Friday, August 04, 2006

 

CADERNOS DO OLHAR - NOVO DIÁLOGO


NOTA SOBRE “OS CADERNOS DO OLHAR”

Quando começo a escrever diálogos, posso, de início, ter um objectivo. Porém, muitas vezes com o aparecimento de novas ideias devido à dialéctica que se impõe - e que não consigo domesticar - acontece que me perco completamente e lá se vão os pressupostos. Disso peço desculpa aos leitores Eu sei que irrita. Mas que posso fazer? Deixemos o cérebro à vontade, pois, acho que a liberdade que não ofende pode passar...

CADERNOS DO OLHAR I
(Escritos em 2003)


Personagens
VARETT E MANDALA


I
MANDALA
Há tempos estava eu a visionar uma reposição histórica sobre a II Guerra Mundial quando dei por mim a relacioná-la com as formigas.
VARETT
Com este princípio de conversa dá vontade de ir andando. Adeus!
M
Deixa-me explicar o que me vai na alma, melhor, o que me vai na mente. Se não gostares, prometo que me calo.
V
Está bem, assim, já nos entendemos!
M
Pois...
V
Pois, pois, arranca que se faz tarde.
M
Quando se olha para um carreiro de formigas, observa-se que são vigiadas por guardas que as liquidam se elas, por fraqueza ou qualquer outro motivo, desmancharem o equilíbrio da
sua actividade.
V
E, depois, o que tem isso a ver com a II Guerra?
M
O que vi na reposição filmada foi uma fila de pessoas guardada por soldados alemães que matavam uma ou outra que por já não terem forças desorganizava o cortejo.
V
Uma coisa nada tem a ver com a outra!
M
Não é bem assim. Para um observador extraterrestre e que nada saiba dos costumes e crimes dos habitantes da Terra, isso é caso para que julgue tratar-se de uma prática comum entre eles.
V
Quando o extraterrestre pensar como eu, o teu raciocínio vai ao ar.
M
Não percebes que ambas as filas – a dos homens e a das formigas – obedecem a uma ordem que a natureza programou para elas?
V
Que ordem é essa?
M
Devolvo-te a pergunta. Responde. Eu sei que o podes fazer e bem.
V
Parece que os desígnios naturais apontam para a sobrevivência. Tanto quanto sei, algumas formigas e alguns homens podem pôr em causa aquela que lhes diz directamente respeito, e quando os interesses vitais estão em jogo actuam matando o seu semelhante. Para além destes, todos os animais o fazem.
M
Óptimo! Deixemos as formigas em paz e vamo-nos aproximar dos nossos semelhantes.
V
Para quê?
M
Já vais olhar. Crescimento e sobrevivência implicam espaço. Quando se sobrevive e se cresce recheado das “qualidades” com que a natureza nos dotou, tornamo-nos imperialistas.
V
Explica-te melhor. Como é que povos com pouco território e pouca população podem ser imperialistas?
M
Ser-se imperialista não quer dizer forçosamente que se tenha de apontar directamente uma arma aos povos explorados e subjugados. Nem a Alemanha, nem o Japão, nem o Vaticano, nem a Suiça, etc., o fazem nos dias de hoje. Porém, impõem os seus produtos em áreas onde a concorrência também está lá estabelecida.
V
Produtos do Vaticano?
M
Se não conheces o que o Vaticano produz e vende, estás aqui estás a precisar de uma ama-seca.
V
Diz lá quais são os produtos que o Vaticano vende e impinge?
M
Desde bulas estomacais até suites celestiais, paredes meias com o divino burgomestre, o Vaticano vende com facilidades de pagamento. E quando lhe falta fundos de maneio nada o impede de colocar relíquias em saldo. É o imperialismo económico produtor de imateriais de referência.
V
Para quê assuntos religiosos à mistura com imperialismos?
M
Já vais olhar adiante. Concentra-te nas minhas afirmações e promove as tuas células a um estatuto activo.
V
Que presunção!
M
Ouve só esta. Eu considero uma nação, uma comunidade humana, com muita ou pouca população, como um único animal.
V
Uhhhhhhhhhh!!! E tu és uma tripa! Ah! Ah! Ah!

Continua amanhã, dia 5 de Agosto de 2006.

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?