Tuesday, May 09, 2006

 

. REPRESENTOLÂNDIA...

03.42: "Peguei" no sono;
05.01: Acordei com fome. Fui cear;
05.37: Voltei para a cama. Estiquei o braço e agarrei no primeiro livro que tinha à mão: "A Comédia dos Equívocos". Só consigo tragá-lo aos poucos. Uma boa merda! Escrita por um "bife" que nasceu no século XVI;
05.49:" ... desafio-te como tratante que és". (O Segundo mercador diiiiiiuuuu). Adormeci;
12.01: Sou acordado. Trazem-me os diários micaelenses. Ah!, cá está uma frase reproduzida pelo "Correio dos Açores" de uma entrevista dada pelo Representante ao "Diário Insular". A saber: (O Representante) "... nega à cultura açoriana uma densidade que confira ao conjunto das ilhas um estatuto de Nação";
12.37: Depois de olhar para a fotografia da página 4 do citado diário voltei a adormecer;
12.42: Depois de acordado por um telefonema do Dr. José de Almeida dirijo-me para o meu semicúpio. Visto-me;
13.10: Almoço na Calheta. Nem sequer falámos sobre a interpretação a fazer acerca da frase representadora;
14.32: Os chicharros na Candeia estavam fresquíssimos. Eram dos nossos mares. Inhame, queijo da ilha, pão de milho da Piedade/Arrifes. Só o vinho era português. Bolos caseiros, ananás da estufa do avô da dona acompanharam um escocês médio (se fosse inglês não bebia). Como não conduzia, foi um risco bem servido. Às vezes, lá vão três... Em cima de tudo o meu charuto importado e café ex-portugês. Temos sempre um tema. Hoje, foi sobre as precisões e rigores de uma sâ amizade. Nada de almoços políticos. Estraga-me as tardes;
15.02: Durmo a sesta;
16.02: Acordo. Tenho de acabar de ler dois livros escritos por dois açorianos. "Não Chores Pela Minha Morte" de Eduardo Brum e "O Mar de Madrid" de João de Melo. Já há muito que não faço "crítica" literária. Pedi há tempos ao Eduardo para ele me prefaciar um livrito. Ele fê-lo com uma sanha vingadora. Destruiu o meu trabalho. Não prefaciou. Fez crítica destrutiva. Porém, foi aquele que eu consegui vender mais... Justiça Popular! Agora que me podia vingar do " Não Chores..." não o posso fazer. Parece-me um grande voo na literatura açoriana. Trata-se de um desafio a que não estávamos habituados. Uma "densidade na cultura"?, não que isto é uma baboseira de todo o tamanho dita por quem desconhece o conceito de cultura nas mais de cem definições que foram estudadas e que continuam a sê-lo... Já comecei a "desmontá-lo" depois, logo se verá. Na segunda leitura vai tudo para o público. Não escapas! Do João de Melo, só posso dizer, que daquilo que li, mais me parece um guia turístico. Estou a lembrar-me de "Gente Feliz Com Lágrimas". Um livro que, não fora a quarta parte final, teria colocado a Literatura Açoriana num nível muito sedutor para os leitores e apreciadores de "cultura literária". Este "Mar..." É uma soda! Tem "densidade cultural" pois guia-nos através de Espanha palmo a palmo. Nenhum topógrafo faria uma planta geográfica melhor. Enquanto o livro de Eduardo Brum é livre como toda a literatura deve tornar-se, o de João de Melo é um frete a Portugal. Tem "densidade cultural" que é o que não consigo saber a não ser pensar no pior. Seria densidade populacional dispersa ou mista, aquilo que o Representante quereria dizer?
Eu pessoalmente não sou separatista. Sou nacionalista. É uma coisa muito diferente. Comparado com os nacionalistas do IRA, do País Basco, etc., eu pareço a Costureirinha da Sé. Como tenho sangue português de há cinco séculos, sem misturas pelo meio, considero-me com dupla nacionalidade. A de direito que vem no meu passaporte e a de facto que está escrita na minha "densidade cultural". Como sou livre de ser e estar nos Açores, como a Liberdade de Imprensa é um facto (apesar de já ter no lombo 14 meses de prisão por causa dela - suspensa, era o que faltava - como gosto de Portugal mais do que (aqui apetecia tornar-me palavroso. Crianças podem ler esta tribuna livre e velhinhas beatas do Centro de Cultura de Santa Clara também...) muitos que andam a vender tudo que seja Pátria, etc., que já estou irritado com falta de tanto conhecimento e sobretudo com falta de cultura. Não admira. Cavaco Silva que nomeou o senhor Representante para o arquipélago confundiu Thomas Mann com o nacionalista irlandês Thomas Moore... Salazar também não tinha quadros nas paredes do seu quarto. Porém, o velhaco tinha no quintal de São Bento galinhas poedeiras. Era o Portugal rural, velhaco e sangrento. E viu-se em Africa! Pergunte-se ao Padre Hastings... Hoje, cumprimentei o padre Dr. Duarte Melo. Meu vizinho. Temos democrata! Não se ofendeu com as bocas ( satírico-denso-literárias?) que lhe enviei. Fiquei mais aliviado. Mas, o que tenho de dizer tenho de dizer. É assim que eu sou.
Nota final: Já não sei que horas são. Devido, talvez, à densidade dos riscos.
Manuel Melo Bento
Terça-feira
09/05/2006

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