Saturday, August 05, 2006

 

CADERBOS DO OLHAR I – CONTINUAÇÂO DO DIA 4 DE AGOSTO DE 2006

MANDALA
Uma tripa é um objecto muito importante no conjunto a que pertence. Quando teima em não colaborar é uma grande chatice. (Que o diga Fidel de Castro – acrescento com três anos de atraso...) A tripa é tão valiosa quanto um soldado ou um parceiro considerados num determinado contexto. É claro que tanto a tripa quanto o soldado ou um padeiro obedecem a uma coordenação que lhes orienta as suas actividades. Esta coordenação é sempre chefiada por um outro objecto. No nosso caso, um objecto humano.
VARETT
Objecto humano?
M
É para facilitar a minha exposição.
V
Vá lá, elucida-me quanto a essa tua logorreia petulante.
M
Vamos pensar num bicho de batata muito grande.
V
Parece-se com um enchido de porco, mas com cabeça.
M
Nem mais! Só que os conjuntos de pessoas de que atrás falei podem apresentar uma ou duas cabeças. Vai depender da história do desenvolvimento de cada grupo ser singular ou plural.
V
Pronto. Já entendi. Um enchido com duas cabeças. Para o que te havia de dar.
M
Vês como és inteligente! Percebeste até onde ia chegar... O corpo do bicho de batata é composto por vários órgãos. Estás de acordo?
V
Como não havia de estar. Se eu próprio o abria com a faca da cozinha para ver como era ele por dentro, tinha para aí uns quatro ou cinco anos.
M
A tua curiosidade terminou quando deixaste de espichar os pobres bichos. Ora, assim, como o bicho de batata tem órgãos internos, o meu bicho também os possui. Vou enumerar alguns. Por exemplo, os agricultores, os pedreiros, os moleiros, os pescadores, os tratadores de gado, os sapateiros...
V
Ainda não nomeaste um órgão que vive À custa deles. Um órgão ou mais, como por exemplo, os juízes, os militares, os comerciantes, os mangas de alpaca que pululam no sector terciário, etc.
M
Para lá vamos. Eu queria que tu desmontasses com clareza o meu bicho. Depois disso, havemos de distinguir comportamentos e actividades correspondentes a esse outro tipo de órgãos que citaste. Porém, para já, é bom que te informe que na cabeça ou cabeças do meu bicho estão os coordenadores e os orientadores máximos. Posso dizer-te que se houve inicialmente que só apresentavam uma cabeça e que depois se lhes apareceu outra, isso deveu-se ao facto de o desenvolvimento económico ter exigido um outro tipo mais requintado de sobrevivência.
V
Que raio de bicho é esse que com o tempo vai deixando que lhe nasça outra cabeça?
M
As comunidades primitivas, quando muito pequenas, só tinham necessidade de um chefe. Quando cresceram em número e importância territorial a esse chefe juntou-se-lhe o feiticeiro.
V
Já sei aonde vai parar esta conversa!
M
Diz lá!
V
Estás aqui estás a dizer que essas primitivas “cabeças” se transformaram em reis e bispos posteriormente.
M
Já vi que és esperto. Quem me dera ter a tua cabeça – volta-se para a Acrópole .Desculpa-me o plágio ó irónico – pois assim já sabia tudo e não precisava aprender mais...
V
É como vês. Eu cá sou assim. De qualquer maneira estou curioso para saber como acaba a tua diatribe.
M
Ao meu bicho de batata vou designá-lo de Corpo Central. Este é constituído pelos diversos indivíduos , cuja actividade é geralmente corporativa, isolada ou cooperativa consoante o modelo de economia que o rege.
V
Para ti, o que é mais importante, as Cabeças ou o Corpo Central?
M
O Corpo Central é o mais importante a meu ver. As Cabeças são como os sensores que indicam o melhor caminho para a sobrevivência e domínio do espaço (territorial, bancário, bolsista, etc.) ao Corpo Central. Quando as Cabeças não dão conta do recado, ei-las a saltarem que nem abóboras numa carroça de Feira Franca.
V
Complicado. Os reis vivem que nem nababos. Os bispos comem, bebem e fornicam que nem uns perdidos. Os primeiros cortam as cabeças a quem os chateia. Os segundos abençoam tanto os vitimários quanto as vítimas. E não se ficam por aqui. Os reis arranjam uma corte de inúteis que os rodeia e bajula. Ao bispos, embora mais cautelosos, também se enfeitam com apaniguados. Isto que aqui digo alarga-se a todas as religiões e a todos os reinos. Esse teu Corpo Central é parvo ou quê?
M
Espera um pouco. Não te precipites. A um dos sensores cabe a organização político-física. Ao outro a organização discursiva cúmplice do primeiro. Isto tudo tem custos acrescidos como veremos adiante. Um sensor não vive isolado e funciona como um conjunto de peças unidas. Repara no que acontece com aqueles que substituíram as monarquias. Não vivem sozinhos. Em vez de designarmos corte aos companheiros dos presidentes, chamamos-lhes assessores. Assessores disto, assessores daquilo. Os bispos, porque mais “imóveis”, poucas alterações fazem na nomenclatura adjuvante.

Continua amanhã, dia 6 de Agosto de 2006.

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