Monday, November 06, 2006

 

NA SERVIDÃO DO DESEJO
Continuação

EMÍRCIO
A tua beleza é a agonia do meu viver. Solta os cabelos! Gostava de os ver caídos.

(Inocência desprende o cabelo dos ganchos que o seguram, enquanto Emírcio, com os dedos os afaga.)

INOCÊNCIA
Não sei o que sinto quando estou perto do senhor doutor. (Sorri, deixando ver os dentes brancos e saudáveis.)
EMÍRCIO
Que lindos dentes os teus!
INOCÊNCIA
Quando como maçãs, ficam assim.
EMÍRCIO
(Puxa-a para si e beija-a na boca com muita sofreguidão. Depois empurra-a.)
Que diabo de história é essa do noivo americano?
INOCÊNCIA
Somos muito pobres!
EMÍRCIO
Gostas dele?
INOCÊNCIA
Credo, nem sequer o conheço!
EMÍRCIO
E de mim? (Fica muito encarnado)
INOCÊNCIA
É outra coisa. Fico estremecida. É como estar na Missa do Galo. É uma alegria de festa. (Pega-lhe nas mãos) Nunca toquei mãos de homem tão lisas. São como a pele das bexigas de porco.

(Emírcio apalpa-lhe os seios pondo as mãos por debaixo da camisa de linho.)

EMÍRCIO
Quero-te tanto quanto o silêncio quer a nudez da noite.
INOCÊNCIA
O destino vai separar-nos.
EMÍRCIO
(Continua abraçado a Inocência)
Como seria bom podermos estar a sós!
INOCÊNCIA
Isso não pode ser!
Continua
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