Sunday, April 19, 2009

 
PACTO DE RACIOCÍNIO – Bloco 3
(Continuação)

O futuro É um sentido. Um dos muitos que possuímos. Enquanto o sentido da visão nos permite percepcionar o objecto (deixemos em paz os mecanismos cerebrais que apoiam este sentido), o sentido do futuro é como aquele e outros, um epifenómeno do movimento.
Os sentidos devem a vida ao movimento. Até mesmo quando visualizamos o passado, como registo, este só existe se um futuro o der vida. Por outras palavras, é no futuro que revejo o passado. E este nunca é o mesmo. Basta pensarmos que a sua revisão significa “passado” duas ou mais vezes. Passado revisto uma vez não é o mesmo que quando revisto duas vezes.
É que o movimento que acompanha o primeiro nunca será igual ao movimento que acompanha o segundo e por aí adiante.
Preparar o futuro é como preparar um cheiro, uma visão, um tacto, etc.
Existem objectos que gostamos de ver mais do que uma vez. Estou a vê-lo ou já o vi…
É que nunca poderemos esquecer que mesmo parados estamos a envelhecer, isto é, temos connosco um movimento no nosso tempo interior. As nossas modificações são o movimento. E tudo que está em nós está em movimento. A nossa visão mesmo parada num objecto (parado também) sofre o movimento dela mesma: envelhecimento do órgão, neste caso.
Como pode o passado (registo) influenciar o futuro?
O passado só o poderá fazer sob condição humana. Se o homem pode influenciar o futuro, que limites tem o futuro?
Quem quiser consultar o futuro tem de o fazer à luz da ciência do universo e do seu movimento.
O conhecimento da ciência é o conhecimento dos factos. Só os factos fazem ciência, fazem o universo. O homem ilude-se ao julgar pensar os factos. O que ele faz é repensá-los. O homem só poderia pensar os factos se eles no momento de se darem, os factos e o homem fossem ambos uma e a mesma coisa. Ora, na área do humano a ubiquidade não é possível, melhor, ainda não é possível.
Um facto antes de o ser (na visão do homem) só se concretiza “a posteriori”. O homem só prevê os factos detrás para a frente e nunca ao contrário. Pode intelectualmente fazê-lo se viajar à velocidade da luz e tendo em conta a possibilidade de existirem mais do que um universo.
Mesmo que o homem preveja com rigor os factos que hão-de vir, prevê-os no futuro. Mesmo que possa ver o futuro, só o movimento permitirá realizar tal façanha. Daí que o futuro ande mais devagar do que o movimento específico. Pode concluir-se daqui que o futuro e o movimento em referência apresentam andamentos distintos.
Esta é uma leitura humana “recheada” de lógica humana. Nem uma nem outra têm autoridade para, fora da linguagem humana, encontrar soluções.
A ciência – o universo – até hoje comunicou com o homem. Este, sim, tenta “falar-lhe” enquanto ela permanece distinta e alheia aos seus sentidos e previsões.
O homem deambula entre previsões e possíveis descobertas, mas trata-se apenas do homem julgado capaz de ser diferente das substâncias que o enformam e o constituem.
(continua) .

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