Saturday, August 26, 2006

 

MENTE EM PÓ
Continuação do dia 25 de Agosto de 2006

SEGUNDA GARRAFA
A questão de as partículas pesarem mais ao transportarem a luz está bem posta. É como digo, a Ciência, um dia, há-de poder pesá-las como também ao pensamento. Pesado e calculado.
MANDALA
Através de cálculos de matemáticos.
SEGUNDA GARRAFA
Há coisas que podem ser medidas e pesadas que estão entre o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. Hoje, pode-se calcular o peso da Lua com margens de erro bastante aceitáveis.
(Entra o Silva e dirige-se ao Mandala.)
SILVA
A cervejinha está fresquinha?
MANDALA
Eu já penso que vejo dois Silvas. Será que penso mal?
VARETT
Tu estás com as garrafas.
SILVA
Com as garrafas?
VARETT
Com os copos, quero dizer!
SILVA
AH, mas isso não é novidade! Ele às vezes, corta relações com um de mim que ele vê. Mas que raio de assunto vocês escolheram para estragar o ambiente. Continuo com muita sede.
MANDALA
Só se disseres à malta o que é que entendes por pensamento é que levas mais uma.
SILVA
No outro dia, vi o Mandala beber sete uísques e pensei assim: estás aqui estás a filosofar “doentíces”. E acertei. Ora o pensamento é isto: eu penso eu acerto.
SEGUNDA GARRAFA
Acerta e pensa bem. Cá temos um cartesiano: “eu sou uma coisa que pensa...” Descartes já lerpou. Por isso pesemos o Silva e ficaremos a saber o peso do seu pensamento.
SILVA
Vocês querem pesar o pensamento como quem quer pesar batatas. Nunca se sabe de que é capaz o Mandala. Ele disse que o Deus que me criou não existe. Com Deus não se brinca. Cada pensamento! E este por sinal bem pesado. Tanto que ele quando bater a bota, em vez de subir ao Céu vai de cabeça para baixo. Tal é o peso dos maus pensamentos.
MANDALA
Isto está cada vez mais abandalhado.
SEGUNDA GARRAFA
Antes de nos irmos, gostava de dizer duas palavras.
SILVA
Só se não forem muito pesadas. E já agora, que tal mais uma fresquinha?
SEGUNDA GARRAFA
Quando um homem faz força numa balança pode-se pesar essa força em quilos e gramas. E o gasto que essa força dispensou?
SILVA
(Olhando para o tecto (como se fosse uma nuvem) qual pensador insular.)
Depende! Se for uma balança da praça a coisa não dá. Elas enganam muito.
MANDALA
Cala-te! Um esforço de cem quilos o que é? Que química do organismo se perdeu para além da medida desse esforço? Como pesá-la? O homem irá responder a este problema lógico e a outros. Vai poder medir materialmente o pensamento que corre (não como coisa imaterial) através de um processo químico nos neurónios e não só. Se as informações passam de célula para célula, por que razão não poderão ser quantificadas? Um cérebro que receba e retenha uma informação do exterior, não pesará mais do que outro que não recebeu nenhuma informação? Esperemos que sim. O saber ocupa lugar. Por isso, quando procuramos recordar uma informação e ela não chega de imediato, julgamos que a memória nos falha. Que a perdeu. Depois, dois dias passados lá vem a informação sem termos utilizado auxiliares externos. A informação estava, de certo, em algum lugar, senão ela não teria saído de onde estava guardada. Que gastos de energia sofreu o cérebro quando accionou o processso de busca de informação? Algum gasto deve ter tido... Para onde foi? Esse gasto em peso como pode ser encontrado?
SEGUNDA GARRAFA
Já estou completamente vazia, mas ainda consigo perceber que um cérebro que recebe muita informação pesa mais do que um outro que nada receba. O pensamento é informação e esta não é imaterial!
VARETT
E por que razão o pensamento não é imaterial?
SEGUNDA GARRAFA
Porque pode ser manipulado materialmente.
SILVA
E Deus que não é matéria?
SEGUNDA GARRAFA
Se ele sabe tudo, esse tudo deve pesar qualquer coisita. (Deita-se no chão e rebola (-se) desrolhada e a rir.)
Ave. Príncipe de Mónaco, 22 de Agosto de 2001

(Continua amanhã,dia 26 de Agosto de 2006, com mais uma grande baboseira
de apoio)

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