Monday, May 14, 2007

 











RAPTOS DE PRIMEIRA E DE SEGUNDA
DORES IGUAIS

Há quarenta e tal anos li uma notícia – se não estou em erro no Diário de Notícias – que referia o desaparecimento de uma miúda de sete anos lá para os lados do Norte. Na altura senti um mal-estar que deve ter explicação nas histórias que as pessoas que trabalhavam em casa de meus pais me contavam em criança ou nos filmes que via e que relatavam o roubo de criancinhas que eram mais tarde encontradas pelos progenitores. Tinham um fim feliz estes contos, pois os argumentistas juntavam os pais ricos com a filha desaparecida em estado de miséria e de exploração. Na altura, da RTP nada transpirou cá para fora. Era uma época em que os suínos geriam os nossos destinos apoiados pela maioria da população, pelo confessionário e ofícios dominicais. “Nunca mais vejo a minha rica menina!” Ficaram-me gravadas na memória as palavras da camponesa, e nunca mais as esqueci. De tempos a tempos, quando desaparece uma criança fico outra vez desestabilizado. Nos últimos anos, em Portugal, perdeu-se o rasto de rapazinhos e de uma menina de oito anos. O caso da Joana Cipriano foi aquele que me mereceu mais atenção. Sem terem actuado como actuaram no caso da menina inglesa cujo paradeiro é desconhecido há onze dias, as nossas autoridades policiais e judiciárias de um momento para o outro deslindaram o crime e acusaram uma mulher do povo e o irmão desta de um crime horrendo. A mim não me convenceram. A comunicação social portuguesa ávida de sangue e de “sarjetice” levou toda a gente a condenar os dois grandes criminosos mesmo sem o corpo da falecida Joana ter aparecido. Até veicularam notícias de que os irmãos (mãe e tio) teriam sido apanhados a terem relações sexuais um com o outro e que a criança os teria visto. A criança, como é óbvio, não pôde testemunhar… Talvez um ADN? Depois de feita a cabeça ao Zé Povinho não havia nada a fazer. Só lhes restava a condenação. Saiu barata a investigação. Alguém ficou com os louros do êxito obtido na descoberta dos culpados. Estes apanharam penas pesadas não sem antes terem aparecido em imagens televisivas com hematomas no corpo e na cara, naturalmente por terem escorregado e batido com a cabeça no bidé na presença dos seus bem pagos advogados. A disponibilidade de meios de investigação ao dispor de forças especiais para se encontrar a menina inglesa desaparecida no Algarve é de tal ordem excelente que merece elogio. Mas como não podia deixar de ser, eu terei de perguntar: foi devido ao insucesso técnico-laboratorial do caso da Joana Cipriano que o Governo Português resolveu investir muito mais para solucionar este tipo de crime? Se me respondessem que sim, só me restaria louvar a atitude humana, sobretudo democrática e equilibrada com que as altas autoridades se sensibilizam. Nada mais falso! Não descobrimos nenhuma alteração. Houve e há dois tipos de tratamento. Um para os pobres e outro para a burguesia. Um para nacionais e outro para estrangeiros de raça ariana e nórdica pertencentes a classes sociais abastadas. A Polícia Judiciária foi em tempos classificada uma das melhores do mundo. Até a PIDE a respeitava. Hoje, no caso da Madeleine, está a levar banhada sobre banhada da Polícia Inglesa. Intromissão nos assuntos dos nossos policiais? Evidente! Se fosse ao contrário os polícias portugueses eram até chutados para o Canal da Mancha. O que teria acontecido se Leonor Cipriano tivesse deixado o filho de dois anos sozinho em casa e fosse beber um copo de três na tasca mais próxima e quando voltasse de pança cheia desse por falta da criança? Só espero que Madeleine apareça. Mais, que agora se volte a procurar as outras crianças portuguesas desaparecidas, uma vez que ficámos a saber que Portugal tem meios sofisticados para prosseguir investigações deste género. Tenho muita pena dos pais que perdem os seus filhos, sejam eles quem forem. A dor é tal que nunca mais há recuperação psicológica. Eu que o diga!
manuelmelobento

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?