Friday, August 25, 2006

 

MENTE EM PÓ
Continuação do dia 24 de Agosto de 2006

SEGUNDA GARRAFA
Vês! E com quem pensas estar a falar neste momento? Comigo ou com o Varett?
MANDALA
Já nem sei!
SEGUNDA GARRAFA
Tu já tens o pensamento embriagado, por isso, vais pedir ao Varett que te explique o que é o pensamento para ele.
VARETT
Eu vou embora. Não estou para dialogar com uma garrafa. O que eu quero dizer é que se o cérebro se embebeda com álcool, isso nada tem a ver com o embriagar o pensamento.
SEGUNDA GARRAFA
Ou o pensamento foge e só volta no dia seguinte ou embriaga-se que nem um lindo.
MANDALA
Para ele se embebedar é porque a sua química se altera.
SEGUNDA GARRAFA
Nem mais, ora percebes?
VARETT
Até com uma garrafa, bolas! Onde me vim meter! Só de pensar na terceira à Montevideu é que fico.
SEGUNDA GARRAFA
Bravo, agora é que é que vai ser bonito! Dois contra um.
MANDALA
Como?
VARETT
Tu, o teu pensamento e a garrafa.
MANDALA
Contra ti e contra o teu pensamento.
SEGUNDA GARRAFA
E já vão cinco!
VARETT
(Para a Segunda Garrafa)
E o teu pensamento, já não conta? (Ri-se)
SEGUNDA GARRAFA
Eu sou apenas companheiro do pensamento.
MANDALA
(Contando com os dedos)
Eu, o meu pensamento, o Varett e o seu pensamento e a Segunda Garrafa. Isto está a ficar feio.
SEGUNDA GARRAFA
(Apontando par a primeira garrafa vazia)
Já não tens companheiro!
MANDALA
A garrafa, a pinga e o pensamento. Estou a ficar como as inglesas bêbedas.
VARETT
Não és tu. É o teu pensamento. (Dá uma forte gargalhada) Deixemo-nos de tretas. Já que o pensamento é material, diz-me quanto pesa o teu?
MANDALA
Duas gramas de Pó de Anjo, palerma! (Ri-se muito)
VARETT
Em vez de estar para aqui à procura de saber o que é o pensamento, por que razão não consultamos um dicionário da especialidade?
SEGUNDA GARRAFA
(Para Mandala)
Faz-lhe a vontade!
VARETT
(Lendo)
Para Kant: “Pensar é conhecer por meio de conceitos.”
SEGUNDA GARRAFA
Que idade tinha ele quando disse isso?
VARETT
Para Malebranche: “O pensamento sozinho é a essência do espírito.”
SEGUNDA GARRAFA
E que gosto tinha a essência?
VARETT
Para Descartes: “ Sou uma pessoa que pensa, isto é, duvida, afirma, nega, conhece... imagina e sente.”
SEGUNDA GARRAFA
Ele disse isso para agradar à Rainha.
VARETT
Já que és tão esperto, diz lá o que é o pensamento?
SEGUNDA GARRAFA
Quando eu pensei que era uma garrafa cheia, dei por mim...
VARETT
Há pouco não pensavas. Eras o companheiro do pensamento...
MANDALA
Cala-te!
SEGUNDA GARRAFA
Isto às vezes é toma lá dá cá... Dei por mim vazia ou quase. Quando estava cheia, estava alegre. Agora que estou vazia estou triste. Quando cheia, o meu pensamento era cheio e pesado. Agora é leve. Sou como o soldado que a mina levou parte do cérebro e começou a pensar diferente. Parte dele que voou para o chão pesava qualquer coisita. Esta parte do cérebro continha uma forma de pensar que se foi. O pensamento instalado nessa parte do cérebro tinha lá o seu espaço. Pesava qualquer coisa? Eu penso que sim. Pelo menos o que valia a sua reacção química. Um dia os homens da Ciência hão-de poder pesar o efeito dessa química e aí teremos o seu peso.
VARETT
Esta de pesar o pensamento...
MANDALA
As partículas que conduzem a luz não têm “peso”? E quando a conduzem não pesam mais do que se não as transportassem?
VARETT
Pede a balança na mercearia da esquina.
Continua amanhã, dia 26 de Agosto de 2006

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?