Wednesday, August 16, 2006

 

CONCLUSÃO DO CADERNO DO OLHAR III - INÍCIO DO CADERNO DO OLHAR IV


CADERNO DO OLHAR III
Continuação do dia 15 de Agosto de 2006

MANDALA
O homem sabe muito pouco acerca dele mesmo e acerca dos animais muito menos. Será preciso fazer-se muita observação e muito estudo para nos pronunciarmos sobre uma matéria que está a dar os primeiros passos, liberta das afirmações gratuitas do passado. A realidade sobre a vida dos nossos companheiros de planeta é bem diferente daquilo que nos contavam as nossas avós à cabeceira do sono.
VARETT
O que é lá isso! Agora o homem é um ignorante?
MANDALA
Não, que ideia. Até há homens que falam directamente com o Criador.
VARETT
Sim, tens dúvidas? Há uma velhinha que em Portugal falou cara a cara com a Mãe de Deus.
MANDALA
Essa gente deve saber muito... muito...
VARETT
Foi pena os videntes não terem aproveitado os sagrados contactos para recolherem mais informações.
MANDALA
Sobretudo científicas e tecnológicas.

FIM DO III Cap.

CADERNOS DO OLHAR IV Cap.

Personagens
Varett, Mandala e Senorião

VARETT
Apresento-te um amigo a quem reproduzi as tuas últimas viagens.
MANDALA
Viagens?
SENORIÃO
Perdoe-me a intromissão senhor Mandala. Varett brinca com as palavras. O que ele quer dizer é que eu fiquei curioso. Outros, também, ficaram na mesma...
MANDALA
Eu tenho tentado transmitir o meu pensamento, mas em vão.
VARETT
Senorião, eu não te dizia!
SENORIÃO
Gostaria que me explicasse como é que acaba essa sua invenção, uma vez que o começo dela foi-nos comunicado com muito entusiasmo crítico por este nosso amigo comum.
VARETT
Eu vou encostar-me neste divã porque sei aonde é que isto vai parar.
MANDALA
MANDALA
Caro Senorião, vejamos oseguinte: o Universo é um corpo com duas cabeças.
VARETT
(Dando um salto)
Eu vou fugir daqui! Adeus!
MANDALA
Veja lá isto, Senorião.
SENORIÃO
(Para Varett)
Encontramo-nos mais tarde. Quero ouvir Mandala. Senhor Mandala, onde estão essas duas cabeças do Universo?
MANDALA
Essas duas cabeças vão surgir num determinado tempo. Não sei quando. Tudo cresce ou modifica-se. As cabeças acabarão por “aparecer”. No início das minhas deambulações apercebi-me de que não existe nada de individual à nossa volta.
SENORIÃO
Eu sou um indivíduo. Você é outro. Explique-se para poder segui-lo.
MANDALA
Repare que os indivíduos existem como prolongamento do grupo a que pertencem. Um Grupo Corpal.
SENORIÃO
Grupo Corpal?
MANDALA
Tudo o que se observa em termos de animais, por exemplo, é formado por um conjunto. É um corpo em grupo. As abelhas, as formigas, os ursos, os leões, os macacos, etc.
SENORIÃO
Os leões, que eu saiba, vivem em separado. As fêmeas e as crias por um lado, os grandes machos pelo outro.
MANDALA
São um grupo. Apesar de haver distâncias entre os subgrupos, pensam em conjunto, actuam em conjunto, comem em conjunto. Os leões espaçados ou não, formam um conjunto de leões.
SENORIÃO
“Os indivíduos existem como prolongamento do seu Grupo Corpal”. Não compreendo a sua afirmação.
MANDALA
Um individuo como o homem, por exemplo, fala porque é ensinado pelo grupo. Quando age e actua deve-o ao grupo que lhe forneceu a aprendizagem devida. O próprio pensamento individual é fruto do pensamento do grupo, umas vezes repetido outras transformado, aumentado, influenciado, interactivado, etc. Por isso é que eu digo que quando o indivíduo se formaliza não é mais do que uma continuidade do grupo a que pertence. Como não está separado é um prolongamento. Ele encontra-se ligado ao Grupo Corpal. Este não é o prolongamento do indivíduo, mas o contrário sim.
SENORIÃO
Um Cristo, um Santo Agostinho, um Hitler, um Estaline são prolongamentos? Não é cada um deles um ser singular e independente do seu grupo?
MANDALA
Até que por “princípio” e por descuido poderíamos considerá-los singulares. Não são casos singulares se atendermos ao facto de que cada um deles encarna o que muitos foram no grupo a que pertenceram.
SENORIÃO
Foram, até que se aceita. Mas quando se assumem como seres isolados imbuídos de particularidades que os distinguem do grupo mais não são do que seres diferentes no pensar e no agir. E isso torna-os únicos.
MANDALA
Cristo repetiu e reformulou o pensamento antigo proveniente do Universismo Chinês cinco séculos atrás ao seu nascimento. Hitler e Estaline, ambos racistas e carniceiros – a história prova-o – não foram mais do que meros prolongamentos dos grupos a que pertenciam. É neste sentido que são retratados. Repare-se que eles pensaram e mandaram actuar de acordo com os seus grupos que os idolatraram e aplaudiram. Se não fossem compreendidos e não interpretassem esses grupos teriam sido por eles considerados loucos. Quando tudo corria bem para todos foram adorados como deuses. Depois, foi o que se viu.

Continua amanhã, dia 17 de Agosto de 2006

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