Sunday, July 30, 2006

 

VIVIDA

VIVIDA – Continuação do dia 29 de Julho de 2006

VARETT
Tudo leva a crer que sim.
MANDALA
Assim e recapitulando, a consciência pode , ultrapassando os saberes, considerar-se responsável pelos seus actos. E que segundo a tua teoria, nasce-se com uma consciência tanto boa como má. E que esta é visível quando se comporta. Que a consciência do medo reformulado e educado é propriedade dela mesma. Que a consciência é selectiva pois classifica os medos. E, já agora, diz-me se um acto bom praticado por um ser não consciente pode ser considerado um acto consciente?
V
Não pode ser consciente, mas pode ser bom.
M
Então, para se ser bom não é preciso ser-se consciente. Que um não consciente pode ser melhor do que um consciente se praticar o bem e este não?
V
Assim parece.
M
Bem, vejamos o seguinte: tudo o que disseste se enquadra num plano pessoal do consciente. No caso, o teu. Contraditório ou não é um plano do consciente, conviremos tal. Diz-me, então, por que razão uma consciência construída, como, por exemplo, a tua elabora afirmações?
V
Porque opta e coordena os dados que recolhe.
M
Tendo por base a observação?
V
A observação e a construção de ideias, sobretudo.
M
Como afirmas algo sobre o medo de morrer se nunca morreste?
V
Porque vejo o sofrimento e a agonia no outro.
M
Sofrimento e agonia não são a morte, creio eu.
V
Mas levam à morte.
M
Ficámos na mesma. O instinto da fome não sacia esta. É preciso mais.
V
Então, sem a experiência consciente da morte não há morte?
MPara quem o afirma não há.
V
Isso não passa de um jogo de palavras.
M
É a finalidade da vida vivida que está na base da nossa conversa. E só um jogo de palavras poderá explicar aquelas palavras e dar-lhe um sentido. Se for possível, claro! E a vida explica-se pela própria vida.
V
É mais qualquer coisa que isso. Para além dela é coisa a considerar.
M
Não fujamos da ideia que inicialmente nos propusemos seguir: a finalidade da vida vivida.
V
Eu acho que a nossa consciência da vida vivida é um acto de reprodução mental. É como se um macaco estivesse a falar de e para macacos explicando o que era um macaco. A vida vivida não é um fim em si. É parte de um problema. E o que é para ti?
M
Tu o disseste. Não sendo um fim em si é uma parte desse mesmo fim. É como parte que tem de ser tratada. E a existência de macacos discutida por eles mesmos e à sua dimensão é uma questão melindrosa se cuidarmos o parentesco que nos une a eles.
V
Ah, essa não! No papel existencial introduzimos conceitos de ordem superior. O acompanhamento do sagrado e do divino no nosso ciclo de consciência, por exemplo.
M
Neste caso, passamos do observável na vida vivida para um não observável.
V
Mas cuja consciência discute a existência do divino. A consciência que como disse reformula e selecciona . A consciência mesmo limitada no circuito da vida vivida não perde liberdade de se cultivar.
M
Essa auto-instrução da consciência em outro nível que não a do observável é permissiva ao ponto de se posicionar como se ela (consciência) fosse criada não pelo relacionamento geracional, mas por um ente superior. Não será um exagero, uma vez que a consciência da vida vivida não recolhe elementos experienciais para basear tal introdução?
V
E o que é que impede que a consciência seja dialéctica, reformuladora e desenvolvida como vimos no início e que estas qualidades permitem-lhe ascender ao divino? Permite-me dizer que isso até explica a finalidade da vida vivida.
M
Ao nível do nosso macaco “adneizado” connosco ficámos esclarecidos. O macaco explica o macaco. Será que pode?
V
O macaco não, mas nós homens sim!
M
Já cá faltava o complexo de superioridade. E quando essa superioridade nos leva ao discurso e postura paganizados? Quando elevamos seres humanos à prateleira do divino, não será isso uma forma de paganismo elaborado ao mais alto nível, para não falarmos do paganismo usual materializado em signos manufacturados e distribuídos comercialmente em tudo que é tenda incensada?

(Continua amanhã, dia 31 de Julho de 2006)

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