Monday, May 15, 2006

 

- O SEGREDO DA FARINHA DE MILHO TORRADO -

Se não tivessem mudado de nome aos que aqui representam os interesses de Portugal nos Açores, eu não me atreveria a colocar na boca do mundo um segredo que guardei durante mais de cinquenta anos: "O Segredo da Farinha de Milho Torrado". Denominar-se Ministros da República àqueles era mais coerente do que substituí-los pelo nome de Representante da República. Os exigentes politicos-estatuto-açoriano são muito matreiros. Portugal é uma República. Era lógico que tivéssemos por aqui um Ministro... Representante é um paradoxo. Um açoriano é um português. Nem todos os portugueses podem ser açorianos! Um português do continente, nos Açores, autodenomina-se continental. Em Paris, diz-se português e não continental. Pois isso provocaria o riso. Um açoriano, nas mesmas condições, não provocaria nenhum espanto se se dissesse português ou açoriano. Se um açoriano, dizendo-se só português em Berlim, explicar que para ir de uma cidade a outra no seu território tem de o fazer a nado ou voando (de barco ou de avião quero, dizer!) provocará espanto. Tem de explicar melhor o que isso significa. Temos pois que considerar que Fernando Pessoa era mesmo poeta quando disse que a sua Pátria era a Língua Portuguesa. Confusões! Quem pode representar quem, afinal? Os açorianos os Açores em Portugal? Sim! Tem lógica mas não é materializada. Porquê? Por fraqueza! "O senhor o que é?" "Sou português!" "Qual é a sua profissão?" "Sou Representante de Portugal!" "Onde?" "Em Portugal!" "Não pode responder assim. Provocaria o riso. Vamos reformular." " Represento Portugal nos Açores!" "Assim está melhor. Representa Portugal junto das populações acorianas?" "Não, junto das instituições democraticamente eleitas. Quem representa e fala pelos açorianos são aqueles que estes escolhem através do voto expressos nas urnas." "Quais são as suas funções?" "Enquadrar as aspirações autonómicas num quadro constitucional." "Uma espécie de fiscal?" "Nada disso! Estou atento pedagogicamente ao processo técnico-juríco das suas determinações legislativas." "V.Exª. Foi referendado pelo Povo Açoriano?" "Em certa medida, pois, represento o senhor Presidente da República que foi votado maioritariamente por este magnífico povo. Pacato, obediente, servível. É vê-lo a preparar-se para gritar pela nossa selecção de futebol. São de facto muito portugueses!" "Senhor Representante, e se a selecção ficar excluída logo na primeira fase?" "O Povo Açoriano tem outros atributos para além de ver Portugal através do futebol!" "Será V.Exª. conhecido do Povo Açoriano?" "Para lá iremos.!" "!Não seria melhor pensar numa Representação Aberta?" "Olhe, boa ideia! Espere aí, isso é politicamente incorrecto. Reformularei: embrenhar-me-ei em procissões, festas do Espírito Santo..." "E em Romarias?" "Bem, a minha idade já não permite grandes caminhadas. Estarei com os Romeiros em espírito." "Que idade tem?" "Setenta anos!" "É reformado?" "Sim, há cinco anos pelo menos, isto se a memória não me trair." "Fez V.Exª. exames médicos que lhe permitam pensar estar a representar Portugal por mais dez anos aqui? É que nos Açores é perigoso viver-se por causa da humidade. E para quem tem asma torna-se fatal." "Eu não tenho asma! Não sofro de nenhum mal." "Leu, por acaso, a entrevista do Prof. António Hespanha? na "Pública" esta semana?" "Aquela que fala do Segredo da Farinha de Milho Torrado?" "Não, aquela que diz expressamente que os portugueses acham: Este país é uma porcaria para a maior parte dos portugueses e é um país óptimo para uma pequena parte." E mais: "Estabeleceu-se um modo de vida caracterizado pela irresponsabilidade de quem manda." "Ele disse isso?" Disse mais: um dia o Rei Dom Luís ao sair no seu iate encontrou-se com pescadores no mar da Póvoa de Varzim e perguntou-lhes se eles eram portugueses ou espanhóis. Eles responderam ao monarca assim: " Não sabemos meu senhor, nós somos da Póvoa de Varzim." "Já agora, senhor Representante, quando souber o "Segredo da Farinha de Milho Torrado" não se esqueça de divulgá-la." (Texto adaptado de leituras provenientes de notícias regionais e da célebre entrevista no DI-Terceira)
Claro que eu - o narrador intradiegético - irei revelar o segredo. Acontece, porém, que o meu computador escreve muitas palavras e eu não consigo parar. Amanhã, talvez sim?
Manuel Melo Bento
Segunda-feira
15/05/2006

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