Monday, July 03, 2006

 

VII E ÚLTIMO CAPÍTULO DE "OS ESQUERDISTAS"


VII

(A cena representa os Paços de Concelho de Vila Franca do Campo. Uma multidão, recheada de satisfação enrouquecida, vitoria, com gritos condicionados a verve de Barbosa, encanecido jurista, jacobino proselítico , que fala das escadarias através de um megafone.)

BARBOSA
Ó vós que de doméstico espírito assististes impávidos e impotentes, da vossa gaiola suspensa, ao derrube de um Estado prepotente! Ó vós que saístes do anonimato dos privilégios quando caricaturas de governos colonialistas embarcaram para a Pérola do Atlântico! Ó vós que tivestes a solidão dos benefícios por companheiro nas fábricas e nos campos! Ó vós a quem até os sonhos censuraram, buscai no inconsciente a força adormecida da harmonia e do equilíbrio e arrecadai das páginas da História, que tem este panteão como testemunha ... (aponta para os portões do edifício camarário).

(Neste momento, a multidão entusiasmada investe contra os portões e parte dela passa para o interior do histórico Paço. De lá, retira dos seculares arquivos os textos das actas das reuniões camarárias e lança-os pelas janelas para o restante povo que ficara no largo fronteiriço. Homens, mulheres e rapazes atiram-se às folhas numa fúria indescritível.)

COMUNISTA
(Com uma acta nas mãos)
Fujamos, que são mais impostos para cima de nós!

(O povo foge assustado. O Largo da Câmara torna-se num mar de papeis. Silvestre vindo das bandas do Infante depara com Barbosa solitário e incompreendido.)

SILVESTRE
(Com ar de quem vai defender uma causa)
A nossa existência não é obra do acaso. Nada está consumado. Enquanto não falarmos a linguagem das estrelas nunca seremos cidadãos do mundo.

FIM
Posted by Picasa

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