Friday, August 11, 2006

 

NOVO CAPÍTULO


INÍCIO DA SEGUNDA PARTE

CADERNOS DO OLHAR II

PERSONAGENS
KALIX, VARETT E MANDALA

KALIX
(Para Mandala)
O Varett contou-me a tua última mandalice. Não me contive e procurei que ele me levasse até junto de ti. Cá estou! Vamos trocar impressões sobre o que me disse para esclarecer o assunto.
VARETT
Vais, vais!
MANDALA
Saudável amigo, apanhas-me de saída. No entanto, ainda disponho de alguns grãos de ampulheta para ti. Diz lá da tua justiça, perdão, do teu disjuntor.
VARETT
Este tipo é de morte!
KALIX
Muito do que disseste ao Varett não passa pela cabeça de ninguém. Deixemos parte do que deisseste para o julgamento de outros. Corpo Central, disjuntores, sensores, órgãos cooperativos, corporativos, indivíduos, sobrevivência, imperialismo, etc. Pretendo saber aonde queres chegar.
VARETT
Santa ingenuidade...
KALIX
Vamos supor que eu aceito como provável o teu dito “sistema”.
VARETT
Que ninguém entendeu até agora!
KALIX
Vamos dialogar dentro do espírito de tolerância. Vou, pois, introduzir as minhas questões. Parece-me, no entanto, que está explicito na tua exposição que ao criares um bicho social, este pouco difere de uma máquina. Carrega-se num botão e pronto, sai um comportamento tabelado. Entre a natureza e o Corpo Central existe uma cumplicidade material. Tu focalizas essa quetão.
MANDALA
Estamos entendidos. Vamos a isso!
KALIX
Como justificas o aparecimento da literatura e dos poetas nesse ser que pretendes ter criado?
MANDALA
No Corpo Central há lugar para todos. Essa é a sua condição fundamental. Coloquemos frente a frente dois tipos de órgãos. Por exemplo, criadores de gado e proprietários de restaurantes. Façamo-los dialogar no quadro da utilidade das suas áreas respectivas. Acredito que os criadores de gado perceberiam que necessitariam de intermediários a fim de colocarem os seus produtos nos pratos dos restaurantes. Da criação do gado ao prato encontraríamos distribuidores, veterinários, motoristas, gasolineiros, polícias, fiscais económicos, bancos, rede de frio, viaturas, cozinheiros, empregados de mesa, etc. Estaríamos aqui muito tempo se quiséssemos enumerar toda a complexa rede de actores e actividades para tornarmos completo o discurso entre ambos.
VARETT
Isso seria assim se eles fossem cultos!
MANDALA
Não trinques a língua!
KALIX
Eu falei em literatura!
MANDALA
os homens falam e escrevem de entre muitas outras coisas que fazem. Os animais falam mas não escrevem, por enquanto.
VARETT
Pode-se descrever parte de um circuito que vai desde o aparecimento da matéria-prima até ao produto final. Eis um pequeno exemplo: o transporte de queijo de vaca de uma fábrica para os supermercados é feito em camião frigorífico.
KALIX
E depois? E quanto à justificação para o aparecimento da literatura?
MANDALA
Pode-se referir o mesmo circuito utilizando uma outra “fala”. Pode-se recontá-la assim: meus queridos netinhos, o leitinho qua a vaquinha ruminante e sonolenta ofereceu ao tratador, não era adocicado mas estava muito quentinho. O bezerrinho adorável também queria mamar e ficou chateado com a mãe vaquinha por esta o dividir com outros parentes muito afastados. Um homem com a barba por fazer levou o leitinho num grande balde para a praia que estava num carroção muito branco e frio como as neves de Kalinin. Umas meninas, quanto os anjos brancos de colégio de freiras tendo à cabeça cambraia creme mexem no leite em toneis metalizados dentro de uma casa plena de janelas.
KALIX
Para onde vamos parar com esta conversa?
MANDALA
O texto literário é um texto subjectivo que dá origem a várias interpretações. Umas vezes, é rico em figuras de estilo. É poesia, é metáfora é palavra sem limite. Difere do texto científico que é rigoroso. A literatura (infantil) aqui referida é uma liberdade.
KALIX
Estás a entalar-te. Da dificuldade em explicares o que é que se entende por literatura, saltaste para a liberdade. O laço aperta-te cada vez mais.
MANDALA
Achas que poderia ter surgido a criação de um texto tão livre se não houvesse uma referência a factos reais?
KALIX
Hum!!!
MANDALA
Retira factos e objectos da nossa vida e elabora um texto livre. Será que consegues?
KALIX
Sobre o amor...
MANDALA
Continua, mas não fales em passarinhos, rios, luz do luar, primavera, rosas, azáleas, etc.

Continua amanhã, dia 12 de Agosto

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