Thursday, April 05, 2007

 



O PIMBA-PÚBLICO

Quando se perde a noção de prestação de serviço público em regimes democráticos envereda-se naturalmente pelo lucro. São os políticos, são os jornalistas, são os professores, são os médicos, etc. Os políticos – que pela especificidade do seu trabalho são os mais visíveis – sujeitam-se a serem desmascarados na praça pública mais frequentemente do que quaisquer outros. Médicos e professores que utilizam as suas funções oficiais em instituições estatais e por via disso auferem benefícios económicos à parte estão menos sujeitos à voz do povo. Passam despercebidos. Tão despercebidos que a malta os julga seres de eleição. Os jornalistas que têm a obrigação de revelar e ajuizar o que tem interesse público são muitas vezes impedidos de o fazer porque as administrações que os comandam os podem tornar indigentes de um dia para o outro se levarem a peito a raiz deontológica da profissão. Todas as profissões estão, nos dias de hoje, sujeitas aos interesses económicos de grupos por um lado e pelos interesses pessoais por outro. Contrariamente, a Constituição Portuguesa que aponta numa outra direcção: o homem novo, solidário, cooperante, criativo, interventor, crítico, humanista, instruído, pacifista, respeitador do seu semelhante independentemente da raça, da religião e do sexo, etc. foi posta numa lixeira a céu aberto. Os fautores do entretenimento público preferem utilizar os meios oficiais de difusão para transmitirem, à imitação dos do sector privado, verdadeiros atentados à educação e ao desenvolvimento de um povo analfabeto, rude e que raciocina ajudado pelos sapientes representantes do estádio teológico. Porque desrespeitam a Lei Fundamental? Que interesses medonhos são esses que anulam os vultuosos investimentos que se fizeram na saúde, na educação e na segurança social? Esta sociedade está pior, muito pior do que aquela que dava pelo nome de Estado Novo. Com este sabíamos com que contar: reformas à velocidade do caracol! Nesta sociedade, só nos resta apreciar quotidianamente a vil traição feita aos objectivos gerais da democracia pelos que se intitulam servidores da causa pública. Da maneira como as coisas vão, os servidores e homens públicos serão denominados, futuramente, dos pimba-públicos…
manuelmelobento


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