Monday, July 31, 2006

 

VIVIDA

(CONTINUAÇÃO DO DIA 30 de JULHO DE 2006)

VARETT
Coarctar a liberdade do consciente não será um acto pouco civilizado?
MANDALA
Não se trata de censura à consciência. O que se exige é que esta não ultrapasse a sua própria construção relacionada com a realidade.
V

E Deus?
M

Um exagero de liberdade no consciente das etapas do recomeçado. Um consciente que se permite usar um discurso próprio do (daquele) que não é consciente. Um consciente que ainda não dominando as áreas que determinam o salto do não consciente para o consciente, se atribui a si mesmo o domínio desse mesmo saber atrevendo-se até a explicá-lo.
V
E o que impede o consciente de explicar o que percebe que deve ser entendido?
M
O consciente só o pode fazer utilizando o truque da revelação e esta pertence à esfera da subjectividade.
V
Que depois toma a forma colectiva!
M
Boas vontades, às vezes é o que não faltam. E estas degeneram, como é sabido, em pieguices , idiotices, crendices mal amanhadas, etc. O que é fundamental passa a secundário e embarcamos todos (com algumas excepções) num delírio.
V

Consciente!
M
Sim, consciente e teimosamente racional. Porém, longe de satisfazer a verdadeira sede de saber.
V

Mas, se é racional?
M
Não existe uma só razão!
V
O quê!!!
M
Por exemplo, há quem refira de desígnios do Criador - e à falta de dados experienciais - como a razão das próprias revelações, como a razão divina desconhecida pelo comum dos mortais. Depois, a razão das próprias revelações, as quais só os videntes e os profetas têm acesso. A razão dos que aceitam. A razão dos que não aceitam. A razão dos que julgam ter razão. A razão dos que racionalizando as razões do parceiro ajuízam sobre elas.
V
A razão não se opõe à razão!
M

Claro! Essa é outra razão!
V
É a razão cordata com ela mesma?
M
Forma um grupo. Um grupo racional. É a partidarização da razão.
V

A razão científica é universal, não é partidária.
M

Por ser razão científica, já de si mesma não pode ser universal. É a razão da ciência. Serve para nos entendermos. É uma espécie de código de estrada que evita o choque quando bem interpretado.
V

Como é possível afirmar-se tal monstruosidade acerca da razão da ciência?
M

Vamos com calma. A razão da ciência explica tudo?
V

Claro que não!
M
Não achas que uma razão que não explica tudo corre sérios riscos de não ser universal. Pois, trata-se do universal do concreto, logo limitado.
V
Nesse caso a razão do espírito, se assim se pode dizer, é mais universal ao saciar a sede do saber do que a razão da ciência, que como dizes é partidarizada pelas suas próprias fronteiras.
M

Não vamos aqui reeditar a discussão sobre as diferenças que existem entre o discurso científico e o discurso filosófico, pelo amor de Deus, perdão pelo amor a esta sede de saber. Fugindo à questão “fulcral” acabamos ainda por nos tornarmos intelectuais. Ah! Ah! Diria que a finalidade da vida vivida é como o grão da semente de um fruto que os pássaros comem e que depois a deixam cair pelo cu num outro sítio para que a semente germine e volte a dar fruto desenvolvendo-se novamente para depois dar outra vez semente, e por aí adiante. É um ciclo, bem entendido. Justifica-se pelo grau de necessidade. Existe aqui um objectivo.
V
E, depois, aonde nos leva isso para ficarmos esclarecidos sobre a justificação deste objectivo?
M
Se eu soubesse não estaria aqui a fazer-te perguntas. Agora, o que aprendi contigo foi o seguinte: é que não encontrando uma razão para o explicar, não encontro, também, razão para entender a razão que permite que alguma coisa justifique o que é para mim injustificável.
V
É razoável sem ser fruto da razão. Diria que a consciência cresce em vários sentidos.
M
E o mais interessante é sabermos da existência de uma consciência da razão que só nos responde se para tal tivermos apetência. O que finalmente coloca em liberdade condicionada o Eu que dominamos quando o queremos obrigar a tomar posição.
V
E esse Eu não obedecendo.
M
Digamos que isso não se põe porque a consciência quando é de razão , a sua claro, isola-o. E isso é uma forma de transformar o Eu num encarcerado.
V
Não entendo!
M
Só o consciente é consciente. E o consciente manifesta-se através do Eu. De um Eu sem querer e sem vontade.
V
Um Eu que é forma e não conteúdo? UM Eu que não é mais do que uma invenção do consciente? Onde colocas tu a psicanálise?
M
No seu lugar . Um auxiliar com algum mérito e que ainda engatinha. Basta reparar que em sendo difícil classificar alguns comportamentos do Eu se arranja subterfúgios como o de Super Eu e o Infra Eu desligados e não conscientes entre si.
V
Há coisas que estão no subconsciente!

(Continua amanhã, dia 1 de Agosto de 2006)

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