Saturday, October 28, 2006

 

NA SERVIDÃO DO DESEJO
Continuação

INOCÊNCIA
(Arquejante)
Aquilo foi coisa que já passou.
EMÍRCIO
Perdi a cabeça! Não fiz por mal. Meu pai também me batia muito.
INOCÊNCIA
E era seu pai...
EMÍRCIO
Os pais batem nos filhos porque lhes querem muito. Essa cicatriz é grande?
INOCÊNCIA
Quase não se vê.
EMÍRCIO
Deixa ver!
INOCÊNCIA
É aqui. (Puxa devagarinho a camisola que está por debaixo da saia redonda.)
EMÍRCIO
(Saliva muito e retém a respiração)
Ah!

(Inocência pega na mão de Emírcio e leva-a ao local da cicatriz. Emírcio percorre o corpo de Inocência com os dedos. Depois abraça-a delicadamente. Ouvem-se passos. É Laura que com o seu passo pesado desce as escadas. Laura Chama Inocência. Emírcio desvia-se da rapariga e procura o frasco do bicabornato enquanto Inocência compõe a camisola.)
LAURA
(À porta da saleta)
(Para Inocência) Não me ouviste? (Depois admira-se ao ver Emírcio) Não te ouvi chegar. (Repara nos lábios de Emírcio cheios de pó) Magoaste-te?
EMÍRCIO
Queimei-me, mas não é nada de mais.
LAURA
(Tocando na chávena)
Está muito quente. (Para Inocência) O que é que se passou?
INOCÊNCIA
(Muito atrapalhada)
O senhor pediu-me uma chávena de água bem quente. Eu disse que tivesse cuidado, mas o senhor doutor não me deu ouvidos.
LAURA
Vai já para a cozinha! (Para Emírcio) Deixa-me cá ver isso querido!
EMÍRCIO
Já disse que não é nada. E a culpa foi minha. Larga-me!
LAURA
Ainda por cima! Eu a querer-te bem e tu ficas zangado.
EMÍRCIO
Estás a querer discussão sem motivo. Eu pedi água muito quente que é a única coisa que me faz bem quando sinto azia. Tenho os restos do almoço a darem-me a volta ao estômago. Pronto!
LAURA
Pronto! Pronto! Já não me posso ralar com o meu marido.
(Emírcio beija-a. Laura fica com pó pregado na face. Emírcio ri. Laura apercebe-se e ri também.)
Continua

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