Friday, June 02, 2006

 

AVALIAÇÕES DA EDUCATIVA


O texto que ontem escrevi é um texto "para-irónico". Não é a forma mais científica de se abordar um tema demasiado sério. Às vezes não resisto. Apresentada esta espécie de pedido de desculpas que o não é, aqui vai o que penso acerca de alguns aspectos da “Educativa Portuguesa”. Ninguém pode separar o Ensino da Política. Até o Estado Novo tinha um bem delineado sistema educativo. Caracterizado pela fixidez e improgressividade. Esta aliada ao poder religioso que a acompanhava desde o baptismo das primeiras letras até à Universidade. Nas Faculdades de Letras, principalmente, existia um grande número de professores de sotaina. Com a mudança dos governantes por via das movimentações militarizadas de 1974, as alterações não se fizeram esperar. Em 1986 pontificou uma Lei de Bases do Sistema Educativo vocacionada para uma postura socializante, colectivista, democrática, etc. Esta Lei foi da responsabilidade de Cavaco Silva, na altura Primeiro-Ministro, e do Ministro da Educação. Duas semanas depois, Cavaco Silva escreveu um artigo de opinião sobre Ensino, no jornal Expresso. O homem assinara a Lei mas não a tinha lido. Trocou os objecticos gerais da nova reforma por uma série de baboseiras ao nível de professor de Moral do tempo dos liceus. Poucos foram os que detectaram tal dislate. Por acaso, eu coleccionava os erros ortográficos que surgem no Diário da República e a Lei de Bases da responsabilidade do Ministério da Educação não me passou despercebida. Li-a e reli-a. A par da publicação desta lei o Ministério da Educação mandou editar dezenas de milhar de livros como apoio a professores e encarregados de educação e enviou-os para as escolas aos montes. A exequibilidade e aplicação das novas normas (estou a referir-me a 1986) era uma verdadeira revolução cultural. Sugeria-se, por exemplo, que os professores mudassem o seu papel de avaliadores/seleccionadores para encararem o facto de virem a ser “puramente” formadores. Dava-se prioridade ao enfoque pedagógico da formação. O resto passaria a um papel menor se finalmente não desaparecesse totalmente do horizonte dos profissionais do ensino. Nesse texto de apoio as orientações eram precisas: no primeiro ano de cada ciclo os alunos não deviam ser retidos mesmo que não tivessem atingido os requisitos mínimos exigidos pelas disciplinas. Nem os professores entenderam semelhante “atentado” assim como os encarregados. Pudera! Os mestres não tinham lido as orientações da entidade patronal nem tinham intenções para tal. Além disso para onde ficaria relegada a sua importância social? O poder que tinham usufruído até ali ia-se por água abaixo. O Ministério na sua ingenuidade dizia que o futuro poder dos docentes residia na salutar postura formativa. Era esta a alternativa. A Lei atrás referida foi copiada do estrangeiro por uma cambada de cus sentados que não fazem a mínima ideia do que falam. Desconhecem o terreno. São uns pataratas. As escolas, hoje, nesta democracia lusitana, são a montra real das diferenças sociais; dos desníveis de entendimento entre seres que se querem iguais; da gritante disparidade de preparação dos discentes para enfrentarem planos pedagógicos anuais. Elaborar perfis para depois adaptar pedagogias, estratégias, recursos, “objectivos” a uma unidade lectiva e sem esquecer os objectivos gerais da política do ensino insertas na Lei que têm de estar ali sempre presente é algo que só quem tem preparação o pode fazer. Isso implica formação dos professores e não só. Também os que se propõem dirigir o Ministério da Educação deviam fazer formação. E isto para que não fiquem de costas e na mais pura ignorância dos argumentos. A Ministra ao querer reformar o ensino a partir dos professores sem que a sociedade os acompanhe está a correr riscos por ignorância. A Ministra parece-se com os orientadores científicos das licenciaturas em ensino. Não têm estágio. Desconhecem como dar uma aula mista (refiro-me a todo o tipo de aluno do Ensino Público Obrigatório), desconhecem no terreno o modo de agir e de pensar dos discentes e depois ditam regras e boa faladura e depois avaliam. A Ministra tem razão em querer os professores trinta e cinco horas semanais retidos nos estabelecimentos de ensino. Para isso tem de arranjar gabinetes para cada professor dar apoio às suas turmas. Num gabinete vários alunos e vários professores a apoiarem-se uns aos outros ao mesmo tempo é cá uma fanfarra se todos os sons. Como se pode acompanhar adolescentes em crise de crescimento e de aprendizagem sem condições de espaço? No fim de um dia de trabalho lectivo deixar livros e chatices numa sexta-feira para depois voltar à segunda-feira desanuviado é que era bom. Preparar nas escolas as aulas e os testes. Fazer montagens e escolher slides tudo na escola e no horário do docente é óptimo. É serviço que tem de ser feito. Os testes formativos têm de ser corrigidos nas escolas. Os funcionários das Finanças não recebem determinadas declarações e não as completam nos seus balcões? Cheira-me que vem aí o ensino privado no bom estilo americano. A Ministra quer fazer política de terra queimada com este ensino. Só pode! Quanto à valiação dos professores pelos encarregados de educação. Se eu tinha dúvidas, já as dissipei. Na América do Norte quem manda nas escolas e nos professores são as ligas da moral lideradas por uns couros que andam sempre com a Bíblia na mão. Esses couros levam a tribunal os professores que ensinem a evolução das espécies de Darwin. Isto (Portugal) é um país fundamentalista cristão. Que é o mesmo que dizer de cínicos. "O senhor professor não pode ser bem avaliado porque sendo um homem casado estava agarrado a uma brasileira na Praia do Pópulo." Eu podia explicar à senhora Ministra como é que são construídos os diálogos numa aula com alunos de vários estádios etários. De como se deve questionar um aluno com dificuldades de intervenção e de aprendizagem e fazê-lo crescer sem individualizar e sem prejudicar a bilateralidade que caracteriza a postura do professor. Isto é integrá-lo com os outros e sem os prejudicar mantendo o ritmo da aula planificada com antecedência. De como se introduz um tema utilizando a gradação de exigências nas perguntas, partindo de niveis cognitivos até de autognose se for caso disso. Não faça como alguns que julgavam que se podia dar uma aula com o cu sempre sentado na secretária onde o estrado coloca o mestre como um magistrado judicial e com um discurso unilateral tão ao gosto de Estados confessionais. Isto é, dar aulas lendo a sebenta e pondo os alunos a escreverem as notas como se de um ditado tratasse. É bom para descansar...
Manuel Melo Bento
Sexta-feira
02/05/2006
Contributos para conceito de "CIVILIZAÇÃO AÇORIANA":
WALDEMAR DE LIMA OLIVEIRA, JOÃO DE BRITO ZEFERINO, ROGÉRIO OLIVEIRA, GUILHERME ÁLVARES CABRAL, DINIS L. BORGES, GRAÇA CASTANHO, ANTÓNIO VALENTE, etc. (Cont.)

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