Sunday, July 09, 2006

 

SOBRE MIM II PARTE

SOBRE MIM II

(Quando reli o diálogo SOBRE MIM II, após umas semanas de pousio deste, debaixo da cama, meu, desde sempre, provisório escritório, nem queria acreditar. Estava ali pespegado um chorrilho de asneiras-mor saído à pressa pelo cano de esgoto que eu às vezes utilizo para sair de mim. Eu sou um irresponsável, porque não faço releituras conscientes do que escrevo. É que julgo que o que sai de rompante é que é o que é puro. Nada mais incorrecto! Estou a frequentar a escola para adultos (20 de Março de 2006) e analfabetos do século XXI, porque a minha velha máquina de escrever pifou e não consegui outra para a substituir. Já não as vendem como antigamente. Arranjei um computador e um professor ( de 16 anos) e cá vou indo... cantando e rindo da minha coeva-gerontológica-aptidão para martelar os “skills” cada vez mais difíceis de treinar. E não é que o computador é também ele mesmo um grande mestre espiritual... a verdade é que não sei o que vai sair daqui, pois, esta não será mais do que uma das muitas revisões que este pretensioso texto há-de pedir. Oxalá não saia pior a emenda que o soneto. O que às vezes bate certo. Comecemos, então, o diálogo recauchutado.)
MANDALA
Será que o pensamento, a ideia, o conceito podem crescer como acontece a quase tudo que nos rodeia?
VARETT
Que pergunta mais disparatada! O Sol não cresce, assim como a Lua, as pedras, etc. E, certamente, os conceitos também não.
M
Eu vejo crescer as árvores, os animais, a dor, o desejo, a alegria. E também vejo a crescer os montes, o Sol, a Lua. Tudo cresce.
V
Que as árvores e os animais cresçam, estou de acordo. Agora, quanto ao resto, não passa de uma maluquice de todo o tamanho.
M
O que eu quero dizer é que o Sol cresce para mim porque quanto mais eu souber acerca dele mais a ideia que dele tenho aumenta.
V
Será por isso que dizes que o pensamento cresce? Penso que o Sol e logo a ideia que dele faço aumenta a partir do momento em que lhe atribuo um dado novo de conhecimento. O Sol aumenta como se de uma pastilha elástica se tratasse. Será esta a tua ideia? Essa é muito boa!
M
Já reparaste que às vezes te surge um pensamento tão rapidamente que até sentes dificuldade em o recordar com nitidez. E que esse mesmo pensamento te pode aparecer mais tarde, numa outra extensão.
V
Estás a confundir as coisas! O pensamento de uma coisa – neste caso específico – não cresce. O que tu vês são acidentes que juntas a esse ser (ideia). O facto de uma ideia surgir com rapidez imediata e desaparecer logo em seguida para mais tarde ressurgir com maior nitidez não implica crescimento mas sim que alguma coisa propiciou um salto na normal busca de dados no cérebro.
M
Se eu trabalhar a ideia como uma essência ao estilo da lógica idealista como algo único, aceito que quando lhe acrescento um dado adquirido de novo, esse acrescento seja considerado um acidente. Só que eu não estou, hoje, para aturar essências platónicas. Brinquemos, então, no mundo estelar das ideias. Por exemplo: os cavalos castanhos do senhor José não são somente cavalos a quem depois se lhes juntou o acidente castanho. Cavalos castanhos! São uma unidade ideal. São uma essência simples e prática. Essência para mim equivale a uma substância material produzida pelo cérebro. Digo isto porque podes ter esquecido do significado que lhe atribuo.
V
Sim, não esqueci o disparate! São cavalos e só depois é que são castanhos. Bolas!
M
Se os cavalos castanhos do senhor José estiverem insertos num grupo à mistura com cavalos pretos e cavalos brancos, quando eu te pedir para isolares e fotografares os castanhos, que interessa para aqui as essências? No conjunto maior, os cavalos castanhos são uma “essência alargada”. É que quando eu pensar aqueles cavalos castanhos, penso-os globalmente. Isto no caso que referi, claro. É evidente que o conjunto cavalos castanhos se pode dividir em ideias duplas. Depende da geografia contextual. É o que quero dizer. Pensemos, ambos, por exemplo, o mesmo homem. Eu conheço-o já lá vão quarenta anos. Tu, apenas, os últimos vinte. Esse homem, falado por nós e estando ausente, será ou não uma ideia? Sendo a ideia específica de um mesmo ser, terá ou não diferenças? É claro que eu possuo mais elementos-acidentes do que tu – digo isto como probabilidade apenas. Por isso digo que essa ideia cresceu. O que não cresceu foi o “espectro-ideia-homem” que serve para identificar e distinguir um ser entre seres, no espaço do tal dito abstracto. Que é algo sem forma nem conteúdo enquanto não se formar-copular com a matéria-homem. A história das essências é muito gira. Só que elas não têm lógica senão quando aparece primeiro algo substancial. Depois surgem como proprietárias (i)legítimas desse mesmo facto ou fenómeno. Porém, isso é apanágio dos idealistas, cultores de um mundo transcendental que a meu ver não existe a não ser como produto material fornecido pelo cérebro que o trata no ficheiro e na secção próprios. Historicamente as essências são posteriores à experiência, pois elas tomam forma no que já se encontra pré-estabelecido. O cérebro possui formas-módulos – uma espécie de formas onde os pasteleiros colocam a massa disforme no forno e que depois de cozida nos regalam a vista e dão cabo da vida aos diabéticos... A massa(s), ( neste caso as ideias) - disforme que é tudo aquilo que o cérebro modifica e dispõe em formas próprias - são os fenómenos que nos rodeiam. Quantas vezes, nas nuvens do céu, vemos cavalos tão bem delineados. Não são cavalos, são nuvens que parecem cavalos. O cérebro possui formas para outros casos que distingue. O cavalo propriamente dito surge primeiro que o cavalo-nuvem. Cada um vai para a sua própria forma e depois segue para o mesmo forno... A ideia geral de cavalo pesa menos do que a ideia de cavalo “acidentado”. (Cavalo castanho) Quanto menos pesar uma ideia , mais ela se torna compreensível. Isto é, os acidentes nas ideias levam a confusões. É por isso que quando as pessoas lerem esta parte (se lerem...) deste diálogo julgarão que isto que aqui foi escrito não passa de uma diatribe, produto de um cérebro que não entende o mundo, E por que não?
V
Não vou discutir contigo conceitos universais. Estes estão do lado de fora do teu modelo de pensar. Um modelo, diga-se, do tipo reptilizado.

(Continua amanhã, segunda-feira, dia 10 de Julho)

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