Thursday, April 16, 2009

 

PACTO DE RACIOCÍNIO - I
Pretenda-se como começo de aceitação que os seres vivos, e neste caso em apreço o animal homem – deixemos os nossos companheiros planetários em paz até sabermos mais qualquer coisa sobre eles – é uma composição única proveniente de uma junção entre um óvulo e um espermatozóide. Isto é, até opinião em contrário e válida, um compósito compactado.
Deste compósito, e em determinadas condições, resulta do seu desdobramento um ser que após etapas de crescimento isolado e em conjunto com o seu grupo social se autonomiza em variados comportamentos.
Em crescimento o homem – o ser em questão – descobre por si as cores das coisas, o cheiro que delas emana, a temperatura, o sabor, a impressão, etc. É claro que se pode educar a impressão que se tem, assim como tudo o resto. Mas, nada nos leva a crer que a estrutura de base onde assentam esses conhecimentos interiores não sejam parte integrante do tal compósito. Não vale a pena levarmos adiante a leitura deste texto se não estivermos de acordo com estas noções básicas. É que sobre estas iremos desenvolver as teorias que se irão difundir.
Por exemplo, o sabor a sal é registado aquando da primeira vez que é detectado pelas glândulas salivares. O homem distingue o sabor a sal do sabor a leite logo nos primeiros dias de vida. Fá-lo rejeitando um e aceitando o outro. Daqui resulta um comportamento que advém da sua própria estrutura biológica ou através do conhecimento. Do conhecimento reflexivo não parece ser o caso. Rejeição automática é mais provável para classificar o comportamento. Uma coisa se nos mete pelos olhos adentro: a vida continua com a opção certa. Pela vida fora o homem para sobreviver toma sempre a opção certa. Salvaguardando-se os casos, claro está, quando estiverem em jogo outros valores, como por exemplo a atitude ética. Justifica-se a tendência: a vida continua como a opção certa para entendermos a sobrevivência nela mesma. A vida assenta em opções. Como pode o homem testar o sabor a sal se esse mesmo sabor não estiver inserido prioritariamente na sua base de dados? Aceitar o sal e o seu sabor e só a posteriori rejeitá-lo seguido de uma simples análise, implicaria um modelo de conhecimento que o caso referido não contempla.
O que leva o homem a escolher entre o sal e o leite? A experiência? Não parece corresponder ao caso em apreço pois trata-se de uma primeira vez. Conhecimento inato? Não podemos classificá-lo assim dadas as circunstâncias da falta de desenvolvimento cerebral do homem nos primeiros dias e a falta no domínio da expressividade para entender avisos ou para os enviar, tendo em conta o caso em discussão e não de outros definidos que se realizam no próprio feto e que a medicina tem vindo a divulgar, como sejam os que referem casos de afectos.
Se se disser a um homem com idade de compreensão mínima que o leite que ele quer beber está envenenado ele, certamente evitará bebê-lo. Se dissermos a um bebé o mesmo ele não só não entende como irá bebê-lo. Não dominando o pensamento o conhecimento inato não é uma opção correcta para que a vida continue. Logo o conhecimento inato sem ser “educado” não é conhecimento positivo. Dir-se-á que tanto o adulto como a criança podem morrer ao beberem o leite envenenado. Se o homem não souber da adulteração morre. Esta questão leva-nos de volta ao princípio. O conhecimento inato o que é? O bebé não responde, porém o adulto dirá que é o conhecimento que nasce com ele. Perguntar-se-á, então, quando é que se dá conta que ele existe? Quando o homem tem consciência de si! Neste caso o conhecimento inato tem um prazo e a partir deste tem existência. Aceite-se, mas questione-se. Parece que sem consciência de si o que é inato não tem expressão. É algo subsidiário. A ideia de deus, por exemplo, é inata para alguns, isto é, deus só tem “existência” com consciência. Será uma ideia abstracta consciente. Não havendo consciência de si, a ideia de deus não cresce. Deus, como ideia, neste período, prepara-se para surgir na esperança de melhores dias. Assim sendo, dá a impressão que deus estava fechado num determinado espaço do cérebro. Creio eu. Se a ideia de deus é exterior, como alguns defendem, então esperaria pela palavra-chave (a consciência de si) para entrar. Parece estar condenada a ideia de deus a uma dicotomia: dentro ou fora. É só escolher a melhor opção. Desviamos-nos do fio condutor e perdidos como estamos vamos adiante. Pode ser que escape qualquer coisa.
Tenho na minha frente um prato com sopa. Tempero-o com duas colheres de chá com sal. Ao meu lado o meu amigo Germano Olímpico também tempera o seu prato com sopa. Coloca nele, nada mais nada menos que cinco colheres de chá com sal. Desconhecendo os malefícios da ingestão em demasia de sal, o meu amigo julga que gosto das coisas insonsas. Pergunto-lhe se há uma medida universal para tempero de sopas. Ele responde-me que não. Vejamos. O meu amigo não toma uma opção correcta de vida tendo em conta a sua própria sobrevivência.
Temo que para além da consciência de si é necessário algo mais para corrigir comportamentos. Educação/Cultura são componentes interessantes para uma opção correcta de vida. Devemos pois ajuntar o conceito – agora compósito – para prosseguirmos estes esgares de raciocínio. Existe, de facto, uma teia enorme de requisitos que modelam o homem num sentido de ser e de estar. Acumular aquisições permite uma orientação pessoal e colectiva com fins que parecem determinados a corrigir atitudes.
Fenómenos apreendidos colectivamente são por vezes contraditórios a outros fenómenos colectivos com a mesma área geográfica.
(continua)
(continuação)
PACTO DE RACIOCÍNIO – Bloco 2
A existência – tida como um movimento – no presente é um registo. Trata-se de um registo tomado pela consciência de algo. Toma lugar posteriormente ao dado (o fenómeno). Por essa razão não passa de um registo. É um registo passado. Não pode ser de outro modo. Uma paragem sobre o registo relega este para o não real ou aquilo que já foi, na medida em que o movimento é um dado universal, o que é confirmado pela observação. Nada está parado em relação a coisa nenhuma. Basta pensar que o tempo não pára para o observador humano. O movimento não pode ser captado no sentido de segurado. O movimento só pode ser entendido e, claro, registado como tal.
Para o ser humano só o futuro – aquilo que passará (há-de passar) é aceitável como movimento. O registado não é movimento, é uma relação do movimento: uma cópia do que foi.
O homem pode especular sobre o registo (registado) tanto quanto o pode fazer com o futuro. E, neste caso, só pode tratar-se de previsões.
A especulação sobre um registo está sujeita ao ângulo de visão de cada um. Daí ser variável. Prever o futuro será, pois, mais rigoroso. É que aqui se pode encontrar uma confirmação aquando do registo ou uma negação. Assim, se a especulação sobre o registo permite uma multidão de opções interpretativas, o futuro facilita a compreensão das coisas até que se lhe questione a validade. Entenda-se que a compreensão das coisas é uma construção a ser realizada ou que pode vir a ser realizada.
Até hoje não existe uma validade universal de qualquer registo se o compararmos com o que o rodeia. “Deus não joga aos dados”: como se enganou Einstein. Os dados até pararem são o futuro. Quando param os dados – em relação a qualquer coisa – são mais um registo aglutinador de confusões, para nós, humanos, claro está!
(continua)
mmb

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