Monday, July 24, 2006

 

III CAPÍTULO - IMAGINARISTA

O IMAGINARISTA – CONTINUAÇÂO DO DIA 23 DE JULHO DE 2006

VARETT
O que é que te leva a não separar as coisas? Não vês que os sentidos estão mais ligados às coisas com que esbarramos no dia a dia enquanto que a racionalidade sobre elas é algo muito diferente? Não vês que a razão e o pensamento as trabalham numa outra dimensão?
MANDALA
Quando não percebemos as coisas, julgamos que a análise nos ajuda a percebê-las.
V
A análise não ajuda a perceber melhor?
M
Pode ajudar a compreender, mas nada confirma a verdade e os princípios que a regem.
V
Não são os sentidos que constroem a linguagem, os símbolos, etc?
M
Se os não separarmos numa primeira fase, talvez melhor compreenderemos o que nos rodeia. Se eu der uma ordem às minhas pernas para saltarem, que tipo de ordem é essa? Isto é, é ela do tipo material ou imaterial?
V
Não percebo!
M
Já te explico. Quando eu faço uma travagem num carro com sistema hidráulico nos travões, basta que eu coloque o pé no pedal para que se gere uma comunicação que termina na acção mecânica de travagem. Apresenta-se uma causa física com efeito físico.
V
A ordem para travagem é outra coisa!
M
Claro! A ordem passa a causa quando como seu efeito eu pressiono o pedal do travão. Parece que tudo o que nos rodeia obedece a causa e efeito.
V
Que grande descoberta!
M
É só para não te esqueceres que com isso eu quero dizer que tudo está ligado. E, aquilo que nós queremos separar, ligado está. É bom quando analisamos, mas também é bom respeitar o conjunto. Eu, para analisar uma pessoa viva, não preciso de lhe separar o coração ou o fígado porque isso a mataria. Porém, eu ligo o seu coração ao cérebro e a tudo o mais. Assim, como o cérebro está ligado a todo o corpo, assim o pedal do travão está ligado aos discos de travagem. Não esqueças que o sistema de travagem não está isolado da carruagem. Eles estão interligados e servem-se uns aos outros.
V
Isso mesmo assim não impede que se isole o sistema dos travões tornando-o independente.
M
Para peça de museu. Para peça de laboratório. Que é um sistema de travões isolado? Para que serve? Creio que para nada. Quem poderá falar de um aborto num frasco de álcool sem fazer as respectivas conotações? Percebes a ideia?
V
Percebo aonde me queres levar. Mas fico sempre de pé atrás.
M
Ainda bem! Pois aguça-me o corpo todo. Ah! Ah!
V
Parece que pensas com os pés?
M
Quase que acertas.
V
Como?
M
Experimenta pensares ao mesmo tempo em que te pregam pregos nos dedos dos pés com um maço de madeira.
V
Ninguém pode dialogar contigo. Que grande salto!
M
Eu dou saltos dentro do mesmo terreno. É preciso que entendas isso. Senão estaremos aqui às voltas e nada avançamos.
V
Eu raciocínio baseado em princípios, em conceitos, com ideias, etc. É com o raciocínio que tiro conclusões. Não é com os dedos dos pés!
M
Também gostas de dar saltos. Quando estiveres a afogar-te o que te ocorre fazer? Raciocinares à Euclides que dizia que duas coisas iguais a uma terceira são iguais entre si ou fazeres apelo a uma bóia?
V
A uma bóia! Há tempo para tudo. Cada coisa no seu lugar.
M
Evidente! Adaptas o raciocínio a uma outra situação. Tão simples quanto isso. Se tiveres uma bóia por perto diriges-te para ela. Se estiveres a afogar-te fazes apelo ao sentido de flutuar.
V
Sentido de flutuar?
M
Os sentidos são às centenas. É só escolheres.
V
Essa é muito boa!
M
A tua visão é composta por dois globos oculares. Como é que achas que eles funcionam sem disfunção? Naturalmente que possuis um sentido que coordena a acção dos dois olhos. Caso contrário tinhas de ser possuidor de um aparelho interno que os regulasse, parecido com os instrumentos que orientam a luz dos automóveis.
V
Olha que estás a separar e não é isso que dizes pretender.
M
Faço a separação como ginástica mental mas não desligo nada em definitivo. Não tenho essa pretensão. Corria o risco de olhar o singular e ficar a pensá-lo como tal. O que dificultaria apreender a sua utilidade no conjunto. O mesmo erro fazem os que querem explicar aquilo que isolam esquecendo-se da importância das partes que lhes estão ligadas.
V
Deus?
M
Por exemplo! Pois, torna-se difícil explicá-lo isolado. Fica-se com um sistema de travões sem viatura para aplicá-lo. E que explicação terá um sistema de travões sem viatura, em si e isolado?
V
Desconheces as características de Deus?
M
Claro, como podes conhecê-las fora do contexto do Universo? Tudo o que disseres dele é um composto das coisas que estão nele (Universo).
V
Admites a sua existência?

(Continua amanhã, dia 25 de Julho de 2006)

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