Wednesday, June 21, 2006

 

CONFINS DO HÍFEN (Continuação do dia 20)


II PARTE

Felizmente que os conhecimentos medievais que intelectualizaram impressões dos sentidos e que permaneceram como base a raciocínios posteriores estão pouco a pouco a encontrar dificuldade para se imporem como fiáveis. As dificuldades debatem-se com as elites e não com a mole humana. A mole humana, mercê de os seus corpos serem constituídos na base de modelos de equilíbrio, encontram no imaginário um suporte para as necessidades criadas pelo cérebro. Este é constituído por áreas muito complexas que a pouco e pouco se referenciam especificamente. Uma comunidade humana equilibra-se e molda-se a objectivos de sobrevivência com evidentes comportamentos de sujeição. As comunidades exigem ser comandadas e exigem-se obedientes também. Elas pensam em uníssono. O caos desorienta-as. É por isso que os cérebros (em colectivo) se adaptam (ao comando e à obediencia) para não serem dissolvidos, o que é contrário à sua natureza. Certas áreas do cérebros adaptam-se às circunstâncias automaticamente. O cérebro é um adaptador por excelência. O Contacto com o exterior é realizado nestes moldes. Quem, se não ele, dirige os sentidos para que a estadia do corpo (temporária) alcance os objectivos programados: a sobrevivência qualitativa? A religião faz parte da sobrevivência qualitativa. Ela traz um bem estar aos corpos e seus mecanismos. Apesar de a religião apresentar generalizações mitológicas não deixa de ser útil. Essas generalizações são auto-reguladoras. Satisfazem! A liberdade não é um conceito universal. O homem não sabe lidar com ela. Não se constitui em liberdade. A liberdade é um discurso de elites. Nada no homem é livre. Nem o seu cérebro nem o seu corpo são para a liberdade. A vida ou alma, como se queira chamar, apresenta uma acção: fazer crescer o corpo que a acolhe. Esse corpo tem os seus objectivos. A vida não tem objectivos para além do que se lhe aponta: permanecer condicionalmente. Ela salta do corpo quando este se esgota e corrompe. A vida não tem o objectivo absoluto da permanência. O corpo sim. É vê-lo regenerar-se até mais não poder, numa luta terrível para ser sempre corpo. A vida activa-o. O corpo é o seu maestro. A vida é o bom parasita que o corpo alberga para em contrapartida poder actuar. Quem actua é o corpo e os seus mecanismos. Quem o dirige? O próprio corpo! O corpo é que pensa, a vida não o faz. O cérebro cria as condições necessárias para que a vida nele permaneça o maior período de tempo possível. Isto é o co-sentido da vida. A vida é-o no corpo. Todos os seres com corpo têm um sentido. Um peixe possui um sentido de via aquático. Terá a vida um sentido aquático? Não! O corpo do peixe sim. O que se distingue nos peixes e nos homens? A vida? O corpo? Só pode ser o corpo! Seria anedótico dizer-se vidas distintas sem corpos e cérebros distintos. Repare-se que mesmo no imaginário mitológico os deuses e/ou o deus-homem não dispensam o corpo. E mesmo aqueles que se dizem imateriais ou são “acusados” de imaterialidade procedem como dependentes dos corpos. Os deuses consertam corpos e concertam almas. Os corpos receitam mezinhas comportamentais. Quanto às almas? Amar o próximo como a si mesmo? - do Universismo chinês, copiado quinhentos anos depois pelo judeu que deu origem ao judaísmo-cristão. Como se pode amar o próximo sem comportamento corporal? Como se pode amar Deus sem obrigar o corpo a ceder às suas exigências? O corpo fornece muitos mais dados objectivos do que a vida. Quem dá a informação quando o corpo fica sem vida? Quem passa frio, fome, esgotamento, etc? Quem tem sede de justiça ou de amor? Que justiça ou que amor não passa pela dimensão do corpo? Que é isso de justiça divina que não julgue os actos do corpo? Que é isso de cobiça que não esteja ligada aos ditames do corpo? Que é isso de crimes mentais que não digam respeito às diabruras do corpo? Eu posso desejar ser Deus porque ele tem tudo. Tudo o quê? Paz de espírito é quando o corpo está satisfeito. Satisfeito porque não mais está incomodado. Ter saudade de uma outra alma humana o que será? Se ela perder as suas características corporais nunca suscitará saudades! É como amar um Deus sem corpo. E quem diz corpo diz fala, pensamento, e outros atributos humanos que o corpo materializa. Um deus sem nada de compreensível será uma chatice de um enigma a todo o transe. Não estamos à altura de compreender a divindade que criámos ao sabor das intenções do no nosso corpo de apetências feito...
(Continua amanhã dia 22)

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