Tuesday, September 26, 2006

 

NA SERVIDÃO DO DESEJO
Continuação do dia 25.9.06

CAMPONÊS
(Agarra o filho)
Meu filho de puta, vais pelo mesmo caminho. Não voltas mais à escola! O sacho é que vai ensinar!
CAMPONESA
Tu estás doido! Deixa o nosso filho que ele não te fez mal nenhum!
CAMPONÊS
(Solta o filho)
É só para comer que serves! Não me digas nada mulher, senão ainda apanhas!
CAMPONESA
Misericórdia Senhor! , que mal é que eu fiz?
(A Sogra sai da cama a custo e dirige-se ao Camponês. Ajoelha-se e abraça-lhe as pernas.)
SOGRA
Tem dó da gente homem da minha alma! Os tempos vão ruins para todos!
CAMPONÊS
Volta para donde vieste alma penada que isto hoje aqui vai virar fogo!

II

(Dias depois, um automóvel pára em frente da humilde habitação do Camponês. Uma mulher de chapéu de aba larga sai da viatura e dirige-se para a entrada. Depois de alguns toques na porta da casa é atendida pela Camponesa com ar de humildade e ao mesmo tempo de desconfiança.)
LAURA
É aqui que vive o Carroça que tem filhas para servir na cidade?
CAMPONESA
(Ajeitando o lenço da cabeça)
É, sim senhora! Faça favor de entrar.
LAURA
(Olha para o interior com repugnância)
Não é preciso. Temos pouco tempo. (Volta-se para o marido que está ao volante) Não é, Emírcio?
EMÍRCIO
Já estamos atrasados.
LAURA
A pequena já está pronta?
CAMPONESA
Desde que recebemos o recado do senhor Prior que a Inocência está pronta. Até tem dormido pouco a pobrezinha.
EMÍRCIO
Deve estar danadinha para partir. (Acende um cigarro e dá ares de impaciência.)
CAMPONESA
(Chamando para o interior da casa)
Inocência! Chega aqui depressa, rapariga! Que é feito dela que ainda agora estava por aqui na porta do quintal?
INOCÊNCIA
(Aproxima-se da mãe e coloca-se a seu lado.)
Que foi mãe?
CAMPONESA
São os senhores da cidade que te vieram buscar!
INOCÊNCIA
(Olha para os sapatos de Laura)
Bons-dias, minha senhora!
LAURA
Pequena, toma as tuas coisas e despacha-te, porque o senhor doutor não pode esperar.
CAMPONESA
(Com ar de culpa)
Tem pouco de seu minha senhora. A senhora sabe como é a gente pobre.
LAURA
(Condescendente)
De pouco lhe serviria. Nos primeiros tempos há-de usar as fardas das outras criadas. O que interessa é que trabalhe e se porte bem.
CAMPONESA
Pode ficar descansada minha senhora porque ela é muito atilada. Assim fossem todas como ela. Com as lides que tenho é ela quem toma conta das irmãs e ainda por cima é que trata da minha mãe que está meio entravadinha.
(Inocência vai buscar a trouxa e momentos depois está de novo à porta. Emírcio detém o olhar nos pés descalços da rapariga enquanto a mãe a abraça.)
LAURA
Vamos, vamos, que não morreu ninguém!
CAMPONESA
(Com a borda do avental nos olhos)
Deus te guarde na sua infinita bondade.
(Continua amanhã,dia 27.9.06)

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