Sunday, May 28, 2006

 

ADEUS ÍCONS ADEUS PORTUGAL

Se conseguíssemos retirar das páginas da história do Portugal actual as imaginativas e bem urdidas aparições de Fátima, os quarenta e oito anos do salazarismo - a negra noite, o Eusébio, a Amália, o Raúl Solnado, o sorriso do Cardeal Cerejeira ficaríamos sem saber como é que se poderia requalificar o país? Que nos aconteceria se nos dias treze de cada mês mais ninguém se dispusesse a percorrer as estradas portuguesas de norte a sul para se prostrar perante os Mistérios de Eleusis lusitanos? Se o Eusébio deixasse de aparecer (desejo-lhe longa vida) sistemática e mensalmente em tudo onde haja jornalista, palco e desporto, que imagem teria a selecção (logo Portugal) que se arrasta de derrota em derrota apesar dos milhões que os sucessivos governos gastam nas costas de um povo que foge das escolas quando as há, e que se revolta quando não as tem? Passadismo de uma imagem (Eusébio) mais conhecida do que Portugal no estrangeiro? Imposição política para que o país não seja tomado como uma das novas repúblicas do leste, onde se trata o futebol e os ícons (religiosos) como normais prestações de serviços e que por isso mesmo não têm identidade no mundo da competição capitalista? O dinheiro da Federação Portuguesa de Futebol é fundo público. É nele que se vai buscar a prata para as tais misturas: imagem e chuto. A Amália já morreu. Foi-se mais um rosto de identidade nacional. As várias tentativas para a substituir falharam redondamente. O Fado sem ela é história. O Cardeal Cerejeira que tinha um sorriso albarranista atraía imenso a paspalhada das crendeirices. Era um sorriso de paz, mesmo quando abençoava os soldados que iam para a guerra das colónias defender a Pátria que tanto ingleses e franceses deixavam que fosse. Os cardeais de hoje já não têm aquele tipo de sorriso. O de Lisboa até fuma. Ai que pecado! Tirando o palco ao famoso Solnado o humor morreu para dar lugar ao porno-riso. Sobre a pressão de uma censura estúpida e agonizante gozar com a guerra sem porras nem terminologia adjacente era obra. Toda a gente tentava imitar as bocas do Solnado. Portugal ria à tarde com ele e à noite chorava com a Amália. Havia um outro Portugal que era perseguido e passava algumas temporadas na prisão. Havia de tudo, até o darem-se ao respeito... As mulheres que tinham o azar-prazer de darem uma queca fora do casamento e fora do rol do bom comportamento homologado pela Santa Madre Igreja/Estado Novo estavam perdidas para o mundo e os filhos também. A padralhada em vez de ler o que naqueles casos recomendava Jesus ajudava o Estado Novo a puni-las socialmente. As virgens eram as preferidas. Até hoje nos explicaram tal exigência. O Portugal de hoje sem estes símbolos sagrados perdeu a identidade. Até se pôs um preservativo no nariz do senhor Papa. Um horror! Na minha opinião não era no nariz dele que se devia colocar o novo ícon da nossa actual sociedade. São gostos! Quem, afinal devemos utilizar para símbolo pátrio? Cavaco e a sua dona Maria? Sócrates e a sua democracia(cristã)? Eusébio que já nem joga? A vidente (que era tão feia)? A selecção do pontapé? Não temos, por enquanto, mais nada a que nos agarrar... O das Caldas para as nórdicas? Turismo também é ícon!
Manuel Melo Bento
Domingo
28/05/2006


Comments:
Imagino que o texto seja irónico. Ou isso, ou caminha para Sócrates(?). E eu que, ainda a semana passada pensei que, com menos 50 anos, você formaria uma banda de metal...

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senoriao@yahoo.com
 
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