Saturday, June 17, 2006

 

A PALAVRA DO SENHOR É O PRESERVATIVO DO PECADO - INCLUI A CONCLUSÃO DO TEXTO NESTA COLUNA


A PALAVRA DO SENHOR...
DIÁLOGOS EM BAÚ - ( JÁ CONTÉM A SEGUNDA PARTE)
I
- Qual é a relação entre um orgasmo e Deus?
-Não sei! E também não quero responder!
-Então, respondes ou faço-te uma prelecção sobre a o assunto?
-Puxa! Espera lá que eu já respondo. Eu acho que nenhuma!
-Diz-me cá uma coisa. Deus é um sentir gostoso ou nada que se lhe pareça?
-É um sentir gostoso que é diferente de fazer sexo.
- Fazer sexo é gostoso?
-É gostoso, mas como digo é diferente.
-O que é que é mais gostoso para ti: ter um orgasmo ou pensar no Senhor Deus?
-Já disse que cada um tem o seu plano!
-Esse plano que cada um possui pertence ao que atrai ou ao que rejeita?
-Ao que atrai!
-Pelo menos já descobrimos uma relação: ambos atraem, o que é contrário ao que de início afirmaste.
- É uma relação muito ténue.
-Diz-me cá uma coisa. Estar com Deus ou ver Deus o que será? Podes explicar?
-Eu nunca estive com Deus e também nunca o vi. Portanto, como queres que te explique?
-Mas já ouviste falar com quem Deus falou? Acreditas?
-Sim, acredito!
-Uma vez que acreditas, o que é que achas que eles sentem?
-Um prazer imenso! Só pode ser isso!
-Um prazer sexual?
-Disparate!
-Diz-me o que é um orgasmo?
-É um prazer.
-Será imenso?
-Claro!
-Parece-me que posso dizer que tanto Deus como o orgasmo dão um prazer imenso?
-Deus é muito mais do que isso!
-Que será, então?
-Deus é um prazer imenso, mas espiritual.
-E o orgasmo?
-O orgasmo é um imenso prazer, mas é pertença da área do sensível.
-Na área do sensível? Poder-se-á dizer visível? O esperma é um sinal visível?
-Claro, é um sinal visível!
-Esse sinal representa que alguém obteve prazer sensível imenso ou o esperma é em si mesmo prazer imenso?
-É um sinal que representa e acompanha o dito prazer. Não é em si mesmo o prazer.
-Simplificando. O sujeito obtém o remanescente. O sujeito é uma coisa e o remanescente é outra. O sujeito fica, portanto, à mercê do prazer. E o prazer nem sempre está presente, pelo menos no que diz respeito ao prazer sexual.
-O sujeito pode provocar o prazer ao passo que o prazer imenso de Deus nem sempre é possível provocá-lo.
-Como é, não está sempre presente?
-Sim, mas isso é diferente de ver Deus. Uma coisa é no campo do entendimento nós percebermos que ele está sempre presente, outra é ele dar-nos aquele prazer imenso de estarmos com ele sentindo-O.
-Diz-me o que é preciso para atingir o orgasmo?
-Fazer sexo nem que seja mentalmente.
-E o que é preciso para atingir Deus?
-Orar! Orar muito!
-Orar pertence à área do prazer ou do sacríficio?
-Sacrifício! Porém, às vezes, há quem se deleite com o sacrifício da oração.
-Entre fazer sexo e atingir o orgasmo, qual será deles melhor em termos de prazer?
-O orgasmo! Porém, há quNegritoem com treino tire muito prazer em fazer sexo até ao limite do orgasmo. É uma questão de educar para.
-Se nos educarmos na direcção de Deus, não será possível amá-lo e temê-lo?
-Sim, ensinam-nos isso.
-Quanto ao orgasmo será possível temê-lo?
-Acho que não. A não ser na área da patologia. Mas mesmo assim, quando o sujeito o obtém, isso é prazer. E interpretá-lo como um sacrifício é também uma questão de educar para.
-Daqui a pouco dirás que educar para é o conveniente para aceitarmos determinadas asserções como verdadeiras.
-Creio que educar para pode, em certa medida, tornar-se nisso.
II
- Na história da atracção dos sexos existe um momento de observação. Observação esta que às tantas se sujeita a ser confundida com a contemplaçao propriamente dita.
- E há muito boa gente que permanece por muito tempo na contemplação.
- Às vezes não passa disso. Por que será? Tens alguma ideia sobre o assunto?
- O objecto da contemplação passa ao plano do sagrado.
-Suponhamos que vias a mãe de Cristo despida. Dizem que ela era muito bonita – a estatuária mostra-o – Como reagias?
-Diacho!
- Não fui eu que dei corpo físico à mãe de Cristo. Logo, não blasfemo. O mesmo poderia dizer da Madre Teresa ou da tia do Buda. A Senhora, de certo, lavava as partes genitais. De outro modo ficaria infectada e infectaria o pobre carpinteiro. Lavadinha e nua, como a olharias?
- Não olharia!
- Não olharias o quê?
- A Mãe de Cristo nua!
- É isso! Pelo menos já admites que uma vez posta a questão da sua nudez tu nunca olharias o seu traseiro desnudado. É de respeitar! Uma coisa tão da natureza foi por ti relegada à sacralização doentia. Acontece a todos os que o sagrado cega.
- É uma coisa de respeito!
- A natureza é de respeitar?
- E por que não?
- A nudez dos corpos será uma coisa natural ou artificial?
- Lá está este! O que tu fazes é desrespeitar o sagrado.
- Longe disso! O que eu pretendo é descobrir o sagrado. E descobri-lo em quem se diz possuí-lo e compreendê-lo, como é o teu caso.
- Assim fui criado e educado. Assim permanecerei!
- Muito bem! O facto de guardares só para ti a forma do sagrado não será um acto egoísta?
- Como assim?
- A quem não entende o sagrado com facilidade como tu o vês, como será possível encontrá-lo?
- Nem a todos a inspiração divina toca!
- Permanecerei nas trevas?
-Se assim continuares.
- Indica-me o caminho!
- Crê!
- Para crer tenho de compreender. Não sou cretino! Voltemos ao início da questão que nos levou ao diálogo. A Mãe de Cristo sentiu prazer ao ser fecundada pelo Jeová?
- Claro que não! O prazer é coisa da natureza. O que aconteceu foi um fenómeno na área do sobrenatural. Percebes?
- Ela estava, então, destinada ao sofrimento e não ao prazer.
-Foi a escolha de Deus.
- Está portanto, na mão de Deus permitir o orgasmo e o consequente prazer que este arrasta. Por esta ordem de ideias Deus e o orgasmo são coisas diferentes. Deus oferece o prazer do orgasmo como presente já que é uma coisa muito saborosa.
-E não podemos confundi-los uma vez que os distinguiste como sendo um o criador e o outro a coisa criada.
- Retirar-te a possibilidade de teres orgasmo é para ti uma coisa boa ou má?
- É uma punição!
- A Mãe de Cristo foi punida?
- Lá está este! Ela cumpria uma profecia. Estava destinada.
- Teve ela opção de escolha? Se lhe perguntassem se ela quereria o destino que para ela foi escolhido, que é que achas que ela responderia?
- É uma graça muito grande ser escolhida para ser mãe de Deus.
-E aceitá-lo, não será o máximo da arrogância?
- Ser escolhida para ser a mãe de Deus tornado num acto arrogante? Aquilo foi um acto de verdadeira humildade.
- Assim o crês, assim o entenderei da tua parte. Porém, responde-me a mais esta questão. O orgasmo é uma propriedade exclusiva da heterossexualidade?
- Pelo que sei, li e ouvi acho que não.
- O prazer que o orgasmo propícia é, então, para todos. Ainda bem! Todavia alguns ficam privados de o atingir quer por opção do sagrado quer por incapacidade física ou psíquica. Estás de acordo?
- Deve ser.
-Vejamos o seguinte: e se a Mãe de Cristo não fosse heterossexual?
- Que disparate! Ela é um ser perfeito.
-Os homossexuais também são seres perfeitos. A ela de nada lhe serviu ser heterossexual, uma vez que ficou impedida de ter espasmos orgásticos ao ser inseminada pelo poderoso Jeová. Pronto. Aceitemos que ela era hetero, embora nada nos confirme tal tendência. Por que não pariu ela um ser feminino?
- Estava tudo destinado nas escrituras.
- Estava destinado a ser homem. E, muito naturalmente, para servir a causa do deus Jeová. Jeová não permitiu que se pusesse nada na boca das mulheres por alguma razão. A Mãe de Cristo nada disse de relevante para a posteridade. Esquisito... Deus não podia ser mulher. Era para ela muito perigoso andar pelo deserto sozinha. Podia ser violada. Ficava feio para um deus de respeito ver a filha ser comida em cima das areias escaldantes. Ele gostava delas tenrinhas e casadas sem terem ainda freudado com ninguém. Não foi buscar um coiro qualquer para lhe redimir os pecados tabelados. Não senhor! O que ele proíbe aos seus, fá-lo sem remorsos: não cobiçar a mulher do próximo. Ele não só não se satisfaz em fazer-lhe um filho, como obriga o pobre carpinteiro a registá-lo no Templo com o seu apelido. Um apelido nobre, pois, descendia de um outro grande putanheiro que foi rei e herói. O Rei David! Facilitaria muito a vida aos seus se o fizesse no modelo de Adão. Colocava-o depois à porta do Templo. Era mais económico e não chateava ninguém. O deus pai de Cristo parece um tarado sexual. Condena o sexo porque sabe que é impossível conter indefinidamente os impulsos sexuais aos desgraçados a quem lhes colocou aparelhagem eficientíssima para estarem cheios de tesão durante grande parte do dia e da noite. Ei-los, os filhos do Criador, munidos com falos e vaginas sedentos uns dos outros, porém impedidos de se saciarem. Por um lado quer que os filhos cresçam e se multipliquem e por outro quem o não fizer, mantendo-se casto, também é premiado. Impotente para as tendências carnais é por sua vez possuidor de um ciúme doentio. Ciúme que alimenta como motor de arranque para as suas apetências divinas. Não contente com o deserto saltou para a Europa mais refinado e mais assassino do que nunca. Envolve-se constantemente em guerras. Tira partido por uns em desfavor de outros. Aceita deuses menores desde que estes estejam ao seu serviço. Cria jogos de pensamentos irracionais e escolhe matilhas de lacaios para deduzirem da sua coerência. Está sempre do lado do mais forte, embora diga o contrário. E com aquela lata, fez-se compreender pelas grandes massas. Fez-se, também, respeitado mesmo com farda de campanha. Nas ditaduras, protege-se amando e mandando amar as abstracções que não servem senão para o altar dos compromissos. Dá-se ao luxo de mandar recados que são aceites por milhões de descendentes do seu laboratório celestial. E pior do que tudo, faz-se pagar e bem em moeda sonante ou outros bens transmigrantes. Amealha para o futuro em lugar secreto , porque sabe o que o espera quando as bestas acordarem e depararem com ele repimpado a transvorar o pão e o vinho que transforma em morcela e outras iguarias quando lhe convém. Rodeia-se de reis e rainhas a quem abençoa nos salões do deboche. Ao resto da manada envia embaixadores de meia tigela que escolhe entre a ralé e indigentes para melhor se fazer compreender , pois são eles os tradutores mais credenciados da sua palavra. Só fazendo de parvo é que eu o compreendo. E, ele, o Senhor das nossas mentes e corpos está aí à espreita para poder recuperar o que foi perdendo enquanto embebido e escondido nas coxas daquelas que seduziu pela palavra: A palavra do Senhor!
- A palavra do Senhor é o preservativo do pecado!
(Continua amanhã)
DIÁLOGOS EM BAÚ
(Conclusão) 18 de Junho

SEGUNDA PARTE

DIZERES
Num tabuleiro colocam-se duas bolas. Uma delas tem uma temperatura muito baixa. A outra está quente. A primeira está na posição A e a quente na posição B. Pede-se a uma pessoa que tem os olhos vendados e que desconhece o que se passa para apalpar as bolas no tabuleiro. Em seguida, troca-se a posição das bolas e torna-se a pedir à pessoa que repita o gesto de as apalpar. Ao solicitar à pessoa para relatar o sucedido , ela dirá que houve uma troca de posições das bolas. Por que razão não diz que no primeiro acto havia uma bola quente na posição B e outra, a bola fria, na posição A? E que no segundo acto estava a bola quente na posição A e a bola fria na posição B? Na realidade o que temos são dois casos isolados. Ou o conceito de troca é filho de sensibilidades ou é uma essência misteriosa impossível à razão humana caracterizá-la? As essências nunca estão isoladas a não ser quando nada representam. E quando nada representam não são caracterizáveis. Se a ideia de troca não fosse filha do que materialmente se pode trocar onde poderia ser aplicada? O imaterial não tem existência fora do material . Aquilo que denominamos de imaterial tem um cordão umbilical impossível de cortar, mesmo que esse cordão nos pareça invisível. Quase invisível... Sugere-se que se realce a seguinte questão: quando se isola o percurso de uma informação para o cérebro, isola-se o que é matéria ou o que é imaterial (espiritual-gíria linguística)? Nos neurónios circula informação. Em que sentido? Os neurónios que recolhem informação como se ligam às zonas do entendimento? Uma resposta pode ser aqui ser inventada. Os olhos estão nos objectos porque possuem a mesma matéria deles. Se não fosse assim como os poderiam identificar? No olfacto, como poderia ser possível cheirar (percebendo) um certo tipo de odor se este já não pertencesse (contido) naquele numa percentagem de eficiência? Não estaríamos a platonizar uma determinada ideia de cheiro isolada da realidade ? Nunca poderia ser compreendida uma cor se ela estivesse “detida” no órgão de visão! A vista nunca perceberia (para a reenviar) uma cor se esta já não estivesse composta na sua estrutura. O cérebro compreende as coisas porque as coisas são como ele. De outro modo estaríamos a crer em saltos no escuro da incompreensão. Toda a estrutura do cérebro está conforme a estrutura da natureza. O entendimento não reflecte o entendimento. O entendimento estende-se por caminhos que entende e se identifica. O pensamento que acompanha o entendimento é o pensamento do entendimento. Não volta para trás para ser entendido. O pensamento estende-se. O estender-se é identificação. Nesta condição, percorrendo a via do entendimento próprio é que as coisas são. Como pode o pensamento, princípio de identidade, enganar-se? Não existe engano para o pensamento. O que existe é a verdade angular, pertença de cada aparelho e da sua capacidade de intensificar o que possui de cada um dos factos. Os humanos respondem pelo seu campo angular. É deste que surgem opções que se entendem com o abstracto, assim como outras opções o rejeitam. Ideias e sensações baseiam-se na identidade de cada estrutura pessoal respeitando sempre os componentes que se arregimentam ao longo de uma prática de vivida e conseguida. A troca das bolas referidas no começo deste texto pertence a um composto de natureza física. Por essa razão o que se representa dela (troca) é de ordem física. De outro modo não saberíamos do que falávamos. Estaríamos a falar de “abstracção vazia”. Como se poderia fazer apelo a um conceito e sobretudo procurá-lo se fosse uma coisa vazia? Procurar um vazio? Será possível? Quem julga que a abstracção é vazia (ideia) tem de justificar o exercício de busca sem materializá-la. As ideias têm recheio. Quando se sente o frio, o percurso da informação circula não no abstracto mas no mundo físico: no mundo do cérebro. Não sai dele. E se saísse depois de ter entrado para onde se dirigiria? Este circuito é um circuito material. Se fica armazenado nunca seria no campo do abstracto. Isso seria um absurdo. Teria de saltar. Teria de se identificar-se com o abstracto. Onde circula o pensamento que informa sensibilidades? Onde circula o pensamento que transporta abstracções (ideias ditas imateriais)? Circulam no mesmo canal? Se isso não fosse assim teríamos de nos confrontar com dois canais específicos. Um levava a sensação de frio e outro a ideia de frio. Uma ideia de frio sem frio? Uma ideia obediente que mesmo imarerial não saía dos carris ou ficaria fechada no circuito material onde não houvesse buraquinhos para se pode escapar... Aqueles que se sentem bem no mundo da abstracção que se deleitem com ela. Os que por razões de ordem diversa não as concebem que se divirtam. Sobretudo com os orgasmos que até fazem estremecer os corpos. Precisamos de deuses que nos satisfaçam tanto na abstracção como no físico. Esses é que nos são queridos! A esses vale a pena amar. Mas, cuidado, estejamos atentos às suas taradices, perdão aos seus condicionalismos...
Manuel Melo Bento

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