Wednesday, May 17, 2006

 

. O ENIGMA, FINALMENTE!!! .

O primo Leonel usava óculos com lentes escuras. Como poderia ter visto meu avô tirar de um gavetão um frasco com pó às escuras e de noite ? Pensei cá para mim que ele estava a gozar comigo. Certo dia, uma empregada doméstica, aproveitando a ausência do velho que tinha ido para o hospital para ser operado pelo dr. Simas, foi ao gavetão e de lá tirou uns lençóis de mil. Quando soube do incidente, pensei cá para mim que afinal o pó era o cacau-pilim escondido ao jeito da malta antiga. Esqueci o assunto. Meu avô morreu em 1966. Depois da sua morte, a segunda mulher fizera alterações na casa e começara a imitar o que via na revista "Flama". Mudou as quinquilharias para a adega. Muitos anos depois, estávamos todos na Vila a festejar o Senhor da Pedra, uma espécie de Santo Cristo sem jóias, e dei por mim à procura da famosa aguardente de vinho que meu avô fazia. Ele não a bebia, mas meu pai (e eu, claro) apreciávamo-la. Uma maravilha! Nem sequer inchava os pés. Lá agarrei numa garrafa onde estava escrito num rótulo económico: "Aguardente de meu pai". Quando a retirei vi que por detrás dela estava um frasco. Peguei nele com cuidado com uma mão por cima outra por baixo. Senti uma espécie de humidade na base. Com cuidado, vi que o frasco tinha qualquer coisa colada e viscosa. Era uma espécie de folha de papel de mercearia e estava dobrada a oito. Arranquei-a. Pensei no Leonel naquele momento. Pus-me a lê-lo. Tratava-se de uma fórmula. Depois de a ler, dobrei-o como estava com cuidado, pois, quase se desfazia e embrulhei-o no meu lenço. Porém, a coisa não ficou por aí. O frasco, depois de lhe retirar o papel, mostrava uma espécie de rosca. Olá, queres ver que é oiro? Desenrosquei-a muito lentamente. Era um compartimento incluso. Destapei-o. Que rico cheirinho! Uma mistela preta, tipo graxa de sapatos. Graxa não cheira assim tão bem. Voltei a fechar o subfrasco. Agora vou retirar a rolha. Fi-lo. Cheirava a mofo! Era farinha velha. Tapei-o de novo. Agarrei na garrafa de aguardente e no frasco, saí da adega. Subi as escadas e deixei na mesa do quarto de jantar remodulado uma e fui pôr na bagageira do carro de meu pai o outro. Mais tarde, já na cidade e no silêncio do meu quarto, voltei a desdobrar o papel amarelo sujo e reli-o. Era uma receita. Dizia como fabricar o líquido viscoso que cheirava ainda muito bem. Para ser utilizado e consumido tinha de misturar-se uma colher de chá do mesmo com duas colheres de sopa de ... (o segredo é meu) , mais três colheres também de sopa de... Tudo produtos de mercearia. Deve-se beber antes... ou durante. Depois, numa caligrafia muito molhada por reguadas, dizia que a farinha de milho torrado serve para excitar as fêmeas uma vez colocada estrategicamente nos sítios certos. Uma vez que o Hugo Boss já está no mercado dos homens, nada me custa revelar esta segunda parte do segredo. Ora temos, pois, para as classes desprotegidas a farinha de milho torrado e para a burguesia a perfumaria fina. Já experimentei o produto natural que meu Avô da Vila inventou. Brasileiras (pagando) e suecas dos fiordes, onde estão? Tenho aqui Milho Torrado! Calma!, dá para todas... A terceira parte do segredo só o desvendarei quando destrinçar a parte que está em código. Valha-me a Beata!
Manuel Melo Bento
Quarta-feira
17/05/2006

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