Wednesday, October 25, 2006

 

NA SERVIDÃO DO DESEJO
Continuação

Emírcio e o notário da Ribeira Grande atravessam o “Largo da Câmara Velha”. Ao passarem pela Igreja da Matriz de São Sebastião, Emírcio despede-se do companheiro e dirige-se para o interior do templo.

EMÍRCIO
(Ajoelha-se na central e começa a orar. Tem uma cara de quem está a pesar a dor.)
Meu Deus, esta permanência da dor que em mim se afirma é raio de flamejante forma que da magma brota para destino desconhecido. Ó Espiral da Inteligência, poupa-me o calvário das ofensas já que condenado não fui. As minhas mãos, vazias de espinhos, são motivo de ódios. Nas ruas da cidade, dou corpo à solidão e ao medo. Deixa que o Teu amor seja a escama deste ser que o desespero conquistou.
VOZ
Eis-te preocupado. Que pretendes?
EMÍRCIO
O fim da extensão infinita da insatisfação.
VOZ
Renuncias viver a tua realidade?
EMÍRCIO
Não fui para ela perdido ou achado. Mas confio na justiça divina para me aliviar este fardo que carrego comigo desde que me tornei pessoa.
VOZ
(Sussurrando)
Obter a justiça de Deus é ser-se justo. Não te tortures.
EMÍRCIO
Como posso ser justo? Como posso obter a justiça de Deus?
VOZ
Com os outros
EMÍRCIO
Os outros! Sempre os outros!
VOZ
Só com os outros obterás a razão da justiça. O caminho para Deus não é um caminho solitário.
Continuação

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?