Monday, March 10, 2008

 


PROFESSORES EM PROCISSÃO PELOS SEUS PECADOS


Quando me formei em Filosofia concorri para dar aulas nesta disciplina. Entregaram-me um horário de Psicologia... dois anos depois ainda estava a dar aulas desta disciplina num antigo liceu, hoje, escola secundária. Inscrevi-me para o estágio clássico de Filosofia no fim do terceiro ano de trabalho e como não houve orientador que quisesse ter a tarefa de me profissionalizar, fui parar ao estágio do ciclo preparatório porque também tinha habilitação própria para dar aulas ao 1º. Grupo – Ciências Sociais cuja composição integrava Português, História e Estudos Sociais. De Psicologia pouco percebia. De Português pior um pouco. História petiscava um pouco e mesmo assim nada recomendável. Ciências Sociais era para aprender, visto nunca ter ouvido falar em tal bicho. Neste estágio tive oportunidade de aprender o que nunca julgara ser possível: ser pedagogo. Nesse estágio aprendi como assassinar o velho ensino. O mesmo que durante o Estado Novo tinha criado uma mentalidade reprodutora de compêndios com resultados desastrosos. Portugal mantinha-se na cauda da Europa. Os velhos mestres falavam, falavam. Muitos deles liam o compêndio. Outros seguiam o compêndio à risca. Tudo girava à volta do compêndio. O ensino não apontava para nada que não fosse a divisão de classes. Singrar no ensino liceal levava o indivíduo ao bom emprego. Se entrasse na universidade e nela obtivesse êxito traduzido num canudo, facilmente vingava na vida. Sobretudo nas chefias e na política. Aqueles que optavam pelo ensino comercial e técnico tornar-se-iam bons carpinteiros, bons electricistas, bons contabilistas, etc. Só com grande esforço e sacrifício dos pais poderiam ascender ao ensino médio (hoje, politécnico). Tirar um curso superior de línguas devia dar direito a que se dominasse bem as línguas do referido curso. Nada disso. Doze anos de inglês, por exemplo, devia corresponder a dominador da língua. Nada disso. Levava-se tanto tempo à volta da gramática que se perdia o sentido da língua. A desculpa era o estudo da literatura. Porém, eram estes crânios que depois iam ensinar a língua nos bancos da escola. Uma desgraça. Ninguém sabia línguas como devia ser. E quem as quisesse dominar tinha de pagar a explicadores. O mesmo acontecia na matemática. Anos e anos a sermos “ensinados” pelos doutores do liceu e depois tínhamos de receber explicações dos verdadeiros pedagogos. Grandes mestres da matemática, ou não sabiam ensinar, ou só transmitiam o que não sabiam a não ser de cor e salteado. Lembro-me dos bons alunos de matemática terem tido todos eles explicações com o doutor Ricardo Ferreira (Açores). A ele se deve o êxito de muitos. Pagando, claro! Também havia outros explicadores para colmatar as brechas (feridas) que os doutores do liceu deixavam nas mentes da juventude. Se o ensino era tão bom, para quê, então as explicações? Responda quem souber. Era evidente que havia alunos dotados e que nunca se serviram de explicadores. Se bem me lembro, só em Religião e Moral é que não era preciso. Ah, havia a catequese! Os exames só serviam para avaliar a decoradeira. Médicos e engenheiros também se formavam. Bem, se Deus não acode com uns estrangeirados ainda vivíamos em andares de colmo. Já sei, há excepções. Estou a lembrar-me daquele arquitecto que levou um milhão de contos para “desenhar” o Parque Mayer. Ah, era americano! E a ponte sobre o Tejo que o Velho das Botas mandou construir na década de sessenta? Havia lá engenheiros portugueses, porém as suas tarefas resumiam-se ao transporte das pastas dos engenheiros americanos. Não vou dizer que não havia bons engenheiros em Portugal. Só que eram tão poucos. Médicos? Bom, tratavam desde os panarícios à queda do cabelo. Não sendo especialistas, mas cirurgiões, retalhavam o corpo das vítimas à procura de pedras nos rins, por exemplo. Eu sei, eu sei. Havia bons médicos portugueses, mas também havia quem à custa dos mesmos enriquecia. Nas funerárias, claro. Os advogados não ficavam atrás. Do furto às heranças, do homicídio ao atentado ao pudor tudo apanhavam. Não vou levar esta cantiga muito mais além. O que quero dizer é que para se ser professor, médico, gestor, advogado, pedreiro, carpinteiro é preciso a pessoa preparar-se especializando-se e actualizando-se. E isso só se pode fazer se tivermos bons mestres. E mestres são PROFESSORES de todos os níveis. E estes têm de se sujeitar a serem avaliados permanentemente. Só assim é que sairemos deste lodaçal. O melhor que me pôde acontecer foi o facto de ter sido mau aluno (daí a foto que ilustra este texto). Ter tido a consciência de que como eu, também havia quem não entendesse o mestre sentado a falar de hora a hora. Que sono que dava. E quando desperto era só o olhar o relógio para ouvir a campaínha salvadora .Eram secas sobre secas. Na maioria, aqueles que escolheram ser professores acabam por copiar os grandes mestres. O resultado está à vista. Não são totalmente culpados. Estão sempre a pensar nos testes para “pesarem” o conhecimento debitado. O que é preciso perceber-se é que uma aula tem que ter resultados no fim dela. Se isso não acontecer poder-se-á dizer que foi tempo perdido, apesar de estar tudo no preto e no branco no sumário da aula. Ter dado uma aula (não faltando...), ter cumprido o programa debitando-o não basta para se ter a consciência tranquila. Os professores que sabem disso é que devem tomar o pulso do Sistema Educativo e não a Ministra, os partidos políticos e as suas reprováveis ideologias que já deram o que tinham a dar. Transitar, não transitar o que é que isso significa? Não pode ser nunca a linguagem de professores. Isso permite que à volta das escolas e dos seus programas falhados (quem o pode contradizer) existam os explicadores. E estes sim, são os verdadeiros mestres porque fazem com que o aluno aprenda aquilo que a escola e os seus “mestres” não têm capacidade de ensinar. As escolas precisam, para além de salas de aula, espaços onde se complemente o estudo. Onde o professor possa atender os seus alunos, principalmente aqueles que não interiorizaram o que foi dito e exposto NAS SUAS AULAS. Quanto aos horários dos professores? Não podem, como é evidente, ter um horário igual às demais profissões. Qualquer professor consciente sabe que tem que “organizar a cabeça”. E isso faz-se com tempo. Nenhum médico opera sem ter visto radiografias, lido análises, estudado exames prévios. Se o fizer, sujeita-se a ser acusado de negligência criminosa. Os professores precisam mudar o seu modo de ver para poderem fazer ver a outros (os alunos) um novo modo, pois o vigente está moribundo como se constata.
À Ministra cabe reorganizar a Lei de Bases do Sistema Educativo. E pô-la à discussão e votação dos portugueses. E se eles não quiserem partilhar na mudança, então mande-os para o raio que os parte à procura de especiarias para o Afeganistão.
mmb

Comments:
Afinal não sou o único a achar que a avaliação é importante.
Claro que os muitos "sábios" de entre os nossos colegas acham execrável a validação da competência e da boa pedagogia.
Doa a quem doer, sou a favor da avaliação.
 
Quando certos professores se esquecem de que foram e são pecadores, ficam condenados a ver passar a "procissão dos "penitentes", que valem, justamente porque são penitentes. Os de vícios privados e públicas virtudes penitênciam-se na "penitência alheia". Vivam os novos zelotes e publianos, vivam!
 
Falemos de avaliação e começemos pela definição: avaliar é medir e comparar situações comparáveis com instrumentos adequados isto é, aferidos para as situações que se pretendem comparar e a matéria mensurável da mesma natureza e condição. Para isso exige-se: teoria, modelo, instrumento, hipóteses, teste, validação a aferição. Neste terreno, muita gente parece falar de alhos evocando bogalhos. Fala-se muito e com muito desacerto. Inclusivé, perdeu-se o sentido de que o conceito de avaliação tem quer ter discussão e consenso entre avaliador e avaliado, tem que haver um ratio entre o que se pede e o que se dá, as regras do jogo ou são claras ou não funcionam, isto percebe-se? Se não se percebe-se imponha por decreto e "avalie-se" o resultado.
 
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