Tuesday, December 04, 2007

 



O BIFE À MESTRE D’AVIZ

Ontem, o programa Prós e Contras, apresentado pela jornalista Fátima Campos Ferreira, veio ao encontro do apelo-questão do Presidente da República que teve lugar na cidade de Gouveia a semana passada. Pode-se afirmar sem receio de errar que Prós e Contras é um evento que limpa um pouco o pobre panorama das estações de televisão nacionais. É bem estruturado, tem substância e sobretudo dá a conhecer a opinião de intervenientes com nível intelectual. Lá, defende-se tudo e tudo se ataca com argumentos credíveis. Estava em discussão a diminuição e desaparecimento da população portuguesa. Médicos, psicólogos, progenitores multiplicadores por excelência, filhos martirizados por carências económicas e outras individualidades afins. O melhor da noite coube a uma psicóloga-filha-carecida-mãe-contratada-a-prazo. Disse a proeminente futura parideira ainda não satisfeita com um só rebento: meus pais deixaram uma herança de respeito que se caracteriza por terem deixado aos filhos muitos irmãos. Ao todo são oito. Começara a trabalhar aos dezasseis anos para poder pagar os bilhetes de cinema e também para poder acompanhar as amigas a um cinemazito. Ah, e também poder comprar alguma roupa de marca. Estudou e trabalhou, tornando-se psicóloga. Neste momento trabalha com um contrato a termo certo. O marido também se encontra na mesma condição. Lembrou, às tantas, que enquanto vivia com os pais, bife era coisa que lá em casa não entrava. Questionada por Campos Ferreira acerca da possibilidade de ter menos irmãos, pois tal facto permitir-lhe-ia comprar a tal roupa de marca, respondeu que não trocaria (não faria desaparecer) os irmãos por uma camisola. O público aplaudiu. Parecia um serão para trabalhadores, onde se apelava à pobreza estóica e à submissão aos ditames do Estado Novo. Julgo que depois de assistir o Prós e Contras a malta vai repensar na estupidez de não ter filhos e prontificar-se para os “fazer” de imediato. Campos Ferreira cumpriu e bem as orientações dos nossos maiores e fez mais: treinou a psicóloga para levar a bom termo os objectivos implícitos. Não é fácil arranjar-se uma interveniente provinda do público anónimo que tenha brilhado na defesa dos seus pontos de vista que “por acaso” eram os do Estado e seus mentores. A psicóloga falou para tolos e basbaques. Não vou explicar. Não há pachorra. Porém, vou colocar à brilhante behaviorista duas questões que me parecem ser de primordial importância. Acontece - que eu saiba - que ninguém no seu juízo perfeito troca um parente vivo por um par de cuecas da estilista Fátima Lopes. Mas, perante as dificuldades existentes num lar com três assoalhadas, habitada – como era o caso – por onze pessoas, não seria mais óbvio não ter tantos filhos a passarem as passas do Algarve e poder comer um pouco melhor, vestir um pouco melhor, uma higiene melhorada e ter tido uma adolescência normal, sem ter de matar um irmão por uma peça de roupa? Invertendo a questão, não se mata o que não é vivo… creio eu. A outra questão, que não deixa de ser pertinente, é o facto de os portugueses não procriarem e estarem sistematicamente a emigrar para a Espanha, Alemanha, França, Luxemburgo, América do Norte e do Sul, Canadá e Bermudas. Com Portugal a bater no fundo, julgo insensato polvilhá-lo desordenadamente com filhos, cujo projecto de vida se não é a vida nocturna – que está perigosa – é o desemprego. Mais tento na bola, minhas queridas. Sabemos que estamos programados para procriar, porém, não esqueçamos que o mundo está perigoso e dominado pelos capitalistas e globalistas que se estão nas tintas para os pobres como é o caso da psicóloga que o afirmou com garbo e destemor. Não é vergonha ser pobre, burra é que não. Bem, vamos à receita do Mestre d’ Aviz. Esta receita foi passada de geração em geração, porém, houve gerações que a arquivaram na falta do melhor: o lombo de vaca. Nos Açores, a malta chama ao lombo carne de lagarto (calculo que seja porque ele foge muito às bolsas). Corta-se o lombo em rodelas com três centímetros de altura. Com uma faca pontiaguda esfaqueia-se (salvo seja) – três vezes ou quatro cada rodela de carne. Depois, mete-se no orifício feito pela faca um dente de alho que levou um pequeno toque para abrir a acidez. Tempera-se com sal o qb. Numa tigela à parte machuca-se alho misturando-o com vinagre de vinho de qualidade, vinho tinto do bom e pimenta malagueta em calda. Em São Miguel/Açores é o que não falta. Depois, coloca-se a carne de bife dentro da tigela e com as mãos (lavadas) envolve-se o molho com ela. Deixa-se estar umas duas horas a tomar o gosto. Não esquecer que durante esse período se deve apertar com jeito a carne. Não é preciso apertar muito para não doer nem magoar a carne. Frita-se em manteiga que se aquece com cuidado. Aconselho a não passar muito o bife, pois pode-se pôr tudo a perder. Se optar por não seguir os trâmites desta receita, dedique-se à procriação. Dá mais gosto mesmo de estômago vazio.
Notícia histórica: esta receita foi trazida pela "bife" Filipa de Lencastre. Na noite de núpcias presenteou Dom João I com um rico naco de carne temperado à maneira. Disse-lhe que o tornaria um leão com cio. O leão na selva é o maior. Dom João assim fez. Resultado: a inclíta geração e não só.
mmb


Comments:
Ahahahahahahahahahahah, magnifico "bife"...
Estive varios dias à espera da actualização do blog como de pão para aboca ahahahahahahah.

Engraçado que ontem ao assistir ao referido programa dei comigo a pensar...será que o mmb está a ver isto?!
Quem dera, significava que amanha tinhamos um texto soberbo...et voilá!

MAGNÍFICOOOOOO
ADOREI
beijão grande
 
Na fritura do bife prefiro o óleo bem quente e, mais para o fim, juntar a manteiga (legítima, gorda e com sal) como deve ser!
 
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