dos lisboetas. Foi uma oportunidade perdida para o Partido Comunista Português… Resta-nos, se não estou em erro, o candidato oficial do partido do poder. Sócrates, o português, cometeu o seu primeiro - de muitos que se seguirão – haraqiri. António Costa, como é sabido, dá solidez a qualquer governo socialista (não há outro) em que entre. Ele era até ao anúncio da sua candidatura o “número dois de um”. As reformas de Sócrates (PM) só vieram - à luz da renovação capitalista – criar riqueza aos mais ricos espremendo o povinho. Costa foi seu cúmplice deste neo-salazarismo em que nos estamos a atolar. Vai governar Lisboa contra o apertanço do até agora companheiro de jornada? Vai limpar a balbúrdia da Câmara? Vai prometer e depois não cumprir como o fez durante a campanha da caça ao voto para as legislativas o seu ex-chefe? Vai ser uma espécie de Primeiro Ministro de Lisboa? Prepara o caminho para vir a ser futuro Presidente da República de conluio com Sócrates, uma vez que Cavaco já não tem (ou não terá) suporte partidário que se veja? Este texto está já demasiado longo e chato. Vou terminar com o atrevimento do costume: Portugal está a reviver o tempo da Primeira República. Todos ao molhe para serem dificilmente reconhecidos. Que não apareça dessa loucura partidária um senhor Oliveira. Oliveira da parte do pai.
manuelmelobento
NB:
No dia seguinte.
Devia ter escrito molho em vez de molhe. "Todos ao molho" pensava eu num feixe. Até que estava bem. Por que escrevi molhe? Pensava em Oliveira Salazar que tinha dado o seu nome no tempo em que era ditador doméstico a uma saída de terra e cimento no porto de Ponta Delgada e vai daí saíu molhe involuntariamente. Pensando melhor, até que está também bem. O mar quando se chateia manda os molhes para o fundo...
mmb

Sunday, May 20, 2007

 


HITLERISTAS, ESTALINISTAS E BUSHISTAS


Passados algumas dezenas de anos (ou muitas mais) as individualidades que se distinguem por mérito social, político, económico e outros acabam por dar origem a neologismos. Sócrates, Platão e Aristóteles são exemplos disso. Às vezes há quem chame a outro aristotelista ou por estar zangado ou por estar a querer gozar com o parceiro. Estas três personalidades nada têm a ver com os subscritores coreutas (faltam dois) deste título. Hitler e Estaline estão confirmados pela História como dois grandes genocidas. Acusados de terem mandado para a morte milhares de seres humanos. Dominaram impérios belicosos e com eles amedrontaram o planeta. Estou em crer que se tivessem na altura em que detinham o poder absoluto várias bombas atómicas, o nosso sistema solar mudava de geometria. Habituámo-nos à morte e à violência não por qualquer motivo de superioridade relativamente aos outros animais. Aceitamo-las porque estamos programados para amar e para matar. Bush não está sozinho a destruir o Iraque. Acompanha-o o new-Hess, o Mr. Blair, e tantos outros que mais ou menos encapotadamente o apoiam. Quer dizer, estamos impávidos e serenos à espera que a guerra se alastre e nos apanhe prevenidos. Isto é, já sabemos o que se passa mas fechamos os olhos. A América é de facto uma terra de surpresas. É possível que faça a Bush um julgamento à imitação do de Nuremberga. E isso deve ser feito quanto antes para lavar a imagem americana. Os alemães fizeram-no e o seu passo de ganso, símbolo de morte de inocentes, passou para a América Latina, onde felizmente, aí também, está a perder cadência. Mas para espanto do mundo civilizado parece estar a ser retomada por umas Forças Armadas mais para “Norte”.
manuelmelobento

Monday, May 14, 2007

 











RAPTOS DE PRIMEIRA E DE SEGUNDA
DORES IGUAIS

Há quarenta e tal anos li uma notícia – se não estou em erro no Diário de Notícias – que referia o desaparecimento de uma miúda de sete anos lá para os lados do Norte. Na altura senti um mal-estar que deve ter explicação nas histórias que as pessoas que trabalhavam em casa de meus pais me contavam em criança ou nos filmes que via e que relatavam o roubo de criancinhas que eram mais tarde encontradas pelos progenitores. Tinham um fim feliz estes contos, pois os argumentistas juntavam os pais ricos com a filha desaparecida em estado de miséria e de exploração. Na altura, da RTP nada transpirou cá para fora. Era uma época em que os suínos geriam os nossos destinos apoiados pela maioria da população, pelo confessionário e ofícios dominicais. “Nunca mais vejo a minha rica menina!” Ficaram-me gravadas na memória as palavras da camponesa, e nunca mais as esqueci. De tempos a tempos, quando desaparece uma criança fico outra vez desestabilizado. Nos últimos anos, em Portugal, perdeu-se o rasto de rapazinhos e de uma menina de oito anos. O caso da Joana Cipriano foi aquele que me mereceu mais atenção. Sem terem actuado como actuaram no caso da menina inglesa cujo paradeiro é desconhecido há onze dias, as nossas autoridades policiais e judiciárias de um momento para o outro deslindaram o crime e acusaram uma mulher do povo e o irmão desta de um crime horrendo. A mim não me convenceram. A comunicação social portuguesa ávida de sangue e de “sarjetice” levou toda a gente a condenar os dois grandes criminosos mesmo sem o corpo da falecida Joana ter aparecido. Até veicularam notícias de que os irmãos (mãe e tio) teriam sido apanhados a terem relações sexuais um com o outro e que a criança os teria visto. A criança, como é óbvio, não pôde testemunhar… Talvez um ADN? Depois de feita a cabeça ao Zé Povinho não havia nada a fazer. Só lhes restava a condenação. Saiu barata a investigação. Alguém ficou com os louros do êxito obtido na descoberta dos culpados. Estes apanharam penas pesadas não sem antes terem aparecido em imagens televisivas com hematomas no corpo e na cara, naturalmente por terem escorregado e batido com a cabeça no bidé na presença dos seus bem pagos advogados. A disponibilidade de meios de investigação ao dispor de forças especiais para se encontrar a menina inglesa desaparecida no Algarve é de tal ordem excelente que merece elogio. Mas como não podia deixar de ser, eu terei de perguntar: foi devido ao insucesso técnico-laboratorial do caso da Joana Cipriano que o Governo Português resolveu investir muito mais para solucionar este tipo de crime? Se me respondessem que sim, só me restaria louvar a atitude humana, sobretudo democrática e equilibrada com que as altas autoridades se sensibilizam. Nada mais falso! Não descobrimos nenhuma alteração. Houve e há dois tipos de tratamento. Um para os pobres e outro para a burguesia. Um para nacionais e outro para estrangeiros de raça ariana e nórdica pertencentes a classes sociais abastadas. A Polícia Judiciária foi em tempos classificada uma das melhores do mundo. Até a PIDE a respeitava. Hoje, no caso da Madeleine, está a levar banhada sobre banhada da Polícia Inglesa. Intromissão nos assuntos dos nossos policiais? Evidente! Se fosse ao contrário os polícias portugueses eram até chutados para o Canal da Mancha. O que teria acontecido se Leonor Cipriano tivesse deixado o filho de dois anos sozinho em casa e fosse beber um copo de três na tasca mais próxima e quando voltasse de pança cheia desse por falta da criança? Só espero que Madeleine apareça. Mais, que agora se volte a procurar as outras crianças portuguesas desaparecidas, uma vez que ficámos a saber que Portugal tem meios sofisticados para prosseguir investigações deste género. Tenho muita pena dos pais que perdem os seus filhos, sejam eles quem forem. A dor é tal que nunca mais há recuperação psicológica. Eu que o diga!
manuelmelobento

Monday, May 07, 2007

 



ÁRBITRO DIPLOMÁTICO À FORÇA

A única força política que fez oficialmente frente a Sócrates chama-se PSD/Madeira. Nenhuma outra no plano institucional poderia sufragar o descontentamento que lavra na oposição devido às reformas socialistas actuais e putativas. Todas as outras facções da oposição teriam de esperar pelo menos mais dois anos para levar Sócrates a julgamento “urnal”. Isto, caso não se encontrem motivos mais fortes que possam pôr em causa a estabilidade nacional o que poderia fazer com que Cavaco Silva imitasse Sampaio. Não me parece, para já! Sócrates, apesar dos ataques de baixo jaez a que tem sido sujeito, tem credibilidade internacional e no plano interno sente-se a força e a lógica dos argumentos com que quer pôr ordem na casa. Os portugueses apreciam quem tem objectivos definidos e não vai abaixo com os primeiros ventos. Até hoje não consigo vislumbrar um único político que tenha sido tão denegrido quer pelos colegas de profissão quer pelos humoristas oficiais do regime quanto o Primeiro-Ministro português e se tenha mantido impávido na primeira linha da luta. Os políticos portugueses têm demonstrado ser dos mais mal preparados moralmente. Ética é coisa que ouvem do púlpito e mesmo assim não a entendem. O Portugal político parece-se com uma família de fracos recursos intelectuais e falha de bons sentimentos que um dia descobre que um dos seus elementos femininos deu uma queca com o Presidente da Junta de Freguesia a fim de obter uma licença para obras. Depois, toda a família começa a gritar bem alto a toda a gente e a dizer que a familiar se pôs debaixo do autarca. Que rica família! Uma família com uma puta! O opróbrio cai sobre todos. Fazê-los perceber isso é tarefa impossível. Com várias frentes a tentarem sistematicamente paralisar de novo o País que nos espera? Aproveitando este triste espectáculo, Jardim, o novel diplomata, vai imitar o Bispo Desmond Tutu. Vai, numa primeira vasa, levar ao tribunal da opinião pública internacional o crime de discriminação “nacional” a que sujeitaram a Região Autónoma da Madeira. Antes desta nova arrancada “autojardinista” nada mais resta a Cavaco Silva senão mediar a nova unidade nacional proposta pelo líder madeirense: unidade especial numa unidade total… (o todo nacional nas palavras de Cavaco). É difícil perceber estes novos conceitos. Jardim: “Votaram na minha maneira de ser!” Foram “apenas” 64.2% dos madeirenses. Isto é, ou desaprovam depois de aprovarem a Lei das Finanças Regionais (não me parece…) ou abrem os cordões à bolsa (o que me parece). Vai tudo dar ao mesmo. E fazer a vontade a Jardim sai muito, mas muito mais patriótico, perdão mais barato…
manuelmelobento



Thursday, May 03, 2007

 


“CUBANOS, COLONIALISTAS, FASCISTAS…”
Jardim dixit

E LEVOU O POVO MADEIRENSE A PLEBISCITAR O QUÊ ?

Numa leitura externa e atenta às últimas actuações políticas, Alberto João Jardim levou os madeirenses a distanciarem-se ainda mais da Mãe Pátria, obrigando-os a pronunciarem-se claramente contra Portugal e o modo como o Governo Central gere os negócios do Estado Unitário. As sondagens dão-lhe quase 70% das intenções do voto. Que fará a União Europeia perante este espectáculo rigoroso no âmbito da liberdade dos povos? Jardim levou a sufrágio a soberania portuguesa perante a Comunidade Internacional! A legitimidade do acto corresponderá à contagem dos votos. Com este exame regional, o separatismo madeirense assentará arraiais na opinião pública. Com a mais que provável vitória nas urnas, fica o que ainda cheira a colonialismo português condenado e, mais ainda, o que caracteriza o comportamento antidemocrático de alguns portugueses em relação ao que resta do antigo império. É esta questão que vai a sufrágio! Alguém vislumbra outro tipo de homologação? Pelo menos foi o que quis dizer ou transparecer Alberto João Jardim com a sua nova e muito bem domada fraseologia. Uma outra incontornável e remota hipótese é este incontestado campeão de bilheteira, perdão vencedor de combates ao estilo democrático – não há outro modelo em vigor – querer vergar o Estado. O que será mais uma vergonha a acrescentar a tantas outras que se vão institucionalizando nos últimos tempos.
manuelmelobento


Wednesday, May 02, 2007

 


A CORRUPÇÃO É UMA DOENÇA CRÓNICA

Com a queda do executivo camarário de Lisboa levanta-se novamente a questão da seriedade em política. Um negócio, dois negócios e estão os responsáveis pelos pelouros dos mesmos na boca dos jornais como se de corruptos se tratassem. Quantos escaparam a esta sina? Muito poucos! Torna-se, pois, evidente que os que são julgados na praça pública ficam manchados pela vida fora. A culpa de quem é? De quem procura corromper ou de quem se deixa corromper? Penso que é o modo processual que abre as apetências aos mais incautos e gananciosos. Pelintras de todo o tamanho quando estão perante montantes extraordinários de fundos ficam descontrolados. Ficam tão encantados como os garimpeiros quando deparam com um rico veio de ouro. Dá-se a corrida ao metal precioso o que vai permitir a realização do sonho de qualquer pirata: o do tesouro escondido. Como a coisa é de ordem geral era aconselhável que esses “garimpeiros” fossem tidos como pacientes. Sacar dinheiro público passaria a ser considerado uma doença. E como tal deveria ser subsidiada pelo Serviço Nacional de Saúde. A imagem reflexa da democracia é a corrupção e o compadrio. Acabar com eles é muito simples: os negócios públicos teriam de ser transparentes. Para isso as portas dos gabinetes dos responsáveis estariam sempre abertas ao público que é afinal quem acaba por pagar aos corruptos de ambos os lados. O cidadão-pagador tem todo o direito de directamente ser atendido e esclarecido na hora em que questionar os serviços em causa: os negócios públicos. Os políticos já não oferecem garantias. O último atentado à sua honra foram eles próprios que o arquitectaram ao não aprovarem leis que os colocariam libertos de qualquer suspeição: justificar a origem das suas fortunas. Não é nada do outro mundo. Aliás isso permitiria avançar para outras zonas perigosas onde os agentes da lei ainda andam a apanhar assobios.
manuelmelobento

 


NINGUÉM SOBREVIVE POLITICAMENTE NAS ILHAS SE NÃO FOR REACCIONÁRIO

Dificilmente se encontram nas ilhas um pensamento e uma prática tipicamente de esquerda. Se analisarmos o comportamento dos ditos esquerdistas, verificamos que eles pactuam com as forças reaccionárias como sejam a Igreja Católica, a alta burguesia capitalista e financeira, os altos funcionários das instituições do Estado, o atraso atávico da população e os agentes bem pagos que suportam a moral dos mais fortes. O próprio Partido Comunista, a única voz que se identifica com o campesinato e operariado ilhéu, é obrigado a pactuar com a situação para poder coexistir. O rural açoriano é pródigo na vivência do obscurantismo religioso. Apesar de, nos dias de hoje, não frequentar com assiduidade os templos, isso não o impede de ser um fundamentalista dos quatro costados. Podem os canais televisivos levar-lhe as novidades e as contestações político-religiosas que isso não bulha com a sua estrutura mental. Chamemos-lhe assim para não ofender a sua sacrossanta ignorância, incapacidade de olhar o progresso e a sua contínua ingenuidade que o impede de desfazer os mitos medonhos que o envolvem desde a infância. No que diz respeito ao operariado, pouca diferença se encontra no seu modelo de estar e de pensar. Fechado, também, na sua ignorância pouco ou nada dele se pode esperar. Tanto um como o outro são monstros pacíficos e inertes. Por essa razão nos Açores a voz dos trabalhadores tem pouca valia. Tudo se faz à sua revelia. Só são úteis para meter o voto na caixa preta. O povo trabalhador não tem peso nem força para ajudar a formar o futuro. O verdadeiro socialismo devia ter passado pelos Açores. Sem ele não avançaremos para uma sociedade moderna, crítica, interventora e fiscalizadora dos que estão usando mal o poder. O Partido Comunista em vez de ter particularizado os seus ataques a um ou dois figurantes mal-amanhados devia ter orientado o seu combate contra o núcleo das forças reaccionárias que são as únicas responsáveis pelo paganismo e idiotismo regional. Isto é que eu gostava de ter visto. O Partido Comunista nos Açores tem muitos punhos de renda. É preciso quebrar os queixos à ignorância e a quem teima em mantê-la entre nós julgando que é assim que devemos continuar a viver.
manuelmelobento

Tuesday, May 01, 2007

 


UM TÚNEL DE TRAPALHADAS…

A sessão solene comemorativa da “Revolução dos Cravos” foi subitamente interrompida pelos gritos de um médico dentista brasileiro a trabalhar ilegalmente em Portugal. Mais tarde veio a saber-se que ele reivindicara a regalia de poder exercer legalmente a profissão. Depois da pequena cena, tudo voltou ao normal. A comunicação social não mais se interessou pelo assunto. Há anos, quando Santana Lopes trocou a ordem das folhas do discurso de tomada de posse como Primeiro-Ministro, a comunicação social saltou para cima dele como se o político tivesse cometido um crime de lesa-pátria. A seguir, não contente com a aguarela para o desprestigiar, acabou por “descobrir” que ele tinha dormido uma sesta à tarde. Para o enterrar ainda mais, um amigo e colega no executivo demitiu-se por ciúmes. Eis os três crimes de trapalhadas que levaram o sempre choroso Jorge Sampaio a exonerá-lo das suas altas funções. Os social-democratas, seus correligionários, em vez de se unirem à sua volta – ele era o seu líder – ajudaram no enterro. Santana tinha saído da Câmara de Lisboa onde dera início à construção do túnel do Marquês, hoje concretizado. Também tinha um plano para renovar o centro da capital. As vozes daqueles que querem manter o Portugal rural impediram-no. Por onde passou deixou a marca da realização. Deixou obra na Figueira da Foz, onde desenvolveu a área turística voltando a colocá-la no mapa. Desde Secretário de Estado da Cultura que tem vindo a criar à sua volta o mito de um político profissional competente. De entre todos aqueles que se dedicaram à causa pública, é hoje um dos políticos mais limpos deste país. Talvez, por isso mesmo, tivesse de ser arrumado. A política em Portugal cheira a corrupção. Não existe um único negócio do Estado que não cheire a suspeição. Os últimos meses demonstraram que já não há entre nós política séria. O que está para vir será pior ainda? Pior, talvez não seja possível arranjar. Que modelo de políticos estaremos nós a forjar para nos sevir?
manuelmelobento

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