Thursday, January 03, 2008

 


GENTE SÉRIA

Saídos da ditadura do Estado Novo no dia 25 de Abril de 1974, já a 26 do mesmo mês se instalava outra ditadura: a dos capitães e coronéis (mais tarde “elevados” a generais). Ditadura, porque “nomearam” Presidente da República, sem pedirem consentimento a ninguém, o general Spínola . Homem de direita, ex-colaborador e observador das manobras do exército hitleriano em terras da Rússia, foi destituído do cargo usurpado pela revolução por ser um empecilho no processo de descolonização. Tendo sido em seguida substituído por Costa Gomes, outro cúmplice na postura anti-Estado. Este período ditatorial durou até à eleição do general Eanes em 1976. No meio deste período que vai desde a ditadura dos militares até à conflituosa eleição de Eanes, houve de tudo. Os militares ditos de esquerda – fornalha 25 de Abril – mandaram prender selvaticamente homens influentes da banca, do desporto, da política, etc., sem critério algum que não fosse o da inveja de classe, pois eram uns tesos. Viviam do soldo e das achegas dos vencimentos das mulheres. Não mexeram com os padres porque como imbecis e medrosos que eram (os militares) das coisas da religião do Cerejeira acreditavam na virgindade da Senhora de Fátima, no Inferno e nas barbas do Pai do Céu. Outra coisa, porém, mais indignificante foi o facto de terem, através do Conselho da Revolução, permitido a criação das elites políticas que elaboraram a Constituição de 76. Admitiu-se de princípio que o povo ao eleger os seus representantes para a Constituinte, iria depositar neles a confiança necessária para defesa dos seus direitos. Para tal não era necessário referendar o texto fundamental. Para quê se o povo já lhes tinha delegado os seus poderes? Já lhes tinha passado um termo de responsabilidade. Desta maneira foi aceite e votada uma constituição que não tinha qualquer parentesco com o sentir do povo. E isso verificou-se com o andar dos tempos. Nos actos eleitorais que se seguiram, o povo votou sempre contra a apropriação dos meios de produção pelo Estado e no tão célebre slogan rumo ao socialismo, inscritos na Constituição. O povo português macacamente votava ao centro para ver até onde iam parar as modas. Nas últimas eleições foi enganado. A propaganda socialista chefiada por Sampaio e apoiada implicitamente por Cavaco impingiu a ideia de que o Grupo de Santana Lopes era o de uma direita catastrófica que tinha posto o país em pantanas. A salvação estava no voto no socialismo que prometia um verdadeiro oásis, empregos, melhor saúde, melhor educação, etc. Foi o que se viu: o PS está aí a governar contra o povo e contra as orientações da Lei Fundamental. A provar esta asserção estão as manifestações públicas entra semana sai semana. Mário Soares pôs o socialismo na gaveta, Sócrates escondeu a Constituição. A questão do aborto mereceu referendo, e penso que pouca coisa mais irá ser referendada pela população. Quer se trate da assinatura do Tratado Europeu, que restringe a nossa autonomia como povo, quer se trate de modificar o texto constitucional que irá beneficiar os grandes grupos financeiros em detrimento da melhoria das condições de vida das populações. As coisas de fundo não levam os políticos a preocuparem-se com o que o povo pensa. Os nossos políticos mentem aquando das campanhas eleitorais. Dizem que irão defender a causa pública, mas o que se passa é que vão para o Parlamento representar os seus verdadeiros patrões. Tanto assim é que de um Estado socialista contemplado no articulado da Lei Fundamental se passa para um Estado vocacionado mais para defender o grande capital. O Estado português é um Estado capitalista ilegal, uma vez que não cumpre com as regras que prescreve. Começou este adulterar das ideias base com a coligação PS/CDS logo após se ter cozinhado a Constituição de 1976. O próprio CDS tinha votado na Assembleia da República contra aquela de teor colectivista. Foi coerente na altura da sua votação, porém, logo a seguir dá corpo a um governo que jurava o preceituado legal socializante incluso. É moda não respeitar as leis. Num país de comerciantes e de emigrantes não nos parece que haja a vocação de esquerda, salvaguarda-se algumas franjas onde se instalaram os comunistas e pouco mais. E estes apenas representam uma percentagem mínima do eleitorado. Dizem que os povos têm os governantes que merecem. O povo português não foge à regra. É um povo que se satisfaz com sonhos e mentiradas. E ninguém melhor do que a nossa classe política para o satisfazer. Entenda-se, pois, porque estão tão longe uns dos outros e ao mesmo tempo tão perto.
mmb

Comments:
Caro Manuel Melo Bento,
Aceite os meus melhores cumprimentos.
Escrevo-lhe em função disto:
http://setevidascomoosgatos.blogspot.com/2008/01/rre-t-qu-aores.html

Não nos conhecemos para favores mútuos, é certo. Não fora isso e eu pedir-lhe-is, como favor pessoal, uma opinião sua para este debate, que publicarei na íntegra, evidentemente. Como não é o caso, peço-lho como homem de letrss e no interesse da discussão, não no meu.
Antecipadamente, agradeço-lho.

rvn
 
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