Friday, November 30, 2007

 


MIGUEL SOUSA TAVARES VERSUS VASCO PULIDO VALENTE

Eu sei…, eu sei que de literatura não tenho o arcaboiço intelectual suficiente para entrar no circuito que é reservado aos eleitos. Mas, porque, há muito, frequentei um estágio sobre a mesma, dirigido por uma especialista na matéria, arrogo-me o direito de não permanecer quieto. Para além do mais, já levo milhares de horas folheando livros de toda a espécie e com o cuidado de os ler até ao fim… Muitos deles eram verdadeiras obras de literatura universal, que acabam por fazer efeito na cultura individual, se tal me é permitido afirmar. Quando leio dispo-me de preconceitos, o que se torna difícil uma vez que os possuo em abundância. Faço esta ginástica ou melhor julgo fazê-la. Nem sempre é fácil. Mas cá vai. Porque tanto MST como VPV são convidados permanentes de tudo que é comunicação social - quer através de presença metódica nas televisões, quer nos jornais e nas estantes das livrarias, mantidos pelo dinheiro dos contribuintes directa ou indirectamente – qualquer cidadão desta novel democracia sente-se no direito de se pronunciar sobre a quezília surgida entre ambos, transformada em “caso nacional” tal é o país em que vivemos. Qualquer deles não percebe muito de literatura, embora sejam ambos homens da escrita. Diga-se em abono da verdade, muito bons em relação ao panorama europeu. Vasco Pulido Valente não sabe escrever romances. Refugia-se no romance histórico. Quem seguir o seu percurso, certamente, verificará o que aqui se diz. Escreveu uma peça - para esquecer - sobre Paiva Couceiro num estilo muito pior do que o de Mário Domingues. Vasco Pulido Valente é um homem da cultura por excelência. Da cultura histórica, melhor dizendo. É um cronista de eleição. O modo como cria o texto subjectivo torna-o ímpar entre os seus pares (!). É truculento quando escreve, mas sábio. Quando o tema lhe toca de perto perde-se e afunila-se mediocremente, sem, todavia, deixar de ter piada. Foi o que aconteceu com o que escreveu sobre os dois romances de MST. Quando Tolstoi escreveu “Guerra e Paz”, os peritos encontraram vinte e dois erros de desconexão. Ora, ora… O que não diria Pulido Valente deste monstro sagrado se tivesse sido seu contemporâneo? Como homem de História, grande mesmo, detectou doze erros no último romance de MST. Parte daqui para destruir a obra. É infantilidade, diria mesmo imbecilidade. A VPV só lhe falta falar mal dele. Espere, espere… acho que já o fez, o que é até positivo. É verdade que quando falam mal dele, ele não reage. Ah, excepção feita a Filomena Mónica, que no seu “BI” lhe faz uma referência pouco digna no campo dos lençóis, o que o “furibundou”. O mesmo não aconteceria a MST. Confirmam as “revistas cor de rosa”. Não se pode deixar de ler VPV. Que o digam os responsáveis do “Diário de Notícias” e do “Público”. A sua palavra vale euros e não me admirava nada que um dia viesse a ser cotado na bolsa de valores e cobiçado pelo Comendador da fala rápida. Já no que diz respeito a Miguel Sousa Tavares se pode afirmar que, apesar de as suas crónicas, na sua maioria, serem maçudas e demasiado sérias, o seu romance Equador merece ser colocado em lugar de destaque na literatura portuguesa. É provável que daqui a uns anos venha a ser uma referência universal e isso só vai depender de estratégias de distribuição. O seu último romance é uma delas. Isto é, MST ao tentar ligar Portugal e Brasil, sabe que o leitorado brasileiro é substancialmente maior do que o nacional e é o trampolim para outros voos. Melhor dizendo, com o salto que espera se dê na expansão multilingues é uma hipótese muito provável de ser pelo menos nomeado para o Nobel. Ora, é isto que teme VPV, que sabe que esta porta lhe está vedada, não por incapacidade mas sim devido às matérias em que se especializou… Há mais historiadores do que desempregados… no mundo… Aqueles que entendem a literatura sabem que MST entrou de cabeça nela. Sorte de principiante? Não o creio. Estará nos genes? Muito naturalmente, apesar de o seu curriculum, o meio ambiente e o trabalho (sério, diga-se) demonstrarem que é um recheio digno de nota. Irritam-me os trejeitos de ambos. Nasceram bem, comeram e comem melhor do que o vulgar das gentes. Tiveram facilidades em serem lidos, o que não acontece a quem não pertence ao meio de puro elitismo que os rodeou e rodeia. Num aparte refiro o grande Cristóvão de Aguiar com uma obra universal que se tem apagado nas campanhas dos media nacionais mercê de não pertencer às panelinhas do critério de selecção de duvidosa actuação. Cristóvão não teve a sorte de ter encontrado o mal falante VPV nas suas “malditas” crónicas raivosas. Bem, mas não está no seio deste texto falar dele. Passemos novamente a MST. Diria que “Equador” está ao nível de uma “Ana Karenine”. Existem cenas em “Equador” que estão imortalizadas pelo engendrar da linguagem. Esta – recriou - criando várias atmosferas de empatia que leva o leitor “consciente” a viajar por lados humanos que resvalam para sentimentos humanistas tão ao jeito do pensamento actual. Raramente um escritor fala tão bem quanto escreve. Acontece com MST para não fugir à regra. Mais vale lê-lo do que ouvi-lo. Depois destes êxitos, é de esperar que MST só venha a reaparecer daqui a pelo menos quatro anos. E digo isto para não se estender. A genialidade tem limites. Dê tempo ao cérebro. Se o fizer vai ao Nobel. Termino desejando aos dois que se peguem, mas na parte técnica e táctica da literatura. Penso que é o que interessa e se espera.
mmb

Comments:
Bem mmb, eu cá não vou com nenhum deles à "bola"...tb não acredito que aceitassem a minha companhia no entanto, se um é cretino o outro é um imbecil.Estarão bem um para o outro num torneio de bilharda ou do salto ao elástico...
Mais uma vez adorei a sua crónica.

Bom fim de semana

Beijão grande
 
Caro Amigo
Os ares da capital estão a dar-te pica.
Este texto é muito lúcido e dá um tiro certeiro na "mouche".
 
Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?