Monday, August 14, 2006

 

CADERNO DO OLHAR III


NOVO CAPÍTULO

CADERNO DO OLHAR III

PERSONAGENS
PACKETA, VARETT E MANDALA

PACKETA
Criaste uma analogia quando pensaste que uma comunidade ou uma nação podiam ser consideradas como um todo (corpo) com uma ou duas cabeças conforme a evolução desse mesmo corpo. Um corpo dito Central que não será nem mais nem menos do que a organização sócio-económica do homem. As duas cabeças que representam os que dirigem o Corpo Central são os sensores. A um atribuíste o governo político e ao outro o governo das ideias ligadas à actividade protectora transcendental. Posso continuar ou errei na apreciação?
MANDALA
Até aqui acho correcta a leitura, embora deva dizer que procuro um sistema e não uma analogia. Tudo bem, podes continuar.
PACKETA
Penso que se trata de um raciocínio por analogia. Não será?
MANDALA
Se eu puder provar que o Corpo Central juntamente com os dois sensores são uma comunidade humana , não ficarei retido apenas no comparativo para precisar o meu pensamento.
PACKETA
Quem analogizou foste tu!
MANDALA
Certo! Era para nos entendermos melhor. Erro meu! Também tenho o direito se errar.
PACKETA
Eu sei aonde queres chegar. Mas por aí não vou.
MANDALA
Claro, errar para depois acertar é mais edificante do que acertar às cegas. Continua.
PACKETA
Se quiseres criar um sistema tudo tem de ser coerente nas explicações e deduções referentes a ele. Senão não é nenhum sistema. Não compreendo como é que a ideia de divindade é posterior à de político?
MANDALA
Foram encontradas tribos humanas que no fim do século passado não tinham tido contactos com a chamada civilização. Não possuíam qualquer ideia de divindade. Porém, geraram um líder que os chefiava e os resguardava dos perigos. Serve para esclarecer?
PACKETA
Não!
MANDALA
No começo da humanidade não cabe muito bem a ideia de um líder intérprete do divino ter desabrochado em primeiro lugar. Ao enfrentar as vicissitudes do imediato e do quotidiano era preciso uma reacção rápida numa situação de perigo. Essa referida situação exige um sentido de comportamento imediato ligado à sobrevivência e não um apelo a uma divindade. Defender-se, escapar-se, esconder-se, matar os animais, eis o que tinham de fazer em primeiro lugar. Apelar ao divino numa situação de perigo iminente era uma perda de tempo. A divindade é menos despachada, exige muita burocracia...
PACKETA
É uma indicação utilitária. Como justificas no teu pretenso sistema a presença de um Criador divino nos discursos do homem das civilizações ditas civilizadas?
MANDALA
Para quem nasça inserido e adepto da cultura judaico-cristã não é difícil crer que o homem foi feito à imagem e semelhança do Criador. Este homem crê que tem uma alma imortal. Quer depois de morto vá para junto do Ser Supremo, quer vá para o Diabo que o espere, a imortalidade é com ele. Se a alma é imortal logo é eterna. Deus é eterno. Precede o homem e criou-o. São ambos semelhantes porque eternos. Quem não alinha com um não-Criador não tem problemas. É menos um para chatear a cabeça do feiticeiro. Este adepto do não-Criador entende o líder político. Crer nele e vê-lo é uma prática. Próximo dele até pode cheirá-lo. Nos tempos de guerra é necessário um líder forte e o homem está quase sempre em guerra. Nos curtos períodos de paz a cabeça do feiticeiro é importante para liderar, melhor, co-liderar a permanência do Corpo Central no espaço que lhe cabe no planeta que habita.
PACKETA
Não só não respondeste à minha questão como não és capaz de explicar o aparecimento da Fé, no teu sistema, como manifestação dos fiéis.
VARETT
É sempre assim! Eu já estou escamado.
MANDALA
A questão é saber se as ideias que surgem com a vontade que se tem em acreditar em coisas não visíveis correspondem a factos que julgamos ter existência metafísica, convenhamos.
VARETT
O outro já dizia: a Fé te salvará.
Continua amanhã, dia 15 de Agosto de 2006

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