Friday, May 05, 2006

 

PARAÍSO DAS RATAS E DOS RATOS


"ÉDEN (PALAVRA HEBRAICA QUE SIGNIFICA CAMPO, DELÍCIAS) SEGUNDO O GÊNESE, O PARAÍSO TERRESTRE.)" TRADUÇÃO LUSO-BRASILEIRA. (Koogan)
Uma tradução mais rigorosa indica que esta palavra etimologicamente está ligada ao sumérico "EDIN". Mais tarde toma como significado alegria, delícia, abundância. Localiza-se a oriente da Palestina...
Estava eu à janela do meu quarto que dá para um outro paraíso: o das ratas e dos ratos, mais propriamente os jardins do dormitório das reclusas do Convento de Santa Bárbara (Luz divina), quando, de repente, vejo em plena luz do dia os ramos das árvores do dito paraíso a tremerem cadenciadamente. Prestando um pouco mais de atenção, verifiquei tratar-se de um traseiro descarnado (desnudado) de pessoa humana. Impossível, pensei. Mas qual quê? Afinal não era um. Eram dois. Um mais liso do que o outro. Umas vezes o liso tomava o lugar do companheiro dando a ideia de que alternava buscando uma não pacificidade muito a jeito das donas de casa da década de cinquenta (e porque não sessenta). Escolhidos, por opção minha, os sexos de cada um pela forma de pêra que o mais liso apresentava em contraste com o outro pertença de um caniçalho nada agradável, desejava eu que houvesse pouca alteração das estratégias quando, aquele que eu suponha ser o mais delicado, estivesse voltado para o palco das operações onde eu, como espectador-mirone privilegiado, relembrava as sacrossantas palavras da minha catequista: expulsos do Paraíso por causa de uma maçã. Eu sei que preciso de óculos, mas aquilo mais parecia uma pêra. E que pêra! Sendo eu jornalista com carteira, e procurando um furo, acabei por me lembrar da minha máquina fotográfica para perpetuar aquela demonstração de cios primaveris, pois a estação apela muito ao coito, como a querer preparar os gulosos das praias para o próximo estio, onde frutas de todos os feitios, sem árvores que as produzam nem as cubram, aguçam apetites para todas as bocas. Porém, quando de máquina em riste me proponha cobrir o evento para fins político-patrimoniais eis que as árvores deixaram de ondular sem vento que as manobrasse. Traseiros fora, ratos e ratas dentro. Foram rápidos os humanos tanto quanto os roedores costumam ser naquela posição. Só que estes últimos sem os traseiros à mostra tomam conta deste jardim das delícias passeando-se quase humanamente pelas ruínas esburacadas do dormitório onde antigas vestais pernoitavam depois de terem repetido vezes sem conta as peripécias sexuais de um Rei David e de um Sansão e sua Dalila cabeleireira a crianças que ainda hoje não comem maçãs por ser o fruto do pecado. Preferindo, como é o meu caso, a pêra voltada para cima. Continua aquela perversa arquitectura a tentar-me. Agora, mais do que nunca. Eu não peço com este texto intervenção policial, pois por mim podem continuar a fornicar à vontade. O que eu peço é uma intervenção cultural. E, se o governo não tem capacidade para tal, eu, então, peço aos proprietários desses traseiros que não sejam tão rápidos nas suas actividades paradisíacas e que tenham como protocolo corações ao alto, perdão, pêras ao alto. Ao menos isso! Haja educação! Neste caso específico: educação sexual.
Manuel Melo Bento
Sexta-feira
05/o5/2006

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?