Thursday, August 10, 2006

 

CADERNOS DO OLHAR I CONTINUAÇÃO DO DIA 9 DE AGOSTO DE 2006

VARETT
Lá estás tu!
MANDALA
No passado, mulher adúltera seria apedrejada até à morte. No passado recente, mulher que quisesse viajar teria de obter permissão do marido. Eu repito, o que é justo hoje, não o era no passado.
V
Sim, que chato!
M
A Justiça altera-se e modifica-se. Hoje, não podes beber mais do que três cervejas pois corres o risco de seres levado a tribunal se estiveres a conduzir com o efeito que elas fazem . No passado, quem bebesse trinta cervejas passava a ser uma espécie de herói engraçado (tipo Pedro, filho do conde Bezukov de Guerra e Paz, que mamou uma garrafa de vodka de um só gole) se conduzisse com tanto álcool e a fazer asneiras ao volante de um carro. O que era era giro ontem, é hoje um verdadeiro crime. A Moral e os Bons Costumes estão sempre ao sabor das novas culturas e estas são mais infiéis que as cabras do mato.
V
Ainda não falaste da falta de segurança.
M
A insegurança suscitou tanta apreensão quando começou a fazer parte do nosso dia a dia como quando a burguesia surgiu no seio da comunidade humana.
V
Agora é que vais ser internado!
M
A burguesia proveniente da troca e do armazenamento de bens, quando apareceu, parecia vir fazer perigar o Corpo Central, tal como o papel da insegurança nos nossos dias.
V
Explica-te melhor, por favor!
M
A burguesia explora os indivíduos ao ponto de estes se terem organizado em grupos de defesa com o fim de mudar o comportamento daquela para escaparem à sua voracidade. No desenvolvimento de alguns Corpos Centrais as relações entre explorados pela burguesia e esta foram tendendo a harmonizarem-se e deram origem a alguns compromissos. O Corpo Central fortificou-se após algumas vicissitudes. Com a insegurança passar-se-á o mesmo. A burguesia comercial, por exemplo, invade os televisores com publicidade a toda a hora. Nos mesmos televisores a violência também assenta arraiais. A violência apela a muito material, a muito desejo de compra. Mais tarde saberemos que tipo se acção será efectuada a fim de modificar comportamentos entre uma enorme quantidade de indivíduos propensos a criarem insegurança (desempregados, jovens desnorteados e à procura de objectivos, gente faminta, vendedores e consumidores de drogas, vítimas do fascismo, refugiados, etc.) e as chamadas Forças da Ordem. A estas os sensores preparam novos modelos de actuação. Se os Corpos Centrais dizimarem os fazedores de insegurança dizimar-se-ão a si mesmos. Aguardemos...
V
Estás a querer dizer que quando os Corpos Centrais se aperceberem que os grupos que com eles colaboram na sua sobrevivência e expansão estiverem em risco de desaparecerem que os criadores-agentes de insegurança poderão ser severamente punidos e até extintos?
M
Tudo vai depender de os os grupos criadores de insegurança se associarem ou não entre si. Penso muito na globalização da insegurança. Se o crime organizado “especial” continuar ligado ao sensor da política e ao sensor da religião e se ambos alargarem as suas influências e margens de lucro até aos “inseguradores”, o Corpo Central não tem outro remédio se não aceitar este novo modelo de cabeças desde que com isso garanta a sua sobrevivência. Esta está em primeiro lugar nem que para isso vá alimentar os parasitas associados que vão surgindo ao longo das épocas.
V
Repete lá isso que é para eu tomar nota. Ah! Ah!
M
Apenas acrescento isto: quando os sensores políticos e os sensores religiosos se distraem nas tarefas que o Corpo Central lhes incumbe e permitem que à sua volta a burguesia desequilibre e desajuste a riqueza criada não a distribuindo de molde a permitir que o bicho da batata sobreviva e se expanda conforme a sua natureza, é possível que o animal em causa mate, esfole e frite os ditos sensores e os substitua por outros. E pró-sensores não faltam pois estão inseridos na lógica do desenvolvimento, da expansão e como não podia deixar de ser da sobrevivência.

Continua amanhã, dia 11 de Agosto de 2006

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