Thursday, March 15, 2007

 


A MORTE DA IDEOLOGIA COMO TÍTULO DESCABIDO PARA ESTE TEXTO


Há imagens que não esquecemos nunca. Estou a lembrar-me das campanhas de alfabetização, no Portugal rural, em 1975. Meia dúzia de descabeçados começaram a dar aulas à noite a velhas e a crianças ensonadas. No que diz respeito aos velhos, devemos confirmar a sua estadia nas tabernas enquanto as esposas se diplomavam. Havia gente nova? Sim, uns estavam na tropa, os outros fugidos a salto para o Luxemburgo, Alemanha e França. As aulas obedeciam a uma motivação inicial – ideológica, evidentemente – e o seu desenvolvimento caracterizava-se por doutas e expositivas matérias. À boca pequena, constava que 70% da população portuguesa era brutalmente analfabeta. As estatísticas dos revolucionários apresentavam um cenário menos doloroso: 30%: coisas da política… Por outro lado, o povo era culturalmente muito activo religiosamente. Para além da mística religiosa oficial, os protagonistas do manguito (o povo do Bordalo, claro!) arranjavam ainda tempo para inventar em cada distrito um santuário, onde efectivamente, para não destoarem uns dos outros, a Virgem tinha aparecido. Videntes e aparições não faltavam. Umas mais importantes do que outras… O Portugal do interior era uma verdadeira amostra de como os Suevos e outros “lestianos” ainda não tinham desaparecido dos castros. As doenças e a morte por falta de higiene, repito por falta de higiene, eram o pão nosso de cada dia. Não havia médicos nem enfermeiros, nem assistência materno-infantil. Havia cidades de província que não tinham ginecologistas. Lisboa, Porto, Coimbra, sim. Meia dúzia de capitais de maior importância tinham um, quando muito. Ponta Delgada com trinta mil habitantes, por exemplo, até â década de sessenta tinha um especialista… Escolas Primárias, do “Plano Cinquentenário” pululavam por muito lado estrategicamente. Porém, o ensino público não era obrigatório. Bastava a terceira classe, dizia o ministro da Instrução do bondoso ditador. Planos habitacionais que também tiveram lugar “por todo o lado”, os chamados Bairros Económicos, eram tão giros. As casas espaçadas não permitiam grandes aglomerados, não fosse o Diabo tecê-las e transformá-los em focos de desestabilização e agitação social. Portugal era muito pequenino! De repente, esfumado o Império, eis-nos perante uma verdadeira avalanche de direitos e mais direitos. A adesão à Europa dos ricos permitiu a entrada de muito dinheiro, que foi gasto como todos nós sabemos. Sempre se fez alguma coisa, pudera não! Estradas, escolas, universidades, hospitais, pontes, pensões a rurais, aumento de quadros do funcionalismo público foi o que mais sobressaiu. E Fontes Pereira de Mello já tinha morrido. A agricultura, base de sustento de 80% da população do interior foi alterada, melhor dizendo: desapareceu. Nas aldeias portuguesas, hoje, compram-se alhos da China, maçãs e bananas da América do Sul, França, Espanha… Os têxteis, a nossa rendosa cultura do tomate e a nossa frota de pesca foram dadas como contrapartidas. De quê? Não sei! O que sei é que nos dão ainda dinheiro para comprarmos tudo o que precisarmos, até 2013. É tão bom! Tornámo-nos muito civilizados. O Centro Cultural de Belém é prova disso. Investiu-se na Música e na Literatura. Criaram-se vários prémios para alguns. Os políticos que foram eleitos para governarem espalharam por esse Mundo fora mais embaixadas que a América e Canadá juntos. Os nossos políticos serviram-se delas para apregoarem a Boa Nova: a ridícula democracia portuguesa. Mais alguma coisa? Claro que não! Embaixadores e cônsules gerais davam para encher os dez estádios de futebol, construídos à pressa para quê? Não sei! Povos do leste e de África, perante tanta abundância, resolveram emigrar para Portugal em busca do Eldorado Lusitano. Passámos a ser um país de imigrantes ilegais e ao mesmo tempo um país de emigrantes também ilegais. Que fluxo e refluxo mais giro! O governo português foi à China cativar empresários. Gastou milhões de euros na viagem. Que se ganhou com isso? Um empresário mais ou menos interessado. Que rentabilidade? O “lucro” que se arrecadará com tal estratégia não dará para pagar a instalação da amante do chinês no Ritz Hotel. Portugal é uma anedota. Com a malta toda com a corda na garganta, como pagar os juros da dívida pública e seus compromissos? Aumentando os impostos! Resultado dessa política? Toca a emigrar que se faz tarde. Para onde? Isso é que é o pior, porque já estamos a fechar as tocas onde se acoitavam profissionais da diplomacia (aqui convém salientar as vitórias em Timor. Ah!) e embaixadores de iniciativa presidencial. Imaginemos (tenho de concluir o mais rapidamente esta verborreia) que a imprensa e televisões estrangeiras vinham acompanhar a história do rapto da bebé do hospital (não digo o nome) e que por denúncia (?) a PJ descobrira passados treze meses. Filmavam a criança raptada a ser entregue na “casa de habitação” dos pais ditos biológicos. Meus senhores – estou a dirigir-me aos políticos – existem milhares de portugueses por esse país fora que vivem em pior condições do que alguns animais que moram no Jardim Zoológico de Lisboa. Os Panda, em relação a milhares de portugueses são, como hei-de dizer… seres humanos. Alguém vai ter de pagar esta bandalheira e não sou eu que já paguei a minha conta por ter cometido um crime. Fui muito bem preso! Gostaria de dizer o mesmo daqueles que defraudaram o Estado, a ideologia da Constituição e a esperança de um mundo melhor para os portugueses.
PS (1):
Espero que aqueles que me têm lido percebam que quando me “atiro” ao povo chamando-lhes nomes é porque chega a uma altura que, ou volto a acreditar no judeu Cristo filho da Virgem e de Jeová enseminador como o criador dos neutrinos, protões, electrões, quarks e outras merdas, ou à porrada se vai obrigar este povo a deixar o seu estado de “irracionalidade”. Também havia uma terceira e tendente hipótese: o leitor que invente e escolha…
PS (2):
Ao aproximar-me velozmente dos setenta anos e já muito gasto intelectualmente – melhor dizendo cerebralmente – sinto que sou incapaz de me tornar um bloguista. A blogosfera serviu-me para poder publicar aquilo que não tem espaço na imprensa tradicional. A ela (blogosfera) fico grato e aos poucos que me leram.
manuelmelobento


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