Wednesday, August 09, 2006

 

CADERNOS DO OLHAR I

CONTINUAÇÃO DO DIA 8 DE
AGOSTO DE 2006

VARETT
Não dizes nada de novo. Estou de acordo, mas...
MANDALA
Não vês que afinal o espírito que preside à eliminação de seres por outros seres não é mau nem bom. É útil! Estão em causa outros valores. E são estes que permitem que tu e eu e outros que tais estejamos vivos e cheios de crimes na consciência. A partir do momento que te fizeram espermatozóide, tu pouca diferença fazes da cadela. Para viveres condenaste à morte os teus irmãos gémeos.
V
Mas eu, na altura, como espermatozóide não tinha consciência!
M
Ainda bem!
V
Porquê?
M
Porque aumentava o número de psiquiatras!!!
V
Conversar contigo dá nisso! Nesta conversa já falaste de Platão e de Justiça. Eu creio que não tens credenciais para tanto. Mas, vá lá! É o que temos mais à mão. Diz lá como é que havemos de lidar com a Justiça nessa tua macacada, perdão batatada?
M
Platão e a sua Justiça são muito velhinhos. Permanecer em Platão é como aquele que se nega a usar a algália tendo a bexiga cheia e dolorosa. A urina matá-la-á se não for expelida. E só a algália...
V
Meu Deus! Já chegamos aos mictórios! Esta conversa não passa disso.
M
Eu preciso de ti para conversarmos. E é esta a razão da tua existência. (Ri-se até às lágrimas como um perdido) ... Continuando no Corpo Central existem disjuntores em vez de Justiça ou coisa parecida...
V
Ai madrinha! Este gajo é anedótico. Que falta me faz o riso e és tu quem ri!
M
(Olhando para a barriga de Varett) Imagina tu que os vários órgãos que compõem o Corpo Central matavam e comiam todas as vacas existentes. Que sucederia? Não respondas, não tenho paciência para te ouvir gargalhar.
V
Tu és um ditador doméstico...
M
Responderás mais tarde. Está bem?
V
Que remédio!
M
Acabar-se-iam o leite e seus derivados. A indústria adjacente fechava as portas. Os distribuidores, os retalhistas e os armazenistas caminhariam para a falência. Os sectores primário, secundário e terciário ressentir-se-iam imenso. Não achas que alguma coisa estaria a correr muito mal? Não respondas caríssimo! Para que tal não acontecesse seria necessário que algo desligasse o sentido negativo desse comportamento e procurasse equilibrar de novo a produção. A Justiça é isso mesmo!
V
Bolas, isso é estatística ou coisa que o valha!
M
Quando se entrega aos mais fortes toda a espécie de poder, o que é que achas que acontece?
V
Posso responder?
M
Sim!
V
Abuso e destruição!
M
Por que razão é que param?
V
Porque não são estúpidos. Precisam dos fracos para estes os servirem.
M
Ao mesmo tempo que não destroem os fracos fazem-lhes ou não justiça?
V
Pode ser assim considerado.
M
Então, não ser estúpido é fazer justiça!
V
Lá vem este com o velho truque. Deixa-te disso!
M
Está bem. Vamos, então, raciocinar `micaelense porque é mais aconchegado às nossas mentes.
V
Vês como tu me percebes!
M
Há qualquer coisa que faz parar a “acção maldosa” dos constituintes do Corpo Central e evita a sua extinção. Aquando das conquistas, os senhores que se apropriavam das terras eram “obrigados” a deixar parte delas para outros. Não seria porque sem os que as cultivassem, o Corpo Central não poderia sobreviver nem expandir-se?
V
Daqui a instantes vais dizer que Justiça é igual a sobrevivência e expansão...
M
Dizes bem. Porém, exploremos um pouco mais a coisa para ficarmos esclarecidos o quanto baste. Quando falei nos órgãos do bicho da batata , referi, se estás lembrado, um padeiro, um soldado e mais adiante tu aduziste os juízes, os donos do dinheiro, etc.
V
Sim, e depois?
M
E quando falámos, também, do cérebro e da unha, não estávamos a pôr tudo no mesmo saco?
V
Estávamos a pôr tudo no mesmo bicho.
M
Distinguíamo-los ou não?
V
Pelo menos, fizeste a diferença que existe entre a unha do pé e o cérebro.
M
No Corpo Central, os órgãos estão escalonados para diferentes tarefa tendo em conta o objectivo comum e final. Há quem pense em hierarquias. Usemos o termo para melhor nos entendermos. Eu diria que em determinada altura do desenvolvimento económico dos Corpos Centrais, por exemplo, os donos do dinheiro, os militares de alta patente, os juízes, etc., teriam aquecimento no Inverno contrariamente ao que acontecia com os restantes indivíduos. Diria, também, que em determinada época, a grande massa de indivíduos não possuía casa nem viatura própria. Passados anos, a maioria possui carro e casa e aquecimento no Inverno. De acordo com a ideia de expansão (falo como ocidental), no tempo do frio “distribuído” a muitos, haveria ou não justiça na divisão de regalias?
V
Não havia justiça, não senhor!
M
Então, o que é justo hoje, era injusto ontem?

Continua amanhã, dia 10 de Agosto de 2006

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