Wednesday, June 14, 2006

 

FILOFLA II CAPÍTULO

Posted by Picasa II CAPÍTULO
(No Royal, de manhã bem cedo, SIMPATIZANTES tomam o pequeno-almoço. Chega o SEGUNDO FILOFLA.)
SEGUNDO FILOFLA
Ai que bom! Ai que bom ter sido o primeiro a chegar!
UM SIMPATIZANTE
Temos novidades!
SEGUNDO FILOFLA
Oh que bom! Oh que bom! Nunca em doze Luas me realizei tanto!
CORO DE SIMPATIZANTES
Sacia esta enorme sede de sabedoria!
SEGUNDO FILOFLA
O assunto é secreto, mas é demasiado belo! Sufoco de tanto êxtase. Não me chamem depravado, o que desejo é preluzir na póstera narração que proponho proferir. Tal a pressa em chegar que nem fui ao semicúpio da minha "toilette" matutina.
CORO DE SIMPATIZANTES
Tantas foram as vezes de contemplação porque passámos, mas nunca houve como hoje tanta curiosidade. Aqui neste lugar hierático nunca faltaram exegetas para nos deliciar. Aqui passámos a pente fino as vidas e as ideologias dos nossos amigos e inimigos. aqui defendemos de língua em punho as mais acérrimas e ignominiosas diatribes dos nossos políticos. Aqui combinámos o tratamento a dar aos traidores. Aqui nomeámos chefes e aqui os destituímos . E, aqui, reunidos, nesta assembleia permanente, te pedimos o relato da actuação dos que fizeram história. Conta-nos, pois, o que puderes que a nossa imaginação fará o resto.
SEGUNDO FILOFLA
O momento é solene. O destino quis depositar nas minhas mãos a grande responsabilidade histórica de ser o primeiro a fazer esta célebre e secreta comunicação. Exijo, pois, o cumprimento do mais rigoroso sigilo.
UM SIMPATIZANTE
Não é a primeira vez que temos entre nós segredos que abordam o destino dos Açores. Podes, pois, contar com a nossa discrição.
SEGUNDO FILOFLA
Tem havido fugas de informação do "dossier" das operações secretas. O estrangeiro está a par de grande parte dos nossos planos. Temos de usar de máxima cautela.
CORO DE SIMPATIZANTES
Garantidíssimo! Ninguém daqui ejaculará o que não pode ser apanhado pelo estrangeiro inimigo.
SEGUNDO FILOFLA
Com estas garantias, nada me impede de vos dizer que ontem à noite, numa reunião ultra secreta, em casa de um companheiro de luta incondicional, foram aprovados os Estatutos que nos levarão à independência.
CORO DE SIMPATIZANTES
Quem é esse companheiro?
SEGUNDO FILOFLA
Por enquanto é segredo. O próprio não se quer dar a conhecer a fim de baralhar o inimigo. Apenas vos posso informar que escreve editoriais e que foi preso no "6 de Junho", por engano.
CORO DE SIMPATIZANTES
Mais pistas! Mais pistas!
SEGUNDO FILOFLA
Só mais esta: perdeu um grande tacho.
CORO DE SIMPATIZANTES
Mas, não tem ele as empresas e o jornal?
SEGUNDO FILOFLA
Ninharias!
UM SIMPATIZANTE
O jornalismo é a quinta coluna do poder. É a banca privada da classe dominante.
SEGUNDO FILOFLA
O capital não tem pátria.
CORO DE SIMPATIZANTES
Quem é que é amigo de Eanes?
Quem é que é íntimo de Bosco?
Quem é que abraça em segredo José?
SEGUNDO FILOFLA
(Cantando)
É ele!
CORO DE SIMPATIZANTES
Não estranhemos a sua polivalência política. À Filofla o que é dos Filoflas!
UM SIMPATIZANTE
Com essa polivalência toda, como é possível ele não pertencer ao Movimento?
SEGUNDO FILOFLA
O Movimento é muito rigoroso na admissão de sócios. (Estala a língua)
CORO DE SIMPATIZANTES
Racionalizemos!
SEGUNDO FILOFLA
Virgem na razão sois. Acautelai a vossa mente.
CORO DE SIMPATIZANTES
Acabe-se com o temor a essa personagem. Às suas folhas contraporemos "O Milhafre". (22)
UM SIMPATIZANTE
"Pelo Cão" (23) , voltemos aos estatutos da independência!
SEGUNDO FILOFLA
Valha-me "Febo" (24) inquilino do Rei de Feras. Razão tendes companheiro em quereres retomar o discurso anunciador.
(Entra o Estrangeiro)
SEGUNDO FILOFLA
(Olhando o Estrangeiro desconfiado)
Tomemos o nosso café. O imperialismo impera onde menos se espera.
CORO DE SIMPcoATIZANTES
Falemos baixo...
ESTRANGEIRO
(Pedindo lume a um dos Simpatizantes)
Sempre gostei dos Açores. São tão lindos. Nada lhes falta.
CORO DOS SIMPATIZANTES
É dos nossos! Sente-se aqui connosco.
ESTRANGEIRO
(Senta-se entre os Simpatizantes)
Se eu fosse açoriano era da Filofla.
CORO DE SIMPATIZANTES
Os nossos inimigos só querem fazer greves; exigem aumentos de vencimento; oito horas de trabalho por dia; garantias na doença; lares para a terceira idade; terra para quem a trabalhe; creches para os filhos dos trabalhadores; denúncia na fuga de capitais para a América.
ESTRANGEIRO
Que corja de bandidos!
CORO DE SIMPATIZANTES
É dos nossos! É dos nossos!
(Entra Gualberto Cabral, um dos presos do "6 de Junho". (25)
GUALBERTO CABRAL
Viva a Santa Madre Igreja! Viva o Rei!
SEGUNDO FILOFLA
(A quem já mais ninguém presta atenção)
E eu? Deixem-me ao menos acabar o relato dos acontecimentos históricos e secretos de que sou o único conhecedor.
CORO DE SIMPATIZANTES
Tem paciência! Atendamos a opinião deste nosso amigo Estrangeiro.
ESTRANGEIRO
Acho a Filofla a maior responsável pelo malogro da implantação do comunismo em Portugal. A Filofla fez tremer de medo o Antunes (26) impedindo-o de vir aos Açores receber uma herança. O próprio Eanes (27) foi obrigado a puxar do revólver pela última vez em campanha colonialista, no lado Norte da Ilha. Tudo isto vocês fizeram demonstrando um arrojo inaudito. Que grande epopeia insular.
TODOS EM CORO
Somos heróis! Somos os maiores!
GUALBERTO CABRAL
E se o Suiças de Alcains disparasse?
(Neste momento entra João Grande. (28) Olha para o Estrangeiro e sai.)
SEGUNDO FILOFLA
(Enraivecido, fala muito alto.)
Numa reunião secreta em que estiveram José de Almeida e João Bosco, foram aprovados os Estatutos da Filofla. Foram preconizadas operações militares que implicam a prisão dos chefes militares estrangeiros.
(Os Simpatizantes saem discutindo sobre os últimos resultados do futebol continental.)
ESTRANGEIRO
(Dirigindo-se ao Segundo Filofla que continua irritadíssimo.)
Sabe dizer-me quem são os responsáveis pela elaboração do documento?
SEGUNDO FILOFLA
(Habituado a viajar cavalgando as palavras da sua própria imaginação.)
Eu ditei para o Bosco escrever.
ESTRANGEIRO
Então, o amigo é uma pessoa importante! Será um cacique local?
SEGUNDO FILOFLA
Claro, sem mim não sei o que seria! Eu, com as minhas relações, é que tenho aguentado isto tudo.
ESTRANGEIRO
E para quando é que pensa ordenar as prisões?
SEGUNDO FILOFLA
(Repetindo o que ouvira da boca de um dos chefes da Filofla que estaria com os copos.)
Apenas aguardo algumas provovações a fim de elevar o moral das tropas nacionalistas. Sem isso, não convém avançar.
(O Segundo Filofla sai. Espera-o uma homilia bastante politizada. São os tempos da mudança que a todos afecta.)
ESTRANGEIRO
(Puxa de um bloco e escreve. Depois chama o empregado de mesa.)
Empregado, quanto devo?
EMPREGADO
Senhor subchefe, a sua despesa está paga!
(O subchefe sai com um largo sorriso...)
(Continua)
mmb
14/6/06

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