Wednesday, April 19, 2006

 

ACERCA DO ESTADO

Apesar de ter ouvido mil vezes falar no Estado Novo quer quando estava na escola quer quando iniciei os meus estudos liceais, não fazia a mínima ideia do que se tratava. O Salazar estava ligado àquele cliché. Isso eu não tinha dúvida. Ficara-me no ouvido esse binómio como se de uma tábua de salvação se tratasse. Mais tarde fui obrigado a estudar a história de França (os países pobres de cabeça têm os seus heróis lá fora) e deparei com um depravado de nome Luís XIV que dizia que o Estado era ele. Não contente com isso julgava ele que era o Sol. Se Luís XIV era o Estado francês era muito bem apanhado. Às vezes, quando sua majestade se interessava por alguma dama da sua corte e a excitação se recomponha, nos passeios dos jardins de Versailhes, nada impedia a real pessoa de se enrolar com a ditosa em cima da relva. A comitiva que acompanhava o Estado esperava os minutos necessários para ver finalizada e com êxito a tarefa real (também não tinha muito mais que fazer) para depois retomar a passeata, talvez ouvindo ler Racine... Não comparando, era como se no nosso quintal as galinhas e os frangos deixassem por momentos de debicar a terra enquanto o galo-líder se entretinha a equilibrar-se em cima da sua preferida de momento. Foi durante muito tempo a ideia que fiz de um Estado... Mais tarde, quando me disseram que Salazar se tinha sacrificado pela pátria é que comecei a encontrar dificuldades em entender o conceito. Salazar não teria tido relações sexuais por causa do Estado. O Luís XIV, sendo o Estado não se fartava de praticar sexo quer ao ar livre quer nas alcofas de uns e outros e naturalmente nunca na sua por causa do respeito. Na sua só com a rainha. Se lá a encontrasse, claro. Segundo os historiadores, no princípio da nossa nacionalidade não havia Estado. Rezam as crónicas que o que substituía essa figura de texto político eram uns cavaleiros. Estes assaltavam sempre com impostos os camponeses e os mercadores para poderem custear as despesas das guerras que mantinham contra outros cavaleiros.. No caso dos camponeses roubavam-lhes os porcos, as galinhas, as vaquinhas, o trigo e não contentes com isso violavam-lhes as filhas tenrinhas e sequestravam-lhes os filhos para os utilizarem na guerra. Os mercadores quando eram apanhados também não fugiam, pois isso podia representar o pescoço cortado. Todavia, houve um episódio que me fez crescer um pouco acerca da ideia de Estado. Molière que viveu no mesmo século que o rei Luis XIV, como dramaturgo escreveu peças satíricas contra os poderosos. Arranjou mais inimigos que o Otelo da Revolta da Pontinha, hoje um empresário de sucesso. Atacado por todos teve no rei o apoio essencial para continuar vivo. Foi aí que aprendi o valor da liberdade de imprensa. Estávamos no século XVII... O que é o Estado hoje? Para além da tanga académica de se dizer que ele é a nação politicamente organizada (há quem acredite) eu confesso que tenho do Estado uma ideia muito diferente. A minha avó dizia: onde há dinheiro há ladrão (estou a repetir-me, peço desculpa por esta minha rebelice). Eu penso que onde há dinheiro há Estado. Neste surgem uns tantos que dele se apoderam e começam a elaborar leis a seu favor e a favor das suas famílias. Quando precisam de mais dinheiro para os seus gastos montam nos seus cavalos e vão assaltar os camponeses (nos tempos modernos denominam-se eleitores) e os mercadores (que também votam). Quem pedisse contas aos gastos dos cavaleiros correria risco de vir a ser enforcado. Hoje, quem quiser saber do que é feito dos nossos porcos, das nossas vaquinhas, etc., corre o risco de ser perseguido pelos filhos dos tais camponeses agora feitos escudeiros. As "reformas americanas" do eng. Sócrates contra o povo em geral só poderão ser levadas a efeito com uma comunicação social amordaçada. De outro modo como engordar o Estado burguês que nos enlaça? Será necessário uma revolução a sério para mudarmos o rumo que esta malta está a dar ao país: engordar o Estado emagrecendo o povo . Que não seja feita por putos como aconteceu com o 25 de Abril de 1974. É necessário gente discreta! (Eu sei que é proibido incentivar o povo à revolta. A minha revolta é feita com hortências. Sou parvo ou quê?) É difícil encontrar gente com sentido de Estado. Mas vamos fazer um pequeno esforço. Em 1789 o povo francês saiu à rua. Matou que se fartou. Hoje, duzentos e tal anos depois, ei-lo na rua a lutar contra a polícia. Ainda não matou ninguém..., o governo já deu o dito pelo não dito. Há trinta anos o povo português saiu também à rua. Como não sabia o que fazer, perante a imbecilidade geral, pôs-se a bailar e a cantar. Como prémio deram-lhe um papelinho que dizia: podes votar idiota... (Idiota da minha parte).
VIVA O ESTADO! PERDÃO, VIVA O ESTADO DE SAÚDE DE MINHA SOGRA QUE ACABA DE FAZER NOVENTA ANOS E DIZ QUE É E FOI SEMPRE DE ESQUERDA!
Manuel Melo Bento
19/04/2006
Quarta-feira

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