Sunday, October 28, 2007

 



AS ESCUTAS

AFINAL, AS ESCUTAS NÃO ESTÃO SÓ NAS MÃOS DE INSTITUIÇÕES OFICIAIS



O Procurador Geral da República, Pinto Monteiro, quando afirmou que o seu celular sugeria ruídos estranhos – o que na realidade se pode traduzir por escutas – não disse claramente quem estaria a interferir nas suas chamadas. Tanto podem ser : “Autoridade judiciária”, “Órgãos de polícia criminal” como “Autoridade de polícia criminal”. Estas instituições são compostas por centenas e centenas de juízes, juízes de instrução, magistrados do Ministério Público, entidades e agentes policiais, directores, inspectores e todos os funcionários policiais abrangidos pelo reconhecimento legal. Como disse e disse “bem” o ministro da Justiça, não se efectuam escutas sem a devida autorização. No caso, autorização do juiz específico para o caso em questão. O processo é moroso se se seguir os preceitos legais. Estaria tudo sob controlo se assim se procedesse. Os cidadãos estariam mais descansados pois o respeito pela funcionalidade das leis democráticas estaria assegurado. Porém, não acontece assim. A maioria dos cidadãos com mais ou menos protagonismo, quer este seja de ordem política, financeira, económica, religiosa, sindical, administrativa, etc., são efectivamente escutados por secções de elites ligadas à segurança do Estado. É natural que assim seja. E negar isto é ser hipócrita. É por esta razão que se evitam infiltrações no aparelho do Estado, principalmente nas zonas de maior melindre. Crimes de cariz sexual ilícito, uma vez ligados a personalidades cujas actividades estejam conotados com as tais áreas sensíveis, são controlados segundo a segundo. É o Estado a defender-se. O Estado Português é frágil e filtrando informações evita esboroar-se ou mesmo até fragmentar-se. Quando convém sair bem na fotografia, faz como a aranha quando tem uma das patas presas: larga-a. E mantém-se viva e sobretudo continua aranha. Daí que processos de meia tigela de corrupção com existência em alguns ministérios saltem para o grande público. Depois, castiga-se exemplarmente os culpados de meia tigela também. O fogo é apagado no início e a segurança de coisas mais sérias fica incólume. Ninguém gosta de perturbações. Nem o Zé Povinho… Ora, o Procurador Geral da República é uma pessoa de bem. Ao ser escolhido para o cargo viraram-lhe a vida do avesso. É uma pessoa impoluta. Desde a rua onde nasceu até ao último namoro passando pela sua Primeira Comunhão na paróquia da aldeia natal tudo isso foi escrutinado e aprovado. Repare-se que quando o capitalismo toma forma e poder – como é o nosso caso – certas personalidades representativas têm de ser anjos respeitáveis. É o caso de Cavaco, do Procurador Monteiro, do Jaime Gama, do Cardeal Patriarca, dos Chefes Militares, dos Directores Nacionais das Polícias. Os restantes, tanto podem ser levianos ou troca-tintas que tanto faz. Pode-se atacar o Primeiro-Ministro, segundos-ministros, inspectores de polícias, professores, deputados, etc. que isso só serve para espectáculos circenses tão ao gosto da populaça. Depois disto tudo mais ou menos discernido vamos à parte mais grave. Eu não acredito que o Procurador Geral da República Pinto Monteiro fosse tão néscio que se queixasse dos serviços que estão debaixo da sua batuta. O que ele quis dizer é que as interferências a que o seu telefone está sujeito são feitas à revelia do processo oficial. Isto é, são sectores da privada quem com aparelhagem de alta tecnologia se instalou entre nós e tudo vasculha. E, sabe-se lá com que intenções… Não é gratuitamente, por exemplo, que se soube do que disse o ex-Presidente Sampaio quando comunicava através do seu celular. É um homem de esquerda e não o esconde… O capitalismo voltou e com ele o “rigor” à laia de J. Edgar Hoover. Finalmente. Quem pode identificar, em Portugal, as centenas de milhares de chamadas, catalogá-las conforme os casos – políticos, financeiros, sexuais, religiosos, militares, etc. – a não ser milhares de funcionários? O que Pinto Monteiro não sabe é que a privada (o tal capital que hoje vergou o Estado Português) tem instrumentos mais capazes do que os seus serviços. Por essa razão não tem assim tantos funcionários. Até, porque estes e suas aparelhagens estão algures nos EUA. Como é evidente! Para terminar. Na Itália a Máfia e o Estado são duas instituições com poderes equiparados. Melhor dizendo, são dois Estados separados. Em Portugal, e para mal dos nossos pecados, a nossa mafiazinha não quer separar-se do Estado. Comece por aí, Excelentíssimo Procurador Geral da República.
manuelmelobento

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?