Tuesday, September 19, 2006

 

O BITEÍSTA
Continuação de 18 de Setembro de 2006

MANDALA
Toma a z e toma a y. Muito bem! Agora ouve: troquei-as de propósito e assim tu julgas que uma é a bola z e a outra a bola y. Para ti uma é a outra. Porém, na realidade o que tu tens é uma troca de identidades de bolas.
VARETT
Troca de identidades? Não! O que fui foi aldrabado.
MANDALA
É possível trocá-las uma vez que não estás dentro delas. Qualquer distracção na concentração leva-te ao engano. Não é preciso que seja eu forçosamente a enganar-te.
VARETT
Estás a chamar-me de incapaz?
MANDALA
Não! Estou é a dizer-te que estás enganado em relação às bolas. Mais! É que eu já não sei se as troquei, porque não tenho a certeza de a bola z ser a bola y, como procurei fazer-te crer.
VARETT
Não bebas mais! Tu estás a ver bolas trocadas onde nem sequer as vejo.
MANDALA
Fecha os olhos e faz pressão com o dedo num deles.
VARETT
Estou a fazê-lo.
MANDALA
Não vês o fosfeno?
VARETT
O quê?
MANDALA
Não vês um circulo luminoso que depois desaparece quando alivias a pressão sobre o globo ocular?
VARETT
É verdade!
MANDALA
Vês, e tu não és burro. É uma luz amarelo claro que vai e vem conforme pressionas ou não a vista. É um circulo. Cada olho é dono de um. Imagina que tinhas a possibilidade de trocar os olhos. O da esquerda ia para o lugar do da direita e vice-versa. Achas que os fosfenos pertencem a cada olho ou permaneceriam na concavidade ocular correspondente?
VARETT
É óbvio que cada fosfeno é pertença do seu próprio olho. Porque se eu tirar um olho, o outro ficará com o seu fosfeno. Portanto, não há confusão.
MANDALA
Imagina um mundo muito avançado que pudesse fotografar cada fosfeno. Se depois te mostrassem fotos deles, não ficarias confuso com as suas parecenças?
VARETT
Penso que sim. Porém, cada fosfeno é ele e não outro.
MANDALA
Claro! Uma coisa é ela mesma, mesmo que nós mortais as confundamos, como atrás parecia ir acontecer. Cada coisa carrega ela mesma a sua própria identidade. As coisas conscientes sabem disso. As outras não.
VARETT
Então, só uma identidade consciente não se confunde com outra?
MANDALA
Talvez. Há pessoas (os actores, por exemplo) que se confundem (elas mesmas) com as personagens que incarnam. Até é preciso fazer-se uma cura de procura de identidade perdida.
VARETT
Vamos lá a ver... Os números são identidades inconfundíveis. Eu não confundo o número um com o número dois, apesar de estarem “lá em cima”.
Continua amanhã, dia 20 de Setembro

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