Sunday, April 16, 2006

 

REMEMBER

Para mal dos meus pecados - linguagem apropriada à nova estação religiosa - num dos poucos restaurantes onde costumo comer bem em Ponta Delgada tive o azar de ter ficado próximo do ar condicionado e de ter apanhado um vírus aéreo que me pôs a cabeça em calda. Parece-me que tenho o cérebro solto dentro da caixa craniana. Já não é a primeira vez que isto acontece sem vírus. Daí que aquilo que tinha preparado para escrever hoje desaparecesse. Ficaram páginas soltas. Vou tentar reuni-las e dar-lhes um sentido. Começo com o título. Uma das coisas que costumo fazer quando estou em casa é ligar a Antena 2 e a estação da SIC/Notícias e lá de vez em quando a RTP/A. Depois, deixando o rádio nos décibeis de agrado vou fugindo de canal para canal, até que julgue ver algum que me agrade. Um dia, percorri as dezenas de canais que assino, fiz contas e percentagens e cheguei à conclusão que de europeu eu só tinha nada. A minha cabeça estava a ser feita do exterior para me tornar ideologicamente americano. Dos canais portugueses, das telenovelas aos dos enredos, das peças científicas, dos noticiários políticos estrangeiros, etc., todo isso era produto americano, ou uma cópia tresmalhada. A maioria de qualidade duvidosa, propagandística e imbecilóide como convém a quem não se deve permitir pensar. Depois, ainda se dão ao luxo, as diversas estações, de combinar entre si as repetições que passam a ser estreias... E ainda por cima muitos caíram na esparrela de seguir o conselho do "imbecil maestro Vitorino de Almeida. Um maestro que nunca teve orquestra" (Luiz Pacheco dixit) e que nos convida enganosamente para assinarmos dezenas de bostas visuais todas elas doentiamente americanas. É claro que nem tudo é mau. Lá de vez em quando um Rui Dores, o do bom sotaque, aparece, num programa que cheira a bafio, a dizer que o açoriano é um universalista ou universal porque conheceu uma série de pessoas ilustres. O que é certo que são estes espaços regionais que me dão esperança no futuro, apesar de como aponta a calendarização da vida eu já nem deva estar por cá para ver. Tudo isto dentro dos conformes como manda a lei do pataco. Reinventem a História de Portugal como faz o Prof. José Hermano Saraiva. Ao menos a gente ri-se! Para além disso salvaguarda o estilo nacional se é que ainda existe. Eu sou filho de um Império que criou os seus deuses e a sua história sem medo de mentir e de cair no ridículo. Uma espécie de Império Romano cheio de deuses e de semideuses. Dizíam-nos que Camões tinha nadado com uma só mão enquanto na outra segurava os seus "Os Lúsíadas". E isto não acontecera em nenhuma banheira. Acontecera no mar alto. Camões escreveu depois de Dante "Alma minha gentil que ..." Copiou descaradamente o famoso soneto de Dante. Era o hábito da época..., tal como hoje!Foi muito aplaudido e de pé pelo facto. A Igreja formada por gente inteligente e sábia votada na maior parte do tempo para o mal, para a política e para chatear a molécula aos coitadinhos) descobriu novos pecados a acrescentar à lista dos mais antigos. Eu acho que Bento XVI tem razão. Deve ter pensado para consigo assim: "esta gentinha acredita em tudo o que a gente que tem pacto com o divino lhes faz crer. Por que razão não lhe havemos de tornar a vida mais apetitosa, proibindo o que eles descobriram que lhes dá prazer. Fizemos o mesmo com o sexo. E olhai no que deu. A Terra já está com falta de espaço para práticas sexuais. Que gozo que vai dar ver velhos e novos a clicar em tudo que é computador." Este Bento XVI ainda não aqueceu a cadeira de Pedro e já arregimentou mais tolinhos que o safado Alexandre VI, o chamado Papa Bórgia, o tal que fez da Santa Sé o Palácio da Inveja e de Todos os Pecados. Gostava de ser recebido pelo Papa para lhe fazer a seguinte pergunta: "Senhor Nosso Bento XVI que dinheirama gastou nas festividades fúnebres de Jesus? Esse dinheiro não poderia ser aplicado em fazer algo aos pobres?" "Meu filho, para os pobres ganharem direito ao Reino Dos Céus têm de ser pobres. E essa pergunta todos os nossos inimigos a fazem, há séculos." "Perdão chefe espiritual, por que razão se Cristo afinal não morreu, para quê todos os anos a mesma cena? Para quê chorar a morte dele se sabemos (o senhor mesmo o confirma) está vivo, glorioso, cheio de alegria e pronto para outra? Que ia gozar com os Romanos e com os judeus ressuscitando. Não devíamos pular de contentes como as Bacantes?" Isto não são perguntas que se façam. Mas chateia estar a chorar um morto que não está morto. Chorar para quê? Nem Molière nem Gil Vicente fariam melhor.
Manuel Melo Bento
Domingo
16/04/2006
PARA AMANHÂ: A VIAGEM DE VASCO DA GAMA (Uma leitura moderna.)

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