Friday, May 12, 2006

 

. PORTUGAL DENSO-CULTURAL versus AÇORES RAREFEITOS

Luiz Pacheco, um dos mais importantes críticos literários, criador da célebre "Contraponto", numa entrevista que concedeu ao "Expresso" da responsabilidade de Rui Zink e Carlos Quevedo em 1982, disse que em Portugal existiam quatro milhões de anafalbetos e quatro milhões de indivíduos que não lêem. Para uma população de dez milhões não sei o que dizer. Minha bisavó Ana Costa, mãe do criador da "farinha de milho torrado para ocasiões especiais", meu avô paterno, era Mestra Régia. Portanto, não estávamos incluídos naquela estatística, uma vez que na minha casa todos sabíamos ler. Enquanto minha mãe lia a "Crónica Feminina" e extractos autorizados pela Santa Sé da Bíblia acompanhados de dizeres explicativos dos santinhos eu encontrava na mesinha de cabeceira de meu pai os livros de Pitigrilli, Schopenhauer, o Padre Meslier autor de "O Crime do Cura Meslier" e outros que a memória não comparticipa, aos quais me afeiçoei. Como não vivíamos em Lisboa, mas na baixa densidade cultural micaelense não poderíamos nunca ter lido o que Augusto Gil escrevera:
"Nestes tempos dissolutos
Toda a mulher é vendida.
Umas vendem-se aos minutos,
As outras por toda a vida." (1)
No século XX, "Lisboa era, na altura, a cidade onde se concentrava a maior parte das prostitutas. Segundo os dados estatísticos fornecidos por Santos Cruz, existiam 360 casas e setecentos e sessenta e duas prostitutas iletradas.Isto no século XIX. A sua estimativa é de mil , só em Lisboa e sem contar com as não declaradas... Segundo Dugniolle ... excesso de oferta existente na capital..." No princípio do século XX eram à volta de 10.000 (E hoje?). Quando o Alfredo Marceneiro cantava as tabuínhas da Casa da Mariquinhas referia-se à ordem oficial assinada pelo Governador Civil que obrigava a que "as casas toleradas deveriam guarnecer as janelas de tabuinhas que ocultassem o interior."(2) O Fado era a canção nacional... Também na mesma ordem governamental as raparigas eram obrigadas a matricularem-se num livro de registo na repartição de polícia ou na administração local. " No capítulo financeiro, envolvendo uma série de verbas, resultantes de multas e licenças, os regulamentos constituir-se-iam em importantes fontes de receita."(3) Continuando a citar: " Os interesses em seu redor (da prostituição) não se sabe bem onde terminam. É ver as acusações públicas de implicação de elementos da PSP e da PJ no apoio de redes prostibulares (como sucedeu em Novembro de 1977-V. "Jornal de Notícias", Porto). É ver a prisão do cônsul de Portugal em León, em Maio de 1978, por implicação na exportação de menores, actividade que adquiriu proporções incalculáveis..." (4) Todo o homem é um ser social. Logo cultural. Tendo em conta que "densidade cultural" deve incluir prostituição e proxenetismo é de crer que a nossa "densidade cultural" nesse campo seja muito rarefeita. Ainda me lembro de quantas moças eram assistentes sexuais em Ponta Delgada e na então Vila da Ribeira Grande. Na cidade não havia mais do que umas vinte e uma, isto contando com as quatro da Casa Amarela e uma outra que fazia de camponesa de dia, numa freguesia caracterizada pela excelência da sua bacia leiteira. Eu conhecia o nome da maioria delas, mas meu primo de todas. Na Ribeira Grande havia umas sete. Lembro-me ainda do nome artístico de uma delas: Flor da Selva. Foi aquela que me tirou a trindade completamente, uma vez que das outras vezes foram tentativas menos densas. Se tivesse sido na Capital de todas as densidades, talvez eu tivesse feito melhor figura , nas tentativas anteriores. Culturas! Disse o Representante que não nos podia considerar uma Nação por falta de densidade cultural. Quando alguns sexólogos tiverem a bondade de fazer estudos sobre esta secção de densidade sexual de quem não tem condições nacionais hão-de ler como eu li a descrição de uma noite de núpcias de um casal menos letrado. O rapaz do campo, na noite de estar a sós com a noiva a quem acabara de fazer esposa, não tendo tido densidade cultural para o acto, pois nunca tinha recebido formação para tal, lançou-se sobre a moça como via fazer aos cavalos das pastagens que proliferam nas ilhas. Resultado? A desgraçada teve de ser cozida e nunca mais na vida sentiu prazer... até que um dia meu primo lhe ofereceu sabonetes e meias americanas... Não sei até que ponto os primeiros colonos não foram atirados como as cabras, as vacas e os cavalos ao Deus dará. Desenrasquem-se! Devem ter-lhes dito. Passaram por cá anos depois para virem buscar o milho e outras novidades. Até que um dia aqueles que os trataram sem densidade cultural não contentes com os recursos agrícolas que surripiavam em impostos e outras vigarices os vieram buscar para os incorporarem no exército colonialista. Muitos morreram! Por quê? Por nada e por não saberem o que era a densidade cultural que torna livres os homens.
(1) - In Forjaz Sampaio e B. Mantua, " O Canto da Cigarra";
(2); (3); (4) -In Carlos Oliveira Santos, Investigador, A Prostituição em Portugal nos séculos XIX e XX
Manuel Melo Bento
Sexta-feira
12/05/2006

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