Saturday, May 13, 2006

 

O REPRESENTANTE, A CULTURA DENSO-PORTUGAL XXL

Hoje vou tratar da densidade cultural do dia 13 de Maio, em Portugal. Por essa razão o "Segredo da Farinha de Milho Torrado" pertença de meu Avô da Vila não será desvendado, pois dará lugar a outros segredos. Eu sei que vai fazer muita falta a "terceirogerontistas" (1) venerabundos bordeleiros. Aguentem-se! Tivessem um avô como o meu (o da Vila, claro!)... Quando trabalhei no Instituto Geográfico em Lisboa, (metido lá por uma cunha do saudoso Eng. Gomes de Oliveira) coube-me a tarefa de levantar topograficamente nada mais nada menos do que os terrenos (parcelas) da Cova da Iria assim como o Santuário de Fátima. Nesse mesmo ano de 1966 e para que conste, a primeira coisa que ouvi, ao sentar-me no café do senhor Nazareno, foi a história de um moço que por ter conseguido sobreviver à Guerra do Ultramar prometera a Nossa Senhora de Fátima ir a pé da sua terrinha em peregrinação à Terra Santa portuguesa. Penso que não existe outra, apesar da Santa da Ladeira ter tentado liberalizar as várias tendências mitológicas noutras terras na mira(gem) de outros lucros. Como todos sabem e o Pedro Mata, já sem bigode, confirma, Portugal, apesar de ter mais densidade cultural do que as suas outras possessões (onde nelas se faz representar - Açores, por exemplo), no mês de Maio, é causticado por um "sol-mata-rãs" (2) que é mais vocacionado para aquecer inglesas e suecas (não destas que nos visitam e que mais parecem enxertos arqueológicos) à procura de machos latinos (consultar arquivos da RTP acerca desta tendenciosa informação) que as satisfaçam a preços concorrenciais (área densamente culturalizada onde ninguém os bate). Ora, como dizia, o moço, ex-militar, por não ter prática em apanhar sol, morreu no caminho antes de prestar homenagem à sua antiga salvadora. Morreu de insolação. Só um jornal liboeta se atreveu a dar tal notícia. Uma espécie de jornal de esquerda. Trabalhei dois anos em Fátima. Por essa razão disponha de tempo para peregrinar por aquela árida e pedregosa terra óptima para construções de todo o tipo. Sobretudo aquelas que albergam turistas, lhes dão de comer e que lhes vendem todo o tipo de recordações. Quando o Papa de Roma, mais conhecido por Paulo VI, foi a Fátima (1966/67?), um milhão de portugueses foram atrás dele. O Salazar também foi sem escolta (santos tempos em que as FP/25 e a mulher de Carlos Antunes a Isabel do Carmo frequentavam a catequese) e num carrão americano. Eu vi o Papa. Parece uma canção. Reformulando: eu também vi o Papa. À minha frente, (e sem poderem descolar do meu corpo - estávamos todos como sardinha em lata - umas freirinhas histéricas palmeavam sua santidade). Eu também. Pois aplaudindo com as mãos ao alto melhor sentia a noviça "lá de xima" que por obra de ver Sua Santidade me calhara no papo... O Papa veio e foi. O que restou da visita do Procurador/Representante do Cristo na Terra a Sua Mãe foram os dejectos de um milhão de portugueses (segundo contagem da época) que não encontraram sanitários ou coisa que o valha à altura das suas necessidades. A densidade cultural dos portugueses, nessa área, não os tem deixado ficar mal. São muito expeditos quando estão perante embróglios metastáveis (3) de origem biológica. Se não estou em erro só as habitações de fidalgos ou outros senhores da terra usavam aquilo que nós, os letrados, chamamos casas de banho. Não era de admirar. Portugal medieval e citadino desenvencilhava-se das suas orgânicas pessoais atirando-as para a rua. Porém, como rezam as crónicas, avisava-se primeiro não se fosse emporcalhar os transeuntes. Até há pouco tempo Portugal era assim. Os dinheiros europeus começaram a fazer efeito... A água entrou na densa cultura portuguesa. Ainda bem para os serviços de saúde. Bem, nas minhas bisbilhotices "fatimanianas" encontrei-me com duas figuras de referência da Cova da Iria. Um era conhecido pelo Luís dos Ovos. O outro, o senhor António que tinha muitos bocaditos de terra. Eram ambos homens de teres e haveres, embora o senhor António fosse muito rico tendo em conta que bocadito significava propriedade. Eram ambos velhos. Um deles, o mais rico, usava um bordão tipo romeiro de São Miguel. Disse-me o senhor António numa das nossas conversas que tinha sido expropriado pela Santa Madre Igreja porque não tinha querido vender as doze oliveiras que se situavam dentro do projecto onde se ia construir o futuro Santuário de Fátima. "Roubaram-me doze oliveiras (as medidas da terra, naquela época, faziam-se pela quantidade de árvores de oliveira). Não me as pagaram" Lembro-me dele. Devia ter sido um republicano dos duros. Evadia-se dele uma química de segurança que ainda hoje recordo. Malhoa, se o tivesse visto, tê-lo-ia tomado como modelo, sem guitarra, claro. Mas como bordão! "É capaz de me dizer como é que isso aconteceu?" O velho António explicou-me que se negara a vender à diocese (já não me lembro se era a de Leiria ou de Santarém) a sua propriedade. Negou-se sempre. Porém, teve uma grande surpresa, quando as forças da ordem lhe impediram de nela entrar em virtude de uma ordem judicial. O que acontecera para que a Justiça assim procedesse foi o facto de ele não ter as terras em seu nome. Estavam em nome de uma antepassada, sua tetra-avó, de nome Urraca. (Não estou a gozar!). Perdeu-a, pura e simplesmente. "O Senhor acredita no milagre?" "Não houve milagre nenhum! Aquela rapariga era muito mentirosa. Estava sempre a contar histórias da cabeça dela. Os papalvos acreditaram porque lhes convinha." " Então o milagre do Sol a mexer e as pétalas das flores a cairem sobre o povo?" " O senhor é algum tantinho? Experimente a olhar para o Sol mais do que uns segundos e veja vossemecê mesmo se ele não treme e se desloca. Foi o que viram. Houve um maluco que começou a dizer que o Sol estava a andar e todos gritaram milagre. Eu estive lá!" " E quanto às pétalas?" "Olhe para o céu agora mesmo e veja se não lhe aparecem uns pontos brancos que estão sempre a cair?" Fiz a experiência e confirmei. "Então, quando a Senhora poisou no galho e este baixou?" "Senhor está dizendo coisas que ninguém viu a não ser a pequena. Ela era a mais velha e sabida. Meteu coisas na cabeça dos primos que eram umas crianças muito ignorantes e muito novinhas. Já não lhe digo mais nada. O senhor é igual aos outros." Despedi-me do senhor António sem saber quem eram os outros. Numa outra oportunidade, questionei o senhor Luís dos Ovos. O velho Luís (outra cantiga) vendera à diocese uma territa situada junto à do António e como prémio da barateza que levou à Igreja, esta deu-lhe um lugar para vender santinhos e outros objectos de culto, lojas que se vêem, hoje, ao lado do Santuário. "Tio Luís conte lá como é que foi o milagre das pétalas e o do Sol a mover-se?" " Uma coisa maravilhosa! Fantástica! Eu vi o Sol a mexer e as flores a caírem até ao chão onde desapareciam." "Mas como é que o Sol se mexia?" "Uma maravilha! Um verdareiro milagre! Que alegria! Deus é muito bom! Nossa Senhora também!" " Tio Luís, o senhor vende muitos santinhos?" "Durante todo o ano. Principalmente nos dias 12 e 13 de cada mês!" "O senhor conheceu a Lúcia, o Jacinto e a irmã?" "Conheci. Ela era muito feia. Tomava conta do gado." "Ela frequentou a escola?" "Nem ela nem ninguém. Não havia escola a não ser em Vila Nova de Ourém. Muito longe daqui. Eu aprendi a escrever o meu nome quando fui trabalhar para Lisboa na Carris. A terra dava muito pouco. Agora é que é bom! Querida Nossa Senhora!" A Cova da Iria terra muito pedregosa é hoje um pomo de desenvolvimento de densa cultura. A última história que ouvi no café do Senhor Nazareno foi a daquela rapariga que trabalhava no Santuário e que passava a ferro as notas que os fiéis em filas de espera inumeráveis e intermináveis atiravam para um lugar sagrado. Como as notas ficavam húmidas por estarem muito tempo nas mãos dos crentes e se estragavam o melhor a fazer era utilizar o ferro de engomar, para as secar. Ela começou a roubá-las colocando-as por debaixo das maminhas, lugar muito respeitável na época de Salazar, pois era dali que vinha o leite para alimentar os portugueses (ainda não existia a Nestlé) enquanto não se dedicavam ao tintol em adultos. Eu como não sou crente, julgo que não era esse o local de arrumação... Em Fátima não se podia pronunciar palavras impudicas... Como não podia comprar nada sem dar nas vistas, deu o produto da sua acção de recolha ao namorado. Este comprou um terreno e depois acabou com o namoro. Dizem que ela, pouco tempo depois, foi quem comprou directamente outro, pois, deixou de se fiar em namorados. Coisas da religião sempre me fizeram confusão. Bem, Cristo morreu para nos salvar. Devo estar incluído. Embora questione a morte dele, pois se ele iria ressusssitar três dias depois! Afinal não morreu! Os deuses não morrem! A mãe de Cristo apareceu vestida de branco à Lúcia. Ela não poderia vestir de branco. Era judia. Não estava autorizada. Foi para o Céu com um vestido e desceu com outro. "Atelier" de alta costura lá em cima? Depois, ela em vida nunca disse uma frase discreta que se saiba. Aprendeu materialismo dialéctico com Marx? Impossível! Este barriguista foi para o Inferno juntamente com todos os comunistas. Bem, vou deixar-me disto e procurar saber se o Representante vai atrás do Filho de Maria, na procissão de todas as inclinações: a do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Se for, naturalmente, será para dar de mãozinha aberta a conhecer ainda mais a densa cultura que fez de Portugal o último, isto é, o vigéssimo sétimo país da União Europeia embora se saiba que esta colmeia de interesses só daqui a dois anos (?) é que venha a aceitar mais dois países do leste. Por enquanto são apenas vinte e cinco...
(1) Impotentes da terceira idade;
(2) Criei esta palavra. Se alguém o fez anteriormente, peço desculpa;
(3) Diz-se do estado em que a matéria se encontra acidentalmente em desacordo com as condições do meio que a rodeia. (Tradução verificada, não fosse mais uma das minhas invenções)
Manuel Melo Bento
Sábado
13 de Maio

Comments:
Boa tarde:
Já não consigo passar sem cá vir ao Seu blog dar uma espreitadela. Mais uma vez parabens pelo excelente trabalho. Hoje foi com grande admiração que verifiquei que V.Ex.ª trabalhou no Instituto Geográfico, é que eu Açoriano também cá trabalho... e foi com alegria que verifiquei a Sua passagem por esta digna organização. Bem haja. Humberto Bettencourt (hbettencourt@igeo.pt)
 
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